Era uma vez

39 11 0
                                    

Havia um homem feito de cristal. A cada passo, ele se quebrava um pouco mais. O homem de cristal estava trincado da cabeça aos pés, cheio de dores e preocupações.
"Mas porque você continua andando?", perguntaram-lhe certa vez. Com sua voz áspera ele respondeu que no fim da estrada havia um arco-íris, lá seria feliz em meio a tantas cores.
Ele continuou andando, recolhendo seus pedaços ao longo do caminho. Muitos anos depois, a estrada chegou ao fim e o homem também.
Cansado e frustrado por não ter encontrado o arco-íris, por nunca ter alcançado sua felicidade, o homem de cristal se enforcou.
Seu corpo translúcido pendeu inerte pendurado por um frágil fio ao galho de uma árvore seca. Era noite e as estrelas brilharam no céu, tristes pela morte daquela estranha figura que brilhava na terra.
Amanheceu e o sol se ergueu trazendo luz e calor. O corpo do homem, aos pedaços, trincado, pendurado, sem vida e maravilhoso recebeu os raios do sol.
E então esses raios o atravessaram, sofrendo refração no processo; a luz branca se dividiu em todas as frequências visíveis e cada uma delas se aproximou da Normal com angulação diferente . As frequências formaram um arco-íris.
O belo arco-íris, vindo de um morto que passou sua vida buscando a felicidade das cores.
O belo arco-íris com cheiro de morte.
O belo arco-íris com cores de luto.
O belo arco-íris da frustração, da dor e da angústia.
O belo arco-íris do homem de cristal nunca seria visto por ele.

ÍntimoWhere stories live. Discover now