My immortal

Oito

P.O.V. Jimin

Jungkook e eu somos colegas em duas matérias, mas só na aula de inglês é que nos sentamos um ao lado do outro. Portanto, volto a vê-lo apenas quando já terminou o sexto tempo, a aula de educação artística, e já recolhi minhas tralhas, pronto para ir embora. Ele corre a meu encontro, segura a porta para mim, e eu passo ao corredor olhando para baixo, bolando um jeito de desconvidá-lo.

-Seus amigos me chamaram pra passar na sua casa hoje à noite - ele diz, andando passo a passo comigo. -,Mas não vai dar.

- Ah, não? retruco, surpreso, e arrependendo-me da forma como minha voz me traiu, ao soar tão feliz. - Quer dizer, tem certeza? - Tento baixar a bola e parecer um
pouco mais sociável, como se realmente fizesse questão da presença dele, mas... tarde demais.
Jungkook me encara com os seus olhos brilhantes e um sorriso entre os lábios.

- Infelizmente, sim. A gente se vê na segunda - diz, e aperta o passo rumo ao carro, que está parado na área reservada aos professores, o motor misteriosamente ronronando.
Quando chego ao Miata, encontro Yoongi já à minha espera, de braços cruzados, olhos
apertados e com o tradicional sorrisinho de irritação estampado no rosto.

- É melhor você contar logo o que acabou de acontecer ali, porque boa coisa não deve ter sido - ele diz, entrando às pressas no carro. - Jungkook falou que não vai mais à minha casa, só isso. - Dou de ombros, olho pelo retrovisor e engato a ré.

- Mas o que você falou, pra que ele pulasse fora? - diz Yoongi, olhando furioso para mim.

- Nada.

O sorrisinho falso fica mais aparente.

- É verdade! - insisto. - Não tenho culpa nenhuma se seus planos pra essa noite furaram! - Saio do estacionamento e pego a rua, percebendo que Yoongi continua com os olhos pregados em mim - Que foi?

- Nada - ele ergue as sobrancelhas e olha pela janela. Mesmo sabendo o que ele está pensando, não falo nada. Prefiro me concentrar no trânsito. Mas, claro, ele não consegue segurar a língua.

- Prometa que não vai ficar bravo comigo.

Fecho os olhos e, suspirando, penso Pronto... la vamos nós

- É que... bem, não consigo entender você. Assim... nada em você faz sentido.

Respiro fundo, determinado a não levar a conversa adiante. Sobretudo porque sei aonde ela vai chegar.

- Pra começar, você é esse cara maravilhoso, de parar o trânsito... ou pelo menos acho que é, porque está sempre escondido debaixo desse capuz medonho. Sinto muito amigo, mas vou dizer: esse seu modelito é uma tragédia, parece coisa de morador de rua. E tem mais! Odeio precisar dizer isso pra você, mas essa história de ficar evitando o novato gostoso, quando ele está obviamente a fim de você... Sei não, é muito esquisito pra mim.

Ele se cala por um instante e lança um olhar encorajador em minha direção, eu me preparo para o que está por vir.

- A menos que você seja hetero, eu nunca soube a sua orientação de verdade

Dobrando uma esquina, novamente deixo escapar um suspiro, pela primeira vez na vida dou graças a Deus por meus poderes mediúnicos, que nesse momento ajudaram a aplacar o susto.

- Não que faça diferença, so explicaria por que você evita ele - ele continua. - Não serei eu que vou discriminar você so por que somos todos gays, certo? - Ele dá um risinho meio nervoso, porque estamos entrando num território ainda não desbravado de nossa amizade. Simplismente balanço a cabeça e freio.

- Só porque não estou interessado no cara não significa que eu mudei de gay para hetero, mesmo que vocês não tenham me visto com ninguem, eu sempre deixei claro minhas atrações - Percebo que fui muito mais defensivo do que pretendia - A atração envolve muitos elementos além da aparência física, sabia? - Pensei comigo mesmo no olhar que faz a gente derreter, o toque que faz a gente formigar, a voz que silencia o mundo...