VinteSeis

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P.O.V. Jimin

Quando entro em minha rua, fico surpreso ao avistar alguém nos degraus da porta de entrada, quando chego mais perto de casa, porém, fico mais surpreso ainda ao constatar que esse alguém é Yeri

- E aí? - digo, pegando a mochila e batendo a porta do carro um pouquinho mais forte do que o necessário.

- Calma! - ela diz, encarando-me. - Achei que você fosse me atropelar!

- Desculpa, achei que fosse o Jeon - explico, já entrando no hall.

- Iiih... O que foi que ele aprontou desta vez? - ela brinca.

Não me dou o trabalho de responder e destranco a porta. Não vou entregar o ouro tão fácil assim.

- O que houve? - pergunto, levando Yeri para dentro. - Você se trancou do lado de fora?

- Engraçadinho... - Yeri revira os olhos, vai para a cozinha e se acomoda em um dos bancos altos da bancada.

Jogo minha mochila sobre a mesa e, vasculho a geladeira

- Que bicho mordeu você hoje? - Olho para Yeri, imaginando um motivo para ela estar tão quieta, pensando que talvez meu mau humor seja contagioso.

- Bicho nenhum - ela responde, olhando fixamente para mim, o queixo plantado entre as mãos.

- Não é o que parece. - Em vez do pote de sorvete que realmente quero, pego uma garrafa de água e me recosto na bancada de granito. Só então reparo no estado em que Yeri se encontra, a fantasia de Mulher Maravilha toda amarrotada, a cabeleira preta toda embaraçada.

- Então, o que você pretende fazer? - Yeri muda de assunto. Está de tal modo inclinada no banco que ameaça cair e se machucar a qualquer instante. Não que isso possa acontecer, claro. - Quer dizer, esse é o sonho de qualquer adolescente, não é? A casa só pra você, ninguém pra vigiar... - Em seguida mexe as sobrancelhas de um jeito malicioso, mas ao mesmo tempo forçado, como se quisesse disfarçar seu real estado de espírito.

Dou um gole na água, sem saber ao certo o que dizer. Chego a pensar em me abrir com ela e tirar dos ombros o peso de todos os meus segredos, os bons, os ruins e os absolutamente revoltantes. Seria ótimo se eu pudesse me aliviar um pouco, dividir com alguém esse fardo que até agora venho carregando sozinho. Mas olhando para Yeri lembro que ela passou boa parte da vida esperando para completar treze anos, vendo cada ano que passava como um a menos para chegar à importante adolescência. Talvez por isso ainda esteja aqui. Não teve a chance de realizar seu sonho em vida, por minha culpa, e agora só lhe resta uma alternativa, fazê-lo através de mim.

- Bem, sinto muito desapontá-la - respondo afinal. - Mas a essa altura você já sabe o fracasso que sou no quesito sonhos de adolescência. - Olho para Yeri timidamente e fico vermelha quando ela sacode a cabeça, concordando. - Quando a gente morava em Gwangalli eu mandava bem à beça, não mandava? Tinha um monte de amigos... Um namorado... Era capitão do time! Pois é. Tudo isso ficou pra trás. Acabou. J-Á E-R-A. Agora, os dois amigos que consegui fazer no centro estão brigados, o que significa que raramente falam comigo. E mesmo que, por razões totalmente inexplicáveis, por obra de um verdadeiro milagre, eu tenha tido a sorte de descolar um namorado lindo, gostoso e tudo mais... bem, na verdade nem tudo está como deveria ser. Tipo assim, quando ele não age estranhamente ou quando não some sem dar explicação, evaporando no ar, ele tenta me sequestrar da aula e me levar pra algum lugar. Para apostar em cavalos de corrida, passeios absurdos assim. Sei não, acho que ele é má influência. - De repente percebo, tarde demais, que falei muito mais do que devia.

Mas quando olho para Yeri novamente, vejo que ela nem mesmo está ouvindo, apenas encara a bancada enquanto passeia o indicador pelos desenhos do granito, a cabeça claramente em outro lugar.

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