VinteNove

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P.O.V. Jimin

Jungkook mora em um condomínio fechado. Detalhe que Yerise esqueceu de contar. Talvez porque um enorme portão de ferro e um pequeno batalhão de seguranças uniformizados não sejam nenhum obstáculo para ela. Então, para mim também não vão ser.
Sorrindo para a moça à portaria, abro a janela do carro e digo:

- Bom-dia. Meu nome é Minhyuk, Jooheon está me esperando.

Ela confere a tela do computador e procura pelo nome que acabei de ver na terceira linha da lista de pessoas com permissão para entrar.

- Deixe isto em sua janela - diz e sai da cabine para me entregar um crachá
amarelo com a palavra VISITANTE e a data escritas. - Só um lembrete: é proibido estacionar no lado esquerdo das ruas, pare apenas no direito.

Atravesso o portão e sigo adiante, rezando para que ela não note quando passo direto pela rua de Jooheon, seguindo para a casa de Jeon. Estou quase no topo de uma colina quando leio o nome seguinte em minha lista de ruas e dobro duas vezes à esquerda, chegando ao final do quarteirão. Só quando estaciono
o carro é que percebo a loucura que acabei de fazer.
Quer dizer, que espécie de psicopata eu sou? Quem, em sã consciência, pensaria em convocar a irmã morta para espionar seu namorado? Por outro lado, minha vida não tem
nada nem remotamente normal, então, por que meus relacionamentos seriam diferentes?
Ainda no carro, procuro acalmar a respiração, apesar das cambalhotas que meu coração dá e do suor que encharca minhas mãos. E quando observo a limpa, organizada e
abastada vizinhança, percebo que não poderia ter escolhido dia pior para me infiltrar no maldito condomínio.
Em primeiro lugar, o dia está lindo e ensolarado, o que significa que as pessoas estão todas fora de casa pedalando na rua, passeando com o cachorro ou trabalhando no jardim.
Assim fica difícil espionar. Além do mais, como até agora só me preocupei em chegar aqui, não tenho a menor ideia sobre o que fazer em seguida; em nenhum momento arquitetei um
plano.
Não que isso vá fazer alguma diferença. Quer dizer, na pior das hipóteses, o que pode acontecer? Jungkook me pega no flagra e confirma que sou um louco? Depois do ataque de carência que dei hoje na cozinha ele decerto já sabe disso.
Finalmente desço do carro e sigo para a casa dele, a última de uma rua sem saída com palmeiras e gramados impecáveis. Mas procuro não dar nenhuma bandeira do que estou fazendo, ando com a maior naturalidade do mundo, como se tivesse todo o direito de estar aqui, e de repente me vejo diante da enorme porta dupla de Jungkool, sem saber o que fazer.
Dou um passo para trás e examino as janelas. Todas estão fechadas. E mesmo sem saber o que vou dizer, crio coragem, toco a campainha, controlo a respiração e espero alguns minutos. Nenhuma resposta, então toco outra vez. Nada. Tento a maçaneta, mas a porta está trancada. Então volto à rua, contorno a casa e, olhando ao redor para ver se não há vizinhos por perto, entro pelo portão lateral que dá para os fundos.
Esgueirando-me junto das paredes, mal olhando para a piscina com cascatas, ou para o jardim, vou direto para uma porta de vidro, que, obviamente, também está trancada.
Estou a ponto de desistir e voltar para casa quando ouço uma vozinha na cabeça, dizendo: A janela, perto da pia.

Na mosca: a tal janela está entreaberta, o bastante para que
eu passe os dedos pela fresta e termine de abri-la.
Apoio minhas mãos no peitoril e uso toda a minha força para subir e me pôr para dentro. Agora é oficial: invadi a casa de Jeon.
Sei que não devo continuar. Não tenho nenhum direito de fazer isto. O mais correto seria dar o fora daqui e voltar correndo para o carro, retornar à segurança e ao aconchego de minha própria casa enquanto é tempo. Mas a mesma vozinha de antes insiste em que eu continue, e, uma vez que cheguei até aqui, vamos lá, vejamos onde isso vai dar.
Dou uma olhada pela cozinha, ampla e vazia, pelo escritório, vazio também, pela sala de jantar, sem mesa nem cadeiras, pelo banheiro, com apenas um sabonete e uma toalha preta, e durante todo esse tempo fico pensando que Yeri estava coberta de razão, o lugar está totalmente vazio, mas de um jeito diferente, parece abandonado, chega a dar arrepios.
Nenhum livro, nenhuma foto, nenhum objeto pessoal. Nada além do assoalho de madeira escura, das paredes brancas, dos armários vazios e de uma geladeira repleta daquele
líquido estranho que Jungkook está sempre bebendo. Na sala de televisão, vejo a TV de tela plana que Yeri mencionou, uma poltrona reclinável que ela não mencionou, além de uma pilha grande de DVDs estrangeiros cujos títulos não sei traduzir. Em seguida, paro ao pé da escada, e mais uma vez cogito ir embora, acreditando já ter visto mais que o suficiente. Mas acabo cedendo ao inexplicável impulso de subir.
Apoio-me no corrimão e levo um susto logo no primeiro degrau, que range sob meus pés, um rangido estridente e inusitadamente alto, em razão do espaço vazio. Mesmo
assim sigo adiante e, chegando ao andar de cima dou de cara com a tal porta que Yeri encontrou trancada. Mas que agora está entreaberta.

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