"É difícil correr sem olhar pra trás. É difícil ir embora e deixar de se importar."
- Ei, o que foi? - perguntei para a cachorrinha que não se aquietava.
- Ela está agitada com o barulho das folhas. - Jonathan disse a uns passos a frente.
- Você viu que ridículo? - disse pra Floquinho, a qual eu iria chamar de Flok só pelo nome ser muito comprido - Nunca faça isso ta bom? É ridículo responder a uma pergunta que não foi feita pra você.
- E é ridículo falar com uma bola de pelos sendo que ela não vai te responder. - retrucou o garoto.
- Não escute nenhuma das besteiras que o babaca ali ta falando okay meu amor? Ele não é inteligente como você. - John resmungou alguma coisa, mas não pude entender pois Flok começou a latir como uma louca - Ei, ei calma! É só o ven...
- Cala a boca. - Jonathan disse e eu não sabia se era pra mim ou para a cachorrinha, constando que ele já estava tapando a minha boca e Floquinho parou de latir, acredito que a ordem era pra ela.
O garoto me "conduziu", sendo essa palavra coerentemente podendo ser substituída por "arrastou", até uma das árvores que tinham lá, onde nos escondemos e ele finalmente tirou a mão da minha boca, me ameaçando com o olhar de me torturar das piores maneiras caso eu abrisse a boca. Nem pensei em faze-lo, senti que não era hora de testar o garoto claramente cabeça quente. Floquinho também ficou quieta em meu colo. O que diabos estava acontecendo ali?
- Senhora, não vejo nenhum sinal da garota. - ouvi uma voz tão suave quanto o vento, mas com certeza a pessoa de quem ela pertencia podia causar tantos danos como tal. Olhei para Jonathan e sua expressão estava rígida, me virei e com o canto do olho vi o dono da voz. Voltei rapidente para onde estava sem querer batendo em Jonathan que me olhou preocupado. E foi ai que notei que a garota da qual aquela coisa estava falando não ter sinal, estava bem ali. Eu queria correr dali, mas pelo olhar do garoto eu mal deveria me mexer.
Fiquei parada, quase sem respirar de olhos fechados e senti alguém segurando a minha mão. É isso. Acabou. O cara cor de rosa me achou. Abri os olhos o mais devagar que eu pude, pra então notar que John estava me olhando e que quem estava a segurar a minha mão era ele. Não entendi porque ele estava fazendo aquilo, mas ai eu me toquei. Eu havia rezado. Pedido ajuda pro meu anjo da guarda. Mas eu me esqueci que ele estava do meu lado.
- Sim, eu entendi. Não se preocupe, dessa vez ela não vai fugir. - fugir? Eu nem consigo me mexer! Dessa vez? Eu nunca fugi de você, pelo menos não conscientemente. As vezes em que Jonathan falou que não podíamos ficar no mesmo lugar por muito tempo, se acenderam em minha mente. O fato de ele não ter dormido na noite passada também me intrigou. Todo esse tempo eu estava fugindo e não sabia. A questão é, fugindo de que?
Ouvi os passos do cara se aproximando e olhei para Jonathan receosa. Foi só então que notei que seus olhos não estavam mais cinzas, estavam verdes com nuances de ouro, porque dourado era pouco para aquilo. Não tive mais muito tempo de olhar para ele, só notei a presença do cara cada vez mais perto e os lábios de Jonathan me disseram claramente, corre.
E eu corri.
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Os barulhos de uma provável luta foram ficando cada vez menores, até ficarem completamente inaudíveis. Havia soltado Floquinho a um tempo já, o que facilitou minha fuga, estava com medo de que a cachorrinha se perdesse no caminho, mas lembrei que ao contrário de mim, ela vivia lá, era mais fácil eu me perder.
Estava somente seguindo a cadelinha que agora, assim como eu, estava andando. E a única coisa na qual eu conseguia pensar era em como Jonathan estava, aquele cara cor de rosa não parecia nem um pouco amigável. Mas também não me importaria se ele se machucasse um pouco, na verdade, adoraria que o garoto apanhasse um pouco.
Flok me levou até uma cabaninha que havia no meio da floresta. Me perguntei se era da dona dela ou se a cabana ao menos tinha dono, também me perguntei da onde havia saído aquilo e se era seguro ficar lá. Mas acabei por decidir ficar, acho que vai ser fácil de Jonathan me achar.
🍁
Não sabia que estava tão cansada, sentei em uma cadeira que tinha na cabana e adormeci. Acordei com os latidos de Floquinho.
- O que houve? - falei alarmada e ouvi os risos do garoto que eu não tinha visto entrar.
- Calma, está tudo bem. - não conseguia vê-lo, ele estava sentado no chão de um lado da cabana e Floquinho estava com ele. Suspirei.
- Flok, vem cá garota. - ela veio e deitou em meu colo, notei que o garoto estava inquieto e só então notei que o pelo dela não estava mais tão branco - Deus...Você ta sangrando. - a cachorrinha saiu do meu colo rapidamente e eu me levantei indo em direção ao garoto que se levantou se afastando de mim.
- Eu estou bem. - disse ele firme - Não preciso da sua ajuda. - revirei os olhos.
Me lembrei de uma vez em que estava na casa de Ariella e causamos um pequeno acidente sem querer. Sua gata, Ametista, atacou um passarinho no jardim, e a culpa era nossa, sabíamos que ela não podia sair para fora de casa. O passarinho e Jonathan tinham muito em comum. Os dois estavam com as asas quebradas. Lembro de que tentava pegar o passarinho, mas ele continuava a tentar voar, obviamente não conseguindo.
Me recordei do que fizemos para curar as asas do pássaro, e me perguntei se funcionaria com Jonathan, mas logo descartei a possibilidade. Nem as asas quebradas, nem ele todo quebrado, nada o impediria de me matar caso comparasse-o a um passarinho.
- Deixe de ser orgulhoso e me deixa te ajudar. - falei começando a me irritar, não precisei olhar pra ele pra saber que não iria faze-lo, ou pelo menos achava que não - Ah, quer saber? Cansei. Senta lá. Agora! - ele cambaleou para trás, surpreso - Anda! Ou você senta lá por bem ou por mal! - não saberia o que fazer caso ele escolhesse o "por mal", mas eu estava tão irritada que ele preferiu não tentar descobrir.
Ele sentou-se na cadeira, permitindo-me vê-lo. É ele estava bem machucado.
- Você é marrenta demais sabia? - disse o garoto.
- E você é teimoso. - retruquei. Jonathan fuzilou Flok com os olhos. Porque ele olhou pro cachorro? Será que não estava enxergando direito?
- Quantos dedos eu tenho aqui? - perguntei.
- Eu estou enxergando bem. - balancei os dedos insistindo, ele revirou os olhos - Dois, dois dedos Clarisse.
- Ótimo! Já podemos desconsiderar cegueira! - falei me jogando no chão - Agora só temos outras milhares de opções de lesões!
- Você está exagerando. - ele disse se ajeitando na cadeira e tentando disfarçar a careta de dor que se seguiu. Não conseguiu.
- Estou? Vamos analisar a situação então. - falei sentando de pernas cruzadas - Suas asas estão sangrando, e pelo o que vejo, quebradas. Você está cheio de cortes. E tenho medo de que possa ter mais alguma lesão que não esteja visível, alguma lesão interna. E não faço a mínima ideia do que fazer.
- Eu consigo me cuidar sozinho. - insistiu.
- Que seja. - disse desistindo - Ao menos me deixe limpar os cortes para não infeccionar.
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No próximo capítulo:
"- Por que ele estava atrás de mim? [...]"
*Foto na mídia*
Desenho feito por AFuckingScaredGirl rsrs
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Clouds
FantasyClarisse tem dezessete anos, e como toda adolescente da sua idade, tem problemas. Seus pais não aceitam seu novo jeito de ser e seus amigos não parecem entende-la mais. Depois de passar por uma grande perda ela começa a ter sonhos, um lugar onde ela...