Extra - Ariella

31 5 11
                                    

"I can't find no silver lining

I don't mean to judge

But when you read your speech, it's tiring

Enough is enough."  - Blame - John Newman.

 E eu sentia, a dor, a tristeza, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, saindo de meus olhos pretos e indo de encontro aos meus lábios vermelhos de sangue. Tinha prometido que não iria mais morder meus lábios, mas nunca fui muito boa com promessas mesmo. E depois de tantos anos, o gosto metálico do sangue já tinha se tornado tão familiar, que me parecia errado viver sem ele. Ouvi passos ao longe e sequei as lágrimas, coloquei meu habitual sorriso no rosto e esperei meu pai entrar no quarto. 

 Ele abriu a porta bem devagar e me viu sentada na cama, vestida com minha calça de moletom cinza e meu cropped preto, ele simplesmente sorriu e saiu. Como sempre. Um sorriso pra disfarçar. Disfarçar que não se importaria se eu não estivesse sentada ali como sempre estou. Disfarçar que não estava com outra mulher. Disfarçar que o casamento dele e de minha mãe só estava de pé graças a minha mãe, que tinha medo de me magoar se separando, e ele só estava ali pois ela podia sustentá-lo, e esse sempre foi o motivo. Disfarçar que mesmo assim me ama, mas que não é por isso que me quer por perto. Disfarçar toda a minha vida, com um simples sorriso, sinceramente, amorosamente, verdadeiramente, carinhosamente falso.

 Me perguntei como minha mãe devia estar se sentindo com tudo aquilo. Destruída era um bom adjetivo. Cheguei a sentir pena dela por um instante, um instante somente. Logo me lembrei do inferno em que ela transformava minha vida, e aquilo sumiu, não porque ela não estivesse sofrendo, mas porque eu também estava, e eu já entendia o lado dela, apenas ela que não via o meu. Um tapa por nada, dois por falta do que fazer e três porque esqueci de abotoar o casaco antes de sair. Ela era do tipo que pedia silêncio gritando e pedia privacidade invadindo meu espaço. Ela era do tipo que você odeia por dezesseis horas do dia, e dorme as outras oito. Mas é claro que haviam exceções, afinal, ela era minha mãe e eu amava ela. Tínhamos nossos momentos felizes, ah, e eram os melhores, acredite, nós duas juntas era algo mágico, e tão feliz. Pena que isso não dura.

 Ela reclama que eu sou grossa e estúpida, mas ela deve esquecer que já fui doce e gentil antes e que não tive nenhuma recompensa sendo assim. Ainda estão tão perto, os problemas, e eu não quero sentir a dor de tê-los tão perto, eles queimam, queimam minha alma e estão quase queimando tudo. Agora meu coração é frio, uma tentativa de me proteger de tudo, mas antes ele era tão puro que se recusa a se fechar completamente e por isso tenho amigos, e me permito apaixonar de vez em quando, paixonites que nunca duram mais de uma noite, mas é o suficiente para não enlouquecer.

 Não tinha motivos para ficar em casa, então coloquei meu short jeans preto, o qual Cla com certeza desaprovaria, e um cropped com glitter verde e roxo, uma bota holográfica com um salto razoavelmente alto, fiz minha maquiagem, peguei minha bolsa e sai pela janela, simplesmente para não ter que sair do quarto, não era como se meu pai fosse me impedir de sair pra balada.

 Sabia que tinha uma festa rolando na boate Explosion no centro da cidade, então peguei um táxi e fui para lá. Não precisamos nos aproximar muito para ouvir a música tocando, e logo reconheci Work da Rihanna, paguei o cara que já estava me olhando estranho e sai do carro que logo arrancou e foi embora. Fora da boate tinham algumas pessoas fumando e uma fila de pessoas querendo entrar, mas eu não sou uma pessoa qualquer. Passei pela fila indo em direção à porta, no caminho vi garotos me olhando de cima a baixo com o usual sorriso malicioso e garotas me olhando com nojo.

CloudsOnde histórias criam vida. Descubra agora