1. Rosas

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O céu estava escuro e escasso em nuvens. A brisa que dançava pela relva agitava-lhe os cabelos. Todos os anos visitava aquela lugar, procurando pelas rosas mais bonitas que conseguisse encontrar. Caminharia pelo campo aberto até achar aquele enorme e belíssimo jardim.

De longe, avistou as pequenas manchas vermelhas no horizonte e andava até elas com calma. Lembrava como se fosse ontem o dia em que tinha prometido aos deuses que queimaria as rosas como moeda pela saúde de seu enfermo pai. A cada trezentos e sessenta e cinco dias saía de casa e fazia sozinho o que precisava cumprir.

Carter achou aquelas que mais gostava e quebrou seus caules. Sentiu algo gosmento em suas mãos, olhou para baixo e era tão vermelho quanto as pétalas daquelas arrancadas. Franziu o cenho. Aquilo era muito estranho.

O que poderia ser? Levou os dedos para mais perto do nariz. O cheiro era similar a ferro ou a enxofre. Não poderia ser sangue, poderia? Flores não sangram, nem mesmo possuem veias ou substâncias necessárias. Então o que mais seria? Não conseguiu pensar em nada.

O líquido escorria por suas mãos e ele se sentia culpado. Elas talvez não possuíssem sangue, ou falassem ou mesmo se parecessem com ele, mas elas estavam vivas e ele as estava matando. De repente, conseguiu sentir seus gritos de dor, como se humanas fossem, suas lamúrias tão altas e ruidosas. Mas Carter sabia que faria qualquer coisa por seu pai, seu único amigo de verdade, e sabia que havia prometido que as queimaria; estava com medo de que se parasse com algo que fazia por todos esses anos, seu pai adoeceria novamente.

Limpou as mãos na grama fina e, decidido, as levou embora. Acendeu a fogueira que havia preparado e as jogou lá dentro, as chamas quentes crepitando. Pôde ver que elas murchavam tão rapidamente, definhando como um cadáver durante semanas passadas em alguns segundos. Sentiu seu coração se apertando como nunca tinha feito antes, mas não desfez a fogueira. Não pararia até ter cumprido o que precisava cumprir.

— γ

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