10. O Conto dos contos

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Angustiado, o homem vagava de um lado para o outro pensando em pontos, personagens, histórias...com um sonho em foco: escrever o Conto dos contos, uma obra na forma de palavras do mais elevado nível.
A parede era forrada de rascunhos, não havia mais lixeiras capazes de acolher todos aqueles rasgos de papel, uma vez que independentemente do quanto ele gostasse daquele filho (pois, aos olhos do escritor, seus textos são como filhos) ele sempre encontrava algo que trouxesse algum aspecto superior. Embora batesse um desanimo às vezes, ele tinha esperança e confiança nele próprio. Com esse pensamento ele se pôs a andar, precisava respirar ar puro e buscar algo em que se inspirar.
Musas, profissões, a natureza, ele próprio... nada parecia promissor naquela conjuntura desesperada. Num banco da praça ele avistou uma borboleta:
"Feliz e pequerrucha,
ela voava e avançava
quantos universos se escondiam
no infinito branco de suas asas,
o subir e descer da vida;
sua trajetória tão bonita."
Blá! Levantou-se com um suspiro e chutou uma pedra, que bateu no rio e rodopiou incerta...
Uma mãe passou com um carrinho, que abrigava um bebê em um sono tranquilo; o autor pensou na poesia que envolvia aquele amor e aquela vida, passariam por tantas coisas juntos: incertezas, inseguranças, tristezas... Era um tema promissor; porém, mesmo assim, voltou para casa vazio.
O dia estava no fim, quando nosso poeta teve um estalo, correu por uma caneta e um papel, e começou o processo de transformação da ideia em palavras concretas.
A história em si era reconhecidamente fraca, não tinha tema interessante nem propunha reflexão importante. No final, era um conto comum; mas, inegavelmente, era "O Conto dos contos", pois assim indicava seu nome.

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