6. Debaixo da terra

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Não sei onde estou. O chão é preto, sobre mim há nuvens negras e as paredes são feitas de obsidiana; a não ser pela minha pele, que adquiriu uma cor pálida de defunto, todo o resto do inferno onde me encontro se perde na escuridão.
Tento dar um passo. Minhas pernas estão bambas, fracas e abandonam-me numa queda livre até o áspero solo. As pedrinhas arrancam pedaços de todo o meu corpo, deixando feridas abertas. Preciso estancar a cachoeira de sangue; contudo, não sei onde estou.
Eu sinto frio. Tenho a sensação de estar congelando, não sinto mais os dedos dos pés, as pernas, o tronco, os braços, a cabeça. Se não achar algo em que me abrigar acabarei com uma hipotermia; porém minhas pernas estão dormentes e eu não sei onde estou.
Solto um berro que apesar de arranhar a minha garganta não produz som. Será que alguém escutará o bater acelerado do meu coração antes que ele abrande e pare de vez? Mas não conheço o lugar, não consigo sair e estou morrendo de frio.
Minha barriga se contorce; tenho fome, muita. Sede também. Conseguiria encontrar subsídios para a sobrevivência básica de um ser aqui? Ao que tudo indica não. Quando o corpo desidratar e se der vencido pela necessidade, minha visão escurecerá, meu redor rodopiará lançando-me vertigens e bile na garganta; desse modo colocarei para fora os últimos resquícios de vida que ainda tiver. Não tenho chances de mudar o destino porque estou perdido, fraco, com frio e sem poder.
O quê era aquilo? Será uma luz? Arranjo forças do meu subconsciente para engatinhar até o ponto brilhante. Meus joelhos abrem-se, as palmas das minha mãos adquirem uma coloração vermelha. Perdi a contas das vezes que não suportei o peso e minha cabeça ecoou do choque com o chão. Estava quase chegando, só mais um pouco de dor. Todo meu corpo implorava por descanso, desmanchava-se sob a pressão de resistir. Aproximo-me aos poucos e não vislumbro a luminosidade que esperava, nenhuma das outras muitas hipóteses de salvação que passaram pela minha cabeça. Eu encaro um ser esquelético, imundo de uma capa vermelho escuro, cortes e hematomas espalhados em todo o mosaico de horror que era seu corpo; feições desumanas cortavam o rosto praticamente irreconhecível.
Meu coração se rasgou sob o fardo de encarar aquele espelho; agora, eu me arrependo dos meus pecados, erros e rancores.
Porém era tarde demais.

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