15. Inverno

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O frio congelava seus dedos e seu rosto. O nariz já estava vermelho e os olhos estavam lacrimejantes, por mais que não estivesse nem um pouco emocionada. Na verdade, estava raivosa e com vontade de socar os ventos gélidos que lhe sopravam os cabelos bem na fuça de cada um deles. As sobrancelhas, por mais que estivessem congeladas como se tivesse aplicado Botox na testa, estavam o mais franzidas possíveis para demonstrar sua frustração.
Helena vinha de um país quente e nada úmido, clima dos tropicais e semiáridos, onde nunca comprou um casaco decente por necessidade nem sequer uma vez. Era apaixonada pelo frio, pela neve, pela aquela sensação maravilhosa de se cobrir com edredons grossos só para botar suas séries em dia. Mas sua primeira experiência com o tempo realmente glacial não estava sendo nada com que tinha esperado por tantos meses. Tinha delírios de que sairia pelas ruas com suas melhores roupas de várias camadas de tecido que tinha certeza que tinha um caimento muito melhor nela do que as roupas de verão, de que tomaria cafés quentinhos em cafeterias com cheiros desumanamente bons, vendo os primeiros flocos de neve cair. Bom, não era exatamente por essas situações que passava.
Tremendo, ela esperava encontrar algum lugar com aquecedor e o mais fechado possível rapidamente, mas as lojas em que entrava não pareciam lhe proporcionar o conforto de que tanto desejava naquela hora de desespero. Xingou ao ar, fumaça saindo de sua garganta, fazendo com que um homem que estava passando virasse para trás e a olhasse com cara de espanto e desaprovação. Sua reação foi lhe mandar uma cara debochada e nada receptiva; como se ele também nunca tivesse dito alguma coisa feia perto de estranhos!
Enquanto andava com passadas pesadas se deu conta de que não gostava tanto assim do frio. Ela gostava da ideia de frio, e não do conceito de frio, muito menos de sua realidade. Parou, em pensamento, para analisar; muitas coisas na vida não eram tão boas e interessantes de verdade, mas a ideia dela pode parecer bem atraente. Helena interjeitou um hum, declarou que nunca havia pensado naquilo antes e continuou sua peregrinação atrás de um lugar quentinho.
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