15 | [Des]equilíbrio

5.6K 568 240
                                    

Minha respiração ficou presa, e a cena na qual me vi era num filme de suspense. Um longo, perceptível e terrível filme de suspense.

— E você sabe o porquê. — Heitor caminhou bem devagar e parou bem à minha frente. Mal havia trinta centímetros entre nossos rostos.

Eu sabia?

— Eu tenho namorado — fui logo o relembrando, mesmo que ele tivesse a plena consciência disso. O problema não estava no fato de eu buscar motivos para afastá-lo de mim: soar convincente era o grande desafio. E eu estava falhando.

Ele me mostrou um sorriso e virou minha cadeira completamente, de modo que meu olhar ficasse perfeitamente no nível do dele. Depois, moveu ambos os seus braços às minhas laterais e apoiou suas mãos na mesa, como se fosse me beijar à força. Não duvidava muito de que em algum momento ele fosse ultrapassar a linha do limite, e isso me gelava cada vez mais. Porra, eu preciso sair daqui o quanto antes...

— Seu riquinho Trevor Harper? — disse em deboche, os olhos cinzas brilhantes e carregados de desejo. — Ele não é bom para você, Chris.

Eu queria soltar o ar de forma incrédula.

— Se ele não é, você está longe de ser — sussurrei, semicerrando minha visão.

— Ora, que eu saiba você é prostituto. E prostituto não é dono de ninguém.

Ex prostituto — corrigi, fumegando raiva. — E minha vida pessoal não é da sua conta.

Criei forças para ficar em pé, mas ele me sentou de novo com um empurrão leve no meu ombro, agora encostando a cadeira na mesa e aproximando-me mais do que já estava. Que merda!

— Já vai? Tão cedo?

— Me solta — resmunguei, a voz tremendo.

— Vem à minha sala me encontrar e agora quer ir embora? — Ele tocou meu ombro esquerdo com o polegar. — Mal começamos a nos divertir, Chris.

— Eu vou gritar se...

— Gritar? — Ele riu como se eu tivesse dito que iria pular a janela, o hálito gelado tocando meu nariz. — Acabei de mandar Angel embora. E ela era a única presente. Não tem ninguém aqui além de nós dois. Liberar os funcionários mais cedo e deixar que você ficasse mais tempo foi uma tática que valeu a pena.

A gravidade pareceu abandonar meu corpo, deixando nada mais que uma terrível sensação de estar no espaço escuro, denso e melancólico. Eu estava sozinho. Com Heitor. E ele esperava por isso!

— Por que você veio, Chris? — Seu polegar foi deslizando pela curva do meu pescoço, seu lábio sendo mordido com provocação. Senti como se as pontas de seus dedos tivessem sido colocadas em brasa recentemente. — Veio para continuar sua canção de Call Me Maybe, como fez naquela boate?

Franzi a testa, e medo e agonia transitaram pelo meu corpo feito uma corrente elétrica irritante.

— Eu estava procurando Angel — comecei a explicar, apelando a uma tática de distraí-lo. Eu sabia que Trevor chegaria em algum instante, então atrasar meu chefe era um caminho a qual eu podia trilhar.

— Não. — Ele balançou a cabeça, o polegar delicadamente na minha bochecha. — Eu quero saber por que você veio para . Para a Venus.

Meu coração iniciou o descontrole. Saia daí, pare de bancar o esperto, aconselhou meu subconsciente ao retornar do lugar de seu esconderijo, roendo as unhas. Você sabe que está em perigo... Eu sabia que precisava seguir o que ele me dizia, porém não sabia como.

EU ENTREGO MINHA VIDA A VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora