Esperança

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Eu estava muito ansioso por aquela tal viagem de fim de ano que íamos fazer. Era a minha primeira viagem em família... Meu irmão mais velho disse, ainda que um pouco difícil de entender, que antes de eu chegar na família, eles sempre faziam aquilo juntos.

Aquele dia estava um pouco frio, até pra mim. Me aconcheguei no banco pronto para seguir para onde quer que fôssemos. Tom sentou logo ao meu lado todo animado. Meus pais sorriam o tempo todo e o acompanhavam na canção vinda do rádio. Até mesmo eu não me segurei!

Não demorou muito para ele cair no sono e eu encarar a paisagem que passava como um raio pela janela do carro.

Olha aquilo! Viu, mamãe? — A encarei, mas ambos me olharam com uma expressão de raiva...

— Dá pra calar a boca?! Que saco! — Bufou ela, se recostando no banco do passageiro. — Nunca foi uma boa ideia... — Resmungou.

— Eu que o diga... — Meu pai bufou ao fitar a estrada.

Os encarei ainda não entendendo aquilo que eles falavam... Como assim "nunca foi uma boa ideia"? Não conseguia compreender. Eles não gostavam de mim como do Thomas? Eles não me amavam?

Aquela possibilidade doeu muito. Doeu demais...

Tentei não chorar, mas apenas demostrei, da forma mais barulhenta, a minha tristeza. Recebi como recompensa um tapa e mais uma enxurrada de xingamentos que eu já os havia aprendido muito bem.

— Será que dá pra essa coisa parar?!

O que vocês têm contra mim? — Choraminguei. — Eu...

— Já chega!

Meu pai freou o carro bruscamente. Me assustei com aquilo, mas me assustei ainda mais quando o vi sair do carro e bater a porta com toda a força. Encarei sua figura dar a volta no carro e abrir a porta ao meu lado. O fitei, confuso.

— Já chega. — Seus olhos me diziam que ele não estava com um bom humor. Aquilo era bem notável... Ele me pôs no colo. Me senti melhor com aquele gesto. Mesmo que não fosse um abraço ou um carinho.

Papai me colocou em cima de um pedaço de papelão que encontrara na beira da estrada. Ele falou com a voz áspera:

— Tchau.

O quê? — Ele se distanciou, entrando no carro. — Papai! Papai! Papai...

Era tarde demais quando criei forças para correr atrás do automóvel. Parecia que a cada piscar de olhos meu, eles ficavam mais longe de mim. Eu havia ficado pra trás. Abandonado...

Voltei a deitar em cima do papelão e fiquei encarando o caminho que seguiram sem mim. O frio e a fome eram o que menos me atingia naquele momento.

Quando amanheceu ainda tinha esperança, mas quando notei poucos carros e nenhum deles correspondia ao de minha família, desisti. Desisti porque me doía ter esperanças de algo que provavelmente não aconteceria.

Uma Kombi Azul chamou minha atenção no exato momento em que parou na beira da estrada, um pouco próxima a mim. Levantei, um pouco feliz e amedrontado com a presença de uma garota sorridente vindo em minha direção. Ela se ajoelhou diante de mim, me fitando nos olhos.

— Está perdido? — Acariciou minha cabeça. Não pude não fechar os olhos com aquele gesto de amor. Seus olhos ficaram tristes de repente. — Você foi abandonado...

Sim.

— Acho que foi isso... — Continuou a acariciar minha cabeça. Suas mãos desceram até meu pescoço, parando no pingente com o meu nome. — Hulk?

— Sim!

Ela gargalhou, sorrindo com os olhos para minha alegria. A garota mordeu os lábios, logo me pondo nos braços, o que fiz sem pestanejar, e me levando para a Kombi.

— Outro cachorro? — Um garoto sorriu ao nota-la entrar comigo no banco do passageiro.

Ela me fitou, voltando a acariciar minha cabeça.

— Não tenho culpa se há pessoas que não sabem o quão especial os animais são pra gente.


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O que dizer sobre esse vídeo? 

Diga NÃO ao abandono! Seja ele de cães ou gatos, diga NÃO!


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