Era uma vez

22 6 10
                                    

A minha infância foi tão simples que dava a sensação de ser algo retirado de algum poema de tão maravilhosa que era! Eu não tinha todos os brinquedos do mundo, mas tinha muito mais que isso: tinha uma mente criativa que transformava uma pecinha de montar em uma Barbie...

Eu amava brincar de Barbie com minhas irmãs, mas não sozinha. Era chato quando não tinha ninguém para imitar durante a brincadeira. Também brincava de boneca. E gostava ainda mais quando eu e minha irmã pegávamos nosso gato de estimação — nosso amado Pretinho — e fazíamos dele, um filhinho. A brincadeira ficava muito mais legal quando o filhinho de alguém interagia...

Eu costumava ir mais a casa dos meus avôs... Lá no sítio, eu, minhas irmãs e minha prima fazíamos da areia, massa de bolo, e das embalagens de manteiga e colheres, utensílios de cozinha. Éramos "as" cozinheiras! Já lá na praia, nós trocávamos as embalagens de manteiga e colheres por baldinhos e forminhas para moldar a areia molhada e criar peixes, siris e mais algumas coisas que só a imaginação sabia. Era bom...

A maioria dos Carnavais foram na casa dos meus avós paternos, na praia. Eu particularmente não queria sair da paria, adorava a água e o cheiro bom dela. Também amava a piscina da casa da minha tia. Eu gostava de achar que era uma sereia ou que tinha que escapar de um monte de tubarões ferozes...

Nós não tínhamos mais um videogame. Não tínhamos celulares modernos. Acho que o computador demorou um pouco também. Não tínhamos micro-ondas, nem uma televisão de última geração. Também demorou a termos uma máquina fotográfica! Mas nada disso importava! A minha infância foi maravilhosa e mesmo sem ter um monte dessas coisas (ou demorando a ter), ela foi perfeita.

Todo ano dançava quadrilha na Festa Junina. Sempre recebia lancheira nos aniversários e amava os doces, bolo e tudo o mais! Adorava inventar moda com roupas e fazer penteados malucos no cabelo enquanto o lavava com Xampu. Amava fazer barraca com lençóis e achar que estava acampando. Adorava sentar na frente do ventilador e achar que era uma locutora de rádio.

Eu gostava de dar cambalhotas no chão e plantar bananeira, saltar estrelinha e achar que era uma ginasta olímpica. Fingia que sabia falar outras línguas e acabava criando um dialeto que nem mesmo eu entendia. Eu também amava assistir filmes de animação, o que ainda é verdade.

Eu não tinha com o que me preocupar. Não estava tão preocupada com o futuro... Eu só brincava. Só e mais nada...

Dançava ao som dos DVDs da Xuxa assim como também acordava cedo só para assistir os desenhos pela manhã antes de ir para a escola. Brincava de pega-pega no recreio e levava os brinquedos na sexta-feira. No sábado, ainda acordava cedo só por causa dos desenhos também.

Sempre desenhava uma casa, uma árvore, um sol sorridente entre duas nuvens e uns três pássaros no céu. Ou às vezes uma casa de doces, uma ponte com uma menina sobre ela ou a minha família. Eu também inventava histórias para cada desenho criado, mesmo inconscientemente.

Eu amava aquilo. E sempre amarei. Eu jamais esquecerei. E não quero deixar que aquela menina morra dentro de mim. Quero que ela nunca cresça... Quero que ela fique comigo e me mostre, me faça sentir, que eu já fui criança um dia. Na verdade, que eu nunca deixei de ser.

Cativo |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora