A última carta

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Só mais um mês... Isso era o que eu repetia pra mim mesma.

Só mais um mês e nossas vidas iriam se resolver de uma vez.

Nós não nos despedimos da maneira mais correta... A briga conseguiu nos abalar muito.

Só mais um mês...

Meus pensamentos foram interrompidos por incansáveis batidas na porta. Dei uma última olhada no céu ainda iluminado e corri até a porta de entrada.

Dois soldados, amigos dele, me encararam com um olhar baixo, triste. Onde ele estava? Fiquei receosa.

— Onde ele está? — Indaguei com um quê de desespero na voz, pondo a mão no peito.

— Sinto muito, Lizzi, mas...

— O que aconteceu? — Meu coração acelerou. — Não, isso não é verdade... — Minha respiração quase parou. Senti uma dor insuportável em meu coração. Caí de joelhos no chão, enterrando meu rosto nas mãos. — Isso é mentira... — Grunhi.

— Também gostaríamos que fosse. — O outro pôs a mão em meu ombro, se abaixando. — Mas você tem que ser forte. — O encarei. Como eu iria ser forte? — Infelizmente ele não teve chance. O ferimento foi muito forte...

Eu estava muito abalada. Não conseguia falar nada. Apenas levantei e fechei a porta aos poucos. Mas fui impedida.

— Ele te deixou isto. — O homem estendeu um envelope em minha direção. — Meus pêsames. — Assenti e tentei sussurrar um "obrigado", mas a única coisa que fiz foi arrancar o envelope de suas mãos e trancar a porta.

Meus olhos marejaram quando vi sua letra rasurada e uma dedicatória... "Para meu bem mais precioso". Rasguei o papel com pressa e encarei a carta em minhas mãos.

Querida Lizzi,

Meu amor, minha rosa, minha princesa! Sei que você ainda está com muita raiva de mim por causa da nossa briga (devo dizer uma briga estúpida?) Antes de eu ter que viajar...

Pus a mão na boca. As lágrimas rolaram sem pedir licença.

Espero que você tenha me perdoado por ter sido tão imbecil, pois idiota ainda é pouco, com você. Você não sabe o quanto dói pra mim só poder te ver pela aquela fotografia do nosso casamento... Você não sabe o quanto doeu pra mim ter vindo pra essa guerra sem, ao menos, ter me despedido direito de você... Sinto sua falta intensamente. Sinto a falta de suas reclamações, do seu jeito e de tudo em você. Eu não paro de pensar em você nem um dia.

Aquilo não estava acontecendo. A dor em meu peito só aumentava. Minha visão estava começando a embaçar. As lágrimas se acumulavam no canto dos olhos e a minha dor se tornava mais insuportável.

Mas sabe o que faço pra lembrar de você? Lembro do dia em que nos conhecemos...

Dei um sorriso fraco em meio as lágrimas.

Lembro de absolutamente tudo naquele dia. Lembro até dos meus amigos me encorajando a ir até uma garota de óculos, com os cabelos curtos até a nuca e muito, muito bonita. Me lembro de como o céu estava estrelado... Lembro do nosso olhar apaixonado...

Me perdoa. Só me perdoa. Eu não aguento saber que por minha culpa a nossa história pode estar ameaçada. Me deixe ser o homem mais feliz e me dê só mais essa chance. Prometo que provarei meu amor de milhares de formas diferentes. Todos os dias.

Os meus dias sem você são uma droga. Os dias viram anos quando estamos separados. E segundos com você ao meu lado. Já falei que não paro de pensar em você um dia sequer?

Ficaremos pouco tempo separados... Sinto isso. Mas enquanto isso não acontece, repito pra mim mesmo, todos os dias, que todo esse pesadelo vai acabar. Só mais um mês... E eu voltarei. Você ainda terá que aguentar as minhas burradas e meus sentimentos por você por muito tempo...

Ps: mas eu prometo que não vou cometer os mesmos erros e correr o risco de te perder. Eu só vou errar agora tentando acertar com você.

De seu amor e perfeito idiota, Ben.

Caí escorregando pela porta sem expressão. Abracei a carta contra o peito, desejando que aquilo não fosse real. Que fosse apenas um sonho ruim... Fechei os olhos, desejando que quando eu os abrisse ele estivesse em frente a porta de entrada ou me dando um abraço apertado... Mas quando abri os olhos não vi, ouvi, ou senti nada. Tudo o que consegui foram mais lágrimas. E mais dor.

Só mais um mês... E eu voltarei.

Observei a janela ao fim do corredor. O céu estava estrelado. Mais uma lágrima, um suspiro e um sussurro:

— Eu nunca fiquei com raiva de você de verdade... Eu nunca te odiei. — Fitei um quadro com nós dois abraçados, e chorei mais ainda. — Eu te amei desde a nossa primeira troca de olhar... — Fitei a carta em minhas mãos. — Eu te perdoo por tudo... — Solucei mais um pouco em meio a tanta lágrima. O vazio em meu peito me fazia acreditar naquilo tudo. — Mas não consigo te perdoar por você me deixar só... — Sussurrei, fechando os olhos com força. — Minha vida sem você também é uma droga...

Abracei a carta e me encolhi, soltando alguns gemidos de dor. Eu sei que ele sempre estaria comigo. Mas aquilo não mudava nada. Pois quando esse mês passasse... Ele nunca iria voltar.

Nós não nos despedimos como deveríamos. Nem nos reencontramos como esperávamos...


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Esse foi meu primeiro (ou o segundo ou terceiro, não sei) conto que postei aqui no Wattpad. E já dá pra perceber que eu adoron um drama, né? hahaha

Espero que tenha gostado, se emocionado e parado para pensar como tudo pode acabar rápido e às vezes a gente nem dá muita bola pra isso, pois pensa que um segundo ou um mês pode mudar tanta coisa. 

Devemos aproveitar cada segundo, cada momento com a pessoa amada... E, acima de dizer que a ama com todo o coração, devemos fazer as pazes antes que seja tarde demais para dizer um "desculpe" encabulado. 

Um beijo e logo mais os outros contos estarão aqui também!


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