PRESENÇA INESPERADA
AUGUSTO
Eu devia ter trazido o maldito guarda-chuva, mas não. Saí tão apressado de casa — atrasado, pra variar — que só lembrei do tempo quando já estava dentro do metrô. Droga!
O meu trajeto para o expediente certamente iria demorar um pouco. O que me faria chegar ainda mais atrasado. Eu não podia! Não podia correr o risco de ficar sem emprego — mesmo que aquele em especial fosse uma verdadeira...
— Desculpa! — Uma voz conhecida interrompeu meus pensamentos. Levantei meu rosto, mas o meu queixo foi ao chão. Era ela.
Todas as minhas lembranças voltaram. Tudo dela voltou. Tudo o que eu ainda sentia por aquela garota de cabelos arco-íris e bagunçados. Seus piercings no rosto me lembravam o tempo de escola. Seus olhos marcados por uma sombra escura e borrada me transportavam para as nossas conversas. Seus lábios finos e revestidos por uma camada escura de vermelho me levaram para quando nós ainda éramos um nós.
— Guto? — Um sorriso meio tímido misturado a uma cara confusa habitou seu rosto pálido.
Fiz que sim com a cabeça. Ela, ainda sem jeito, e agarrada a uma barra de ferro, continuou a fitar-me. Seu sorriso aos poucos foi sumindo. Uma expressão frustrada...
— Faz tempo, né? — Seus olhos, incapazes de me encarar, cravaram o chão.
— Uns cinco anos, pra ser mais exato.
— Nossa... — Suspirou. Estela me encarou, corada. — E como você tá?
— Eu... — Engoli em seco. — Bem. — Mentira! Você sabe que eu não estou bem, Estrela... Eu ainda não consigo te esquecer, mesmo eu pensando que sim. — Muito bem, na verdade.
— Que bom.
Ficamos em silêncio. Será que se todo o resto do mundo a nossa volta ficasse no modo "mudo", ela conseguiria ouvir o meu coração acelerado? Ou meus pensamentos ridículos? Até mesmo as lembranças que não paravam de surgir em minha mente?
— O que você tá fazendo da vida?
— Eu estou trabalhando numa empresa, operadora de celular. Sou vendedor...
— Hum. E a faculdade de biologia?
— Ainda é só um sonho. Não tive a mesma sorte que você pra conseguir uma oportunidade tão boa e não pensar duas vezes.
Seus olhos arregalaram com minhas palavras. Estela franziu a testa, indignada.
— Você nunca vai esquecer isso não?
Ela era inacreditável! Como eu iria esquecer aquilo? Como eu iria simplesmente esquecer que ela me deixou. Da forma mais sem noção possível. Da forma mais... argh! Da forma mais dolorosa que eu sequer podia imaginar!
— Lamento, Estela, mas eu nunca vou esquecer. — Ela mordeu os lábios, revirando os olhos. — Você me decepcionou muito.
Não consegui encara-la. Apenas segui para longe e de tudo o que eu lutava para esquecer desde aquele primeiro de abril que nunca foi mentira.
Saí do metrô sem conseguir parar de pensar nela. No expediente, a mesma coisa. E no horário do almoço, pior.
Eu revirava a comida barata no prato enquanto me deixava afogar por tantas lembranças que sequer eram importantes, mas só em contar com a sua ilustre presença, já era algo...
Encarei a janela embaçada pelo frio e pelas gotas pesadas da chuva. Suspirei, fitando as pessoas andarem apressadas pela rua.
Eu a avistei andar apressada pela rua enquanto falava ao telefone. Ela sequer prestava atenção na movimentação a sua volta.
Ela sequer prestou atenção em um carro vindo em sua direção...
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Hum... parece que as coisas já começam nas tretinhas... kkkkkk
Não se esqueça de votar e comentar, eu iria amar saber o que está achando do conto :)
Tchau e até logo!
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Cativo |✔
Poésie[POESIAS] [L] __________________ Contos independentes que apenas querem mostrar-se para o mundo. E pensamentos que apenas querem ser desabafados. E alguém que apenas quer ser livre, mas ainda é um cativo do próprio mundo...