Doce Estrela - Parte 3

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VOCÊ AINDA É MINHA ESTRELA

AUGUSTO

Estela estava desacordada. Eu estava ajoelhado ao seu lado, aflito. Queria que ela acordasse. Que abrisse seus olhos. Que não fosse embora mais uma vez.

A ambulância estava a caminho, mas eu não conseguia ficar calmo. O motorista estava visivelmente apavorado e eu estava visivelmente perdido. Eu não podia fazer nada, e isso me irritava profundamente.

Quando os paramédicos chegaram e a colocaram ainda desmaiada numa ambulância e saíram em disparada para o hospital mais próximo, eu só conseguia encara-la com os olhos marejados. Apesar de tudo, eu não queria que ela fosse embora. Não mais uma vez. Não pra sempre...

Levaram-na direto para a emergência e eu fiquei na espera. Não pude ir junto, mas também não aguentaria. Afundei numa cadeira na sala de espera quase vazia. Esqueci-me do trabalho e eu sabia que estaria ferrado de qualquer jeito. Eu poderia ter deixado que ela ficasse só, largada sem ninguém naquele lugar, mas não o fiz.

Mordi os lábios, encarando o teto. Só de pensar no pior já entrava em pânico. E se...

— Ah, me desculpe! — Uma senhora disse, sorrindo amarelo quando um pouco de café caiu sobre meus pés.

Dei de ombros, sorrindo fraco, colocando as mãos nos bolsos. Voltei e encarar o teto, pedindo aos céus para que alguma notícia boa invadisse aquele lugar tão cheio de dor que costumava ser um hospital pra mim.

— O que foi, meu jovem? — A mesma senhorinha voltou a perguntar, atraindo minha atenção. Ela era negra e tinha uns olhos que de alguma maneira transmitia alguma tranquilidade em meio a todo aquele caos que estava vivendo. — Está esperando alguém?

— Sim...

— A sua namorada? — Ela sorriu, bebendo mais um pouco do líquido do copo de plástico.

— Não... Não, apenas uma... — Mordi o lábio inferior com força, sem encara-la. — Amiga...

— Ah, sim. Entendo.

Amiga...

Eu não queria ter dado aquela resposta. Eu queria dizer que estava esperando minha namorada, noiva ou esposa... Qualquer dessas três coisas doeria menos do que aquele termo que nem fazia sentido naquelas circunstancias.

A mulher ao meu lado ficou em silêncio por algum tempo até beber mais um pouco do café e virar um pouco para o lado, me encarando.

— Essa sua amiga é bem importante, não é?

— Sim, ela é. — Suspirei.

Voltei a encarar as mãos, desejando que nada daquilo estivesse acontecendo.

Se Estela não tivesse vindo falar comigo, eu nem saberia que ela estava na cidade. Se eu não tivesse visto ela sendo jogada no ar por um carro, eu não estaria sofrendo por perde-la. Se ela não tivesse ido embora para Deus sabe onde, eu não teria me sentido mal ou achado que havia feito alguma coisa de errado. Se eu nunca tivesse a conhecido, nada daquilo estaria acontecendo...

Mas eu a conheci, a amei, a perdi, a reencontrei de volta... Mas tinha a chance de nunca mais vê-la, e agora, bem, poderia durar pra sempre.

Enterrei o rosto nas mãos, apreensivo. Apavorado. Triste. Com medo...

— Não fique assim, meu jovem.

Cativo |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora