Capítulo 13 - Touch It

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"cause everytime I see you I don't wanna behave, I'm tired of being patient so let's pick up the pace..."

N/A: Desculpa a demora a a a e não desistam de mim, por favor! O capítulo é "longo", mas vale a pena, porque pertinho do final eu deixei uma surpresinha pra vocês, compensando o período da seca. ENJOY!!!

Pra quem ainda não viu, corre lá na playlist Stucky pra dar uma vibe maior na hora de ler. O link tá na descrição do livro!



- Ai!
Apesar dos reflexos que adquirira, estar dormindo e tão próximo do chão, não ajudou muito e Steve levou um tombo um tanto dolorido. Um dos resultados da queda foi ele ter arrastado o lençol completamente, despertando Bucky.

- Steve? O que foi isso? - a pergunta veio afetada pela voz sonolenta e não fosse pela queda que Steve sofrera, acertando o chão duro em cheio e acordando-o de um sonho praticamente perfeito, teria sorrido e se derretido. Ao invés disso, timidamente ergueu-se novamente para a cama, sentando no colchão e agarrando o cotovelo avariado.

- Eu caí - esclareceu, tentando em vão esconder o quanto havia ficado chateado com o fato. Estava dormindo pacificamente, uma noite de sono maravilhosa depois de tantas outras perturbadas e intermináveis.

Mas tudo aquilo tinha uma explicação. Um motivo. Olhou para Bucky, perdendo o ar por alguns segundos. Ele estava parcialmente deitado, os cotovelos apoiados na cama, elevando um pouco o tronco nu. O coque havia sido desfeito e os cabelos rebeldes caiam em ambos os lados do rosto, formando cortinas negras. Ainda mantinha um dos olhos fechados, mas o outro escaneava Steve preguiçosamente, assimilando o que ele havia dito.

E nesse momento ela veio, aquela onda morna e que alastrava um formigamento de excitação por todos os nervos de Steve, fazendo seu estômago revirar e uma tontura gostosa invadir suas têmporas. Junto com ela, as lembranças da noite passada, da madrugada e de todas as implicações que foram criadas. Perdeu o fôlego ao ser atingido pelos sentimentos que não conhecia direito e ao mesmo tempo, pelo conforto que a situação causava. Podia estar perdido dentro do próprio corpo, a cabeça confusa e o coração acelerado. Porém, ali estava Bucky, olhando pra ele como se o mundo não fosse tão complicado assim, aos poucos recobrando a consciência e despertando do mundo dos sonhos.

Quase virou o rosto tamanha a intimidade que era ver Bucky sem camisa, acabando de acordar, depois do que haviam feito. E de súbito se lembrou de que não precisava, ao mesmo tempo sentindo que tudo dentro dele começava a reagir exatamente naquela direção, querendo empurrá-lo de volta nos lençóis e deixar o resto do outro lado da porta.

- Está me encarando - Bucky constatou, um sorriso jocoso se formando em seus lábios levemente inchados - Por que está me encarando?

Imediatamente Steve sentiu as bochechas corarem, ardendo com o fogo da timidez. "Ótimo, agora vou ficar me sentindo constrangido toda vez que olhar pra ele", pensou, dando de ombros desajeitadamente.

- Acho que... bem, não sei - a facilidade com que ainda perdia a fala, fora trabalhada durante anos e através de várias situações constrangedoras. Tinha certeza no fundo de seu ser que não havia necessidade de direcionar aquele nervosismo a Bucky, mas não podia evitar. As imagens ficavam dançando na frente de seus olhos... os dois rolando na cama, camisetas voando para o chão, beijos no pescoço, na orelha, mãos descendo por todos os lugares... e Bucky, já tarde da madrugada, dizendo que era melhor eles pararem e irem devagar. Acabaram dormindo precocemente abraçados, Bucky de barriga pra cima e Steve com um braço jogado por cima dele, atravessando o peitoral que subia e descia com a respiração calma e constante.

Não iria confessar, mas depois que Bucky dormira, ele havia ficado um bom tempo acordado, em completa hipnose pelo efeito que a luz prateada da lua, entrando pelas cortinas, causava no rosto de Bucky. Ficou admirando as linhas, os pelos da barba crescendo e contando cada segundo entre uma respiração e outra. Acabou dormindo com o peito mais leve do que pudera contar em muito tempo.

- Você quer conversar? - levantou ambas as sobrancelhas, formando uma expressão inocente.

- Você quer? - Steve devolveu a pergunta, esperando que o outro fosse captar a referência, mas ao invés disso a boca de Bucky se ergueu num sorriso quase tímido. Os ombros largos subiram e desceram num sinal de "tanto faz" e Steve apenas suspirou em resposta.

Aquilo era esquisito. Estar junto do melhor amigo e não ter o que dizer, presos num silêncio denso e praticamente palpável. Por um breve momento, algo como um ataque de pânico invadiu o peito, puxando todo o ar que estava no pulmão para um lugar escondido que ele não conseguia acessar. E se aquela era a consequência por ter feito o que fizeram? E se, por se deixarem levar pelo desejo, a amizade deles agora nunca mais voltasse a ser a mesma? Desviou os olhos do corpo de Bucky e subiu para o rosto, onde as irises claras do outro o encaravam de volta. E se eles se perdessem por terem sido levados por algo que nem sequer entendiam?

Quis cuspir essas palavras, mas não achou a própria voz. Contudo, quase morreu de alívio ao ver que não precisava. Bucky se elevou completamente, sentando no colchão que deu uma afundada significativa. Cruzando as pernas, ele ficou de frente para Steve.

- Acho que é o certo a se fazer. Eu consigo ver o quanto as coisas estão estranhas e não quero de jeito nenhum continuar assim - sua voz era suave, acariciando verbalmente as entranhas de Steve, que finalmente pararam de se contorcer.

- Você está certo...

- Eu sempre estou certo - Bucky adotou um tom fingidamente convencido e Steve se forçou a rir - Na verdade, esse é um bom desafio para um momento menos tenso. Você me dizer quantas vezes estive errado.

- Consigo pensar em algumas - aos poucos seu estômago foi voltando ao normal e parte do nervosismo escapou pelos poros. Deus, como Bucky era capaz de fazer aquilo? Com palavras tão corriqueiras ou apenas com o olhar, acalmar todo o seu ser?

- Ok, faça sua lista mental. Mas agora... - ele esticou a mão biônica, pegando a de Steve e fechando os dedos ao redor dos dele - Você... se arrepende do que fizemos?

Para sua total surpresa e assombro, Steve viu as bochechas de Bucky corarem. Bem a sua frente se encontrava o homem mais forte e imponente que ele conhecia, alto e musculoso como uma montanha humana e mesmo assim, seu rosto havia adquirido um leve tom rosado. Como se ele estivesse realmente com vergonha. "Ah, Deus..." pensou Steve, sentindo as entranhas antes relaxadas, agora derreterem por completo.

- Não - confessou Steve, a honestidade familiar a Bucky sendo usada sem esforço algum - Não me arrependo nem um pouco.

Ele sabia que o outro estava inseguro, porque havia lembrado da primeira vez que eles se beijaram, na qual Steve o repelira bruscamente. Havia sentido a hesitação de Bucky na noite anterior, como ele agia com cuidado e calma, temendo ser rejeitado. Depois da noite passada, Steve simplesmente não conseguia mais ver porque fizera tanto drama. Não quando havia experimentado o que era estar nos braços de alguém que podia tomá-lo sem qualquer restrição.

Lentamente, a boca de Bucky se esticou, levantando as bochechas e abrindo um sorriso carregado de alívio.

- Quer dizer, que posso fazer de novo? - a pergunta escapou sem qualquer receio ou hesitação. Esses sentimentos não se encontravam mais confinados dentro dele e tudo melhorou ao ver Steve abaixar a cabeça, tentando esconder o sorriso travesso.

- Podemos. Nós podemos fazer de novo - murmurou, ao mesmo tempo que sentia os músculos virarem gelatina.

Bucky soltou uma risada fraca, mas já estava se movendo. Encurtou o espaço que havia entre eles no colchão, puxando Steve pela mão que segurava e a outra depositou em seu pescoço, fazendo-o olhar fundo nos olhos.

Sem esperar por um aval, grudou a boca na dele, o próprio coração derretendo ao notar que Steve sorria em seus lábios.


~ v ~


- Você está batendo o pé de novo, quer parar?
Bucky deu um cutucão de leve na coxa de Steve por baixo da mesa, esperando que só ele tivesse ouvido. O outro virou devagar, a expressão de desculpa formando seus traços.

- Ei, vocês dois, tem algo errado? - Clint falou alto o suficiente para que todos na mesa parassem de comer.

Estavam no meio da manhã, tomando café no banquete posto por um dos empregados da casa que eles raramente viam. Dessa vez, não houve exceção e todo mundo tinha comparecido para a refeição, rodeando o espaço e preenchendo todas as cadeiras.
Quando chegaram, Bucky imediatamente percebeu o corpo de Steve se retesando diante da visão dos amigos já reunidos somente esperando que eles chegassem. Tentou ignorar a pontada de decepção ao ver a reação amedrontada que ele expressou e se apressou em agir normalmente. Por mais que a situação fosse esquisita - às vezes desconfiava de que alguém iria olhar pra eles e gritar "AH VOCÊS ESTAVAM SE BEIJANDO" -, não podia fingir que sabia pelo quê Steve estava passando naquele momento. Afinal, além de todas as sessões de lavagem cerebral e das lembranças perdidas, Bucky discernia a própria personalidade aflorando aos poucos e entendia no fundo do âmago que agiria de forma totalmente diferente. Era quase como quando se tenta lembrar do nome de um filme que assistiu há muito tempo, você sabe as cenas, recorda dos rostos dos personagens, mas não consegue dizer o título. Podia ser uma analogia boa para como Bucky se sentia. Ele não lembrava de coisas como substanciais, materiais, contudo sua mente e seu corpo tinham uma excelente memória emocional e minimamente ele se via agindo da maneira que fizera antes de ter sua vida arrancada tão bruscamente das próprias mãos.

Mas Steve não perdera a memória ou passara por traumas tão graves quanto ele, portanto pra ele era como ter conquistado o mundo todo de volta e novamente ser congelado, acordando depois de muito tempo. Bucky não se sentia mais confuso, não compreendia qual era o grande drama em simplesmente darem as mãos e se beijarem ali mesmo. Ao olhar para o homem a seu lado, no entanto, entendeu que deveria segui-lo. Deveria agir como se nada tivesse mudado, quando queria dar piruetas pela sala. Suspirou em desistência, cutucando Steve para que eles fossem se sentar.

Agora, após três garfadas, ele estava batendo o pé no chão num sinal claro de impaciência e Bucky teve que alertá-lo novamente, se segurando para não gritar que aquele não era um comportamento exatamente "normal".

- Não... - Bucky falou de um jeito arrastado, prolongando a palavra até Steve desviar o olhar, as bochechas corando de leve - Acho que Steve acordou meio impaciente hoje.

- É o drama da manhã - Sam brincou, mandando para dentro outra garfada de omelete. Wanda olhou para ele ameaçadoramente do outro lado da mesa, insatisfeita com a falta de boas maneiras.

- Isso porque se alguém aqui devia estar afetado, esse alguém é o Bucky - disse Natasha.

- Digamos que eu já estou acostumado - respondeu Bucky, dando de ombros para ela.

- É sério cara, tá tudo bem? - Scott se voltou para Steve, a voz assombrada de preocupação.

- Sim gente, tá tudo legal, eu só estou meio cansado - por mais que a desculpa não tenha sido convincente, eles voltaram a comer em silêncio, o tilintar do vidro e do metal preenchendo o ambiente.

- Dormiu mal? - questionou Sam e por algum motivo olhou desconfiado para Bucky, que devolveu a encarada.

- De jeito nenhum - Steve respondeu sem tirar os olhos do prato. Os amigos continuaram comendo, ninguém vendo muito sentido no que ele disse a seguir - Foi a melhor noite que eu tive em anos.

Bucky foi obrigado a mudar um pouco de posição na cadeira e engolir as borboletas figurativas que dançavam em seu estômago. Quase foi capaz de tocar o ar denso que ele e Steve compartilhavam, ambos sendo alvejados por flechas de ansiedade.

O café terminou sem mais nenhuma piadinha ou provocação de duplo sentido. Feliz ou infelizmente, aquela hora do dia já tinha virado rotina, todos sabendo de quem era a vez de lavar a louça e tirar a mesa. Bucky momentaneamente se sentiu deslocado, vendo todos levantando e se encarregando de alguma coisa, enquanto ele ficava plantado na cadeira. Chegou a oferecer ajuda, mas Wanda negou complacentemente, sorrindo para ele e alegando que logo, logo iriam colocá-lo no roteiro de revezamento das tarefas da casa.

Olhou para Steve que permaneceu sentado, fazendo-lhe companhia

- T'Challa insistiu que não precisaríamos fazer nada na casa, que os empregados cuidariam da limpeza e da comida - começou a explicar, discretamente analisando os amigos, certificando-se de que nenhum deles prestava atenção. Minutos depois, Bucky entendeu o propósito, ao sentir a mão de Steve por baixo da mesa pegar a sua, apertando-a com segurança - Mas nós pedimos para que nos deixasse ficar com algumas tarefas. Já é tédio suficiente ficarmos presos aqui, pelo menos algumas coisas simples fazem o tempo passar.

Assentiu e apertou a mão dele de volta, a eletricidade morna passando de um para o outro, totalmente despercebida pelos amigos que limpavam a cozinha sem sequer desconfiar.

- Como é... viver aqui? Quer dizer, vocês fugiram da prisão e vieram pra cá imediatamente, e depois...? - Bucky deixou a frase morrer, dando um toque de questionamento para a sentença.

Steve respirou fundo, passando os olhos pelos amigos que lavavam, secavam e guardavam a louça que haviam utilizado. Sua resposta veio na forma de palavras monótonas, bem ensaiadas.

- Não tínhamos bem um plano, só sabíamos que estariam nos procurando assim que se dessem conta da invasão na prisão. Eles viriam atrás de nós e não havia nada a se fazer. Não se pode bem provar a sua inocência, se você foge de uma prisão na qual o governo te colocou, sobre quebra de regulamento internacional - ele falou dando um sorriso fraco, quase triste demais - Então, como T'Challa havia acolhido você e concordado em manter sigilo, ele sugeriu que todos nós ficássemos. Bem, eu não iria a lugar nenhum enquanto você estivesse aqui e os outros... pareceu o certo a se fazer.

- O certo e o mais seguro - Sam entrou na conversa, sem sequer virar as costas para o que estava fazendo. Bucky e Steve notaram que ele viera prestando atenção no que estavam falando - Algumas pessoas podem pensar que os super-heróis também tem o poder de arrumar esconderijos secretos e irrastreáveis. Mas não é bem assim.

- A gente não tinha muito o que fazer, então viemos pra cá - Clint completou, dando de ombros.

- Nunca ninguém desconfiou? Vocês não tem medo de ficar no mesmo lugar? - Bucky se deixou envolver no assunto, quando viu que Wanda também se entretera.

- Desconfiar do que? Até onde todo mundo sabe, T'Challa era do time adversário e queria você morto - ela lançou um olhar de cumplicidade para Bucky - Ninguém sabe que, por algum motivo, ele tomou simpatia pela nossa situação e decidiu trocar de lado.

Aquela última parte chamou a atenção de Bucky, fazendo-o virar para Steve com um olhar questionador. O outro apenas balançou a cabeça como quem diz "mais tarde eu explico".

- E ficar no mesmo lugar pode não parecer tão ruim quando o mundo todo quer colocar algemas em você - o tom irônico de Clint era uma característica tão presente que as vezes podia ser confundida com amargura.

- Às vezes, algemas não são tão ruins - Natasha brincou de onde estava parada, no arco entre a sala e o corredor. Todos os presentes riram copiosamente diante de sua brincadeira maliciosa.

- Então... - Steve falou, continuando sua narrativa antes interrompida - Nós moramos aqui. Dormimos, acordamos, comemos, treinamos e repetimos tudo no dia seguinte. É uma vida parada e repetitiva, uma rotina dolorosamente necessária.

- Chata, mas necessária - Wanda enfatizou e voltou a guardar os pratos no armário.

- Sentem falta, não é? Da liberdade e da ação? - Bucky se atreveu a especular, apertando mais ainda os dedos em volta dos de Steve, a mesa protegendo a visão da troca de carinho.

- Claro que sim. Todos os dias - foi Clint quem respondeu a pergunta e apesar de tudo, sua voz parecia neutra - E mesmo assim, não me arrepende de nada. Faria tudo de novo se me fosse dada essa escolha.

- Mesmo? - Bucky questionou, tentando soar menos curioso do que realmente estava.

- Mesmo - Sam se pronunciou novamente, virando para poder olhá-lo nos olhos. Não tinha a hostilidade ou a bronca que Bucky estava acostumado estampada neles, mas uma convicção quase assustadora - Foi uma questão de princípios. Uma escolha que todos nós fizemos. Parte de ser considerado um herói, é ficar firme naquilo que se acredita, e principalmente aceitar as consequências que isso pode trazer.

Não foi preciso uma resposta da parte de ninguém, pois as palavras de Sam ficaram ecoando por vários segundos, seu efeito resultando em reflexões individuais, com uma coisa sendo tomada por certa: elas iriam ficar gravadas na mente de todos... por um bom tempo.

~ v ~

- Sr. Barnes, desculpe fazê-lo esperar. Passei por um pequeno trânsito para chegar até aqui.

Ele se virou imediatamente para a entrada da sala, sendo contemplado com o "clap-clap" dos sapatos de salto alto da doutora. Ela vinha, como sempre, muito bem vestida e envolta num terninho de corte perfeito. Os cabelos lisos e brilhantes como uma cortina, balançando de ambos os lados do rosto. Bucky sorriu de forma relaxada, permitindo-se mostrar os dentes e sentir as bochechas levantarem as maçãs do rosto. Seu gesto, claro, causou uma expressão de surpresa na Dra. Heniway. A sombra de um sorriso perpassou por seus lábios quando ela sentou na cadeira do outro lado da mesa. Estando frente a frente, era nítido como ambos estavam bem mais relaxados do que da última vez.

As terminações nervosas de Bucky faziam uma festa de arromba, enquanto ele lutava para colocar sua mente em ordem. Queria gritar pra ela "EU O BEIJEI! O BEIJEI E ELE ME BEIJOU DE VOLTA! PASSAMOS A NOITE JUNTOS E ELE CONTINUAVA LÁ QUANDO ACORDEI!", mas se conteve, sabendo que não fazia o menor sentido explodir daquele jeito com a própria terapeuta. No entanto, essa inundação de sentimentos fazia com que fosse impossível deixar de sorrir e ele desconfiava que as paredes podiam ouvir seus pensamentos ou captar a leveza repentina com que seu coação batia.

Não sabia se era normal sentir-se tão tranquilo e eufórico ao mesmo tempo. Da mesma forma que estava com a consciência limpa por Steve estar bem com a situação, não podia afastar a ansiedade e a confusão diante do que haviam feito. Amigos não se comportavam daquela maneira, certo? Mas era isso que eles eram... amigos. E agora haviam se beijado. Haviam se beijado durante toda a noite sem qualquer pudor ou restrição. O que diabos aquilo significava, Bucky era a pessoa menos indicada para explicar, e ainda sim não encontrara em si mesmo a capacidade de ficar angustiado. Seu corpo estava mais relaxado do que podia se lembrar já ter sentido.

- Você parece extremamente feliz - a Dra. Heniway se pronunciou após algum tempo, a pasta aberta em cima da mesa e uma das mãos repousando na superfície de metal - Aconteceu algo de especial?

Bucky deu de ombros e balançou a cabeça levemente, não sabendo como negar de forma verbal a pergunta, quando suas células ficavam berrando "ACONTECEU! ACONTECEU SIM!".

- Dormi bem, só isso - forçou a meia mentira pra fora, que a doutora pareceu ter comprado, ou apenas decidiu não discutir.
- Que bom saber. Então não vou me sentir culpada de dizer que hoje o senhor precisará se lembrar de algumas coisas pra mim.
- Não entendi... quer que eu me lembre do que exatamente? - ele podia discernir a ansiedade do desconforto que ia crescendo dentro de seu cérebro. Se remexeu na cadeira e viu que ela notou.

- Qual sua primeira memória após ser descongelado?

- Eu não me lembro nada! - Bucky cuspiu as palavras, sem saber onde fora parar a tranquilidade que estava sentindo a pouco.

- Sr. Barnes, veja bem - Nina repousou as mãos cruzadas nas próprias pernas, assumindo uma postura mais ereta e centrada - Eu entendo o propósito do tratamento de choque cerebral. A tortura constante e intensa servia para, digamos assim, apagar os dizeres no quadro negro que é a sua mente, para que eles pudessem escrever com as próprias palavras, certo? Isso é uma área complicada da psicologia e eu não espero que fique muito claro o que eu vou dizer. Basta saber que, o senhor, mesmo que minimamente, ainda estava dentro da própria cabeça, vivendo e habitando as mesmas células. Os choques, as palavras de ativação - Bucky prendeu a respiração ao ouvir essa parte, perguntando-se como ela sabia sobre "as palavras" - os períodos passados na criogênia, todos foram mecanismos para controlar a sua mente e não para apagá-la. Eles suprimiram suas memórias e sua identidade fundo o bastante para que passasse a desconhecer as próprias vontades e os próprios medos. Consegue compreender isso? Tudo que você sofreu e experienciou, está armazenado dentro de sua mente com todo o resto. Por isso é tão doloroso quando se lembra de algo. Porque do mesmo jeito que foi difícil aprisioná-las... recuperá-las será pior ainda.
Fez-se silêncio no ambiente, enquanto Bucky absorvia aquelas palavras. Não precisava de mestrado no assunto para saber que o dano havia sido profundo. Com certeza não colocaria do mesmo jeito que a Dr. Heniway, mas entendeu perfeitamente o que ela quis dizer.
Tinha pensado naquilo inúmeras vezes, no quão profundo as coisas das quais ele fugia estavam enterradas. E o pior de tudo, ela estava certa, era preciso cavar até conseguir trazê-las à tona. Se não fizesse isso, o incômodo continuaria lá. A sensação de sufoco no meio da noite, os pesadelos, a culpa esmagando seus neurônios e o desconforto de estar preso na própria pele.

Era verdade que Steve provinha momentos de paz e tranquilidade, talvez até estar no meio dos amigos dele pudesse ser um alívio as vezes. Mas ele ainda tinha que lidar com os medos sombrios de ser quem era. O soldado invernal. Sempre seria o soldado invernal. Sempre iria deitar a cabeça no travesseiro e se lembrar que tirara a vida de tantas pessoas... quantos foram aqueles que tiveram seu rosto como a última visão antes de morrer? O terror estampado em seus semblantes, ao implorarem pela vida e logo depois terem-na tirada sem o mínimo de piedade. Matara pessoas que talvez tivessem famílias e não conseguia sequer lembrar de seus nomes.

Levantou os olhos para a doutora, o peito apertado com a angústia do saber. Quase como se seu corpo tivesse desistido antes que ele fosse capaz de impedir, um suspiro cansado escapou entre seus lábios.

- Eles me congelaram logo depois de me reviverem - seu tom de voz continha um assombro triste e melancólico. Nina fez um gesto com a cabeça para que ele continuasse - Soube disso, porque eles ficaram murmurando, achando que eu não estava ouvindo, logo depois que me descongelaram pela primeira vez. São... flashes que voltam de vez em quando, as vozes deles e... - Bucky registrou os sinais que seu corpo dava, a fisgada na espinha, um comando direto de seu cérebro, a pressão nas têmporas e o canal respiratório ficando estreito - E as coisas que me obrigavam fazer. Para que eu pudesse começar o treinamento, eles tiveram que... tiveram que...

Tentou continuar falando, mas seu consciente rejeitava as memórias. Não podia ver, de forma que só porque podia sentir foi que imaginou o rosto se contorcendo, formando uma careta de dor e agonia. A Dr. Heniway se remexeu na cadeira, olhando-o atentamente.

- Tiveram que? - ela incentivou-o, diante dos sinais de perturbação.

- Tiveram que começar com o tratamento. A dor era... ela vinha do cérebro, mas se espalhava pelo corpo todo, como uma corrente elétrica. Meu braço ainda estava tentando se acostumar - ele tocou o membro metálico, por reflexo - e eles continuavam a me conectar naquela máquina - falava procurando maquiar a dor crescente com a amargura diante das lembranças - Eu consigo me lembrar das sensações, mas não dos rostos ou dos lugares...

- Nem de Karpov?

O nome foi pronunciado de forma inesperada, como se alguém tivesse simplesmente atirado uma faca no vento, com força pra rasgar o ar invisível. Bucky sentiu os músculos ficando tensos, lutando avidamente para afastar as imagens daquele rosto e da voz que ele trazia. A voz que dizia "aquelas" palavras.

- O-o que tem ele? - perguntou de forma brusca e trêmula, mal reconhecendo a voz que saía de seus lábios.

- Você disse que se recorda da tortura. Como ele foi de certa forma seu "carrasco" - ela performou as aspas com os dedos esguios e o pescoço de Bucky deu outra fisgada - Não se lembra do rosto dele? Das coisas que ele lhe disse... ou fez?

- Como eu disse, não são memórias concretas, na maior parte são apenas sensações.

- Claro, mas talvez você consiga repuxar para seu consciente coisas mais nítidas, se concentrando nas vozes...

- Nas vozes que diziam coisas cruéis e tentavam me manipular?

- Como eu disse, você também tem que lidar com as coisas ruins - ela deu de ombros, descartando a intensidade com que Bucky estava tratando aquilo.

- Essas coisas ruins são o motivo pelo qual eu decidi ser colocado de volta na criogenia.

- Se me permite dizer, foi seu primeiro erro.

Os dois trocaram olhares endurecidos, os de Bucky estavam repletos de uma raiva ensandecida e os da doutora de uma calma complacente, indubitavelmente irritante.

- A escolha era minha - ele soltou entre os dentes cerrados. O desconforto em seus ombros havia se tornado tão grande que Bucky achava impossível ficar parado.

- Sei disso, mas se tivesse lidado com esses problemas mais cedo...

- Está dizendo que a culpa é minha? Por eu ser desse jeito?

Não percebeu que havia erguido a mão humana, pressionando-a contra a têmpora dolorida. No minuto que começaram aquela conversa, ele sentira a sensação crescendo no fundo do estômago e no canto mais obscuro de sua mente. Aquela pontada incessante que vinha seguida da pior do que ele já experienciara. Era como se, mesmo sem a máquina e os fios ligados a seu corpo, ele estivesse passando pelo tratamento de choque toda vez que tentava se lembrar.

- De forma alguma. Só estou dizendo que o melhor jeito de fazermos isso, é lidar logo com o pior. Vai doer, mas com o tempo fica mais fácil.

- Duvido muito - Bucky falou com sarcasmo e cansaço. Agora seus ouvidos estavam afogados numa enxurrada de zunidos agudos.


"Ah, não, por favor", pensou em desespero ao sentir os olhos lacrimejando com a ardência causada pela dor.

- Olha, eu consigo compreender o quanto isso deve ser agonizante, mas se você se lembrasse de Karpov, talvez... Sr. Barnes? Está tudo bem?

A voz dela se encontrava longe, abafada pelo apito horroroso ressoando em ambos os ouvidos de Bucky. Ele fora drasticamente tomado pela dor e não conseguia evitar, nem empurrar a sensação para longe. Agora tinha as duas mãos pressionando o crânio dos dois lados, como se pudesse simplesmente espremer a dor pra fora. Fechou os olhos com força, a concentração se recusando a alcançá-lo ou contemplá-lo com seu alívio. Eram muitas imagens, muita dor e tudo parecia que ia explodir. Não existia mais nada que não fosse pura agonia no mundo.

Ouviu um barulho ao longe e só depois foi descobrir que havia caído no chão, tombado a cadeira. O corpo se estatelou no piso gélido, mas a dor física foi bruscamente jogada de lado e ele só sabia pressionar e pressionar a própria cabeça, em busca de uma salvação que não vinha de jeito nenhum.

Bucky estava gritando e apenas uma coisa passava pela sua cabeça, uma oração que mesmo repetida várias vezes, não parecia surtir efeito algum. Ele só sabia clamar pela escuridão completa.


~ v ~

- Eu só estou dizendo que seria mais fácil, só isso.

- Você já deu essa sugestão e ela foi recusada. Apenas aceite - Clint não estava realmente impaciente, mas Sam devolveu um olhar irritado pra ele.

Os dois andavam pelo corredor silencioso, indo na direção da sala de treinamento a passos calmos. As paredes ecoavam qualquer ruído que pudesse haver nas proximidades, por isso eles se assustaram ao ouvir o som deslocado.

- O que foi isso? - Sam questionou, tomando uma postura defensiva imediatamente. Clint o imitou.

- Não sei, parecia um... - sua fala foi cortada, quando o som se propagou novamente pelo concreto. Dessa vez foi mais nítido e duradouro, não deixando espaço para dúvidas.

Alguém estava aos berros e o barulho era assustador.

- Vamos.

O chamado de Sam foi simbólico, pois ambos já estavam em movimento antes mesmo de ele terminar de falar. Como a acústica ajudava na hora de identificar a localização, o som foi um guia prático e rápido para que eles pudessem encontrar sua origem. Virando em corredores desertos, corriam lado a lado num ritmo impulsionado pela urgência da situação. Em menos de dois minutos estavam derrapando em frente a pequena sala onde Bucky tinha suas sessões de terapia.

- Oh... - Sam exclamou ao se deparar com a cena que se desenrolava dentro do ambiente. O espaço era pequeno demais para conter o desespero que escapava da garganta do Soldado Invernal.

Bucky se encontrava caído no chão de concreto frio, o corpo precariamente curvado em posição fetal, as pernas e os braços um tanto compridos para serem dobrados. Ambas as mãos dele estavam espremendo o crânio, como se quisesse impedir que a própria cabeça explodisse. Isso tudo resultou na contração da pele de seu rosto, uma vermelhidão preocupante se espalhando por toda a extensão. Ele parecia a beira de entrar em combustão.

Ao seu lado, ajoelhada e com as mãos desamparadas estendidas em sua direção, estava a Dra. Heniway, a qual nem Sam ou Clint haviam sido formalmente apresentados ainda. Ela levantou os olhos desesperados para eles, buscando algum tipo de auxílio.

- Ele ficou assim do nada. Estávamos conversando e de repente... - ela disse de um jeito alheio a situação, ainda registrando a cena que se desenrolava.

Mas os rapazes não tinham tempo para analisar seu profissionalismo ou a falta dele. Clint acordou do transe momentâneo que o pegara, cruzando o arco da porta e se aproximando do corpo de Bucky que agora parecia convulsionar.

- Ei, Bucky - chamou por reflexo, dobrando os joelhos no chão, tomando cuidado para não se aproximar demais.

- Cara, a gente precisa levar ele para a ala hospitalar - Sam murmurou, imitando os movimentos do amigo. No mesmo nível de altura, eles se entreolharam e assentiram, imediatamente entrando num acordo mútuo.

- Vão, carreguem ele até lá, enquanto eu chamo o Dr. Landscorpe.

A médica se levantou antes deles, saindo da sala numa pressa enérgica, os saltos fazendo "clap clap clap" por toda a extensão do corredor.

- Vamos tentar colocar ele em pé, ok? - Clint sugeriu, estendendo a mão direita com toda a cautela que conseguiu reunir. Por sorte, ao tocar em Bucky, não houve resistência de sua parte. Ele estava alheio a sua presença e suas tentativas de se comunicar. 

Sam suspirou, completamente tomado de preocupação e pegou o outro braço de Bucky. Não foi difícil levantá-lo, por mais que ainda segurasse a própria cabeça com firmeza e soltasse gritos esporádicos de pura agonia. Pensou em Steve e se ele havia escutado as lamúrias do melhor amigo que se propagavam pelas paredes.

Ambos, Sam e Clint, não tinham sequer intimidade com Bucky, podiam se recordar de terem sentido raiva e até aversão em relação a ele, ou a pessoa que costumava trabalhar para a Hidra. Mas naquele momento, carregando seu corpo enfermo, eles sentiam o desespero de seus gritos atingir cada terminação nervosa e resquício de compaixão. Não falaram nada no trajeto até a ala hospitalar, porém por dentro, eles compartilhavam uma empatia dolorosa.

~ v ~

- Ele vai ficar bem? - Steve pronunciou a pergunta que todos queriam fazer, mas não tiveram coragem.

Na ala hospitalar, o espaço se tornara relativamente menor, abrigando boa parte dos habitantes da mansão. Natasha e Clint haviam sentado em uma das macas, lado a lado, no entanto sem se tocar. Sam, Wanda, Hill e Scott permaneciam em pé, afastados o suficiente para que os enfermeiros pudessem trabalhar. T'Challa ficara ao lado da Dra. Heniway, mais distantes do que qualquer outro, conversando aos cochichos. Os únicos perto da maca eram o Dr. Landscorpe, que ainda verificava os sinais vitais de Bucky e Steve, sentado numa cadeira de metal, o rosto lívido, aparentando estar a beira de um desmaio.

- Sim, vai estar novinho em folha amanhã de manhã. Eu dei um sedativo para que ele pudesse dormir, ignorando a dor de cabeça. Mas amanhã ele irá acordar bem melhor - o Dr. Landscorpe informou na sua costumeira voz carregada de complacência e calma. A serenidade que ele passava em seus diagnósticos, fazia com que qualquer um ficasse otimista. Steve até levaria isso em consideração, se no momento fosse capaz de raciocinar.

- O senhor recomenda repouso, então? - a Dra. Heniway perguntou do local onde estava.

- É, mas não precisam mencionar isso pra ele. Com o temperamento forte que tem, o Sr. Barnes vai ficar um tanto irritado com as minhas recomendações - ele deu de ombros e se virou para os presentes - Só mantenham-no aqui essa noite, ligado aos monitores, é importante para termos certezas que não é nada mais grave do que... o que quer que isso seja. 

Diante das suas palavras, Steve soltou um suspiro arrastado, pois não havia percebido estar prendendo a respiração. Tinha plena consciência dos amigos ao seu redor e de Bucky, deitado na maca, dormindo tranquilamente. Não conseguia desviar os olhos de seu peito subindo e descendo com o evento da respiração, querendo ter certeza a todo instância de que ele estava vivo e que ia ficar bem.

Achava que mais nada de ruim fosse acontecer depois da noite que compartilharam. Por algumas horas, se permitiu ser feliz e relaxar mesmo através do caos constante em que viviam. E após se separar de Bucky por meia hora, aquilo acontecera. Fora arrancado de seu quarto por um Scott exasperado, avisando-o que Bucky se encontrava na ala hospitalar. O medo que o tomou foi imediato, quase impedindo que suas pernas o levassem até lá.
Chegara junto com o Dr. Landscorpe, sendo impiedosamente atingido por gritos de dor e agonia, vindos daquele que até pouco tempo estava sorrindo e beijando-o com todo o carinho do mundo.

Tentou chamá-lo de volta a razão, desgrudar suas mãos que pressionavam as têmporas e cessar os gritos, mas tudo foi em vão. Bucky não escutava nada e nem ninguém, e só saiu de seu estado catatônico quando o doutor espetou uma agulha em seu braço humano, enviando a substância sedativa por suas veias que o apagou completamente.

Agora não sabia o que fazer e nem se devia fazer algo. A expressão de Bucky relaxara numa feição serena e adormecida, sua mente num lugar longe o bastante para Steve não poder alcançar. Ouviu a voz de Natasha distante, chamando-o para uma realidade que ele não queria aceitar.

- Vamos embora. Ele está dormindo e tem que descansar - autoritária, como sempre, sua ordem começou a mover os pés dos amigos que aos poucos iam se dirigindo a saída.

- Steve? - T'Challa chamou ao se aproximar da maca, quase todos já haviam se retirado quando ele se posicionou atrás do capitão. Diante da falta de resposta dele, o Rei assentiu para si mesmo e falou novamente - Talvez fosse melhor você deixá-lo sozinho...

- Não vou sair - Steve ouviu a própria voz escapando dos lábios, monótona mas firme. Como que para reforçar suas palavras, estendeu a mão para tocar o braço biônico de Bucky e ali permaneceu.

O Dr. Landscorpe, que estava a meio caminho de sair, parou e se virou, falando alto o suficiente para que Steve pudesse escutar.

- Ele pode ficar, Alteza. Não creio que o Sr. Rogers irá fazer algo para perturbar o paciente.

Com isso, não havia mais nada a ser discutido, de forma que quem devia sair logo se foi, deixando apenas Steve e Bucky na ala hospitalar. Sendo o único acordado, não via mais motivos para manter a postura contida e ao ouvir o barulho da porta se fechando atrás de T'Challa, deixou os ombros caírem, a mão que segurava o braço de metal de Bucky se intensificando no aperto.

Estava tão miseravelmente cansado daquilo, que não era capaz nem de chorar. Gostaria de entender o porquê dele e Bucky não poderem simplesmente ficar em paz, viver a vida como tantas outras pessoas o faziam e não ter que se preocupar com problemas tão impossíveis de resolver. Estava exausto de incertezas e de segurar a mão do outro enquanto ele passava por mais uma sessão de internação. Queria que Bucky ficasse bem de vez e não por motivos egoístas, mas porque ele não merecia todo o sofrimento ao qual era exposto. Se tinha um homem no mundo que não merecia todas as desgraças que havia sofrido, esse alguém era James Buchanan Barnes e mesmo assim, parecia que ele era sempre o alvo das misérias da vida.

Soltou mais um suspiro de desistência, puxando a cadeira ruidosa para mais perto da cama. Apoiou o braço na maca e desceu a mão para segurar os dedos metálicos. Bucky era a personificação da tranquilidade, seu rosto assumira um ar relaxado e sonhador, o lençol que o cobria até a cintura era branco e impecável, subindo e descendo, subindo e descendo.

Steve levou os lábios até os dedos entrelaçados aos seus e os beijou, apenas por um segundo sentindo-se bobo e desajeitado, já que aqueles eram membros biônicos. Mas depois se deu conta de que da mesma forma eles pertenciam a Bucky, faziam parte de seu corpo e funcionavam junto com todo o resto. Sabia como o outro reagiria, se esquivando com horror àquele setor específico e pedindo que Steve o beijasse onde pudesse sentir. Sorriu com o pensamento, medindo a extensão do braço que não tinha mais a estrela soviética para marcá-lo e descobriu que amava aquilo tanto quanto amava todo o resto. Fruto de desastre ou não, agora era parte do pacote.

~ v ~

As horas se arrastaram sem piedade, o tique-taque do relógio levando a tarde embora e trazendo o começo de uma noite sem nuvens. Steve constatara que perdera a sensibilidade na bunda de tanto ficar sentado naquela cadeira dura. Por mais que se remexesse, havia se tornado impossível achar uma posição confortável e ele simplesmente decidira ignorar os protestos do próprio corpo. Não largara a mão de Bucky em momento algum e de cinco em cinco minutos, levantava os olhos apenas para consultar os painéis piscantes que monitoravam sua saúde e os abaixava de novo, certificando-se que ele não tinha acordado.

Scott tinha aparecido no meio da tarde para trazer uma bandeja com sanduiches e um copo gigantesco de suco natural.

- A Nat e a Hill disseram que você precisava comer - ele dissera, dando de ombros timidamente, como se estivesse se desculpando por estar ali. Steve assentira, agradecido e orientara o amigo a depositar a comida em uma das mesas metálicas. Não havia dito que estava sem fome, pois sabia que o outro tinha a melhor das intenções.

Por um breve momento se permitiu pensar em como aquilo tudo devia ser para Scott, alguém totalmente desavisado e talvez o mais inocente no grupo. O cara que tinha sido arrastado para uma situação inusitada, aceitando de bom grado fazer parte do time "fora da lei", contanto que isso significasse o bem maior. Sem dizer nada ou sequer reclamar, ele aceitara as consequências de ações que não começara e agora vivia sem saber quando poderia ser livre novamente. O peito de Steve doeu pelo que devia ser a milionésima vez em seis meses, pensando no futuro dos amigos que dividiam a mansão com ele. E inevitavelmente, dividiam o mesmo futuro.

- Um dólar pelos seus pensamentos - mesmo rouca, baixa e arrastada, a voz era inconfundível, preenchendo cada partícula da vasta sala e dando um golpe certeiro no coração de Steve. Ele sentiu os nervos relaxando instantaneamente, ao encarar os olhos de Bucky, ainda no processo de se abrirem. As pálpebras eram de um rosa sensível e castigado, diferindo do rosto pálido.

- Tudo isso? - perguntou Steve, levantando as sobrancelhas e apertando mais ainda os dedos de Bucky. Automaticamente, os dele espelharam o movimento, o chiado do metal subindo pelo braço.

- Eu estou apostando que vai valer a pena - resmungou o outro de volta, tentando repuxar os lábios dormentes num sorriso.

- Não é nada demais - assegurou Steve - Está se sentindo melhor?

- Um pouco, alguns lugares ainda estão dormentes, mas... sem dor de cabeça - Bucky levantou a mão humana brevemente para apontar a própria cabeça e depois deixou-a cair - Ele disse que eu só ia acordar amanhã, não foi?

- Sim.

- Ele devia ter me dado alguma coisa mais forte.

- Forte pra derrubar um cavalo?

- Ou um elefante. Ou uma manada.

Steve não pode evitar a risada que subiu por sua garganta, enviando uma onda de alívio por seu organismo. Bucky Barnes, mesmo no leito e enfermo, era capaz de fazer uma ou duas piadas.

- Sem dor então? - Steve questionou mais uma vez e recebeu um olhar impaciente em resposta.

- Sem dor, prometo. Só uma moleza por causa do remédio, mas vou sobreviver - ele abriu mais os olhos, passando uma segurança fingida que serviu para aquecer um pouco o peito de Steve - Agora, me diz no que estava pensando.

- Não era nada, eu... - Steve suspirou derrotado e agradeceu mentalmente pela proximidade do outro, sempre o ajudando a não perder o juízo. Não de um jeito ruim, pelo menos - Eu só estou meio preocupado... sei que você vai dizer "você sempre está preocupado", mas é sério.

Bucky bufou, desviando os olhos para o teto. Sua mão livre foi em busca do controle manual e ele apertou o botão que repuxava a cama, deixando-o numa posição meio deitado meio sentado. Steve acompanhou o processo com um olhar paciente, sem precisar se mover.

- Antes mesmo de eu acordar, já estava imaginando que você diria isso - Bucky falou com um brilho compreensivo nos olhos - Mas eles colocaram algum tipo de... trava de segurança na minha mente, ou sei lá. Toda vez que eu tento me lembrar de algo, é como se minha cabeça fosse explodir.

- Então não tente - Steve notou o desespero na voz, o tom de súplica involuntário - Não tente ficar se lembrando se isso faz mal a você.

- Como pode me pedir uma coisa dessas? Não quero continuar sendo o assassino que...

- Você não é mais essa pessoa! Não pode ficar pensando que nós também achamos isso, porque já estou cansado de te falar que não é assim.

Steve olhou profundamente nos olhos sofridos de Bucky e viu uma mudança mínima neles, algo como um contentamento relutante.

- Quero lembrar cem por cento do Bucky que você conheceu há setenta anos - murmurou acariciando os dedos de Steve com mais convicção - Quero lembrar de coisas pequenas e insignificantes, poder rir com sinceridade quando você fala delas. E... quero ser capaz de lembrar da época em que... bem, você sabe. Se existe algo que eu possa dizer para ajudar, preciso ser capaz de me lembrar.

- Você é a pessoa mais altruísta e ao mesmo tempo teimosa que eu já conheci - Steve confessou, vincando as sobrancelhas num gesto de indignação - Seria ótimo sim, sem dúvida nenhuma, se nós tivéssemos informações sobre a Hidra e as missões que eles o forçavam a executar. Mas não às custas do seu bem estar. Ninguém aqui vai exigir mais do que você aguenta.

- Eu sou mais forte do que você pensa - Bucky rebateu num momento de cisma.

- Não, você é mais forte do que você mesmo imagina. E mesmo assim, até você tem limites.

Bucky foi obrigado a morder o interior da bochecha e segurar a língua para não prolongar uma discussão totalmente sem fundamento. Não iria admitir em voz alta, mas ficaria muito grato se pudesse evitar qualquer coisa que causasse aqueles ataques horrorosos em sua cabeça. Olhou atentamente para o rosto de Steve, moldado em pura preocupação. Entendia que o sentimento era dirigido a ele e que daria qualquer coisa no mundo para evitar que o outro se sentisse assim.

- Vai dormir comigo hoje? - Bucky questionou, forçando os lábios a esboçarem um sorriso fraco, mas caloroso.

- Não acho que eu vá conseguir "dormir" nessa cadeira - Steve falou no meio de uma risada sem muita emoção. Procurou não demonstrar o quão cansado realmente estava.

- Sabe, eu gosto muito de você, mas as vezes tenho que admitir que você é meio pateta - Bucky adotou um semblante de impaciência e sorriu mais ainda - É só abaixar essa trava e puxar outra maca pra cá. Dá pra encostar as duas e formar uma cama de casal.

- Ahn... - Steve olhou para o outro lado da sala, onde três outras macas permaneciam intocadas, depois voltou-se para Bucky - Não quero te perturbar, nem nada. Será que não vai ficar ruim por causa dos aparelhos?

Bucky revirou teatralmente os olhos claros antes de responder:

- A gente dá um jeito.

E eles deram. Na verdade, Steve deu, pois Bucky não podia se mexer muito devido aos fios ligados em algumas partes de seu corpo. Ele ofereceu mais um apoio moral, enquanto Steve se ocupou de afastar a cadeira e algumas máquinas desligadas, arrastando outra maca para o espaço livre e juntando-a a outra. Depois de levantarem várias teorias para tornar o arranjo mais seguro, Steve descobriu uma trava na estrutura da cama, que prestativamente travava as rodinhas e impedia que os movimentos de seu corpo a afastasse. A descoberta causou um acesso de riso em Bucky, que achou uma graça quando Steve ficou genuinamente impressionado por ter notado o botão.

Vinte minutos se passaram até tudo estar no seu devido lugar e Steve poder tirar os sapatos para subir no colchão macio. Ficou meio desajeitado no início, se remexendo para achar uma posição confortável, mas logo Bucky pediu que ele parasse de se mover e eles deram as mãos. Mão humana com mão biônica, ambos estavam deitados de barriga pra cima, olhando para o teto branco e ridiculamente limpo da ala hospitalar.

- A sua respiração é muito calma - Steve comentou após longos minutos de silêncio.

- É... ela era assim antes? - Bucky perguntou com receio, temendo que o outro fosse achar ruim ele não se lembrar.

- Não, você... você roncava - a voz de Steve tremeu um pouco e ele acabou rindo .

- Mentiroso - Bucky o acompanhou no gesto, ainda sem olhá-lo.

- Tá, você não roncava, mas respirava meio pesado. Agora parece que você nem respira direito quando dorme... percebi isso ontem a noite.

- Ah, ficou me vendo dormir? Seu esquisito - a brincadeira de Bucky os fez rir novamente, um sentimento de paz derradeira, depositava num vaso de porcelana.

- Desculpa, eu só... não conseguia pregar os olhos.

- Por que?

- Você sabe porque - a resposta de Steve veio com o movimento de seu pescoço, que acabou virando na direção de Bucky para vê-lo encarando de volta.

E lá estava a mesma sensação que os impedia de pensar ou ponderar sobre qualquer coisa. A sensação que formigava as terminações nervosas, como que sendo movida por todas as células presentes em ambos os corpos. Steve de repente ficou sem ar, achando incrível como os olhos de Bucky podiam mudar de carinhosos e pacientes, para um fogaréu totalmente desinibido e carregado da mais impura luxúria. Ele sentia como se a pele estivesse descolando do corpo, como se Bucky pudesse despi-lo só com o poder do olhar. Era algo indescritível e muito novo para Steve conseguir assimilar, só sabendo como se entregar sem ressalvas.

- Vem aqui - os lábios de Bucky formaram as palavras, mas não emitiram som algum.

Steve não precisava de chamado, pois já estava se movendo antes de poder registrar a resposta de seu corpo independente. Virou o corpo com uma lentidão tortuosa, mudando de posição até ficar praticamente em cima de Bucky. Foi difícil não separar as camas com os movimentos e ele pôde observar que não havia espaço para muita coisa, mas agora olhava para baixo e diretamente nos olhos do outro, todas as implicações sumindo imediatamente.

- Vai me beijar ou...?

- Vou - Steve quase não reconheceu a própria voz, rouca e afetada do jeito que estava, tomada pelo desejo irracional.

As respirações se misturavam, quentes e doces, se tornando uma só, quando ele desceu e eliminou a distância, juntando os lábios tão ávidos que chegava a doer. Os de Bucky estavam um pouco ressecados, provavelmente do tempo que ficara desacordado, o que de modo algum diminuiu a sensação deliciosa que se espalhou pelas veias de Steve ao senti-lo de novo. O aperto no estômago, a urgência das mãos, os arrepios intermináveis... faziam horas e ainda sim ele havia se esquecido da enxurrada deliciosa que o invadia quando Bucky o tocava. Mesmo mal podendo se mexer e levantando a mão humana o máximo que os fios deixavam, ele a depositou no pescoço quente de Steve, puxando-o e partindo os lábios no processo. Esse beijo não foi apressado e faminto igual aos outros, mas um dançar de línguas cuidadoso, calmo e intenso. Steve não se considerava um mestre nesse tipo de coisa, mas quando ficava perto de Bucky sentia uma necessidade insana de mostrar o quanto se importava com ele e o quão ridiculamente dependente havia se tornado. Então, por mais inexperiente que fosse, seu corpo não precisava de treinamento para responder aos estímulos do outro.

- Você mudou mesmo... - Bucky comentou, afastando um pouco os lábios para poder tomar fôlego. Suas bochechas haviam adquirido um tom rosado.

- Por que diz isso?

- Porque... - sua resposta veio seguida de um carinho lento que ele fazia no pescoço de Steve, passando os dedos pelo cabelo loiro e liso - Você não tinha toda essa... desenvoltura.

- Desenvoltura? - Steve encostou o nariz no dele e riu preguiçosamente.

- Por falta de palavra melhor...

- Acho que você pensa assim, porque a gente nunca tinha se beijado antes.

- Quer dizer que você era desenvolvido com outras pessoas e comigo não? - Bucky falou num tom brincalhão que aquecia o peito de Steve de uma maneira quase insuportável.

- Primeiro, para de usar as variações da palavra desenvoltura. Segundo, eu só estou dizendo que você não saberia a diferença do jeito que eu estou agindo, com o que eu deveria ser antigamente. Isso... - ele fez um gesto com a cabeça para abranger a posição em que estavam, pernas emboladas, peitos arfantes e bocas levemente inchadas da sessão de beijos - Nunca tinha acontecido.

Bucky foi absorvendo as palavras aos poucos, passeando os olhos claros pelo rosto do homem acima dele, os traços de um deus perfeito esculpido em mármore branco.

- Tem razão... se tivesse acontecido, eu me lembraria.

O sorriso de Steve se alargou ao perceber as implicações naquela frase, ao entender que ele queria dizer que mesmo sem a memória e passando por tudo aquilo, se tivessem experimentado isso antes, Bucky jamais poderia se esquecer. Nem se preocupou em ponderar se era possível e apenas aceitou a forma como seu coração inflou de afeto e timidez.

O que diabos estava acontecendo com ele?

~ v ~

O dia amanheceu com tanta moleza quanto o resto dos habitantes da casa. Ninguém queria levantar e encarar mais um dia sem qualquer novidades, a maioria ficando na cama até mais tarde do que estavam acostumados. O céu matutino trouxe nuvens carregadas e cinzentas, que não ajudavam no quesito "despertar".

A cozinha da casa se encontrava vazia quando Maria levantou, da maneira mais devagar e procrastinante possível, começando a preparar o café da manhã. Pouco a pouco o resto deles foi acordando e se juntaram a ela, auxiliando nos preparativos. Ninguém precisou perguntar sobre os dois ausentes, pois como se soubessem que a comida estava pronta, Bucky e Steve apareceram, vindo da ala hospitalar. Disseram que o doutor havia liberado Bucky, caso ele estivesse se sentindo melhor e o outro nem pensou em negar.

- Essas panquecas estão com uma cor esquisita - Scott comentou quando todos já haviam sentado na enorme mesa.

- São panquecas saudáveis... - Wanda começou a explicar e Maria completou sua fala.

- De aveia.

- Meu deus, por que? - Sam resmungou com a boca cheia de ovos mexidos e Natasha lançou lhe um olhar repreensivo.

- A cor não é das melhores, mas estão bem gostosas - foi a vez de Bucky opinar, sua voz saindo sem qualquer resquício de mentira, pois a comida estava realmente maravilhosa. Maria assentiu agradecida pra ele e Steve lhe deu um sorriso encorajador.

- Talvez da próxima vez você devesse fazer o café da manhã, Lang - Clint alfinetou o amigo que levantou as sobrancelhas e as mãos, num ato indefeso.

- Ei, eu só não estou acostumado a comidas saudáveis - respondeu Scott - Mas eu te dou os créditos, Hill, isso aqui tem um gosto muito bom.

- Junte isso com o treinamento e quem sabe você não consegue vencer o Clint no corpo a corpo - Steve estava tão quieto que quando ele pronunciou a brincadeira, demorou um pouco para os amigos entenderem e darem risadas sinceras. Clint foi o único a não rir, depois que assimilou a piada com o próprio desempenho.

- Vocês são hilários - ele comentou, recebendo um tapinha no ombro de uma Natasha sorridente. 

- Vejo que os ânimos estão levantados - T'Challa se encontrava sentado numa ponta da mesa, já descansando os talheres com os quais havia comido. Bucky, por mais imensamente agradecido que fosse em relação ao Rei, tinha que admitir que sua atitude reservada as vezes podia ser inquietante - Sendo assim, posso trazer à tona um assunto delicado, mas que é do interesse de todos vocês. 

- Deixe-me adivinhar... o robô esquisito? - Maria sugeriu com amargura.

Cada um deles expressou uma feição própria de desgosto e aversão ao pensar no prisioneiro que mantinham sob o mesmo teto. Steve moveu a mão por baixo da mesa, tocando de leve o joelho de Bucky num gesto de apoio silencioso. Não recebeu resposta, mas viu no rosto dele a mudança instantânea de um nojo odioso, para um alívio muito bem vindo.

- Se é assim que o chamam, então é. Nosso prisioneiro é o foco do que eu pretendo lhes dizer - com o tom autoritário de T'Challa, todos os presentes descansaram os talheres à sua cópia - Depois de tudo que ocorreu e das poucas informações, por assim dizer, que conseguimos arrancar dele, não acredito que seja apropriado mantê-lo aqui.

- Eu venho pensando a mesma coisa - Steve interrompeu, ganhando de T'Challa um olhar compreensivo.

- Cheguei a conclusão de que a presença dele aqui está incomodando a todos, de modo que estou providenciando a transferência dele para uma base aqui mesmo, em Wakanda.

Ninguém se atreveu a fazer qualquer objeção diante da declaração dele. Primeiro, porque T'Challa era o dono da casa e Rei de Wakanda, não havia motivos para discordar dele sendo que não havia autoridade maior. E segundo, a constatação havia sido verdadeira demais. Eles não queriam de jeito nenhum que o prisioneiro continuasse ali, onde podia fazer sabe-se lá o que contra a paz que dificilmente haviam conquistado.

- Que bom que todos estão de acordo - T'Challa continuou, cruzando as mãos em cima da mesa - Um furgão irá realizar a transferência, junto com alguns oficiais. O prisioneiro será levado para uma das bases militares de Wakanda, onde claramente ficará mantida no subterrâneo e vigiado por várias paredes de vibranium.

- Aposto que ele vai ficar muito feliz - Scott ironizou.

- Se ele fosse capaz de sentir alguma coisa - Wanda disse com o máximo de escárnio que conseguiu reunir em sua voz acentuada.

- Se por algum acaso existir mais informações que possam ser arrancadas dele, vamos nos preocupar com isso futuramente.

- Esse lugar, é muito longe daqui? - Natasha interpelou, assumindo seu tom profissionalmente concentrado.

- Uma hora, mais ou menos, pelo caminho discreto que eles terão que fazer.

- Quantos oficiais?

- Está preocupada, Srta. Romanoff? - T'Challa ergueu uma sobrancelha em sua direção, fazendo ela sorrir de lado.

- De maneira nenhuma. Só acho que eles poderiam usar alguma ajuda extra.

- Concordo com a Natasha, alguns de nós poderiam ir junto, só pra garantir a segurança no percurso - Maria falou já se empertigando na cadeira.

- Eu confio plenamente nos meus profissionais - T'Challa explicitou com convicção, não soando irritado ou sequer ofendido.

- Sabemos disso... mas além da garantia, alguns de nós podia aproveitar uma saída - Natasha defendeu o ponto de vista com sua persuasão característica. Clint sorriu para ela já familiarizado com o "truque".

- Espero que compreendam que dentro dessa casa, posso garantir o anonimato de vocês, mas numa base com inúmeros homens...

- Nós não precisamos sair do furgão - Scott interpôs e todos olharam para ele que quase nunca intervia nas reuniões.

Bucky havia ficado em silêncio durante todo o debate, mesmo sabendo que jamais iriam sugerir que ele fosse na excursão. Pensar no prisioneiro e no ocorrido, ainda trazia um leve formigamento em suas mãos, como se a vontade agredi-lo permanecesse em suas veias, borbulhando e implorando para ser expelida.

- Como só três se manifestaram - T'Challa passou os olhos por Maria, Natasha e Scott - creio que seja interesse de vocês ir nessa pequena excursão?

Os três assentiram e se entreolharam. A ideia de deixar a mansão, por menor que fosse o esforço, era ao mesmo tempo medonha e excitante, mas esporádica demais para ser recusada.

- Ótimo. Estejam prontos hoje a tarde, depois do almoço.

~ v ~

Bucky chutou o saco de areia pela terceira vez e Steve soltou uma risadinha contida.

- Se você rir mais uma vez... - Bucky tentou alertá-lo com uma voz ameaçadora, mas tudo que conseguiu foi sorrir junto com ele. Balançou a cabeça em descrença diante da falta de autocontrole que havia adquirido e se afastou para que Steve pudesse desferir sua sequência de golpes.

Estavam reunidos na sala de treinamento, todos menos T'Challa que havia se recolhido para terminar os preparativos da excursão. Cada um praticava um treino em alguma parte da enorme sala, as duplas sendo formadas implicitamente. Steve e Bucky, Natasha e Clint, Maria e Sam, Wanda e Scott. Os dois primeiros, contudo, não tinham como prestar atenção nos outros amigos, pois se divertiam em ver quem conseguia derrubar o saco de areia do suporte, apenas na base dos chutes.

Steve conseguira uma vez e Bucky ainda tentava, sem muito sucesso. Depois de alegar que o metal segurando o saco era mais forte do que qualquer um que já tivesse encontrado, ele foi obrigado a admitir pra si mesmo que o motivo de sua falha era a falta de concentração. Incapaz de obrigar sua mente a obedecer, Bucky ficava repassando imagens da noite passada e da postura de Steve naquele momento, com roupa de academia e olhando-o com um fogo desejoso nas irises. Continuava tentando não pensar em como ele ficava extremamente atraente naquela camiseta preta apertada, ou como a calça de tactel da mesma cor, realçava a curva das costas para uma bunda ridiculamente redonda e convidativa. Ele não sabia nem de onde sua cabeça formava tantas imagens sugestivas e impróprias, mas já estava se tornando insuportável sequer manter a distância entre eles.

- Você fica me olhando assim, daqui a pouco eles vão perceber - Steve advertiu com um sorriso torto estampado nos lábios, o olhar concentrado no saco de areia que recebia seus golpes displicentes.

- A culpa não é minha e sim das camisetas que você usa - Bucky se defendeu, cruzando os braços e prestando atenção nos amigos ao redor da sala. Nenhum deles parecia remotamente atento aos dois, por isso ele não se preocupou - Talvez se você não comprasse elas em tamanhos três vezes menores que o seu...

Steve parou imediatamente o que estava fazendo e começou a rir, os olhos fechados e as mãos apoiadas na cintura. Ele soltava um riso sincero, fazendo o peito descer e subir rapidamente, travando a encarada de Bucky naquele local específico.

- Sabe que isso não é verdade.

- Ah, é sim. Mas não tem problema, agradeço imensamente às suas incursões na sessão adolescente - Bucky brincou e acabou por arrancar mais risadas de Steve. Uma sensação gostosa e aquecida tomou conta de seu corpo ao ver a alegria no rosto dele, como o acesso de riso o deixava leve.

- Você é um idiota - Steve resmungou, não falando realmente sério.

- Awn, que lindos, há quanto tempo estão namorando? - ambos se viraram ao ouvir, perto demais, o som da voz de Clint.

- Que? Do qu... do que você está falando? - totalmente na defensiva, Steve se atropelou nas palavras que saíam emboladas da sua boca. Bucky revirou os olhos, sabendo que ele não era capaz de reagir sob pressão.

- Calma, Cap, eu só estava brincando - Clint levantou as mãos num sinal de paz e riu nervosamente pra Bucky, que meneou a cabeça como quem diz "ele é assim mesmo - Só acho muito interessante a amizade de vocês.

- Quer dizer, você acha interessante como eu consigo aguentar a lerdeza dele - Bucky apoiou uma mão na cintura e gesticulou com a outra, adotando um ar explicativo e fingido.

- Obrigado por ler nas entrelinhas - Clint assentiu - É incrível como você está aqui há pouco tempo e já criamos essa conexão.

Steve suspirou, balançando a cabeça em descrença em face da gozação dos amigos. Contudo, ficou extremamente feliz de ver Bucky se misturando e criando intimidade com os outros, afastando todos as dúvidas referente à adaptação dele.

- É incrível mesmo... aliás, vocês deviam ter uma programação mais amistosa do que simplesmente ficar treinando, né? Não tem, sei lá, umas cervejas por aí, umas bebidas mais fortes e um cd do Bryan Adams? - Bucky falou sendo contagiado pela descontração de Clint, que abriu um sorriso surpreso ao ouvir suas palavras.

- Bryan Adams? Poxa, se eu soubesse do seu gosto musical, teria te acordado antes - Barton depositou uma mão amigável no ombro de Bucky, um gesto de aprovação que apertou o peito do soldado com uma sensação desconhecida de acolhimento.

- Eu ouvi alguém falando "Bryan Adams"? - Maria se aproximou de onde eles estavam, ofegando e suando devido ao treino.

- O nosso novo membro aqui... - Clint deu um tapinha de leve no local onde sua mão descansava - Tem um gosto musical muito bom.

- É mesmo? Desde quando renegados da Hidra tem tempo de ouvir música? - Hill ironizou, levantando uma sobrancelha para Bucky.

- Ei, eu passei dois anos fugindo dele - deu de ombros e apontou Steve com um gesto da cabeça - Tive tempo de sobra pra ouvir alguns álbuns icônicos.

- Se você não ouviu Marvin Gaye, então não pode dizer que está realmente atualizado - Sam apareceu, esboçando o tom ligeiramente hostil que tinha guardado para Bucky.

- Claro que eu ouvi. É o cara que ouviu não sei o que através da videira, certo?

Tanto Sam, quanto Maria, Steve e Clint começaram a rir ao perceber que Bucky havia feito uma piada referente a música do artista. O ambiente não podia estar mais leve e livre de preocupações, pela primeira vez em muito tempo eles estavam simplesmente... batendo um papo.

- E respondendo a sua pergunta, sim, nós temos umas bebidas alcoólicas e uns discos legais. Quem sabe, quando eles voltarem da excursão, a gente não te dê uma festa de boas vindas - Clint recolheu a mão e Bucky identificou que ele falava sério.

- A situação atual permite uma festa? - indagou passando os olhos pelas pessoas ali reunidas.

- Tenho certeza que podemos dar um jeito - foi Steve quem respondeu, sorrindo ternamente em sua direção, um olhar que explicitava várias intenções. Felizmente, nenhum dos três pareceu notar e prosseguiram com uma conversa amena, até Natasha chamar a atenção de todos para o fato de que deviam ir almoçar.

Nas raras vezes que chegava na hora das refeições e ninguém estava na cozinha, T'Challa orientava os empregados a preparar a comida e arrumar a mesa. Em uma ocasião ou outra isso acontecia e naquele dia, nenhum deles tinha nada a dizer a respeito, pois estavam cansados e mortos de fome.

A cozinha cheirava a frango assados com batatas, odor que quase os fez desmaiar de felicidade antes de sequer sentarem à mesa. Uma das empregadas havia posto as louças e os talheres impecáveis em cima da toalha de linho azul-marinho. Todos eles se espalharam em suas respectivas cadeiras, admirando o trabalho bem feito e logo depois tendo a chance de experimentar a refeição maravilhosa.

Vários comentários de aprovação foram desferidos para T'Challa, que prometeu repassá-los a empregada, pois ela já tinha se retirado. Comeram sem falar muito, as mentes viajando em pensamentos relacionados a excursão que alguns deles iriam fazer em menos de uma hora. Toda vez que alguém tinha que sair da mansão, o mesmo clima tenso ficava pairando sobre os que ficavam, recusando-se a dissipar até eles estarem seguros em seu interior novamente.

Depois de todos terminarem, os que deveriam sair foram trocas as roupas de treino pelos uniformes e os remanescentes trataram de limpar a cozinha. Até Bucky prestou auxílio, guardando as peças de louça que Steve enxugava. Pode-se dizer que eles se divertiram no processo, enquanto Sam e Wanda iam instruindo-o aos armários e o que eles continham. O tempo passou rápido demais até que Natasha, Maria e Scott voltaram para a sala, com seus trajes de missão, aparentando uma ansiedade apreensiva.

Os oito foram para o estacionamento, onde T'Challa já se encontrava parado ao lado de um furgão totalmente preto. O veículo parecia um carro forte, com a lataria brilhante como um espelho.

- Ele está lá dentro, há uma grade separando-o de vocês, por isso não se preocupem em ter contato - o Rei se dirigiu aos três em especial, que assentiram obedientemente.

Não havia nada que alguém ali pudesse dizer que já não tivesse sido pronunciado numa daquelas situações, então não demorou para que eles embarcassem na traseira do carro, o motorista dando a partida logo em seguida. Isso foi tudo, afinal. A partida acontecia em meio a acenos e palavras de incentivo e o que restava de último, era somente esperar.

~ v ~

Assim que entrou no quarto, Bucky começou a tirar a roupa, para depositá-la no cesto que ficava no banheiro, de forma que já estava completamente nu ao entrar no box. Não se preocupou em fechar a porta imaginando que estava seguro na própria privacidade. Ligou a ducha, deixando a água morna lavar o suor e o cansaço de seu corpo, contemplando o braço de metal que incrivelmente não era afetado pelo líquido. Nas poucas vezes em que se permitia ficar admirado com o membro artificial, perguntava internamente o quanto de trabalho fora posto para criar algo tão resistente e em como aquilo podia funcionar como se já tivesse nascido com ele.

Enquanto mantinha a cabeça embaixo do jato, não ouviu alguém batendo em sua porta e logo depois entrando, já que não houve resposta de sua parte.

Steve adentrou o quarto, olhando em volta para ter certeza de que Bucky não estava ali. Não queria ter invadido o espaço do outro, mas quando colocou a mão na maçaneta a porta simplesmente se abriu diante de seu toque "suave" e ele aproveitou a deixa. Ao escanear o ambiente, não viu Bucky em lugar algum, mas seus ouvidos foram alertados pelo barulho de água corrente. Ficou parado durante longos segundos, mordendo o interior da bochecha e ponderando se devia ou não entrar, ou chamar novamente para ver se dessa vez o outro iria escutar. No entanto, no mesmo passo que sua mente conflitava entre essas duas possibilidades, seus pés e suas mãos já haviam decidido há muito tempo e quando parou pra ver, se encontrava dentro do quarto e fechara a porta silenciosamente atrás de si.

Todas as formas de arrependimento possíveis passaram pela cabeça de Steve, que tirou um breve momento para se odiar em razão do que havia feito. Podia sair do mesmo jeito que tinha entrado e Bucky nunca descobriria. Esperaria uns minutos para ter certeza que o banho acabara e voltaria a bater na porta, vestindo sua melhor cara de inocente. Porém, Steve começou a ouvir uma voz baixa e curiosa no fundo da consciência, uma que dizia que ele sempre fora certinho e centrado demais, e que talvez fosse uma boa hora para sanar uma porcentagem de sua curiosidade.

Foi com a excitação queimando no fundo do estômago, os dedos formigando de ansiedade e os pés leves como plumas, que ele deu alguns passos receosos na direção do banheiro coberto pela neblina do vapor. Através da névoa morna e um pouco densa, ele sentia um cheiro leve de sabonete de lavanda que o deixou um pouco tonto e que não ajudou em nada para que ele parasse de avançar.

Bucky continuava alheio a movimentação no quarto, agora de olhos fechados, passando as mãos pelas madeixas molhadas ao espalhar o xampu despreocupadamente. Não ligava se o banho estava um tanto demorado, tamanha era a sensação de alívio que ele trazia para seus músculos exaustos. Feliz ou infelizmente, anos de treinamento e prática serviram para aguçar seus sentidos mais negligenciados, portanto foi quase imediatamente que descobriu estar sendo observado. Um leve arrepio na nuca abriu seus olhos e ele virou o pescoço na direção da porta, só pra descobrir que estava certíssimo.

A visão, contudo, paralisou tanto ele quanto o observador. Steve se encontrava parado no arco da porta do banheiro, metade do corpo pra dentro e uma mão apoiada no batente, ao mesmo tempo que sua cabeça pendia levemente para o lado. Seus olhos, vidrados em Bucky, se arregalaram no meio do movimento de passear pelo seu corpo e ele quase sentiu-os perfurando através do material. A boca de Steve formava uma linha fina de concentração combinando com o brilho cobiçoso de suas pupilas.

Bucky tentou puxar um pouco de ar para respirar diante da intensidade daquele olhar e acabou engasgando, a água ainda correndo incessantemente. Os dois permaneceram se encarando, incredulidade mesclada com desejo, um ardor tão forte que nenhum deles conseguia assimilar rápido o bastante. Por mais que o vapor embaçasse um pouco o vidro do box, não escondia a silhueta do corpo de Bucky que ficava nítida e atraente.

- Hum... quer entrar? - ele pigarreou audivelmente, levando a mão trêmula até o puxador do box, ameaçando abri-lo. Imaginou que devia ter soado como uma brincadeira, mas o jeito como sua voz vacilou deixou claro que só seria uma piada se Steve não quisesse realmente entrar.

- Ahn... - o outro ficou ainda mais atônito e esqueceu em qual ordem devia colocar as palavras para responder. Seu rosto foi processando aos poucos a informação e ele soube que estava corando de vergonha, conforme Bucky continuava a olhá-lo, quase tão perplexo - Vou... ahn, te esperar... lá.

Apontando desajeitadamente para o quarto, Steve conseguiu se desencostar do batente e aos tropeços cruzou o espaço que pareceu longo demais até a cama ainda feita, tombando no colchão macio que afundou com seu peso. Espalmou as mãos que, geladas de suor, abrigaram seu rosto envergonhado. Por que diabos fora inventar de espiar a privacidade de Bucky? Por que, principalmente, fora tão estúpido a ponto de pensar que passaria despercebido? Havia agido de maneira burra e infantil, e sabia que só estava com vergonha porque tinha sido flagrado.

Enquanto ficava ali sentado desejando ser forte o bastante para simplesmente ir embora, Steve tentou mascarar com a humilhação o sentimento que queimava no meio de suas pernas. Uma das coisas mais inconcebíveis de se fazer, era invadir o espaço particular de outra pessoa se aproveitando de uma situação corriqueira. Sabendo disso, contudo, as imagens que vira a pouco temiam em tremular nas pálpebras fechadas de Steve. Ele sabia que era errado, mas tinha sido bom demais para que sua mente conseguisse se desvencilhar daquilo. Ainda podia ver nitidamente a silhueta bem formada de Bucky destacando o vapor que a envolvia, ou o jeito quase obsceno com que ele lavava o cabelo, os olhos fechados e a cabeça jogada pra trás. Lembrava como se tivesse gravado em pedra em seus neurônios, a destreza com que as gotas escorriam pelos ombros enormes dele, travando trilhas disformes pelo peitoral...

Steve gemeu em frustração, odiando como não tinha mais controle sobre os próprios pensamentos e os rumos que eles tomavam. Como podia resolver todas as confusões que seu novo relacionamento com Bucky trouxe, se não era capaz nem se parar de imaginá-lo sem roupa? Desistindo de se esconder, deixou as mãos cair nas coxas e levantou o rosto, só pra dar de cara com um par de olhos encarando-o da porta do banheiro.

Se havia alguma chance de Steve ter recuperado a fala no breve período que ficou sozinho sentado na cama, essa possibilidade se esvaiu no minuto em que travou no olhar de Bucky. O outro, como um perfeito diabinho provocante, estava escorado no batente da porta, onde antes Steve estivera, parecendo bem mais confiante do que quando fora pego sendo observado. Os braços e pernas ainda escorriam gotículas de água, assim como o cabelo curto. Não havia nada cobrindo-o, a não ser uma toalha branca envolta na cintura. Mais nada. Absolutamente nada cobrindo seu peito musculoso e coberto por uma fina camada de pelos. Nada para escondê-lo da metade das coxas pra baixo, deixando transparecer as ondas e declives formados por anos de treino intensivo. Era uma daquelas cenas que até a toalha parece estar com vontade de sair correndo, tamanha a ofensa que é deixar um corpo daqueles minimamente coberto.

Bucky sentia a intensidade com que Steve o olhava, como duas mãos acariciando-o e percebeu que não se tratava de uma mera observação... ele o admirava. Não, ele o devorava com os olhos, pra ser mais preciso.

- Desse jeito a toalha vai cair - Bucky forçou a voz a sair brincalhona e despreocupada, como havia tentado mais cedo. Foi mais fácil, agora que Steve parecia a beira de um derrame.

Não podia negar que fora uma surpresa e tanto descobrir o outro se esgueirando na porta do banheiro, espiando por entre o vapor do box no qual ele estava tomando banho. Na hora ficara tão surpreso que adquiriu uma timidez muito característica de Steve Rogers. Incapaz de demonstrar uma reação imediata, Bucky assistiu-o voltar ao quarto, o coração afundando de decepção e pensando que o outro iria se afastar de novo. Sabia que devia engolir o medo, a vergonha e deixar os sentidos serem tomados por um desejo quase animalesco que ele vinha guardando por tempo demais. Diante dos traumas que sofrera, nunca tivera tempo ou sequer chegava a cogitar a satisfação das necessidades carnais, pois ou estava sendo mentalmente controlado pela Hidra ou fugindo dela, sem poder se dar ao luxo de ter vontade própria.

Mas as coisas haviam mudado drasticamente nos últimos meses e agora ele tinha Steve, alguém que, contra todas as expectativas, se tornara aquele por quem seu corpo não podia deixar de responder. Bucky se via de frente com coisas que antes não pensava e não sentia, desejos obscuros de seu subconsciente que queriam desesperadamente escravizá-lo. E ao se deparar com Steve naquela situação, assistindo-o escondido, o rosto rubro de vergonha contrastando com os olhos desejosos, soube que o outro estava passando pelos mesmos caminhos tortuosos.

Ora, se Steve era tímido demais e ainda vivia temeroso diante dos próprios sentimentos, Bucky teria que tomar as rédeas e se deixar levar pelos dois. Tinha esperanças, na verdade, que com um empurrãozinho, Steve também se entregaria àquela necessidade confusa que vinha seguindo-os desde o primeiro beijo.

- Desculpa pelo... pelo... - Steve gesticulava com uma das mãos, provavelmente desviando de ter que pronunciar palavras comprometedoras. Também não conseguia manter os olhos fixos nos de Bucky, darteando-os para lugares esporádicos no quarto.

- Por estar me observando? Não tenho o que desculpar. Apesar de eu ter ficado bem chateado que você não quis entrar lá comigo.

Bucky esboçou um sorriso torto que se devia ao estado frenético com que Steve teimava em agir. Era tão ingênuo e espontâneo, como um homem daquele tamanho e com experiências tão abrangentes, ainda conservava detalhes característicos que não o deixaram conforme seu corpo sofrera a metamorfose laboratorial. Além de extremamente interessante, esses fatores atiçavam uma atração incontrolável no âmago, fazendo a garganta de Bucky estreitar.

A resposta de Steve ficou presa em sua boca repentinamente seca e ele teve que engolir a saliva espessa algumas vezes, para poder prosseguir.

- Foi muita invasão de privacidade, né? Me desculpa, de verdade - de súbito seu primeiro instinto foi ignorar as brincadeiras de Bucky, não tendo aprendido a lidar com aquele tipo de investida sagaz.

Felizmente, Bucky não era qualquer pessoa. Entre eles, receios e temores se mostravam inexistentes e Steve soube, quase que por meio de mágica, não havia motivo algum para ficar nervoso. Se seu corpo queria desesperadamente um avanço, por que não simplesmente deixá-lo?

Como se lesse sua mente, Bucky se afastou do local onde estava encostado e começou a avançar em sua direção, mudando de ideia no último segundo e optando por se apoiar na cômoda perto da janela. Os dois estavam mais perto do que antes, mas uma distância significante e provocativa ainda pairava no espaço silencioso.

- Quando vai parar de ficar nervoso perto de mim? - Bucky indagou, o semblante estampando uma curiosidade genuína. Encostou no móvel, cruzando novamente os braços e ainda com a toalha enrolada na cintura.

Steve queria gritar para que o outro fosse colocar uma roupa e terminasse de se secar, a imagem sendo perturbadora demais para sua concentração precária. Levantou com a máxima rapidez que sua mente anuviada pôde reunir, esticando o tronco e usando os bolsos de abrigo para as mãos trêmulas.

- Não estou nervoso.

- Você estava gaguejando - Bucky rebateu na mesma moeda, erguendo uma das sobrancelhas para ele.

- Bem, eu só estava tentando encontrar as palavras certas, para... - Steve pausou dando efeito a sua mentira inconsistente - Para justificar minha intromissão.

- Eu acho que não é isso.

Diante da insolência de Bucky, foi a vez de Steve aparentar incredulidade. Ambos trocaram olhares de perplexidade por serem tão ruins em fazer o jogo do "disse me disse". Embora Steve que admitir estar mais nervoso do que o normal. Algo na atmosfera sugeria desejo e sedução, uma bomba relógio impossibilitando seu rápido raciocínio.

- O que você acha que é então? - Steve incentivou-o tomando um passo na sua direção. 

- Eu acho... - assumindo um ar de sincera especulação, Bucky desviou o olhar para o teto do quarto, como se encontrasse alguma dúvida no que estava prestes a dizer - Na verdade, tenho quase certeza, de que você ainda fica nervoso quando estamos juntos, porque não está acostumado com esses sentimentos.

Sem responder verbalmente, Steve assentiu deixando claro que estava assimilando e avançou mais dois passos. Bucky nem chegou a vacilar quando a proximidade deles foi aumentando, ao invés disso se deteve a continuar a resenha.

- Que de uma certa forma, você não sabe o que são essas coisas que está sentindo e nem como deixá-las tomar conta das suas ações. 

- É?

- É. Por isso foi parar na porta do meu banheiro, não foi? Porque não estava se contendo de curiosidade e seus pés foram mais rápidos que sua mente - nesse momento Bucky voltou a encarar o homem que já se encontrava a menos de três passos dele. A confinidade fazia os pelos do corpo pinicarem e a estática rolar solta entre eles, embriagando qualquer vestígio de negação - Errei alguma coisa?

- Não.

- Então por que não entrou no box? Por que fugiu de mim?

- Eu não fugi de você! - Steve deu mais dois passos e agora menos de trinta centímetros os separava - Eu só... eu não sei como...

Bucky descruzou os braços ao ouvir a súplica na voz do outro, clamando por um guia. Incrível seria dizer o mínimo ao descrever a maneira como Steve parecia consternado, confuso e ao mesmo tempo tomado pela luxúria. As pupilas dilatadas não mentiam por ele e a respiração arfante atraiu a atenção de Bucky.

- Para de pensar. Chega de ficar se segurando perto de mim - ele estendeu ambas as mãos que o outro aceitou com agrado e o puxou a seu encontro - Isso aqui... é só entre a gente, não precisa de dúvidas e nem pensar duas vezes. Se você quer... é só tomar o que já é seu.

Se igualando na altura dos olhos, na força das mãos e na convicção do que sentiam, aqueles dois homens ficaram inspirando e expirando no mesmo ritmo por poucos segundos até Steve largar as cordas que o ligavam a repressão, concedendo a seu corpo as vontades que ele almejava. Sem precisar de permissão, eliminou a distância mínima entre ele e a droga mais deliciosa que já experimentara na vida e se entregou.

A colisão das bocas foi urgente, ávida pelo calor que veio a se espalhar por suas terminações, tornando-se uma rotina. Bucky tratou de agarrar a cintura do outro, puxando-o mais ainda pra si, sem sequer lembrar de que ainda estava somente de toalha. Segurou-o com resolução enquanto explorava os lábios de Steve com beijos castos, toques leves de uma malícia disfarçada. Sentia todo o corpo dele pressionado no seu, as mãos dele alcançando seu cabelo molhado, embrenhando-as ali.

Bucky pegou o lábio inferior de Steve entre os seus, abrindo caminho para as línguas de ambos começarem uma dança um tanto obscena. Levou as mãos até a barra de sua camiseta e procurou levantar o tecido apertado, recebendo uma ajuda de Steve e precisando partir o contato aflito. Pelos poucos segundos que conseguiu observar, o outro já possuía as bochechas levemente rosadas e a boca avermelhada com um inchaço característico. Mordeu o próprio lábio, sentindo o meio das pernas esquentar involuntariamente. Sem tempo para utilizar de algum pudor, Bucky usou a mão de metal para puxar Steve pelo local onde as costas encontravam a curva acentuada de sua bunda, colando num baque maravilhoso as duas virilhas. Deixou Steve voltar a beijá-lo e usou a outra mão para auxiliá-lo num movimento de quadril que gerou uma fricção tão deliciosa de uma ereção na outra, que arrancou gemidos de ambos.

Eles estavam praticamente sem fôlego, mas não ousavam se separar, Steve tendo encontrado uma confiança enterrada no fundo de seu ser, que havia adorado a sensação do membro de Bucky roçando no seu, mesmo que por cima da roupa. Tamanho era seu entusiasmo, que acabou movimentando-se muito bruscamente, fatalmente desprendendo o arranjo feito por Bucky para segurar a toalha e derrubando-a a seus pés. Os dois estancaram com as bocas ainda grudadas, subitamente cientes de que um deles agora se encontrava completamente nu. Steve na mesma hora sentiu as bochechas esquentando e ameaçou retrair-se, sendo impedido apenas pelas mãos convictas do outro.

- Lembra o que eu disse... - Bucky sussurrou com a voz embargada de tesão, ainda com os lábios encostando nos de Steve - Não pense... só faz o que seu corpo manda. 

E esforçando-se para obedecer, Steve encostou completamente nele, aderindo o calor que emanava de Bucky sem mais nenhuma barreira protegendo-o. Só o contato mínimo causava uma sensação inexplicável, acendendo um desejo furioso que ele nem sabia ter reprimido. Steve se deixou tomar por todas as vontades que seu corpo queria exteriorizar, dando conta do quanto queria Bucky daquela maneira e de todas as outras possíveis.

Voltou a pressionar os lábios nos dele, mas dessa vez sem intensificar o beijo, apenas trocando selinhos cálidos e demorados. Ambos sem a parte de cima da vestimenta, ficavam com os peitos subindo e descendo no ritmo frenético da respiração, em uníssimo. Steve, finalmente, se pôs no controle da situação e largando das restrições que sua mente havia construído, escorregou uma das mãos entre os dois corpos e fechou-a em torno de Bucky, envolvendo seu membro com um toque gentil mas firme. Em razão disso, o outro emitiu um som gutural de prazer que fez seus olhos fechados revirarem. Só o fato de Steve estar tocando-o ali, já era o suficiente para fazê-lo perder a razão.

Nunca tinha experimentado aquilo em outra pessoa, nas vezes que se aventurara por essas vertentes sexuais, Steve só possuía as próprias expectativas para atingir e sempre se via satisfeito com o resultado. Naquele momento, o jogo era outro, Bucky estava em suas mãos, se contorcendo para alcançar um alívio que ele podia prover. Não podia ficar nervoso de decepcioná-lo ou receoso de ser inexperiente. Era necessário que exteriorizasse o desejo avassalador que nutria por Bucky, e aí não teria jeito daquilo dar errado.

Mexeu a própria mão para cima e para baixo, num movimento lento e tortuoso, assimilando o tamanho e a largura do pênis que pulsava em sua mão. Seu toque subia e descia, punhetando sem parar e adorando os gemidos que arrancava do outro. Bucky segurava-o pelos ombros, buscando amparo e sentindo o mundo escapar-lhe debaixo dos pés. Fez força contra a cômoda, o material gelado pressionando de volta sua bunda, enquanto sua cabeça girava com a intensidade do contato de Steve.

- Você... ah... - Bucky tentou e falhou na formação de uma frase coerente, sua voz se limitando a gemer num tom grave, os lábios ainda grudados nos de Steve, buscando um pouco de ar.

Ele, por sua vez, mantinha o ritmo do pulso, subindo e descendo, as veias pulsando na palma de sua mão. Do mesmo modo que sabia estar satisfazendo Bucky, os gemidos de contentamento que ele expelia, serviam para instigar Steve quase com a mesma loucura.

As mãos de Bucky apertaram mais ainda em seus ombros, subindo para o pescoço até poder afastar a boca da dele e afundar o rosto em seu pescoço. Usou a cômoda de apoio para prendê-lo e aumentou a velocidade do punho, a respiração do outro quente em sua pele.

- Meu deus, Steve... eu vou... - mas a frase de Bucky morreu no minuto que ele pensou em terminá-la, Steve aproximou a boca de sua orelha, mordiscando o lóbulo com luxúria e investindo com a cintura pra frente, ao mesmo tempo que sua mão descia uma última vez.

Bucky deixou a pressão que crescia atrás da barriga ser liberada, deleitando-se num orgasmo violento. Mordendo o pescoço de Steve onde sua cabeça estava enterrada, ele suprimiu o ganido que queria escapar de sua garganta. O calor e os espasmos duraram por longos segundos, fazendo-o tocar o céu e descer de volta flutuando, quase parecia um sonho estar experimentando aquilo e ainda mais com Steve.

Arfando e sentindo o suor escorrer na testa misturando com a água do banho, ele se afastou para poder olhar o outro nos olhos. Errado ou não, a cena com que se deparou foi a coisa mais erótica que podia descrever. Steve ainda tinha seu membro na mão agora coberta pelo líquido branco e morno, que também havia respingado na barriga de ambos. Seu rosto havia adquirido um rosado intenso nas bochechas e com os lábios levemente separados, ele arfava como se tivesse atingido o climáx da mesma forma. Os cabelos pecaminosamente bagunçados e os olhos arregalados de admiração, Steve era a imagem da perdição e nem sequer se dava conta disso.

- Isso foi... uau - Bucky ainda não havia recuperado a habilidade de falar, tamanha fora a libertação. Procurou algum arrependimento na expressão de Steve, mas o que recebeu foi um selinho demorado na boca ainda dormente.

Sorriu diante da plenitude que preenchia seu coração e quase reclamou ao sentir a mão de Steve deixar o local onde havia performado um trabalho sensacional.

- Acho que você precisa de outro banho.

- Eu acho que nós dois precisamos.

Eles se entreolharam, no que Bucky, por meio apenas de um levantar de sobrancelha, questionou Steve se aquilo estava bem pra ele. O outro assentiu, transmitindo um misto de cumplicidade e ansiedade, completa e totalmente dominado pelo homem a sua frente. 

Assistiu-o se endireitar, o cabelo transformado numa bagunça gloriosa, coroando seu rosto contente. Bucky não falou nada antes de começar a ir em direção ao banheiro, sem roupa e sem vergonha, um chamado silencioso para que Steve o seguisse. Demorou alguns segundos para que ele fosse capaz de fazê-lo, já que a visão de Bucky de costas era quase tão hipnotizante quanto a frontal. A caminhada provocava movimentos oscilantes dos músculos mais sobressalentes em seu corpo, mantendo seus sentidos entorpecidos mesmo depois que Bucky desaparecera de sua vista.

Foi acordado de seu devaneio pelo barulho do chuveiro sendo ligado, abaixando os olhos para ver que realmente precisava se lavar. Caminhou a passos cegos até o banheiro, onde a porta do box estava aberta, convidando-o a entrar no espaço relativamente pequeno onde Bucky já estava.

Ficou observando-o embaixo da ducha, as pálpebras fechadas permitindo a água correr no rosto e cair pelo peito. Dessa vez, contudo, Steve não teve o instinto de sair correndo ou se esconder de vergonha. Diferente de vinte minutos atrás, ele sentia-se seguro e confiante, deleitando-se no que devia ser a tão famigerada reciprocidade.

Escorregou a calça pelas pernas, descendo a cueca junto e se esgueirando para dentro do espaço coberto pela névoa vaporífera. Bucky notou sua presença imediatamente e se virou, abrindo os olhos lenta e preguiçosamente, saindo da cortina de água. Uma apreensão queria criar caminho no consciente de Steve, mas ele a afastou, tendo atenção somente para Bucky. O outro, por sua vez, esticou a mão direita e deslizou o vidro do box, selando-os do mundo exterior. Com o "clique" da porta, ele se dedicou a admirar o corpo de Steve, agora tão despido quanto o dele.

Mesmo de roupa, dava para ter uma ideia do quanto ele era milimetricamente perfeito, coberto por músculos e entradas convidativas, aparentando ter sido feito em laboratório... figurativamente falando. Não havia nada fora do lugar e o rosto angelical tinha sido momentaneamente substituído por uma expressão desejosa, quase travessa. Bucky seguiu com olhos ardentes a trilha rala de pelos que dava para o membro ereto e imponente de Steve. Chegava a ser ultrajante como um homem tão notável e bonito, pudesse ter algo tão ostentoso que a outros só seria permitido sonhar.

- Hum... - Bucky murmurou com uma incredulidade fingida e arrancou uma risada nervosa de Steve, que não arriscou tentar responder - Vem cá.

Cruzou a pequena distância que os separava, pegando Steve pelas mãos e puxando-o para baixo da ducha. Ele obedeceu sem pestanejar, agradecendo a temperatura amena da água e fechando os olhos para deixá-la carregar as impurezas. Sentia Bucky segurando-o ainda e tinha certeza que ele o contemplava, de forma que não precisou de nada mais que um leve aperto em sua mão para que o outro entendesse e alcançasse seus lábios.

O beijo começou embaixo da ducha incessante, a saliva se misturando com a queda do chuveiro enquanto eles encostavam uma virilha na outra, finalmente sem um pingo de roupa para os impedir se sentir mais. O choque enviou ondas de êxtase pelas veias de Steve, a maioria das experiências que estava tendo com Bucky eram as primeiras e ele não imaginava nada melhor do que aquilo. As mãos do outro, principalmente a de metal, tinham uma firmeza excitante e viajavam por todas as partes de seu corpo, suas costas, seu cabelo, sua bunda e nessa região em particular, Bucky parecia estar maravilhado, apalpando e apertando, friccionando uma ereção na outra.

Por mais que Bucky já estivesse ficando duro de novo, Steve estava dez vezes pior, por não ter tido o mesmo alívio que ele. Seu pau pulsava suplicando pela mitigação de seu desespero, prensado contra a coxa de Bucky. Empurrou-o para longe da cachoeira e para o contato frio da parede do box, causando uma exclamação de surpresa a escapar de Steve. Distanciou-se minimamente para olhá-lo, o assombro tomando suas feições.

- Você é uma delícia, sabia? - Bucky ofegou as palavras pra fora e não tinha ideia de onde vinha tanto desejo, mas estava fora de si e coberto de uma necessidade urgente de sentir mais - Quero saber se o resto também é...

A fala ficou pendurada pelos beijos que ele começou a projetar pela mandíbula acentuada de Steve, descendo pelo pescoço exposto, passando pelos peitos e dando uma breve atenção aos mamilos, o que fez o outro fechar os olhos arrebatado pela miríade de sensações que o atravessavam.

Algumas palavras incoerentes saíam de seus lábios ao sentir Bucky levar os beijos pela sua barriga abaixo, chegando ao umbigo e no instante seguinte ele estava de joelhos no piso frio do box, segurando seu pênis na altura do rosto, a boca há menos de dez centímetros da cabeça. Steve olhou pra baixo, perplexo e detido, sem saber como reagir ou se devia permitir que ele continuasse.

- Você quer? - Bucky proferiu a pergunta com uma preocupação genuína na voz. Sua respiração flutuou direto na glande e Steve arfou audivelmente.

Lá se vai a habilidade de falar, de novo, portanto teve que se contentar em assentir de um jeito frenético, vendo um sorriso sapeca iluminar o rosto de Bucky. Ah, esse homem...
Seu próximo pensamento foi miseravelmente ocultado, pois sem fazer cerimônia ele o enfiou na boca, de uma vez, até faltar um cinco centímetros da base.

Steve soltou um gemido exasperado, os olhos girando nas órbitas, tombando a cabeça pra trás e encostando-a no azulejo para servir de apoio.

Nunca nem sequer parara para pensar se Bucky era ou não experiente naquele departamento, mas naquele momento teve certeza que não fazia diferença. A pessoa em si, era o que o levava às alturas. Era a maestria com que ele o chupava, engolindo sem restrições e afundando-o completamente até a garganta. Steve delirava no interior quente e aveludado de sua boca, gemendo e ofegando, com uma das mãos embrenhadas em seu cabelo, não para guia-lo, mas para mostrar o quanto aquilo estava maravilhoso.

Em determinado momento, deve ter falado algo sem sentido que chamou a atenção de Bucky, pois no que ele foi tentar responder com a boca ocupada, sua garganta vibrou provocando um estímulo nervoso, levando Steve à beira do abismo.

O mundo girava e era delicioso, e Bucky não lhe dava folga, engolindo e masturbando as partes que sua boca não conseguia comportar, num trabalho majestoso e incessante. Foi em uma de suas investidas contra o interior da bochecha que fez a pressão ameaçar explodir no ventre de Steve. Ele tentou afastá-lo, puxou seu cabelo e murmurou um aviso sofrido. Porém Bucky estava resignado, não largou e tratou de intensificar os movimentos e assim Steve soltou do último fio que o segurava no plano terrestre, liberando um gozo insano e violento que jamais havia experimentado na vida, deixando os planetas girarem na frente de seus olhos e inundando a boca gloriosa de Bucky.

Suas pernas ameaçaram falhar, querendo desesperadamente desistir em razão dos espasmos fortes que haviam experimentado. Ele sentiu vagamente a parede deslizando nas costas e logo as mãos de Bucky estavam a ampará-lo. Focou os olhos entorpecidos nele, deparando com uma expressão depuro contentamento.

- Isso foi... foi...

- Foi uma delícia, não foi?

Moveu a cabeça pra baixo e pra cima, assentindo. E do nada, começou a rir abertamente. Uma risada de alívio, de felicidade, de plenitude. Melhor ainda foi que Bucky tratou de espelhar o gesto e caiu na gargalhada também, ambos arremetidos por uma alegria surreal, algo que fora estranho para eles durante uma eternidade.

- Vem, vamos tomar um banho de verdade.

Bucky puxou-o para a ducha de novo e Steve aproveitou para beijá-lo, sem ligar que há pouco ele estava bebendo de seu líquido e sentiu o quanto isso o surpreendeu. Mas podia dizer com certeza que não havia mais salvaguarda, nem cordas e nem juízo.

Finalmente ambos sabiam com plena e total certeza estarem frente a frente com tudo o que queriam e precisam no mundo. E nenhum deles estava disposto a largar.

~ v ~

- O quê? - Bucky questionou, unindo as sobrancelhas  no centro da testa, o vinco da dúvida formatando-as.

Haviam terminado de tomar banho e deitados na cama de Bucky, estavam um de frente pro outro, olhos travados e corpos desnudos. O lençol fino cobria-os da cintura pra baixo, mas as pernas permaneciam embrenhadas transferindo calor humano.

- Nada - Steve respondeu sem conseguir conter o sorriso.

- Você está com uma cara estranha.

- Estranha?

- É.

- Eu estou te olhando, só isso.

Bucky sorriu ternamente pra ele e suspirou.

- Olhando como se quisesse dizer algo.

Steve lambeu os lábios em preparação, antes de falar.

- Que situação surreal... é nisso que eu estava pensando.

- Surreal por que?

- Porque... bem, quando é que eu ia imaginar, que você, meu melhor amigo seria a pessoa a me mostrar esses lados meus que eu nem conhecia?

- Elabore - Bucky incentivou com a curiosidade pinicando suas entranhas.

- Você sabe o que eu quero dizer - as bochechas de Steve adquiriram uma cor bem característica da timidez, o que só serviu para alargar o sorriso de Bucky.

- Não me diz que ainda está com vergonha de mim? Pelo amor de deus Steve, eu já te dei um boquete, o que mais tenho que fazer?

O outro arregalou os olhos em completa perplexidade, incapaz de evitar o tsunami de afeto que o cobria ao ouvir uma brincadeira vinda de Bucky. Fora tanta dor e sofrimento, tantos encontros e desencontros, para no final eles acabarem na mesma cama, dividindo o enlevo pós-orgasmo e compartilhando amenidades amorosas, tão leves e tranquilos quanto se poderia ficar.

- Não é vergonha, seu imbecil, eu só estou tentando assimilar tudo. Você não?

Bucky ficou um momento com cara de paisagem, para depois assentir em concordância. Arrastou o corpo pesado no colchão, se aproximando de Steve até os dois narizes estarem encostados. Eles fecharam os olhos, apreciando as respirações quentes e misturadas. 

- Sim, o tempo todo, desde que te beijei pela primeira vez. Mas não quero fazer isso, Stevie, quero ser normal - ele soltou um suspiro cansado, um tanto triste - Quero aproveitar a sensação de estar tão perdido em alguém, que não preciso pensar em mais nada. Quero esquecer dos nossos problemas... quero que nós dois exploremos tudo que estivemos perdendo durante todos esses anos, entende? Eu preciso... sei lá, acho que preciso me adaptar não só a época em que estamos presos, mas ao fato de que todos esses sentimentos são tão novos pra mim, quanto pra você.

- Mas você parecia bem experiente e solto quando se ajoelhou pra mim lá no banheiro - Steve brincou arrancando uma risada rouca do outro.

- É mais forte do que qualquer lavagem cerebral. É o meu corpo respondendo ao seu, foi o que me levou a assaltar sua boca aquele dia no estacionamento... ainda não acredito que fiz aquilo - murmurou -  Eu não penso, sabe, minhas ideias e a minha razão simplesmente não tem função nenhuma quando você está perto.

Steve teve a sensação que seu coração fosse explodir, tamanha era sua adoração. Como era possível gostar tanto assim de alguém? Ser tão miseravelmente dependente? Queria gritar de frustração e ao mesmo tempo desmaiar de tanta euforia. Queria, antes de tudo, que eles pudessem ser felizes com a mesma liberdade e segurança que tinham entre aquelas quatro paredes.

- Vai ser difícil de se acostumar - continuou, roçando os lábios nos dele - mas pelo menos estamos juntos.

E com isso, sem precisar dizer mais nada, eles flutuaram para o inconsciente, vítimas concisas de um sono devorador.


~ v ~

Bucky quase caiu da cama com o barulho que o arrancou bruscamente de um sonho tranquilo. Olhou ao redor, a escuridão do quarto fazendo-o ter a impressão de ter dormido por cinco minutos, chegando até a cogitar a possibilidade de ter imaginado o som que o acordara.

Mas logo ele veio de novo, dessa vez mais forte e iminente. Com toda a delicadeza, retirou o braço de Steve que estava atravessado em sua barriga, impedindo-o de levantar. Não respondeu a quem quer que batia na porta, com medo de despertá-lo também e foi cambaleando até a cômoda para pegar uma cueca e uma bermuda. Mal colocara a segunda peça e a batida na madeira voltara, irritando-o até os ossos.

Lembrou que devia estar descabelado e com o rosto contorcido de sono, diferente do semblante angelical que o Steve adormecido esboçava. Não teve tempo de ir no banheiro verificar, pois a pessoa voltara a assolar o silêncio do quarto com os murros na porta.

Ao girar a maçaneta, deu de cara com um Sam... bem, consternado seria a palavra mais próxima para descrevê-lo.

- Poxa cara, você tava morto aí dentro? Viu o Steve? Não consigo achar ele de jeito nenhum... mas não interessa. Ache ele e vocês dois vão direto pra sala de reuniões - ele falava numa voz acelerada e ofegante, deixando Bucky apreensivo.

- Ei, o que aconteceu? Dá pra me explicar, porqu...

- Ah claro, esqueci que você dormiu a tarde toda - Sam revirou os olhos em total impaciência - Eles não voltaram ainda. Hill, Natasha e Lang. Já faz mais de seis horas que saíram e até agora nem notícia. T'Challa está preocupado... eu to falando, se ele está assim, é porque tem algo de muito errado. Aconteceu alguma coisa com eles.

Sam não esperou que Bucky respondesse e na mesma exasperação com que batera na porta, ele se foi, andando a passos largos pelo corredor e desaparecendo em uma das curvas.

Bucky colocou o rosto pra dentro do quarto, olhando para o relógio com os números em vermelho do outro lado, indicando que ele e Steve haviam mesmo dormido a tarde toda e boa parte do começo da noite. Depois, viu o dito cujo, sentado na cama, o rosto iluminado pela luz do luar que entrava por entre as cortinas, uma expressão de completo horror indicando que ele ouvira sua conversa com Sam, mas não se manifestara para não ser descoberto ali.

O breve momento de paz que eles tinham vivido na pequena bolha que era o novo relacionamento, fora arrancado deles e substituído pelo pensamento de alerta.

Seus amigos estavam em perigo e eles tinham que agir.



N/A: ATA! Que capítulo ein, meus amigos... que capítulo. Deixem seus comentários me xingando e dizendo o que vocês acharam da minha profanação. Sim, estou falando dos momentos libidinosos. Me diz se curtiram ou não e se foi legal eles já terem dado esse passo.

AH FOCO NA PLAYLIST STUCKY!!!


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