Capítulo 7 - From Yesterday

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"He's a stranger to some and a vision to none, he can never get enough, get enough of the one... On a mountain he sits, not of gold but of sins, through the blood he can learn, see the life that he turns. From a council of one, he'll decide when he's done with the innocent..."

Bucky se sentou na cadeira acolchoada, pensando em como aquilo não ajudava nada em seu estado. A mesa a sua frente era feita de alumínio, o material brilhava e espelhava a luz da lâmpada no teto, uma perfeita sala de interrogatório. Ao seu redor não havia nada, apenas quatro paredes lisas, sem janela e uma porta somente, contando com a cadeira do outro lado da mesa, nada mais tornava o ambiente habitável. Não fazia frio, nem calor e ele já estava sentado ali há pelo menos vinte minutos. Por mais que ainda achasse difícil se lembrar da vida que um dia tivera, tinha absoluta certeza que sua paciência com as coisas havia se esgotado muito antes de ser levado pela Hidra. Não ajudava em nada ficar parado ali esperando pela pessoa que iria lhe dizer o quanto sua mente estava danificada. Como se ele já não soubesse.
Estava a espera da Dra. Heniway, sua nova "terapeuta", assim eles a chamavam. Ela falara que voltaria no final da semana e até agora tudo indicava que cumpriria sua promessa, naquela manhã o Dr. Landscorpe foi até a ala hospitalar para informar Bucky que ele deveria se arrumar para esperá-la, suas sessões começariam naquela tarde. Tinha que confessar, estava torcendo para que ela não viesse, ou que pelo menos seus médicos constatassem que terapia era algo desnecessário. Mas sabia que precisava daquilo e que por mais que parecesse um meio muito fraco de reverter sua situação, havia prometido para si mesmo que não discutiria em relação aos métodos de ajuda das outras pessoas. Principalmente se aquilo significava deixar Steve mais aliviado, ou seja, Bucky iria se esforçar, nem que isso lhe causasse um tremendo desconforto. Como por exemplo, ficar preso num cubículo, tendo que responder perguntas pessoais.
Coçando a barba com a mão de metal e se lembrando imediatamente que precisava de uma lâmina de barbear, ele encarou a superfície espelhada a sua frente, pensando nos poucos dias que haviam se passado. As coisas estavam indo melhor do que ele imaginava e tudo isso se devia ao fato de que todos ao seu redor pareciam não odiá-lo totalmente. A não ser Sam, mas ele não acreditava que fosse ódio de verdade e sim uma richa implícita, devido ao fato dos dois serem grandes amigos de uma pessoa em comum. Em relação ao resto dos habitantes da mansão, Bucky esperava que além de tratarem-no bem, que eles fossem agir de maneira estranha e desconfortável quando ele estivesse por perto, mas novamente foi surpreendido ao perceber que toda vez que entrava em um ambiente, ninguém se importava. Não olhavam pra ele ao notar sua presença ou paravam de falar, ao contrário, de fato se dirigiam a ele como parte do grupo. Wanda, para seu espanto, era a que mais conversava com ele, sempre puxando-o para o assunto e estudando-o de perto para ter certeza que não haveria nenhuam hesitação de sua parte. Bucky veio a descobrir - discretamente perguntando para Steve - que os poderes de Wanda eram um tanto peculiares e quando ela se permitia, podia sentir as emoções e intenções das outras pessoas e que esse devia ser o motivo de ela estar tão empenhada em fazer com que Bucky se enturmasse. Efeito de seus poderes ou não, Bucky agradecia mentalmente todas as vezes que ela lhe dirigia um sorriso, mesmo que aquilo o perturbasse, também lhe transmitia um certo conforto, algo que era muito bem vindo.
Os outros simplesmente não eram do tipo sorridentes e acolhedores, porém agiam tão normais quanto podiam. Num dia a dia monótono, seus encontros se resumiam às horas das refeições e algum momento de lazer, como o tão praticado ato de assistir televisão.
Bucky jamais iria reclamar daquela vida, havia tanto tempo as coisas não ficavam tranquilas daquela maneira pra ele, então um pouco de tédio e monotomia era algo agradável.
Tudo estava indo bem até demais na verdade, desde o dia em que ele e Steve haviam tido um momento mais íntimo no sofá, compartilhando o abraço tão esperado por ambos, nada mais tinha sido igual. Eles descobriram que toda aquela tensão e hesitação era perde tempo e Bucky não teve muita dificuldade em deixar a conversa fluir quando os dois estavam juntos. Por mais que não conseguisse se lembrar de noventa por cento do que um dia viveu, a sensação de estar perto de Steve era tão familiar que às vezes ele se via sorrindo involuntariamente. Não sabia como explicar, mas estar perto dele fazia toda a dor ir embora, fazer piadas e falar sobre assuntos banais havia virado uma rotina, já que quando ele não estava em algum outro cômodo da casa, Steve o seguia até a ala hospitalar, discursando sem parar sobre os "dias de ouro" como eles haviam apelidado carinhosamente, relembrando acontecimentos e situações felizes. Bucky notou que ele nunca mencionava uma tragédia, noite mal dormida ou perigo mortal que eles tivessem vivido e fizera uma nota mental de um dia perguntá-lo o motivo.
Por enquanto, tudo que ele podia fazer era se sentir grato pela normalidade com que as coisas estavam indo. Até o assunto que trouxera Natasha e Maria Hill ao encontro deles havia sido adiado, nenhum deles querendo ser o primeiro a se pronunciar sobre aquilo. Bucky não conseguia afastar de seu pensamento que talvez fosse por causa dele, o que Steve com certeza negaria se fosse questionado sobre isso.

Contudo, não houve tempo para pensar sobre mais nada, pois a porta da sala se abriu lentamente e pelo arco que o separava do lado de fora, passou aquela mulher com o olhar amigável e o sorriso perturbador. Ele sinceramente não entendia como ela podia se mostrar tão tranquila diante de um ex-assassino controlado por uma organização voltada à conquista do mundo e aniquilação de qualquer ser que pudesse atrapalhar seus planos. Na verdade, havia um quê de ansiedade no jeito como ela se dirigiu ao assento na frente dele, depositando uma pasta preta em cima da mesa. Quando seus saltos pararam de fazer o costumeiro "clap-clap" no piso de cimento, ela soltou um suspiro satisfeito, com a mão direita jogou o cabelo longo e liso para trás e estudou Bucky atentamente antes de se pronunciar.
- Boa tarde, Sr. Barnes, é um prazer revê-lo - a voz firme, porém jovem saiu de seus lábios num tom razoavelmente baixo.
Bucky havia aprendido a desconfiar de tudo e todos sempre, ninguém deveria escapar de sua avaliação prévia. No primeiro dia, quando encontrara com ela, algo em seu cérebro não descansou e agora sabia porquê. Não era necessário falar, ele não era o único sendo avaliado naquela sala.
Diante da falta de resposta da parte dele, ela assentiu sem deixar de sorrir e se voltou para sua pasta, abrindo-a com um ruído baixo, passando alguns papéis entre seus dedos.
- James Buchanan Barnes, estou certa? - perguntou a Dra. Heniway sem levantar os olhos pra ele.
Bucky apenas confirmou com a cabeça, as mãos cruzadas em cima da superfície gelada de alumínio.
- Seria de grande ajuda se você conversasse comigo, James, não estou aqui para falar com as paredes - apesar das palavras, sua voz permaneceu neutra e gentil. Aquilo iria irritá-lo mais rápido do que esperava.
- Meu nome é Bucky - ele sentiu sua boca formando a frase antes que pudesse se conter.
Seu inconsciente mesmo há muito alterado, agia por conta própria, sendo automaticamente afetado por aquele nome. Entendia que, se pegasse seu documento de identidade estaria constando essa identificação, mas era mais forte que qualquer esforço... O nome o remetendo diretamente para o episódio em Berlin, no qual tentara matar todos que vira pela frente. Sem falar na dor de cabeça toda vez que tentava se lembrar de algo presente na sua vida antiga. Não sabia se um dia iria superar essa sensação ruim, mas no momento não queria ouvir aquela estranha pronunciando aquilo em especial.
- Perdido em pensamentos? - Dra. Heniway questionou, levantando seus olhos para buscar os de Bucky e nenhum dos dois desviou. Era difícil decifrar uma pessoa que estudara durante anos para saber tudo sobre o ser humano, alguém que não deveria nunca ser enganada.
- Estou esperando - Bucky se dignou a responder, mantendo a expressão séria.
- O que exatamente?
- O que quer que você veio fazer aqui - ele rebateu, vendo-a a endireitar a posição, imitando seu gesto e cruzando as mãos. Seu olhar penetrante fazia buracos no rosto dele, não literalmente pelo menos.
- Bom, o que eu vim fazer aqui não é muito importante, o foco é somente você - ela falou sorrindo mais abertamente quando notou que ele travara a mandíbula com força, se segurando para não dizer algo que não devia - Posso lhe fazer uma pergunta... Bucky?
- Se eu estou aqui, creio que não precisa pedir permissão - ele não tinha a intenção de soar tão rude e isso transpareceu em sua expressão, que suavizou imediatamente. Não conseguiria descobrir nada a respeito dela se rejeitasse suas tentativas de ser amigável, mesmo que parecessem falsas à seus olhos.
- Ótimo, já que isso está implícito, deixe-me começar por algo bem simples. Qual a data do seu aniversário? - perguntando de forma despreocupada, a Doutora se voltou para os papéis para verificar as respostas que lhe seriam dadas.
Pensando um pouco antes de responder, ele se orgulho de saber a resposta. Uma das coisas simples que ele havia memorizado devido suas idas ao Museu em Washington.
- 10 de Março - falou com a voz firme.
- Ano?
- 1917.
- Onde?
- Brooklyn.
- Você se importa se eu fizer uma pergunta que eu sei que a resposta não pode ser encontrada em um painel no Smithsonian? - ela continuava a repassar as folhas, a voz impássível, talvez indiferente ao fato de que sua pergunta havia deixado Bucky mais do que abalado.
Ele abrira a boca para responder, mas nada saira. É claro que aquilo era a mais pura verdade e ainda assim fora horrível ouvir da boca de outra pessoa. As palavras dela mataram qualquer esperança que ele tivesse de estar indo bem, afinal, aquelas informações ele havia decorado e não lembrado.
- Sr. Barnes, espero que entenda, o meu trabalho aqui é tentar fazer com que o senhor recupere o máximo possível sem destruir a si mesmo. Não vou ser compreensiva e gentil o tempo todo, vou agir direta e objetivamente para podermos melhorar sua situação - foi tão bruscamente que ele quase não notou em meio as próprias perturbações, mas o rosto da Dra. Heniway endureceu em uma expressão de profissionalismo e seriedade que não estava ali antes.
- Melhorar minha situação? - ele perguntou, levantando uma sobrancelha questionadora - Em algum momento da sua entrevista, por acaso, alguém te disse o que foi feito comigo? Com a minha cabeça?
Apesar do sarcasmo em sua voz, Bucky teve vontade de gritar quando olhou atentamente para a Dra. Heniway, o jeito como ela parecia calma e séria, tratando aquela situação igual a todas as outras consultas que devia ter com seus pacientes mentalmente afetados. Ele não era como os outros. Não queria exclusividade, só que eles entendessem que terapia, por mais intensa e trabalhada que fosse, não iria resolver seus problemas. Ele estava danificado para sempre e mesmo que alguém criasse uma máquina de choque capaz de reverter o efeito de quando fritaram seu cérebro pela primera vez, não havia nada a ser feito.
- Sr. Barnes... Bucky, eu vou lhe explicar como isso irá funcionar - ela mudou o rumo da frase, quando viu que o rosto dele se contorcer à menção do sobrenome - Quando o Sr. T'Challa me contatou para o serviço, ele me explicou brevemente sobre a pessoa com quem eu iria trabalhar. Não preciso e acredite, não tenho o menor interesse em saber se você gosta de mim ou não, se está confortável ou se ao menos quer estar aqui. Eu sei das coisas pelas quais você passou - seu tom se tornou mais grave ao pronunciar a palavra "sei" - Eu fui treinada para acessar coisas nas mentes de seres humanos muito mais danificados do que você. Não se engane, nunca falhei no que faço e essa não será a primeira vez.
- Você não entende, nenhum deles entende! Só a menor tentativa de tentar lembrar de alguma coisa, me causa uma dor insuportável e eu não posso dizer isso pra ninguém, não consigo simplesmente destruir as esperanças de todos. Eu não vou melhorar, nenhuma terapia irá mudar isso! - Bucky estava gritando, sabia que as paredes eram à prova de som, seus berros estavam presos pelas paredes de concreto e rebatiam com força no rosto inalterável da terapeuta.
- Ninguém está dizendo que você irá ficar cem por cento, mas qualquer esforço é necessá...
- Isso é uma perda de tempo! Do seu e do meu, por que é tão difícil de entender que a minha "situação" não será resolvida tão fácil assim? - ele enfatizou o que disse com as aspas, afastando um pouco a cadeira da mesa ameaçando se levantar.
- Infelizmente, eu não estou aqui para discutir se você quer ou não ter as terapias. Como eu disse, seu caso foi estudado e por enquanto, essa é a solução que nós temos. Quer o senhor goste, quer não - endireitando a pose, a Dra. meneou a cabeça em direção à mesa, indicando que ele se aproximasse novamente.
Bucky estava hiperventilando. Havia prometido ser suscetível aos experimentos e formas de ajuda que os outros podiam lhe oferecer. Havia prometido que faria isso por Steve. Mas era quase impossível não perder a cabeça diante da maneira como tratavam sua condição, aquilo não era um simples trauma que tinha sofrido. Seus pais não tinham se divorciado e marcado pra sempre sua juventude e nem era um caso de envolvimento com drogas. Ele sofrera lavagem cerebral durante anos, fizeram com que virasse um zumbi assassino, apagando todas as coisas boas que vivera.
O que mais lhe causava desespero, era saber que se continuasse com a terapia, aquilo podia levar anos e anos, mesmo assim nunca estaria curado por completo. Infelizmente, passara muito tempo nas mãos da Hidra para que uma pessoa só, sentada a sua frente lhe fazendo perguntas de sua vida antiga, surtisse algum efeito.
Pensou em Steve e em todas as coisas que o amigo havia passado por sua causa, não exatamente por algo que fora feito de propósito, mas após ter caído do trem. Se ele mesmo sofrera ao ser capturado, não podia nem começar a se perguntar o que o outro experienciara. Se culpando, passando noites acordado nadando nas memórias alegres que os dois tinham vivido...
Respirou fundo, sem levantar os olhos para a mulher a sua frente. Suas mãos descansavam nas coxas e seu peito subia e descia num ritmo mais lento agora.
- Tem mais alguma coisa que gostaria de me perguntar?
- Bem... - ela tinha a voz carregada de exaustão, mas forçou um sorriso gentil - Nossas sessões serão quatro vezes por semana, então acho que um dia praticamente perdido não fará tanta diferença... Pode ir, Bucky e tenha uma ótima tarde. Nos vemos depois de amanhã.
Ele não esperou que ela mudasse de ideia e se dirigiu para fora do lugar que o estava sufocando.

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Steve se sentia leve, seus passos eram despreocupados e sua mente flutuava por uma tranquilidade que não tinha há muito tempo. Junto com essas sensações vinha a ansiedade e a necessidade de trocar algumas míseras palavras com a pessoa com sempre queria conversar. Desde aquele dia no sofá da sala, quando ele e Bucky pararam de ser distantes e receosos um com o outro, era praticamente impossível ficar longe ou não saber de alguma notícia. Por mais que morassem na mesma coisa, seu coração se enchia de um peso esmagador todos os dias, pois Bucky sempre tinha que retornar a ala hospitalar para testes e exames, isso quando nem chegava a sair de lá. Não queria, mas mesmo com todo o tempo que passavam juntos, havia um vazio que se instalava em seu âmago todas as vezes que diziam "até amanhã".
Estava atravessando o corredor para entrar na ala hospitalar, quando algo duro trombrou com seu ombro esquerdo.
- Mas que me... - a voz de onde veio o impacto começou a dizer, mas logo parou quando os olhares se encontraram.
Os lábios de Steve se abriram num sorriso involuntário, enquanto Bucky expressava uma cara de surpresa misturada com pânico.
- Ah, oi - exclamou Steve massageando levemente o local onde havia se encontrado com o ombro metálico do amigo. Acabou descobrindo da pior maneira que o material era tão resistente quanto uma parede de concreto - Eu estava indo te ver, imaginei que a sessão de terapia já havia terminado, mas...
Se deteve ao perceber que Bucky não parecia nada feliz ao vê-lo ali.
Na verdade, andara como um gato pelos corredores, agindo na surdina e esperando ansiosamente que não encontrasse ninguém em seu caminho a quem teria que dar explicações. Depois do fiasco que havia sido o encontro com a Dra. Heniway, tudo que ele queria era se trancar naquele lugar frio e solitário, deixando a agonia tomar conta de seu corpo. Claro que era pedir demais e de todas as pessoas que agora moravam na mansão, tinha que cruzar justamente com Steve. Pior do que isso, não conseguira disfarçar sua expressão de desespero por ter encontrado alguém em seu caminho, recebendo um olhar confuso e arrependido do outro.
- Mas você obviamente está ocupado, espero que tenha dado tudo certo - porque estava perto de puxar a maçaneta, Steve recolheu sua mão e tentou abrir um sorriso compreensivo, falhando imediatamente.
Os dois se encararam por alguns segundos, Bucky tentando se desculpar por esse gesto que sempre funcionava com os dois e não encontrando em si a habilidade de mentir para Steve, que apenas assentiu dando um passo pra trás.
- Eu... Eu vou indo. O pessoal vai mostrar a sala de treinamento para as nossas recém-chegadas e... Bem, nós vamos estar lá embaixo se você quiser, sabe, dar uma passada lá ou... Não sei, só se quiser, se não quiser não precisa ir - Steve se atropelou na tentativa de formar uma frase de despedida, seu coração antes preenchido com a esperança de ter uma conversa com Bucky, agora abalado pela decepção - Até mais.
Abaixando a cabeça quase que imperceptivelmente, Steve deu de ombros e se afastou, sem ver que Bucky abriu a boca para lhe dar uma resposta.
Contudo, ela não veio. Ele não conseguia falar, porque constatou que apesar de todas as coisas que fizesse, aquela sempre seria a expressão no rosto de seu melhor amigo, exteriorizando o que Bucky causava em seu coração. Desapontamento.

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- Se você me chutar de verdade, eu mato você.
- Como se chuta de mentira?
- Você entendeu.
- Eu posso tentar? É mais a minha área.
- Ela tem que aprender também.
- Tudo bem, ela pode aprender vendo, que tal?
- E quem exatamente você quer como sua cobaia?
- Scott, vem cá.
- Ah, nem pensar.
- Por que não?
- Acho que eu posso encontrar uns cinquenta motivos pelos quais eu não deveria ser sua cobaia, Romanoff.
- Sem graça.
Steve entrou na sala de treinamento, que cobria boa parte dos andares debaixo da casa. Desde que chegara na mansão e vira aquele espaço, não pode deixar de notar a semelhança com o local onde treinavam na base dos vingadores. O espaço amplo, o chão liso e antederrapante, alguns equipamentos nas extremidades para uso de obstáculos e um enorme tatame. Haviam também correntes e argolas no teto, sem mencionar o grande painel que acionava outros obstáculos ocultos. Boa parte da iluminação do ambiente vinha naturalmente, através das janelas gigantescas que de fora aparentavam ser escuras. Ou seja, quem está de fora não vê nada, mas quem está dentro consegue ver tudo que está lá fora. Steve gostava daquele espaço, se sentia incrivelmente aliviado ao poder desferir uns socos no saco de areia ou qualquer outra atividade que treinasse seu corpo e sua mente. Mas especialmente naquele dia, não estava muito no clima para treinos, seu pensamentos voltando de minuto em minuto para o andar de cima, na ala hospitalar.
- Capitão! Ah, finalmente alguém que não vai ter problemas em me desafiar - Natasha, vestida numa roupa de academia em tons de azul, tinha um sorriso largo de orelha a orelha, suas mãos descansavam na cintura quando ela se aproximou, descendo do tatame - Pronto pra luta?
- Eu não tenho problema nenhum em te desafiar - Clint resmungou de um canto, estava sentado no chão, segurando uma garrafa de água e respirando com dificuldade. Steve não pode evitar um sorriso.
- Você já teve sua vez - Hill lançou um olhar autoritário em sua direção, também vestida nos trajes de treino.
Wanda e Sam, entretidos numa prática menos pesada, trocavam socos e golpes num ritmo lento, enquanto ele explicava pra ela o que estavam fazendo e como ela teria que ser mais rápida no mundo lá fora.
Steve sentiu um aperto no peito ao pensar que um dia ela teria realmente que voltar para lá, talvez lutar novamente com as pessoas que tentaram colocá-los na cadeia e seu único desejo foi que pudesse guardá-la num esconderijo eterno, não suportando ter que ver a dor em seus olhos que encontrara no dia que os resgatara da prisão balsa.
- Steve, anda, se você não vier eu vou ter que bater no Scott.
- Bater? Achei que isso fosse um treino - após ser mencionado, Lang apareceu de onde estava se escondendo, atrás de um enorme puff preto.
- Você não recebeu treinamento antes de virar o Homem- Formiga? - perguntou Clint.
- Recebi, nada comparado ao dela - ele apontou para Natasha, que sorriu pretensiosa.
- Nisso eu acredito - ela respondeu, lançando-lhe uma piscadela e logo depois se virou para Steve de novo - O que há com você?
Ele foi atingido pela pergunta, mas não se moveu. Enfiou as mãos no bolso da calça de moletom e soltou um longe suspiro, sabendo que mentir para aquela mulher era um beco sem saída.
- Nada que vá mudar se eu falar com alguém. Quer dizer, talvez mude se eu falar com a pessoa que está perturbando minha cabeça.
Por mais que todos os presentes tenham ouvido o que ele falou, fingiram não ter capturado suas palavras. Ao invés disso, Wanda e Sam pareceram se esforçar mais em sua tarefa e Hill chamou Clint para uma outra sessão de chutes e socos, Scott fingindo prestar atenção.
Natasha assentiu, não precisando ler mentes para saber a quem Steve se referia e apontou para o espaço perto da janela. Os dois se aproximaram do vidro parcialmente transparente e se sentaram no chão, ela cruzando as pernas em posição de índio e ele apenas esticando as suas.
- Aconteceu alguma coisa com ele? - Natasha perguntou depois de um tempo em silêncio, ambos olhando para os amigos à distância.
- Não sei, por isso estou preocupado - Steve murmurou no meio de um suspiro, era como se falasse consigo mesmo. Percebeu pelo canto do olho que a amiga inclinou a cabeça num gesto indicando que prestava toda atenção e esperava que ele continuasse - Não sei mais o que dizer. É isso, eu me preocupo com nada.
Steve baixou os olhos para suas mãos, grandes e calejadas, as linhas cortando suas palmas e subindo pelos dedos, finas e tortuosas. Pensou nas pessoas mundo afora que diziam conseguir ler o futuro dos outros pelas linhas traçadas na palma da mão e não pode deixar de imaginar alguém lendo as suas, se a pessoa diria que vida seria cheia de altos e baixos - mais baixos do que altos -, que passaria por inúmeras provações e perdas. Afinal, não precisa de alguém para ler isso, tendo ele mesmo já experienciado todas essas coisas ao passar dos anos.
Queria que as linhas sumissem e isso trouxesse um pouco de paz. Ouviu Natasha suspirar antes de falar com a voz baixa e condescendente.
- Eu nunca entendi, não realmente.
- O que? - Steve questionou, se virando para encará-la. Quando seus olhos se encontraram, ela sorriu.
- Me lembro de ter dito que sabia o quanto Bucky significava pra você, mas eu não sabia. Acho que ninguém nunca vai saber, não é? - Natasha parecia esperar que Steve entendesse o que estava dizendo, mas ele demonstrava uma expressão de total confusão - Você se importa mais com ele do que consegue compreender, eu vejo isso agora.
Os outros, alheios à conversa, haviam se reuniado em volta do tatame para ver Clint e Scott numa luta amistosa trocando chutes e socos em meio a risadas sinceras. Natasha balançou a cabeça ao olhar pra eles, tentando evitar uma pequena lágrima que queria cair de seu olho esquerdo.
- Quando você vive uma vida igual a que eu e Bucky fomos obrigados a viver, acaba esquecendo do que é se importar com alguém ou ter uma pessoa sequer no mundo se preocupando com o seu bem estar. Eu nunca tive isso, nasci e cresci sendo criada pra ser uma espiã, uma agente, a melhor no que eu fazia. Não havia sentimentalismo ou opções de escape, ou eu dava o melhor de mim nas missões ou morria e ninguém ia ficar em luto, simplesmente seria arranjado um outro "elemento" para repor meu lugar - sua voz saía praticamente num sussurro, Natasha deixou que o ressentimento tomasse conta e embargasse seu tom - Mas ele... Ele conheceu esse lado. Não é como o meu caso, eu não tive isso, por mais que eu tenha agora, se um dia esse status mudar não será tão difícil. O que eu quero dizer é que... você e Bucky foram amigos antes de qualquer coisa, se importavam um com o outro e cuidavam para que nada de mal acontecesse. Vocês eram tudo que o outro tinha, certo?
Steve não conseguia falar, então apenas assentiu, sua gargante se fechando também enquanto as memórias invadiam sua mente.
- Isso não desaparece jamais, nem com anos de lavagem cerebral ou qualquer coisa que esse mundo cruel possa fazer com vocês. Eu achava que era uma simples amizade, quer dizer, eu morreria por todos vocês. Talvez a pessoa por quem eu tenha mais afinco aqui seja o Clint e eu morreria por ele sem pensar duas vezes, mas é diferente. O que vocês dois tem é tão mais complexo, que duvido alguém poder explicar. O seu mundo é o Bucky, porque ele é a única coisa que você conhece. Me perdoa se eu estou te deixando mais confuso ainda, mas eu entendi isso depois de um tempo observando você e foi no dia da luta do aeroporto que tudo ficou claro. Quando estavam correndo na direção do jato e disse que você não ia parar, no momento eu pensei que fosse só o bom Capitão América fazendo o que achava certo. Lógico que depois eu parei pra pensar melhor e percebi que não era só isso - Natasha ainda sorria, mas seus olhos se mantinham vidrados nos outros amigos, parecendo longe dali, pensativa - Steve Rogers, o homem que sempre acreditou no bem e em fazer o certo, decidiu depositar sua confiança num homem comprometido pela Hidra, que havia tentado matar ele e seus amigos várias vezes, porque simplesmente não era algo que podia escolher. Toda a situação estava fora do seu alcance no minuto em que nós encontramos ele na ponte em Washington há dois anos atrás. Quando fomos presos e enfiados naquele furgão, eu vi nos seus olhos e escolhi não prestar atenção. Mas estampado no seu rosto, além de devastação havia alívio, algo com o que você não estava familiarizado desde o dia em que fora descongelado em Nova York. E por favor, me corrija se eu estiver errada, mas não houve um momento sequer em que você considerou deixar Bucky pra sempre na cadeia quando me disse que iria capturá-lo em Viena.
Por mais que quisesse negar pra si mesmo, Steve não foi capaz de achar uma desculpa. Naquela época, a única coisa que queria era encontrar o amigo antes do FBI e se fosse levá-lo para a cadeia, seria do seu jeito. E aí, como um sinal de uma força maior que qualquer de seus esforços, ele entrara naquele apartamento e descobrira que Bucky mantinha uma foto sua num caderno surrado cheio de outras informações de suas vidas antigas. Naquele momento, a verdade o atingiu em cheio. Como iria viver sem ele? Como entregar nas mãos do governo - para fazer o que quiser - a pessoa que mais lhe importava no mundo?
Sabia que Natasha não podia ler seus pensamentos, mas viu o sorriso dela se alargar.
- É, depois que eu percebi minha vida ficou mais fácil também - falou num tom sarcástico - Steve, vocês tem uma ligação além do que qualquer um pode explicar. Não existe nada como vocês dois e se preocupar não é errado. Só que... Depois de tudo pelo que passou, ele está redescobrindo isso de novo, esse sentimento, essa confiança e esse apego a uma pessoa que até pouco tempo atrás era um estranho.
- Mas... Eu sei que soa egoísta e acredite, já me martirizei muito por isso, é só que... Eu preciso dele também - Steve ouviu sua voz sair num sussurro inconformado, como se as palavras doessem ao sair - No começo eu pensava que precisava do velho Bucky, daquele que conheci há mais de setenta anos. Mas quando ele acordou há alguns dias, percebi que isso não faz a menor diferença, contanto que ele esteja aqui o resto não interessa.
Natasha encontrou os olhos deles e sorriu ternamente, uma melancolia devastadora atingindo seu coração meio congelado.
- Devia dizer isso à ele - ela constatou.
- É... - Steve deu uma risada sem emoção e assentiu - Não sei como ele reagiria. Tenho medo de dizer algo que vá afastá-lo e fazer com que ele queira fugir.
- Não há nada que você possa dizer que vá quebrar a ligação entre vocês. Eu sei disso agora e você também precisa começar a acreditar, Steve. Não trate ele como um vaso de porcelana, cuide e observe, mas haja com normalidade. Converse com ele e não tenha medo da reação, qualquer desentendimento é melhor do que o silêncio de não saber. Tenho certeza que todo mundo concordaria comigo.
Steve resolveu não discutir, Natasha estava certa. Ele e Bucky tinham uma amizade que ia além dos anos e através de todos os acontecimentos ruins pelos quais haviam passado. Sabia que ia ser difícil, sempre soube e não podia simplesmente desistir por achar que Bucky estava indisposto.
Não havia um universo em que eles poderiam viver em paz e levar a vida de forma despreocupada, já assimilara isso há um tempo, mas tinha uma esperança insistente de que os males passados não fossem entrar na pequena bolha em que ele queria se enfiar com Bucky. Sua amizade era forte do jeito que Natasha dissera, se não mais, porém seria pedir muito que ela não se tornasse diferente. Ia ter que insistir e não desistir, se quisesse que Bucky superasse seus medos e suas dúvidas, ele era o único que podia fazer algo a respeito.
- Acho que não era bem de uma conversa que você precisava, e sim de alguém que falasse o que você precisa ouvir - Natasha falou sem olhá-lo, ao invés disso se apoiou no chão gelado e impulsionou o corpo pra cima, levantando de sua posição - Eu vou continuar treinando, você também deveria, embora esteja estampado na sua que não é aqui que queria estar. Ia falar pra dar um tempo pra ele, aí eu lembrei que tempo é a última coisa que nós temos.
Como sempe enigmática, Natasha Romanoff caminhou rapidamente até o tatame para se juntar aos outros, deixando um Steve Rogers ainda um pouco confuso sentado no chão. Confuso, porém mais decidido. Com isso, ele se levantou também e deixou a sala de treinamento indo em direção àquilo que traria paz ao seu coração agitado.

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Bucky olhou para a lâmina de barbear e suspirou, largando o frasco de espuma em cima da pia molhada. Seus olhos desviaram para o reflexo no espelho, o rosto de um homem exausto encarando-o de volta, havia aprendido que aqueles eram os traços de alguém cansado de tudo, até de si mesmo.
Foi na sua primeira visita ao Smithsonian que o viu, seu rosto estampado num painel de vidro grosso, um homem esbelto, o cabelo cirurgicamente cortado e um olhar determinado. Embaixo se lia "James Buchanan Barnes", mas ao pensar naquilo Bucky não entendia como um dia podia ter sido aquela pessoa. Como era possível ter se tornado alguém tão diferente? Seus músculos agora saltavam nos braços, costa, panturrilhas, bem maiores do que antigamente. Os olhos adquiriram uma escuridão que só vinha com a vivência de anos sofrendo torturas inimagináveis, as mãos calejadas e firmes de segurar nas extremidades da cadeira de tortura onde era amarrado e o cabelo agora cumprido, davam-no um aspecto totalmente diferente do garoto jovem e corajoso que lutar na guerra e depois seguira o Capitão América em suas batalhas contra o Caveira Vermelha.
Se tornava quase impossível reconhecer o que se tornara, ali na frente do espelho quadrado do banheiro da ala hospitalar, Bucky via uma figura fantasma que jamais poderia voltar a ser o que fora.
Pensou na última meia hora, quando Dr. Landscorpe viera ver como estava sua situação e questionar sobre a aula de terapia. Havia mentido, mesmo sabendo que a Dra. Heniway podia vir a desmenti-lo, mas dissera que tudo correra bem e emendou a conversa pedindo por algo de que necessitava muito. Teve que segurar a vontade de ser rude, quando Dr. Landscorpe lhe deu um sorriso incrédulo ao ouvir que Bucky queria um kit para se barbear. Claro que o médico não questionou muito ao ver o semblante irritado que o paciente assumiu, voltando cinco minutos depois com uma pequena bolsa contendo as ferramentas requeridas.
Pensou em pedir para Steve e a ideia foi logo deixada de lado ao lembrar que havia afastado o amigo mais cedo, provavelmente fazendo com que ele não quisesse se aproximar mais pelo resto do dia.
Bucky sentiu uma dor incômoda no estômago e no peito, pensando que sua raiva e angústia tinham mais uma vez ficado no caminho dos seus planos de ser uma pessoa melhor para aquele que ficara do seu lado durante todos os altos e baixos. E por mais que quisesse ir até lá, pedir desculpas e explicar o motivo de ter agido daquela maneira, naquele momento precisava de um tempo sozinho. Falaria com Steve assim que conseguisse resolver um dos mil problemas que ainda tinha consigo mesmo.
Levando isso em consideração, Bucky pegou o frasco de espuma e leu o rótulo que indicava ser uma mistura "ótima para a pele, com hidradante facial e loção pós-barba". Um sorriso se espalhou por seus lábios ao lembrar que nos anos 40 eles mesmos faziam o creme para espalhar na barba e depois raspar com a lâmina rústica. Agora as coisas eram industrialmente práticas, feitas para facilitar o processo e deixar tudo com um aroma e aspecto melhores.
Abriu a tampa, colocando um pouco em sua mão e depois espalhando pelo rosto, a lâmina escorregou com facilidade removendo os pêlos espessos que cobriam sua face. Com a mão de metal ele segurava o próprio queixo, mantendo-se estável enquanto a humana fazia o trabalho. Ele encheu a pia de água para poder fazer a limpeza do instrumento, logo o líquido estava sujo a medida que seu rosto ia ficando mais limpo.
Bucky quase se esquecera da sensação de fazer a barba, o alívio e a liberdade que o ato provocava, sem mencionar que sua aparência tinha melhorado um pouco. Fora de completamente exausto, para um leve cansaço nas pálpebras.
Quando estava terminando, o barulho de uma porta se abrindo e depois fechando alcançou seus ouvidos, mas pensando que era algum dos enfermeiros, continuou seus movimentos.
Não ficou surpreso e sim ansioso ao ver pelo espelho a figura de Steve se escorando no batente da porta do banheiro.

Steve entrou na ala hospitalar sem se preocupar com o barulho que fizera ao abrir a porta, sua intenção não era chegar escondido, queria que o amigo soubesse que estava ali. Contudo quando passou os olhos pelo ambiente, não o viu em lugar algum. Seu primeiro pensamento foi que talvez o mal estar dele mais cedo tivesse resultado na decisão de ir embora da mansão e um desespero repentino cresceu em seu peito, fazendo com que desse mais alguns passos para dentro. Só conseguiu soltar o ar que estava prendendo, quando viu a porta do banheiro aberta e ao se aproximar, sentir o ritmo de seu coração aumentar ao invés de diminuir.
Bucky estava em pé de frente para a pia do banheiro, usando uma calça de moletom cinza-escuro e sem camiseta. Steve tentou ser rápido na avaliação - mais tarde ficou repetindo para si mesmo que só estava procurando ter certeza que se tratava de Bucky -, mas seus olhos parecendo ter vontade própria se detiveram na parte das costas. A extensão era desenhada pelos músculos bem desenvolvidos ao longo dos anos, começava mais estreita na cintura e ia se alargando ao chegar próximo aos ombros. Não estava bronzeado, mas sua pele adquirira um tom natural praticamente ganhando vida, mesmo sem ser exposta ao sol. Algumas pintas espalhavam-se criando constelações e Steve teve que lutar para não querer contá-las. Sua mente viajou para anos atrás, a última vez que tinha visto ele sem camisa não era nada parecida com a visão de agora, o que era no mínimo perturbador.
Resistindo aos impulsos inconscientes que tentavam dominá-lo, Steve cruzou os braços e apoiou o corpo no batente da porta, vendo Bucky com uma lâmina de barbear na mão humana e seu rosto quase totalmente limpo expondo-o a pele até então escondida.
- O que temos aqui - brincou ao notar que Bucky sentira sua presença.
- O que achou? - passando a lâmina uma última vez na mandíbula travada, Bucky limpou-a na água esbranquecida. Havia terminado o trabalho e umas pequenas gotas de sangue escorriam por suas bochechas rosadas. Não sabia o motivo de estar se sentindo envergonhado, se era o fato de estar sem camisa e sentir os olhos de Steve perfurando suas costas nuas, ou ter sido pego no meio de uma tarefa tão pessoal.
- Está bem melhor - Steve escaneou o reflexo no espelho, sentindo seus lábios abrirem um sorriso aprovador.
- Melhor que o visual de mendigo?
- Eu não disse isso.
- Estava me irritando, imaginei que as pessoas que me viam todos os dias também não deviam estar muito felizes - Bucky tentou espantar a vergonha e se inclinou para jogar uma água no rosto. Tinha que admitir que o cheiro de loção pós-barba era muito agradável.
- É, já estávamos discutindo quem ia entrar aqui pra fazer sua barba enquanto você dormia - o peito de Steve quando ele riu, ao ver Bucky se juntar no gesto. Por um segundo seus olhos se encontraram no espelho, só até o outro começar a limpar a sujeira na pia.
- Você acha que ficou bom? - Steve perguntou.
- É meio estranho, parece que tem um vazio, mas é só até eu me acostumar - Bucky respondeu dando de ombros.
- E quanto ao cabelo? Vai cortar também?
- O que você acha? - se virando só um pouco, Bucky ficou de perfil para poder olhar Steve pelo canto do olho. O outro respirou fundo antes de responder.
- Bem... - sentiu uma felicidade imensa ao ver a ansiedade no semblante de Bucky ao esperar pela sua resposta e se orgulhou vendo que ele queria sua opinião - Antigamente, aquele visual todo certinho caía bem em você, sabe, o cabelo curto e penteado milimetricamente. Mas agora... Esse visual combina contigo, claro que uma aparada nas pontas seria bom e quem sabe lavar ele também - os dois riram diante do comentário - Mas ele cumprido fica bem... Bonito.
Uma tensão quase paupável se instalou no ambiente, enquanto Steve se arrependeu de ter sido tão direto, Bucky queria entender porquê ficou tonto de repente, ou porquê sua mão começou a formigar, ao mesmo tempo que sentia suas bochechas esquentando mais ainda.
- Acho que também gosto dele assim, por mais que as vezes incomode - Bucky disse num tom baixo, receoso.
- Existe uma invenção do homem bem engenhosa que talvez você ache muito útil, se chama "elástico".
- E o que você sugere, Stevie? Que eu ande por aí com uma trança ou um rabo de cavalo? - Bucky se virou totalmente, encostando as costas na pia gelada e cruzando os braços imitando a pose de Steve, um sorriso jocoso iluminando seus lábios.
- Eu pensei em dreads, talvez seja melhor dispensar o elástico - não pode segurar a risada quando a imagem invadiu sua mente e Bucky pareceu estar do mesmo jeito, acompanhando-o no acesso de risos.
Os dois amigos ficaram ali rindo, um olhando pro outro, os ombros sacudindo e os dentes à mostra, aproveitando a sensação maravilhosa que uma boa risada deixava pelo corpo.
Steve, no entanto, começou a se sentir tenso rapidamente, pois a visão do peito nu de Bucky ainda mais destacado pelos braços cruzados fez com que gargante secasse subitamente. O que diabos está acontecendo comigo?, indagou internamente.
- Preciso de uma tesoura, mas não vou pedir ao Dr. Landscorpe, ele já me olhou como se eu fosse louco quando pedi o kit de barbear - Bucky não percebeu a súbita expressão confusa que se instalou no rosto de Steve, na medida que o ataque de riso ia diminuindo.
- É... - tossiu para clarear o caminho - Ele deve ter pensado que você ia se matar - irozinou sem conseguir parar de mexer a perna, que agora tremia ansiosamente.
- Por que será... - tornando-se para a pia, Bucky continuou a limpeza até o mármore branco estar livre de qualquer vestígio dos pêlos cortados - Ei, eu queria me desculpar por hoje mais cedo.
Steve ainda parado na porta, tentandou decidir de saía correndo ou ficava, congelou ao ouvir as palavras do outro. Pareceram tão naturais ao sair de sua boca, misturadas com uma pitada de arrependimento e descontração. Ele queria ter certeza que estava tudo bem entre eles, Steve soube na hora, já tendo experienciado momentos como esse em relação à Bucky. Quando eram mais jovens e Bucky fazia alguma coisa para chatear Steve, nem que fosse algo pequeno como uma palavra, nada estaria bem até que ele se desculpasse e Steve aceitasse suas desculpas. Houve uma vez em que, só pra testar quão longe ele iria, Steve ignorou-o por uma noite inteira e para sua surpresa, foi a primeira noite que viu Bucky passar acordado, se revirando na cama. Na manhã seguinte, quando finalmente disse "ok, eu te perdoo", o outro sorriu aliviado como se um elefante tivesse sido tirado de suas costas e falou que passara a noite com medo de Steve nunca mais o perdoar. Sim, era esse tipo de amizade que eles tinham, quando você simplesmente não consegue ficar sem a outra parte da equação.
A vontade que teve na hora foi de tomar Bucky em seus braços e abraçá-lo com a mesma intensidade de uns dias atrás, mas por alguma razão de conteve e apenas sorriu sincero, deixando o nervosismo evaporar por seus poros.
- Não tem o que desculpar.
- Eu só... Bem, a sessão de terapia foi um fiasco e eu só queria ficar sozinho um pouco, não era nada com você.
- Bucky... - o outro se virou ao ouvir o nome, encontrando os olhos azuis hipnotizantes de Steve - Qualquer coisa que tem a ver com você, também tem a ver comigo.
Não sabendo o que responder diante da imensidão do que havia sido dito a ele, Bucky se limitou a assentir e sorrir fracamente.
- Mas foi bom você ter mencionado isso, eu meio que vim até aqui por conta do que aconteceu hoje mais cedo.
- Como assim?
- Bucky, nós dois precisamos conversar. Não sobre o passado, sobre onde estamos agora e pra onde vamos daqui.
Chegava a ser sobrenatural como Steve tinha o poder de dizer algumas palavras e praticamente explodir seu interior. Bucky apontou com a cabeça para o lado de fora do banheiro e Steve foi na frente, ouvindo os passos sorrateiros do outro seguindo-o.

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- Você está bem? - Clint se escorou no balcão da cozinha, juntando as mãos e sentindo os cotovelos em contato com a pedra congelante.
- Eu? Estou ótima, como sempre - Natasha deu de ombros sem sorrir, sua atenção voltada para o liquidificador.
Clint levantou uma sobrancelha inquisidora para a mulher a sua frente, sua boca se abrindo num sorriso irônico.
- Sabe Nat, eu sempre admirei sua habilidade de mentir para as outras pessoas, você é muito boa nisso. Mas quando você tentar mentir pra mim... Simplesmente não dá certo - ele viu o semblante da amiga se transformar de despreocupado terminando a vitamina, para um de cansaço iminente.
Eram poucos os seres vivos que conseguiam ver Natasha se render a algo tão banal quanto o cansaço fisico e mental, Clint Barton se sentia um homem sortudo por poder ser ele praticamente a única pessoa que arrancava de Natasha sua normalidade mundana. Treinada para sempre parecer mais forte do que todos, as vezes até a espiã mais eficaz precisava de um pouco de descanço dela mesma.
- Eu estou bem, Barton, só estou pensativa - Natasha revirou os olhos ao colocar dois copos em cima da bancada, enchendo os recipientes e estendendo um para ele.
- Pensando sobre o que?
- Sobre tudo, afinal alguém tem que pensar.
Clint entendeu imediatamente ao que ela se referia. Quando chegaram na mansão, Natasha e Maria haviam dito que precisavam os assuntos acontecendo mundo afora, alheios às paredes da grande casa em Wakanda. Fora o Capitão que sugerira que essa discussão fosse posta de lado, por hora. Mas na verdade, nenhum deles estava muito ansioso para voltar a realidade de um planeta em guerra, ainda mais quando as pessoas não queriam que eles ajudassem em nada. Sabia que o profissionalismo e a mente calculista de Natasha não haviam descansado quando Steve pedira para a questão ser adiada, praticamente conseguia ver as engrenagens trabalhando através de sua testa.
- Na hora certa todos nós vamos conversar sobre o que quer que vocês queriam falar - Clint deu de ombros, tomando um gole generoso da vitamina, como sempre deliciosa. Durante todos os anos que passaram juntos, ele sempre gostava de lembrá-la o quanto tinha uma mão boa para cozinhar.
- Não é tão simples, não podemos ficar adiando essa conversa como se não fosse afetar nada.
- Eu entendo Nat, você sabe que eu entendo. Mas agora não é o momento - olhando fundo nos olhos dela, viu que estava totalmente atenta e disposta a absorver o que ele dizia - O cara acabou de ser descongelado, pra piorar antes de tudo ele não fazia ideia de quem era e tinha acado de reencontrar o melhor amigo de setenta anos atrás. Não tem sido fácil e uma conversa sobre lutas e tragédias não vai ajudar em nada.
- Ok, eu compreendo esse lado da história, estava justamente falando com Steve sobre isso. Ele tem que tratar o Bucky como uma pessoa normal, não uma boneca de pano. Caramba, se nós não agirmos naturalmente na frente dele, isso sim vai piorar a situação - Natasha falou, a voz carregada de frustração. Seus olhos verdes determinados e sérios.
- Sim, é verdade, mas você não acha que ele merece um tempo para respirar? Se sentir acordado primeiro? Deixa eles dois se entenderem, pelo menos espere até ele sair daquela maldita ala hospitalar e depois nós conversamos sobre o que você quiser - Clint endireitou o corpo, virando o resto da bebida de uma vez só.
- Não é questão de querer, é uma necessidade. Clint... - Natasha suplicou, esticando sua mão para que ele a pegasse - Eles não vão parar até capturarem todos vocês. Todos, sem nenhuma exceção. Ficar trancado aqui e balançar a cabeça sempre que ouvir uma coisa ruim, não vai fazer os problemas desaparecerem. Nós temos que agir.
- Eu sei, Nat. Nós vamos, eu prometo. Só espere uma semana. Uma única semana para as coisas se assentarem e aí iremos convocar uma reunião com todo mundo para falar sobre isso.
Ela quis rebater novamente, dizer que se ficassem aguardando um futuro próximo que talvez ele nem viesse. Mas a mão firme e segura de Clint apertou a sua com afinco, passando por aquele gesto toda a certeza que ele tinha que tudo ia ficar bem. Pelo menos naquele segundo, Natasha abaixou os olhos para os dedos entrelaçados e decidiu receber o conforto do amigo.

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- Hum, vamos ficar nesse silêncio mortal?
Bucky não pode conter a ansiedade e teve que ser o primeiro a falar, seu peito nu tremia com a respiração afetada pelo nervosismo. Steve havia lhe dado praticamente um ultimato, o papo de "precisamos conversar sobre onde vamos daqui pra frente" teve um efeito imediato deixando-o à deriva num mar de possibilidades de como aquele momento podia dar errado.
Estavam sentados em uma das macas, regulando o aparelho, Steve conseguira deixá-la na altura de um banco de praça, assim os dois puderam descansar no colchão branco e macio, os pés tocando o chão da mesma cor.
Steve não respondeu a pergunta de Bucky que veio carregada de um nervosismo que ele nunca soubera disfarçar, apenas suspirou e ficou olhando pela janela, sua mente procurando algo não tão estúpido para dizer.
- Eu... - Bucky começou a dizer e Steve virou o rosto imediatamente para encará-lo, vendo-o olhar para as próprias mãos - Ela me perguntou sobre meu aniversário. Por um momento, meu coração idiota se encheu de orgulho já que eu sabia a resposta pra essa pergunta. É algo que todo ser humano deve saber, não é? A droga da data do próprio aniversário - ele sacudiu a cabeça, soltando uma risada de escárnio - Claro que algo tinha que dar errado, quando eu falei a dia, mês, ano e o lugar, ela praticamente riu da minha cara. "Posso te perguntar algo que você não consiga achar no painel de um museu?". O que diabos significa isso? Ela não sabe que eu passei anos sendo torturado pra esquecer até a porra do meu nome? - foi só quando seus olhos se encontraram que Bucky percebeu a expressão de surpresa no rosto de Steve. Se exaltara e nem sabia como isso tinha acontecido, só que uma raiva descontrolada subia por suas veias em direção ao cérebro, fazendo com que sua boca dissesse tudo que estava guardado ali.
- Sinto muito, deve ter sido horrível - Steve comentou franzindo o cenho, Bucky sabia que ele fazia aquilo toda vez que algo o surpreendia ou o entristecia, suas sobrancelhas iam de encontro uma com a outra, a testa ficando levemente enrugada e os olhos demonstrando todo o sentimento de compaixão que ele podia dar. Bucky queria se perder naquele mar de olhos azuis e não sair nunca mais, a paz que aquelas íris lhe dava era perturbadora.
- Horrível não, foi inquietante. Ela estava certa, o problema é que algumas coisas não são muito legais de ouvir.
- Ei, não fique remoendo isso - Steve esticou o braço e tocou o ombro descoberto de Bucky, afagando a região e tentando passar-lhe um pouco de conforto - Ela não deve ter feito por mal.
- Não, ela não fez por mal mesmo, mas não deixa de ser ruim essa sensação. 
Balançando a cabeça em concordância, Steve desviou os olhos para sua mão tocando a pele quente de Bucky, a superfícia era macia e estática, fazendo um arrepio subir por seu antebraço. Engoliu em seco ao constatar que aquela era a hora para falar tudo que estava guardando.
- Bucky... Se você quiser conversar sobre sua terapia, pode pelo menos esperar até eu falar o que queria? Não acho que se demorar muito mais eu vá ter alguma coragem - Steve podia sentir o nervosismo afetando seu tom de voz, nunca fora muito bom com as palavras, não importa qual a pauta da conversa. Acabava se atropelando e dizendo tudo, menos o que havia pensado em dizer. Ter Bucky o encarando com olhos ansiosos e apreensivos não ajudava em nada.
- Tudo bem, pode falar.
- Obviamente você sabe que eu vim falar sobre... sobre nós - falou, mordendo um pouco o interior da bochecha, buscando em sua mente os termos corretos para continuar seu discurso - Quer dizer, sobre...
- Stevie, só fala de uma vez - Bucky não foi rude, mas sim assegurador em seu tom.
- Eu acho que nós não estamos fazendo isso direito - apontou para eles dois com sua mão livre, a outra ainda grudada em Bucky - Eu entendo completamente que essa situação é muito bizarra pra você, estar no meio de um monte de gente que não conhece, ter que conviver comigo sempre no seu pé...
- Não fala assim, você não fica no m...
- Bucky, se você não me deixar terminar, eu vou embora daqui - Steve fingiu um tom autoritário que arrancou um sorriso enorme do homem a sua frente - O que eu estava tentando dizer, é que eu sei o quanto pode ser desconfortável, já tendo passado por isso há algum tempo atrás. Mas queria que você soubesse de uma coisa, tudo melhora quando a gente permite que as outras pessoas se aproximem - vendo a confusão estampar o rosto de Bucky, Steve emendou em sua fala - É meio óbvio, até pra mim, que você não está nada bem aqui.
Pego de surpresa, Bucky abriu a boca para responder e nada saiu. Não queria que Steve ficasse pensando aquilo, que seus esforços não estavam dando em nada, porque não era totalmente verdade. Claro que ainda não se acostumara com o ambiente e com as pessoas, mas tudo melhorava quando Steve estava perto ou quando pensava nele, em fazer isso ou aquilo por ele. Queria verbalizar seus pensamentos, mas o outro foi mais rápido.
- Eu não aguento mais saber que você se sente assim, porque não é necessário - Steve escorregou sua mão do ombro de Bucky e recolheu-a para si, um vazio exagerado tomando conta de seu estômago. E tinha certeza que não era fome - Nós somos amigos, você pode não se lembrar, mas nós somos melhores amigos, sempre fomos e sempre vamos ser.
- Eu me lembro sim, eu...
- Eu sei que se lembra de mim, só que não dos momentos que passamos juntos. Costumávamos contar tudo um ao outro. Medos, pesadelos, sonhos, expectativas. Se alguma coisa me irritava, você era o primeiro a saber. Se alguma coisa de novo acontecia na sua vida, você corria e contava pra mim antes de todo mundo - suspirou tentando conter o pesar em sua voz que todas aquelas lembranças traziam - Antes de qualquer coisa, isso é uma escolha sua, mas queria que soubesse que não precisamos ficar estranhos um com o outro. Quero que você fale pra mim se algo te irritar ou te magoar, se você sentir dor ou precisar de qualquer coisa que seja nesse mundo, pode falar comigo.
O outro ainda estava digerindo aquelas palavras, quando Steve buscou seus olhos e sorriu fracamente.
- Não quero te sufocar, quero apenas que saiba do seu amigo que continua bem aqui, pronta pra toda e qualquer situação. Eu não vou a lugar algum, não importa o que aconteça. Acho que já está na hora de pararmos de ter essas conversas longas e começar a agir com normalidade - Steve soltou uma risada nervosa e deu de ombros - Pode falar alguma coisa agora.
- Falar o que? Você roubou todas as chances que eu tinha de causar algum impacto - Bucky brincou, revirando os olhos.
Steve riu diante do sarcasmo usado pelo amigo, um alívio imenso descendo de sua cabeça pelo seu corpo todo.
- Para de zoar com a minha cara, eu sempre fui ruim com as palavras.
- Pra quem é ruim com as palavras, você fala pra caramba. Achei que não ia parar mais - Bucky sorriu de lado, a tarefa de quebrar qualquer tensão entre eles sendo executada com sucesso.
- Cala a boca - Steve resmungou, não conseguindo parar de sorrir, sabendo que aquela era a resposta de Bucky pra tudo o que ele havia falado - Escuta, eu preciso resolver uma coisa, prometo que vai ser rápido. Depois... Bem, depois a gente pode fazer alguma coisa, ok?
Bucky assentiu, seu sorriso não sendo afetado pela informação de Steve, embora quisesse que ele ficasse ali.
- Até mais tarde então - se despediu, enquanto via o outro sair da ala hospitalar praticamente correndo.


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Natasha e Wanda estavam sentadas na sala de estar conversando compenetradas, quando Steve entrou apressado no cômodo, chamando a atenção das duas.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? - Wanda perguntou imediatamente, se endireitou no sofá, os olhos se arregalando diante do estado afobado dele.
- Na verdade, aconteceu. Não sei como não pensei nisso antes, mas... - Steve falava em meio a tentativas de recuperar o fôlego.
- Se você não se acalmar, vai morrer sem conseguir falar o que houve - Natasha advertiu-o, mas ao contrário da outra, ela sorria abertamente, pois viu que Steve não estava abalado e sim ansioso.
- Eu... - ele puxou um pouco de ar e continuou - Preciso da ajuda de vocês duas, é muito importante.
- Sério? Quem a gente vai tirar da forca? - Natasha zombou.
- Não, eu... Eu quero fazer uma surpresa pro Bucky e temos que começar agora.


N/A: Ai ai ai ai, que surpresa seria essa? hahahahaha brincadeira.
Desculpa pelo capítulo gigantesco (ou não né) e a música dessa vez é do 30 Seconds To Mars, porque ela é simplesmente a cara do Soldado Invernal.
Ah, vou começar a postar fotos como "capas" dos capítulos... Quer dizer, vou tentar, não sei se vou conseguir sempre. Mas só queria deixar claro que nenhuma delas são minhas, nem as manips, nem as fanarts, nem as gifs, nem nada. Não tenho como colocar crédito já que eu pego da internet em qualquer lugar que vejo uma.

Enfim, até o próximo, tomara que não demore!!!

My ImmortalOnde histórias criam vida. Descubra agora