Capítulo 18 - The Night We Met

409 19 148
                                    

"I had all and then most of you, some and now none of you..."

O que acordou Steve foi o cheiro. Talvez suas narinas estivessem supersensíveis ou seu organismo tenha dormido o suficiente, não importava. Ele demorou longos segundos para abrir os olhos, mesmo já estando desperto. Sua cabeça doendo foi a primeira coisa que ele registrou, depois vieram as pálpebras inchadas e o corpo dolorido pelos estrados do sofá. Ele ainda usava a roupa do dia anterior, o que ajudou bastante a relembrá-lo dos eventos que o levaram a dormir na sala de estar da mansão.

Quase que imediatamente, seu coração retorceu numa pequena e dolorosa bola, bombeando sangue com precariedade e diminuindo conforme ele deixava a constatação ganhar vida. Não havia uma parte dele que não estivesse constrita em um poço fundo e escuro de arrependimento, junto com uma saudade surreal e um medo esmagador. Por nunca ter experimentado uma situação daquela, Steve estava soterrado embaixo das próprias incertezas e pensamentos obscuros, tentando sair do lugar no qual ele mesmo havia se enterrado. Eram tantas, mas tantas coisas não ditas e ainda assim, ele podia encontrar as palavras com facilidade agora. Ele podia, com clareza, imaginar Bucky na frente de todos os seus amigos - aqueles que dividiam a vida de fugitivos com eles – sorrindo, esperando pelas palavras que viriam de Steve a seguir. "Eu amo você". Todos iriam aplaudir e parabeniza-los, não existiria um cenário sequer no qual eles não encontrariam plena e total felicidade. Steve podia imaginar isso, mesmo que não fosse a realidade. Mas quando a chance lhe foi imposta, ele simplesmente não foi capaz de falar, de explicitar para as pessoas que o apoiaram durante tanto tempo, o que ele vinha sentindo que o consumia. Porque Bucky o consumia e Steve não sabia nem mais como negar. E mesmo assim, ele manejou a grande façanha de estragar tudo.

O pensamento fez o ar escapar de seus pulmões e finalmente ele abriu os olhos, arregalando-os e inalando o oxigênio impregnado pelo cheiro doce e forte de café.

A pior escolha que ele fez foi sentar com tamanha rapidez que sua cabeça girou. Steve estreitou os olhos, levando uma mão ao crânio e resmungando baixinho sobre não precisar passar por esse tipo de coisa. Do lado de fora da janela, a luz fraca e nublada indicava que a manhã tinha acabado de começar. A sua frente, Wanda estava encolhida em uma poltrona, ainda usando pijamas, uma caneca fumegante segura por suas duas mãos e os cabelos soltos caindo em volta do rosto pequeno.

Steve sempre teve um instinto forte sobre ela, mesmo sabendo que Wanda era uma das pessoas mais fortes que ele conhecera. Não sabia se eram suas feições delicadas, a personalidade forte ou os olhos gentis – contra todas as expectativas –, mas ele sentia um dever absurdo de protegê-la, quase como... Um sentimento paternal, ou coisa do tipo.

Ele desviou a atenção para a mesa de centro, onde uma xícara igual a dela repousava perto da beira, fumaça branca sendo lentamente expelida.

- Forte e doce, como você gosta – Wanda murmurou, a voz abafada pela borda da xícara.

Steve não respondeu de imediato. Abaixou a mão para o colo, tomando alguns segundos para ter certeza de que a cabeça não ia sair rolando do pescoço e para que o incômodo no lado esquerdo do peito diminuísse. O último não deu muito certo. Tudo ainda emitia uma dor aguda e duradoura quando ele alcançou a xícara e deu o primeiro gole.

O líquido queimou sua língua e ele se retraiu sem pensar, uma risadinha de remorso veio da direção em que Wanda estava.

- Desculpa, esqueci de avisar que está quente.

O fantasma de um sorriso apareceu nos lábios de Steve, mesmo que agora eles estivessem queimando um pouco. Ele ergueu os olhos pra ela e neles, pode jurar que viu algo tão marcante quanto compaixão. A ansiedade mesclou-se com o nervosismo dentro dele, fazendo Steve se contorcer no tecido macio e confortável do sofá. Por puro instinto, ele virou o pescoço para o corredor, aquele que levava aos quartos, vendo-o escuro e silencioso. Parte dele queria que uma figura familiar cruzasse aquele arco, sorrindo e caminhando para ele, nenhuma preocupação no mundo. A outra parte sabia que aquilo não ia acontecer tão cedo.

My ImmortalOnde histórias criam vida. Descubra agora