11° Capítulo

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Então ele é como eu... ele diz que ninguém se preocupa com ele. Comigo é a mesma coisa... Ninguém quer saber que existo, sou invisível, só me querem ver triste, então a pessoa que neste momento está na água da cascata é como eu... Nunca me tinha aparecido nenhuma pessoa para me compreender, pois ninguém compreende o que sofro...

"Vens ou não? A água está ótima, está quente." - ele diz molhando a cabeça ao mesmo tempo que dizia.

Esqueci-me de mencionar que tomo banho de água fria? Pois, apenas tomo banho de água quente ou morna para relaxar, mas são raros os dias que tomo banho de água quente, mas ultimamente tenho tomado de água quente, nestes dias tem havido muita pressão, é por isso que de vez em quando preciso de um 'pondo de abrigo' de quando estou mal, e o banho é uma dessas coisas, o banho não é o único abrigo, há mais coisas...

"Não quero, eu fico a ver" - disse mentindo e sentando num tronco de uma. árvore que estava deitado no solo do chão.

"Não te preocupes eu não vejo a tua roupa interior!" - ele disse rindo.

"Não tem piada, além disso eu não sei nadar. - afirmei olhando para o chão. "Apesar de já ter andado em 7 natações diferentes e blabla, não sei nadar." - continuei com o que estava a dizer anteriormente e fazendo um sorriso irónico.

"Eu seguro-te não há problema, não irás morrer afogada. " ele disse e fiquei a pensar, por muito que queira morrer acho que ainda não tenho coragem de abandonar tudo e ir... apesar de ser assim, a morte.

"Então pronto, tu viras-te e seguras-me, está bem? Mas tudo ao mesmo tempo." - disse tirando a roupa deixando apenas uma camisola curta e as cuecas. Não quero mostrar o meu corpo a um estranho, apesar de já ir tomar 'uma espécie de banho' com ele, mas ele irá ir-se embora daqui a uma semana, acho que não tem piada.

"Tudo bem."

Já só com as cuecas e a camisola curta, em vez de mergulhar logo na cascata, fui com cuidado, com azar, desequilibrei-me e caí na água da cascata, ainda a ouvir-se a água a bater no outro lado. Tentei abrir os olhos, mas não consigo abrir os olhos dentro de água, e quando os abro, começo a ver tudo branco e começa-me a arder ao ponto de os fechar com força.

" Acho que as pessoas que não sabem nadar entram na água devagar, mas tu parece que estavas mesmo com saudades da água" - ele disse rindo ao mesmo tempo.

" Desequilibrei-me, acontece a todos." - disse dentro de água da cascata sentindo as mãos dele a segurarem-me na cintura.

Uma das razões de eu ter vergonha de tirar a roupa foi também dos cortes, mas ele estava à vontade... por tanto também devia sentia-me à vontade, ele via as coisas pela mesma maneira que eu, e isso mudava tudo entre ele e as pessoas normais.

Começou a ficar frio na zona da cascata, então resolvemos vestir-nos. Pegamos nas nossas roupas secas e fomos vestindo pelo caminho, à medida que andavamos.

Não falamos o dia todo, apenas se sentia o vento perdido que batia na nossa cara, os pássaros a cantarem baixinho, o som dos nossos pés a caminharem sobre folhas caídas do chão...

"Irei ficar escondido aqui por mais ou menos uma semana, depois vou para mais longe. Foi bom conhecer-te, até um dia." - ele disse mudando a direcção por onde íamos, sem me deixar dizer nada.

"Espera!" - disse para ele olhar para trás, mas nada, então caminhei até ele fazendo-o parar mesmo à minha frente. "Vem para minha casa, podes ficar lá uma semana, mas tens de estar escondido." - disse confiante.

"Não, Kam, faz de conta que nunca me conheces-te, apenas divertiste-te um bocado comigo, apenas." - ele disse continuando o seu caminho que eu antes o interrompi.

"Eu juro que não entendo pessoas" - susurrei para mim própria para ele não ouvir e continuei o caminho para casa, a última zona onde eu quero ir, mas é lá onde eu moro, não posso fazer mais nada...

*  *  *

"Mas pai..."

"Não Kam, está dito. Amanhã vais à escola, quer tu queiras quer não. Não uses a tua mãe como uma escapa da escola" - ele insistiu.

Saí da sala onde eu e ele estávamos sentados no sofá e corri para o meu quarto. A minha mãe morreu... eu ainda não consegui por na cabeça que a mulher que me ajudou em tudo, que me deu educação... e as palavras do meu pai que disseram que eu usava a morte da minha mãe para escapar da escola? Mas ele conhece-me ou não?

Tranquei a porta do meu quarto sem que ele ouvisse e peguei no meu estojo, onde estava a minha grande e longa... amiga. Muitos podem dizer que é mentira, blabla só cicatrizes, mas se começas, nunca mais irás parar. E apenas te alivia a dor por uns segundos. É disso que estou a precisar...

Deslizei... Deslizei... e deslizei mais fundo na pele, estava mesmo a sentir-me bem. Peguei num pano que estava lá ao lado e limpei-me, gotas de sangue que não valem nada. Aliás, eu toda, sou nada.

Senti alguém a andar em direcção ao meu quarto e levantei-me logo, já pensando numa desculpa que irei dar para o que estou a fazer, como sempre, estou a ouvir música e a ver televisão, é isso o que as meninas normais fazem?

Acho que tinha trabalhos de casa, e com excesso, mas não quero saber, não estou em condições de fazer trabalhos de casa, nem de ir à escola sequer! Mas aí sou obrigada a ir, infelizmente. Acho que preferia trabalhar em vez de passar vergonha na escola, humilhação... do que  fazer estas coisas, é também por causa da escola que eu... deslizo uma lâmina na minha pele, do pulso, dá-me arrepios só de o dizer.

Eram 18 da tarde, apetecia-me ir passear, desanuviar a minha cabeça que anda um caus... mas depois, claro que a menina Kam se perde sempre e depois alguém tem de lhe salvar, se continuar assim, tudo repetitivo na minha vida, acho que já irei saber a minha morte. Afinal, todos irão morrer, para nascer uns novos, certo? Pelo menos é isso o que eu penso...

Resolvi ir dar um passeio, eu estava sempre em casa, era sempre a mesma rotina, e isso aborrece. Quando estava prestes a abrir a porta principal da minha casa ouvi qualquer coisa para os lados da cozinha. Como só está cá eu e o meu pai, só pode ser ele.

"Podes repetir? Não ouvi...". - disse caminhando para o lado em que se ouviu alguém a falar.

"Na quinta temos cá visitas, quero que te portes bem e que fales com os teus primos, não te enfies logo no quarto... convive, fala com alguém..." - ele disse sem tirar os olhos de mim.

"Sim pai, tudo bem, apenas tens também de compreender que eu não gosto dos meus primos, são chatos." - disse fazendo um sorriso irónico. " Bem, vou comprar uma pizza ou algo assim para comer-mos" - Acrescentei na minha vez de falar.

"Ótima ideia, tens dinheiro?" - ele perguntou contente.

"Sim, já volto." - disse batendo com a porta da casa bruscamente, mas foi sem querer, alguma janela devia ter estado aberta e empurrou a porta para a direcção onde ela estava a ser empurrada devagar.

Antes de entrar para o supermercado tinha de se passar por umas portas que se abriam automáticamente, eu adorava aquelas portas, mas ao mesmo tempo detestáva, eu penso sempre que elas nunca se abrem, e depois fico mesmo à frente delas que elas se abrem feita estúpida, mas pronto.

Fui ao mais interessante daquele edifício, que é as pizzas e os chocolates e coisas que engordam, como já se deve ter percebido. Estava a tentar pegar uma pizza que estava lá no alto e que não conseguia chegar, e derrepente sinto a mão esquerda de alguém a tocar-me no ombro, e a outra a ir buscar a pizza, viro-me rápidamente para ver quem é.

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Podem dizer o que acharam?
Obrigada. *--*

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