13° Capítulo

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Enfim, mais um dia que irei desperdiçar em pensamentos maus, em escola... em tudo. Vi as horas e estava quase para começar a minha aula de inglês. Comecei a escolher a minha roupa que era umas calças normais e um casaco preto. Despi o meu pijama só ficando em roupa interior e fui lentamente ao espelho do meu quarto que dá para ver da cara até a um bocado e vi o meu corpo, estava gorda, tinha cortes nos pulsos e nas pernas, era feia, estava tão mal formada, como ainda conseguem dizer: "Kam, estás tão linda e cresceste tanto..." ? esse conjunto de palavras magoam-me tanto... desmembram-me por dentro. Tudo o que eu tenho ligado dentro do meu corpo, desliga-se automáticamente ao ouvir... esse conjunto de palavras. Para mim, uma das coisas que me magoam mais são palavras. E por vezes elas saiem sem nós querer-mos e magoa tanto...

Vesti a roupa que eu escolhi com cuidado para não magoar o meu corpo, sim, já foi há uns dias mas ainda tenho dores depois daquelas 3 raparigas me agredirem. Agora, mesmo que a minha mãe queira ajudar-me, não pode, ela não está aqui... Até pode estar, mas eu não a consigo ver. E se estiver mesmo aqui, espero que ela não leia os meus pensamentos, pois são horríves, assim como eu, e o meu corpo...

Andei até à casa de banho e meti umbocado de maquilhagem por baixo dos olhos. Deve ser por estar sempre a chorar quando vou dormir, e depois ainda durmo pouco... Espero que não se note nada, eu também não sou daquelas raparigas que usam kilos e kilos que maquilhagem logo às 8 e só para ir para a escola. Eu apenas uso quando tenho olheiras...

Caminhei em direção ao quarto do meu pai e vi que a cama estava vazia, ele deve ter ido trabalhar, como nos outros dias, excepto os dias de fim de semana. Caminhei até à cozinha para ir fazer o meu pequeno almoço, a minha mãe se estivesse cá iria fazer-me o pequeno almoço... ela ainda nem há uma semana ela foi e já estou com saudades dela, impressionante. Leite, é o que bebo todos os dias de manhã, pois, nunca tenho muita fome quando acordo.

Fui para a janela e vi como estava o tempo, abri a janela. Não acredito, está vento, e eu odeio vento, não o consigo suportar! Peguei no meu casaco que estava no meu quarto pendurado na minha cadeira junto à secretária. Peguei nas chaves, era uma coisa importante, depois eu não consigo entrar em casa, tenho de esperar pelo o meu pai chegar. E ele só chega por volta das sete da tarde.

A primeira aula  de tarde que iria ter era Educação Física, uma coisa que eu odeio, sinceramente. Aliás, para ser rápida e mais explicita : tudo o que envolva escola, odeio. Ainda por mais eu sou a que tem menos força na turma, e dizem para eu esforçar-me mais. Mas porque ninguém compreende que não é questão  de esforçar, é de eu ter um problema. Mas prontos, o que se há de fazer, e a devido disso eu sou a última a ser escolhida quando é para escolher equipas. Que nervos, como se elas fossem superiores que eu!

Depois da aula de Educação Física, comecei a caminhar em direcção da sala de aula que iria ter a seguir, e comecei a avistar algumas pessoas da minha turma. Era tanta gente, que horror, mas porque eu também estou-me sempre a queixar de mim própria? Porque apenas não vivo a vida como deve de ser? Faço sempre as escolhas erradas... Eu apenas quero ser uma pessoa normal, que não pense em coisas tão anormais. Sentei-me no chão, ao lado da porta, estava com a cara de lado, mas podia ver que as raparigas atrás de mim estavam-me a descrever, comecando com os defeitos da pessoa, claro. Parece que elas não têm defeitos, são as mais perfeitinhas da escolinha, coitadas, ainda não viram nada.

Daqui a uma semana era aquela semana em que todas as escolas têm, a semana onde há mais testes, eu nem sei se deva estudar ou apenas olhar para os livros, que é o que tenho feito ultimamente.

Aquelas raparigas de à bocado levantaram-se e foram embora, ainda bem, não conseguia aguentar mais o risinho patético delas, aquilo nem eram risinhos, eram mais gritos. Com estes pensamentos todos o tempo passa a correr, e a professora já estava a vir na minha direcção para abrir a porta da sala. Mas como não ouvi o toque?

A professora entrou e disse para os alunos se sentarem e todos se sentaram. Eu sentei-me no lugar do costume, onde me sento todos os dias.

"Esse lugar é meu" - A voz da Sammy vinda de trás de mim.

"Que eu me lembre nunca te sentás-te aqui, se queres ficar ao lado do teu namoradinho porque vocês não se sentam no chão?" - fiz um sorriso irónico.

"Talvez é por isso que não tenhas amigas, és tão antipática." - ela afirma como uma cara de quem quer confusão.

"Irei levar isso como um elogio, menina que não presta atenção às aulas e depois anda a implorar por saber se há trabalhos de casa." - disse logo tudo para ficar-mos por ali.

"Mas tu andas..."

"Hei! Menina Sammy, você ainda é nova por aqui, não queira levantar o tom de voz tão cedo." - o professor interrompe-nos.

Durante toda a aula a Sammy fez um sorriso ameaçador, ela quer o quê? As verdades? Então pronto, estão ditas. Que raiva, ultimamente esta sociedade anda de mal a pior, não há resolução para isto?

Quando acabei todas as aulas que tinha deste dia não fui logo direta a casa, fui para aquele tal jardim, onde eu conheci o tal Syn, talvez ele seja a única pessoa que me compreende e daqui a uma semana, ele irá ir-se embora...  Sentei-me num lado do jardim onde ninguém me conseguia ver, nem eu a eles. Abri a minha mala e abri o estojo, estava lá... O objecto mais importante que eu quero, dito isto, parece impossível... Depois do primeiro corte, já não se consegue parar... Eu fui para um sítio longe de tudo e de todos, não gosto de ser observada e o mesmo se acontece em ser seguida.

*  *  *

Comecei a explorar um pouco o que estava à minha volta, então levantei-me e decidi ir por dentro do mato, onde havia árvores, animais aéreos, e também algumas formigas, dava para ver de longe. Sim, eu sei que eu irei acabar perdida, e que me irei arrepender e blah, eu já estou perdida em mim mesma, eu sei que iria ter a minha vida pela frente, mas afinal, eu já desisti de tudo.

Comecei a correr sem destino, pois eu não sabia por onde iria ou onde eu queria ir... Enquanto andava sentia as gotas de sangue a escorrerem-me pelo braço, as gotas que eu fiz, mas não escolhi fazer isto, é mais forte que eu... Senti o meu telemóvel a tocar, aquele barulho estava a ser tão irritante e acabei por mandar o telemóvel para o chão, depois irei apanhar.

Tudo estava tão estranho, só estava a ver verde, estava zonza, as gotas de sangue estavam a escorrer com maior intencidade.

Senti alguém a tocar-me no ombro, era ele, eu não conseguia ouvir nada, e em questões de ver, eu via tudo às voltas, parece que ele estava a gritar, ou a chamar-me não sei...

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