2º Capítulo

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Comecei a correr o mais rápido que pude, eu não quero ser humilhada de novo pelas pessoas, elas ainda nem sequer me conhecem, pensei que os dias nesta escola seriam diferentes dos outros dias que estive nas outras escolas, mas é tudo igual. Se começar a faltar nesta escola eu vou ter de me mudar para outra, repetir a experiência de novo.

Parece que por onde eu estava a correr não tinha destino, pois não sabia para onde queria ir, ou apenas não sabia onde estava, apenas queria que chovesse, e ter um bocado de paz, sem ninguém para me obrigar a fazer coisas, ou mesmo sem ninguém para me julgar. 

Paro um bocado para descansar, e sento-me num banco que estava ao meu lado, e tento ver alguma placa ao longe a dizer a rua onde estava, mas não estava nada escrito. Abro a minha mala e tiro um pacote de leite, obra da minha mãe, ter posto aqui o leite. Enquanto estava a beber, sinto alguém a bater-me nas costas, e viro-me para ver quem é.

- "O que estás aqui a fazer? Porque fugiste?" - diz o rapaz com quem estive há pouco.

- "Apeteceu-me. Ninguém te manda vir atrás." - Digo.

- "Apenas queria saber o que tens e o que fizeste na casa de banho, depois deixava-te em paz." - Ele diz baixinho.

- "Não confio em ninguém, muito menos tu, que nem o nome sei" - digo sendo sincera.

- "Sou o Rúben, e tu és?" - diz ele entendendo a mão.

- "Como já deves ter ouvido na sala, sou a Kam. Agora vou ter de ir embora, está se a fazer tarde."

- "Mas ainda não explicas-te o porquê de ires para a casa de banho a chorar?." - Enquanto ele diz, eu levanto-me e vou-me embora, ignorando o que ele disse.

Ele pareceu-me simpático, mas não gostei dele. Eu mal conheço o rapaz, apenas sei o nome, e ele já quer saber a minha vida toda, o que fiz na casa de banho, depois, vai me perguntar o porquê de eu fazer aquilo, logo, ele vai saber o que sofro, e não quero ser vista pela “coitadinha".

Cheguei a casa, mal falei com a minha mãe e o meu pai, fui logo para a casa de banho, despi-me e fui ligar a água, normalmente tomo banho de água fria, geladíssima, mas neste caso, preciso de água quente, para deixar relaxar os meus músculos e esquecer de tudo. 

*  *  *

Estou deitada na minha cama, depois de vestida e de jantada, apenas quero esquecer este dia. Foi um dos que eu vou viver a seguir, não por opção. Amanhã vai ser Sexta, finalmente, apenas vivi um dia de aulas naquela escola e já quero férias. De repente a lua começou a iluminar-me a cara, ultimamente só consigo adormecer com a lua a iluminar-me, sinto que estou protegida.

Levanto-me, e vou tomar o pequeno-almoço, como sempre. 

- "De certeza que hoje só entras às 10horas?" - a minha mãe perguntou desesperada.

- "Se quiseres mostro-te o meu horário." - Digo cansada das perguntas da minha mãe, e ao mesmo tempo levanto-me, e pego na mochila. - "Até logo, mãe." - Digo antes de abrir a porta.

Estou a rir a caminho da escola, como sempre, vejo as raparigas a rirem, não sei porque, deve ser a contar o que elas passaram na noite passada, deve ser um de cada vez. Já não se fazem raparigas como de antes. Hoje se alguma me empurrar, tento não me ir embora, depois a directora irá ligar à minha mãe, e a última coisa que eu quero é isso.

- "Olá, que aula vai ter agora?" - uma voz vinda de trás de mim diz. Como já sei quem é, pois, é a única pessoa que fala comigo.

- "Caso não saibas eu sou da tua turma."

Estou a andar para a sala, a mesma de ontem, quando a rapariga me estava a empurrar sem razão nenhuma. Entro, e sento-me num lugar muito no fundo, como sempre, para ninguém notar a minha presença. O rapaz de à bocado senta-se no meu lado.

- "Esse era o meu lugar." - Ele diz.

- "Desculpa, eu vou para outro." - Digo me levantando,

- "Fica aí, eu fico aqui, não há problema." - Ele diz, e eu sento outra vez no lugar onde estava.

Enquanto a aula passava ele deu-me um papel a dizer:

"O que fizeste ontem na casa de banho?"

"Vais-me chatear sempre com isso? Não te digo, e nem te conheço."  - respondo-lhe com uma letra que não me apetecia escrever. E depois não me voltou a dar mais nada.

* * *

As aulas deste dia passaram normalmente, acho que consegui aprender alguma coisa, pela primeira vez. E não aconteceu nada do que estava à espera, pensei que iriam me bater ou algo do género, ainda bem que não o fizeram. De repente puxaram-me para uma parede com força.

- "Tu de novo? Mas o que é que tu queres?" - digo eu aflita.

- "Quero saber o que fizeste ontem, e não saio daqui sem antes me dizeres." - Ele diz parecendo que estava a falar a serio.

- "Para que queres saber? Para depois ires contar aos teus amigos? Para gozarem ainda mais comigo? Ou achas que é a primeira vez que gozam comigo? Aquela é a terceira escola em que vou devido a isso." - Digo baixinho.

- "Apenas quero ajudar-te, para isso preciso de saber o que tens, não quero fazer como as pessoas da nossa turma, e eu não tenho amigos." - Ele diz triste.

- "Porquê? Tu és simpático. Eu não sei expressar o que tenho ou o que sinto a falar, apenas sei a escrever, por tanto lamento dizer, não me podes ajudar, mesmo que me compreendas, coisa que acredito não ser verdade.

- "Eu quero ajudar-te, amanhã posso ler esse papel? - eu assenti, e fui-me embora.

Cheguei a casa, cansada como sempre, e perguntei à minha mãe o que irá ser o jantar, ela disse que não sabia o que iria fazer, eu questionei se podia-mos encomendar pizza, e ela disse que sim.

Quando a pizza chegou, a minha mãe pagou, e eu pousei-a em cima da mesa, juntamente com os guardanapos, normalmente não usamos guardanapos, mas acho que seria educado por os guardanapos na mesa, e também juntamente com a Coca-Cola. 

Depois de um jantar bem passado, cheio de risos e comida boa, estou na cama, a pensar no que fiz no dia de hoje, simplesmente o que faço nos outros: nada que sirva para o meu futuro. Eu sou uma das pessoas que pensa muito no futuro. Mas depois quando ele chega, tem medo do que poderá acontecer.

Novo dia, lembrei-me que me esqueci de fazer os trabalhos de casa, não faz mal, ainda sou nova lá, digo que esqueci-me de apontar, e lembrei-me que esqueci de fazer o tal papel para mostrar ao Rúben.

Levanto-me imediatamente, e pego numa caneta e um papel cortado ao meio e começo a escrever, o que sinto, o que acho das coisas, e tento não dizer muito, apenas um resumo, eu não confio muito nele...

Podiam comentar a dizer o que acharam? Obrigada.

Rough lifeOnde histórias criam vida. Descubra agora