CALUT

Capítulo 46 - Penúltimo

Breana levantou-se e andou graciosamente, saindo da cela com um pequeno sorriso de lado. As feições da Lauren mostravam surpresa.
Eu também não esperava por isso. Achava que era apenas um darcass. Apesar de a ter conhecido a pouco, seus sorrisos sempre trouxeram reconforto. Percebo agora que até os olhos, que são a porta da alma, conseguem mentir de forma estúpida e descarada. Talvez porque pessoas como ela são seres vazios e, a alma é quase inexistente, sua essência é negra e seu coração constituído por vários nadas.

De tanto lantejar o sangue do meu peito, ele finalmente começou a secar. E encarrar sua face, a realidade de que ela é uma darcass e provavelmente fez isso tudo para mim já nem dói.
Liam me quebrou tanto, que se eu tirar mais alguma coisa pelos olhos, será apenas sangue. Não só as lágrimas secaram, mas também o meu interior. Eu já não queria tirar mais lágrimas, não queria sentir. Sinceramente, não queria mais aquela Kira que eu fui, apegada a minha pele.
No máximo, só queria a explicação de tudo.

Breana continuou olhando pra mim, como se tentasse desvendar todos os sentimentos conturbados que talvez para ela, ainda existissem.

Tornei meu olhar frio, distante dela e de Liam, não deixando verem mais do que deveriam. Não os deixando ver minha alma. Não mais.
Pois algo me diz que se eu não vendar minha alma, serei mais ferida. E por momento, estou cansada de sentir meu peito rasgado. Estou cansada de tirar lágrimas por um amor que nunca existiu. Estou cansada de pensar que existe bondade onde há negro.

Breana: sabe Alana...nem todos os caluts são bons. Acho que você já sabe disso não é? - assenti afirmativamente - nem todos os caluts tornam-se maus, alguns simplesmente nascem para ser darcass.
E na verdade, nem somos tão mazinhos como vocês gostam de nos fazer parecer ser. Apenas queremos alargar nossas fronteiras, ter a liberdade que nos foi arrancada quando nos prenderam aqui - revirei os olhos

Kira: conheço essa ladainha. Só quero entender a história toda - Breana sorriu, fazendo seus olhos ganharem um pouco de tonalidade vermelha que logo desapareceu.

Breana: está bem. Acho que você merece uma explicação.
Afinal, para além de ser minha irmã querida, você não sairá viva desse lugar mesmo... - ela parou de falar e por um momento, me olhou profundamente - eu nunca fui a filha santa e boazinha que nossos pais queriam. Não nasci para ser calut.
Como filha única de um casal conhecido e poderoso, tive sempre que trabalhar o dobro, não para ser apenas uma boa guerreira, mas sim a melhor. Nossos pais nunca me cobraram, mas os outros sim. Nasci calut, com um poder bem simples de me curar. E para recompensar isso, eu era a melhor em tudo.
E então você nasceu. Cheia de poderes, uma nova Darrow, com tudo o que eu queria.

Lauren: então fez isso tudo por inveja?

Breana: não. Eu simplesmente pensei mais alto que vocês, não me contentei. O mau procura ser bom; o bom, o melhor; o melhor o perfeito; e o perfeito, o inalcançável. Mais e mais.
Deimenthrious olhou em mim o que os caluts nunca olharam. E me deu uma oferta irrecusável. O que eu precisava naquele momento, o que não era permitido alcançar. Mais poderes.
Eu me juntei aos darcass. Estava ciente sobre seus ataques a vila.
Os darrow sempre foram colocados numa plataforma. Matar um equivale a matar 100 caluts.
Deimenthious sabia disso. Sabia que lutar contra nossos pais não seria fácil. Então ele me mandou matá-los.

Sabe Alana, os pais não satisfazem todas as necessidades dos filhos; eles são bastante valorizados pelos filhos; como se fossem a alma deles, enquanto que no fundo, são apenas pessoas que gostamos.

Eu tinha a sua idade, mas meu coração já tinha endurecido à muito tempo, não senti suas mortes. Não lamentei, nem me enfeitei como arrependida, pois tinha feito a escolha de viver com o sangue deles marcado em minhas mãos. Não voltaria atrás.
Você era linda quando mais nova. Sempre chamou atenção.