Capítulo 10

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    Já devia está perto do almoço, não sabia quanto tempo havia se passado, mas meu estômago não se queixou. Eu não estava com fome, e não queria sair do quarto. Sei que não devia estar assim, mas ainda me sentia culpada. Alexander não me perdoara, e mal falara comigo. Foi frio e isso me magoou.
    Muitos empregados bateram em minha porta ao longo do dia, e eu não quis ver nenhum. Nem mesmo Cassandra.
— Senhorita Emma?— era ela de novo. Com sua voz suave de governanta— o almoço está servido.
— Não quero nada, Cassandra. Obrigado. Por favor, me deixe aqui. — respondi alto o bastante
— Mas não comeu nada no café— ela insistiu
— Me deixe aqui!— quase gritei

   Quando tudo silenciou, me senti culpada por ter falado com ela assim. Mas, realmente, não queria nada. A única coisa boa era que sabia quanto tempo havia se passado.
    Peguei minha caixa de música que ganhei de Alexander e pus diante de mim. Me encolhi mais na cama quando a melodia da trilha sonora do filme " Se eu ficar" ressoou pelo quarto. Já havia lido o livro, e adorava as músicas do filme; infelizmente, a melodia só piorou o momento.
    Era tão estranho eu me sentir tão mal, mas sempre fui incapaz de me sentir bem sabendo que havia alguém com raiva de mim. Sempre foi assim com meus pais, mas estava sendo pior com Alexander.
    Ouço batidas leves na porta, que me fazem fechar a caixa de música. Me ponho sentada, esperando alguém falar do lado de fora, mas tudo que recebo são mais leves batidas.
— Já disse que não quero nada— falei, dispensando qualquer serviço de quarto.
— É o Wallace— a voz firme do segurança me deixa arrepiada— e não tenho bandeja alguma.
—Entra— permiti

    Wallace entrou. Com um conjunto de roupas pretas, cabelos embaraçados e olhos claros. Ele andou na minha direção e parou em pé na ponta da cama.
— Cassandra disse que ele gritou muito com você. E que agora você não quer mais viver— ele deu um sorriso debochado
— Eu ainda quero viver, obrigada pela preocupação. Só não tenho fome.
— Você? Sem fome?
— Sai do meu quarto— apontei para a porta
— Ele vai se desculpar, Emma. Você errou feio, mas precisa comer.
— Não, obrigada. Pode ir. Só quero ficar quieta, Wallace.
— Ele vai se desculpar. Tá bem?
— Não quero que ele se desculpe. Quero que ele aceite minhas desculpas. Só isso.

    Ele me olhou tristonho, e, com um sorriso pesado, saiu do quarto; me deixando com minha cama e com minha música.
   Dez minutos depois que Wallace saiu, alguém voltou a bater na porta. Desta vez fiquei calada e me concentrei no som da melodia que ressoava. As batidas continuaram, mas eu as ignorei mais.
— Emma?— a voz de Alexander atravessou a porta, me fazendo saltar. Sentei na cama e fechei a caixinha, esperando para saber se havia escutado direito.— Sei que está aí dentro— era ele mesmo. Falando com uma voz suave e doce.— eu vou entrar, Emma. E...Espero que esteja vestida.

   Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu e ele entrou. Uma confusão de sentimentos me invadiu quando o vi caminhar até mim. As roupas joviais que usava o deixavam mais belo; a expressão cansada parecia quase triste; e quando ele se sentou bem perto de mim, pude ver arrependimento em seu olhar. Pus minhas pernas junto ao tronco, e as envolvi com meus braços. Ele parecia uma miragem, tanto que tinha medo de piscar e ele sumir.
    Sem saber o que dizer e louca para romper o silêncio, eu simplesmente falei:
— O que iria acontecer se eu não estivesse vestida?
— Iria torcer para você não me processar— respondeu ele, imediatamente.

    Eu corei e dei um leve sorriso. Me senti melhor quando ele retribuiu.
— Cassandra disse que você não tomou café e que não quis almoçar. Deduzi que você devia estar muito mal, já que está recusando comida.
   Corei ainda mais e ele riu sonoramente.
— Eu não como tanto assim— protestei
—Mas precisa comer— ele suspirou, ficando sério
— Eu sei.
— E eu preciso me desculpar.
— Não. Não precisa.
— Sim..— ele pegou minha mão, suavemente, causando arrepios por todo o meu corpo— preciso sim. O que eu fiz foi imperdoável. Eu nunca deveria ter gritado com você daquele jeito, e nem agido da forma que agi.— ele olhou fundo em meus olhos— me desculpe, Emma. Eu nunca, jamais, farei algo assim de novo.
— Não foi imperdoável— disse eu, com o coração a mil.
— Você pode me perdoar, mas eu não irei. Para uma mulher, nunca se deve levantar a voz. Nunca se deve ser bruto. E eu fiz tudo isso. E peço perdão.— ela plantou um beijo suave em minha mão, como se tivesse medo de me machucar com esse gesto.

   Neste instante, um milhão de borboletas levantaram voo dentro de mim; arrastando as asas pela parede do meu estômago. Meu coração começou a dançar e eu me senti completamente diferente.
— Você... Você pode me desculpar?— perguntei meio zonza— por eu ter... Fugido.
—Claro que sim— ele me olhou, agitando ainda mais as borboletas.

   Alexander chegou mais perto, sem tirar seus olhos dos meus.
— Quero que me ouça com muita atenção, Menina. Tudo bem?— ele pegou minha outra mão, e eu quase ofeguei. Consegui assenti, já que não conseguia falar sem gaguejar— você não está presa aqui. Nunca faria isso. Você pode sair se quiser, só precisa pedir ou avisar. Eu posso te levar para Tóquio se você quiser; basta pedir.— dessa vez eu arfei— mas, eu tenho que tomar conta de você. Sua segurança é importante para mim. Você não entende o quanto.

   Meu coração dava piruetas. Mas eu tinha aquela sensação de que tinha algo que eu não estava vendo.
— Você sabe o motivo para eu ter sido mandada para cá?— a pergunta simplesmente escapou
— Não, menina— disse ele, rápido demais.

   Menina..., Já era a terceira vez ou quarta  que ele me chamava assim. Seria esse meu apelido? Para ele?
— Prometo avisar, e nunca mais te deixar preocupado — afirmei

   Subitamente, ele veio na minha direção e beijou minha testa. Fiquei imóvel, de olhos fechados, saboreando a sensação que era ter seus lábios contra minha pele.
— Obrigado— ele sussurrou, e se afastou. Nossos olhos se encontraram e ambos sorrimos — vamos comer agora?

   Meu estômago ainda estava cheio de borboletas, mas, ainda assim, roncou. Eu corei, mas me pus de pé junto com ele.
— Vamos. Vamos comer— sorri, caminhando ao seu lado até a sala de jantar.

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