A T R I B U Í D A

Capítulo 19

   Já havia ficado escuro. O sol não era mais meu protetor, a rua vazia me deixava assustada,e eu já havia entrado em tantas ruas que estava ficando tonta; nenhuma era a rua da mansão de Alexander.
   Eu queria gritar e chorar, mas eu tinha que ficar calma
  Por que eu corri para tão longe? Por que eu corri?
  Ouvi um som de motor, e um calafrio subiu por minha espinha. Olhei para trás, perdendo o ar ao ver um carro preto vindo na minha direção.
   Se eu pensei? Claro que não! Apenas corri. Corri mesmo, não sabendo para onde eu estava indo. O carro acelerou, e eu entrei em outra rua estranha.
  Quando notei o carro quase encima de mim, eu parei. Já era! Não dava mais! Parei congelada e olhei para o carro estranho e assustador. Ele parou ao meu lado e abaixou seu vidro escuro.
— Pra quê correr?— Alexander perguntou do lado de dentro

   Eu quase apaguei, mas ao invés disso, eu ri.
— Então esse é o carro preto— foi o que saiu da minha boca.

   Ele franziu o cenho e eu notei o que estava havendo.
— Desculpa! Desculpa!— cobri o rosto— sei que não avisei! Sei que sumi. Mas eu...eu...
— Entra no carro.— ele mandou

   Eu fiz o que ele mandou. Alexander acelerou assim que sentei ao seu lado.
— O quê houve?— ele perguntou calmamente.

   Respirei fundo e contei sobre Wallace e Cassandra.
   Quando a história terminou, eu notei que Alexander já havia notado isso.
Você fala isso como se tentasse se convencer. E não a mim.
   Olhei para a paisagem, tentando não chorar.
— Lamento por isso.—ele sussurrou e suspirou— mas acho que devia falar com Wallace antes de tomar uma decisão.
— Falar o quê?— olhei para ele— eu ouvi perfeitamente.
— Mas deixe ele explicar. Não termine tudo assim.

   Suspirei e respirei fundo.
— Tá. Tá certo.— assenti
— Talvez vocês se acertem.

  Ao chegar em casa, Wallace estava sentado na escada, parecendo preocupado. Assim que me viu, ele veio correndo até mim
— Você está bem!?— ele perguntou
— Sim.— Alexander respondeu— ela só saiu correndo.
— Por quê?— Wallace ainda olhava pra mim

   Alexander não respondeu, apenas saiu de cena. Eu fiquei olhando para Wallace, vendo meu reflexo em seus olhos.
Você fez o mesmo,Emma.
— Você é apaixonado por Cassandra. — falei vendo o pânico atingir seu olhar. — Ouvi vocês falando...
— E saiu correndo.—ele fechou os olhos— Eu posso explicar.
— Não precisa.— dei de ombros e me sentei na escada.

   Wallace me olhou, parecendo confuso.
— Você queria esquecer ela.— sorri, meio triste.— Eu entendo.
— Entende?— Wallace veio para meu lado— Não está com raiva?
— Não.— olhei fundo em seus olhos
— Isso é estranho.— ele parecia desconfiado— De qualquer forma, me desculpa. Ela mandou eu esquecer ela, e eu apenas estava tentando.
— Tudo bem.— assenti— mas sabe que não dá pra continuar, né? Eu gosto de você. Não tanto quanto...

   Meu coração travou, assim como a língua.
— Não tanto quanto Alexander— ele sorriu, assentindo— é claro.
— Você notou?— olhei para minhas mãos.
— Notei que ele gostava, mas achei que você...
— Eu gosto de você.— afirmei— tanto que me magoou ao ouvir você e Cassandra. Mas... Alexander...sei lá... É algo mais complicado.
— Acho que entendo.— ele pegou minha mão.— Amigos, então?
— É. Amigos.— sorri.
— Mas me conta..— ele pediu— por que ainda não falou com ele?
— Ele não..
— Ah! Para. Você não notou?
— Você que está vendo coisas.— ri, mas, sim, eu havia notado umas coisas.

Pra mim, eu chamo de recuar em batalha.

   Respirei fundo e olhei para o céu.
— É complicado.— disse
— É. Cassandra diz o mesmo.
— Mas ela te ama.
— Eu sei.
— Por que não estão juntos, mesmo?
— Ah, ela tem um filho.— ele me olhou— e acha que eu vou tratar ele mal por não ser filho dele. E que quando eu tiver meus filhos, vou deixar ele de lado.
— É algo para se temer.— afirmei
— Mas eu não vou fazer isso.
— E por que acha isso?
— Porque eu sei.
— Como?
— Eu sou estéril.— ele jogou as mãos para o alto— tudo bem?

  Oh, deuses.
— Kevin, o filho dela, é tudo que eu poderia querer.— ele olhou para o céu de um jeito sonhador— ele é engraçado, corajoso e gosta de mim.
— Contou para Cassandra que é... estéril?
— Não. — ele bufou— isso poderia deixar ela ainda menos interessada em mim.
— Ou faria ela acreditar em você, não?
— Deixa pra lá.— ele me olhou— não conta nada.
— Tá bem.— suspirei
— Pelo menos estamos no mesmo barco.— ele riu, sem humor
— Que beleza.— revirei meus olhos

   Depois daquele papo animador, eu fui para cama sem jantar. Meu estômago não estava muito receptivo, e eu resolvi não tentar.
  No meu quarto silencioso e na minha cama fofa, eu pude pensar em todo o meu dia; separar os acontecimentos e então respirar fundo.
   Eu estava solteira, Alexander não estava furioso, Cassandra era besta e Wallace estava sofrendo.
  Eu dormi.

   Tive um sonho estranho. Wallace dizia que era estéril para Cassandra, mas depois não eram eles, e sim eu e Alexander conversando.
  Claro que eu acordei no mesmo instante.

   Na mesa do café, Alexander chegou parecendo... Atrasado. Ele lutava para pôr a gravata enquanto servia o café.
— Bom dia.— disse
— Ah, bom dia.— ele riu, derrubando um bolinho na mesa— Eu tenho uma reunião hoje. Acho que é decisiva para o fechamento no negócio.
— Ah! Deixe eu te ajudar então.— fui até ele, arrumando sua gravata.

  Eu nunca havia feito isso, mas já havia visto meu pai fazer.
   Alexander estava se servindo, e eu terminei de arrumar ele.
— Pronto.— sorri
— Obrigado. — ele começou a comer.— e como está com Wallace?
— Bem. Somos amigos.— disse, e ele me olhou— Não estamos mais namorando. Não faz sentido.
— Ah. Lamento.— Ele deu um gole em seu café.
— Não. Está tudo bem.— afirmei

   Ele torceu a boca, e eu tive impressão que ele tentava não sorrir.
— Que foi?— perguntei

   Ele me olhou, meio assustado.
— Preciso ir.— ele limpou a boca e se levantou— tenha um bom dia.

   E saiu, me deixando curiosa.
  Ah, vai ter volta!