Capítulo 14

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    Na segunda-feira, eu já estava farta. Cansei de pensar que Alexander me queria longe daqui e que não estava nem aí se eu passasse a maior parte do tempo sozinha. Estava irritada. Tão...zangada...que nem ao menos fui tomar café.
   Segui direto para o jardim; sentei em uma das mesas com guarda-sol e fiquei olhando o tempo passar. Tudo ali era tão irritante que com certeza me faria brigar com meus pais só por terem me mandando para cá.
   Mudei o foco do meu olhar quando notei Wallace se aproximar; ele tinha um envelope em mãos, mas isso não me deixou curiosa; afinal, estava ocupada olhando para sua beleza.
— Bom dia.— disse ele, dando aquele sorriso de covinhas
— Bom dia.— murmurei
— Você parece com raiva.
— Então não me provoque.
— Certo.— ele riu e ergueu o envelope— o senhor Lewis deixou isso pra você. Harry e eu vamos te levar para...passear.

   Peguei o envelope e abri. Havia dinheiro. E não era pouco.
— Não quero.— respondi, quase com raiva.
— Emma, é pra você comprar coisas... pessoais, entende?— ele parecia constrangido.

   Eu pude entender. Meu período de aproximava e eu precisava mesmo me preparar. Talvez até pudesse comprar outras coisas; como prendedores de cabelo, um óculos de sol, pílulas pra cólica e coisas assim. Aceitei o dinheiro.
— Vamos agora?— perguntou Wallace
— Claro. Pode ser.— me pus de pé e o acompanhei até a limousine
— Infelizmente, o senhor Lewis está com o carro preto.— disse Wallace
— Tanto faz.— bufei
— Você está bem?
— Estou cansada dessa vida monótona que é aqui. Quero fazer algo de bom.
— Posso ajudar, se quiser. Podemos passear o dia inteiro hoje. E eu posso inventar coisas.

    Eu olhei para Wallace. Pra quê se importar com Alexander? Wallace era mil vezes melhor.
   Meu coração idiota não concordou,e não dei ouvidos a ele.
— Estou ouvindo.— disse eu
— Podemos ficar o dia fora. E voltar a noite.
— E no domingo?— suspirei
— Podemos acampar no jardim durante minha vigia noturna do sábado. Ficar a acordados a noite toda. Aí você vai dormir o domingo inteiro.
— Você é o melhor— dei um beijo em sua bochecha.
— Então, de acordo?
— Com certeza.— Sorri para ele
— Ótimo! Se depender de mim, de tédio você não morre.

   E ele estava certo, não tinha como morrer de tédio com ele. Fiz todas as minhas compras, e Wallace conseguiu arrancar risadas minhas e de Harry. O dia passou rápido, e eu me via muito feliz.
— Vamos bater algumas fotos?— Wallace sugeriu
— Como vamos fazer isso?— perguntei
— Tenho uma câmera.— Harry entregou a Wallace.— podem usar.
— Perfeito.— Wallace apontou a câmera para mim e bateu uma foto.
— Eu nem pude sorrir— protestei
— Essas são as melhores— ele riu

    Paramos em diversos pontos, e eu implorei para bater fotos com Harry e Wallace. Eles não achavam necessário, mas não os via como empregados ou coisa assim. Eram meus amigos, de certa forma.
   O momento mais constrangedor foi quando Harry bateu uma foto só minha e de Wallace, e, na foto, parecia que Wallace e eu iríamos nos beijar. Ninguém comentou nada, mas parecia.
   Paramos para almoçar em um restaurante diferente, e bem simples também. Harry contou sobre sua vida. E fiquei contente ao saber que ele era casado e tinha um filho pequeno. Wallace não falou muito dele; só disse que tinha moto e que morava em um apartamento pequeno.
— E você?— Wallace perguntou sobre mim
— Moro em uma cidadezinha. Não tenho namorado. Meus pais não dão notícia. E sinto falta de nadar no lago e de dar fora nos garotos de lá.
— Uau.— Wallace comentou— digna vida de um caipira.
— Vai pro inferno.— Rimos os três.

   No final do dia, estávamos prontos para ir para casa. Tínhamos feito de tudo, e eu até tinha comprado um colar para cada um deles. Harry adorou o seu, e Wallace gostou tanto do dele que bateu uma foto do momento. Neste instante estávamos parados na frente de uma lojinha pequena, prontos para voltar para casa e dormir o resto da noite.
    Eu estava muito cansada, porém, isso não me impediu de notar o sujeito estranho do outro lado da rua.
   Ele havia acabado de sair de uma loja quando seus olhos encontraram os meus. Usava um terno preto escuro e era careca; de um jeito perigoso.
   Não me senti bem na mira do seu olhar, e, para piorar, ele tirou um papel das vestes; o fitou de cenho franzido e voltou a olhar para mim. Quando seus olhos voltaram para o papel novamente, eu saltei para dentro do carro, um pouco assustada.
— Emma?— Wallace chamou, assim que entrei no carro— tudo bem?
— Um cara do outro lado da rua— contei— ficou me olhando...e parecia ter uma foto minha, porque...
— É aquele?— Wallace apontou para o próprio,com uma postura de segurança.
— É.
— Conhece?
— Não.— tremi
— Certo. Tem certeza que ele olhava para você?
— Sim. Tenho.
— Por que acha que ele tinha uma foto sua?— Harry perguntou
— Ele olhava para um papel, e depois para mim. O que mais poderia ser?
— Não era para a loja?— Wallace sondou
— Não. — Afirmei
— Vamos voltar, Harry.— Disse Wallace, em um tom mais firme e autoritário— cuidado com carros suspeitos. E vamos pelo caminho que o Senhor Lewis indicou nesses casos .
— Certo..— Harry arrancou.

   Olhei para Wallace, absorvendo a conversa dos dois aos poucos. Eles esperavam por isso? Como é? Estava mais confusa do que quando fico perto de Alexander.
— Como assim?— perguntei para Wallace, vendo que ele ainda olhava para o homem careca— Que caminho que Alexander indicou?
— Ele instruiu um caminho acaso achassemos que estávamos sendo seguidos.
— Ele acha que alguém pode querer seguir vocês? Mas por quê?
— Não sei, Emma. Eu só cumpro ordens.— Wallace me olhou rapidamente, e voltou a olhar pela janela, de forma atenta.

   Eu não fiquei com uma sensação muito boa desde aí. Era como se eu fitasse um enorme quebra-cabeça que eu precisava montar.
   Ou melhor, já tinha começado a montar, e essa cena só foi mais uma peça para pôr no lugar.

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