O teto era meu foco. Já passava das uma da manhã, e eu não conseguia dormir. Minha mente, cada vez que chegava perto de adormecer, trazia a imagem de um homem entrando pela minha janela e tentando me levar daqui. Aí eu acordava até quase cochilar de novo.
Eu tinha isso quando criança, todos temos aquele momento em que só se consegue dormir se segurar a mão de alguém; é por isso que crianças vão para o quarto dos pais no meio da noite.
Agora, eu estava com essa mesma sensação. Eu queria segurar na mão de alguém. Eu queria dormir.É claro que eu estava louca. Devia ser. A situação toda deve ter afetado minha cabeça. O que eu estou pensando?
Parada diante do quarto de Alexander, eu fico a relutar se abro ou não a porta e durmo com ele.
De novo, o que eu estou pensando? Não posso fazer isso! Ele está dormindo.
Cogito em voltar para a cama, mas a sensação de medo logo me invade, e isso se torna o pontapé inicial.
Com a coragem que não tinha, eu abri a porta. O quarto estava escuro. Não totalmente, é claro. Havia um pouco de luz que entrava pela brecha de uma das cortinas. Alexander dormia do lado esquerdo de sua cama espaçosa, deixando um espaço reservado ao seu lado. Eu fechei a porta com cuidado, e andei na ponta dos pés.
Cuidadosamente, entrei embaixo dos cobertores ao lado de Alexander; deitei em forma fetal, e, para completar, segurei a mão que estava sobre seu abdômen.
Olhei bem para ele; sua imagem dormindo serenamente me deixava tranquila. Os cabelos bagunçados eram tão lindos, a respiração calma, mostrando o seu abdômen cheio de músculos. Ele não parecia ele naquele momento. Parecia um jovem.
Tentei imaginar o que Wallace diria se soubesse disso. O que ele pensaria?
Não! Ele não precisa saber. Será um segredo. Meu segredo.— Emma?— devo ter adormecido, porque ao abrir meus olhos, vi Alexander sentado na cama, segurando minha mão e olhando para mim. Completamente confuso.
Oh. Meu. Deus!
Puxei minha mão e me sentei na cama para fita-lo melhor.
— Desculpe! Desculpe! Desculpe! Não conseguia dormir. Com tudo que houve, fiquei perturbada. Precisava de companhia...eu não queria invadir seu quarto..mas estava quase enlouquecendo... então...
— Calma.— ele segurou meus ombros,e eu pude notar que eu respirava com dificuldade— calma, Emma. Tá tudo bem.
— Desculpe.
— Tudo bem. Você está tremendo. Quer um chocolate quente?
— Hã, sim, claro.— franzi o cenho
— Certo.—ele ia levantar, mas se deteve— Você pode olhar para o outro lado? Eu durmo de cueca.Arregalei meus olhos.
— Minha nossa!— cobri o rosto com as mãos— Me desculpe!Ele riu, e eu pude ouvir ele saindo da cama.
— Pode olhar.— disse ele depois de um minuto.Abri meus olhos para então ver Alexander com um conjunto de moletom.
— Vamos tomar um chocolate quente.— ele disse, pegando minha mão e me trazendo consigo.Fiquei impressionada. Eu estava sentada no balcão da cozinha enquanto via o dono da parada toda fazer um chocolate quente.
Tive que sorrir. Ah, qual é? Tem rico que não sabe nem esquentar água.
— Pronto.— ele trouxe duas canecas. Pousou uma na minha frente, e sentou de frente para mim com sua caneca em mãos.
— Obrigada.—disse, dando um gole de queimar a garganta.
— Não devia ter contado.— ele sussurrou
— Claro que não.— bufei— é ótimo saber das coisas. Agora tudo faz sentido.
— Mas você não consegue dormir.
— Nem tudo é perfeito.
— Vou te manter segura.— ele olhou para mim e eu senti algo se agitar aqui dentro.
— Eu sei — dei outro gole— e eu agradeço.
— Não precisa.— ele sorriu e franziu o cenho— É melhor Wallace não saber sobre essa noite, não é? Mesmo que não tenha sido nada demais.
— Exato. Não houve nada demais, então, pra que contar?Ele ergueu as sobrancelhas e sorriu.
— Sim. Que tal irmos dormir agora?Tremi. Não queria ficar sozinha.
— Posso ficar com você no seu quarto, até você pegar no sono.— ele ofereceuEle não é de verdade!!!
— Seria ótimo.— disse, sem coragem de recusar.E ele fez. Eu deitei na cama, e ele veio para meu lado. Abraçada ao travesseiro, eu fiquei de olhos fechados, enquanto Alexander acariciava os meus cabelos.
Era relaxante, e ao mesmo tempo, mágico. Não havia nada ali; ele só estava tentando me fazer dormir. Por quê? Bem, talvez sinta culpa. Ou, talvez, sinta pena.
Dormi depois daquele pensamento.O dia seguinte chegou depressa. Alexander não estava mais ali, mas eu havia dormido bem.
Me arrastei para o banheiro, escolhi uma roupa alegre, amarrei o cabelo em um coque qualquer e desci os degraus. Pude ouvir vozes vindo da sala; fiquei arrepiada quando notei que era Alexander e Wallace conversando.
Andei na ponta do pé até a soleira da porta e me dipus a ouvir.
— ...certo do lado sul.— falou o Wallace. E eu não entendi, já que tinha pego o bonde andando.
— Certo.— Alexander suspirou— ela não dormiu muito bem esta noite.
— Não?— Wallace pareceu incomodado
— Não. Estava assustada. O que é natural. Tente distrair ela, Wallace.
— Sim, senhor.— Wallace ainda parecia incomodado.
— Ótimo.
— Senhor, podemos falar como Wallace e Alexander agora?— Wallace pediu, e eu fiquei tensa com isso.
— Claro. O que quer falar?
— Não vai me prejudicar no...
— Você é Wallace, e eu sou Alexander. Nada de patrão. Pode falar.
— Eu estou namorando a Emma.— Wallace falou, e eu senti meu coração saltar.— Cuido dela. E, não quero que nada fique entre nós.
— Está preocupado comigo?
— Eu vejo como olha pra ela.
— Wallace fique tranquilo. Eu não faço jogos. Emma está com você, fazer algo para tirar você dela seria estupidez. Não se conquista uma mulher eliminando quem ela gosta.
— É...eu...acho que sim— Wallace parecia tão surpreso quando eu— me desculpe se...
— Tudo bem.— Alexander falou em um tom natural.
— Eu gosta da Emma, Senhor.— Wallace falou.Fez silêncio, até Alexander falar de um jeito seguro.
— Você fala isso como se tentasse se convencer. E não a mim.
— O quê? Não! Eu sei que gosto dela. Eu...eu...
— Tudo bem. Eu sei. Não se preocupe, Wallace.
— Certo. Com licença, senhor.Corri para a sala de jantar, não sendo vista por ele. Meu coração estava a mil. Alexander não parecia com raiva, e isso era bom. Só havia uma coisa que meu coração estúpido havia notado: Alexander não havia negado para Wallace que me olhava de uma forma diferente. Enquanto isso, minha mente ignorava o coração e focava em outra coisa: Como assim Wallace tentava se convencer? Por que Alexander disse isso?
Tomei um café rápido e fui até Wallace. Ele estava andando em sua ronda. Eu corri e saltei nas suas costas.
— Bom dia.— disse eu
— Bom dia.— ele me girou, trazendo-me para sua frente e beijando-me ferozmente.Perdi o ar rápido, e logo nos afastamos.
— Tudo bem?— perguntou ele— soube que dormiu mal.
— Alguns pesados.— dei de ombros
— Vamos caminhar e conversar. Não quero que pense nisso. Você está segura— Ele segurou minha mão— nada vai te acontecer.
— Obrigada.— sorri
— Eu gosto de você, Emma.— ele falou.E foi aí que eu entendi. O tom que ele usava parecia que ele quisesse se convencer disso. Era como se ele estivesse repetindo isso porque tivesse que acreditar.
E eu não gostei disso.
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A T R I B U Í D A
Romance"Você sabe o motivo para eu ter sido mandada para cá?" E se sua vida mudasse assim que você completasse 18 anos? E se isso não fosse tão bom assim? Emma Maison vivia tranquilamente com seus pais em uma casa pequena perto de um bosque com vista para...