Os Garotos de Raven Town

c a p í t u l o s e i s

Oh, que grande merda estamos fazendo, hein?
Somos tolos, todos nós, tolos, idiotas, imbecis, ingênuos ao pensar que um dia poderemos escapar daqui... Ninguém tentou isso ainda. Ainda. Mas quem pode partir deixando todos aqueles que desapareceram para trás?
Quem conseguirá seguir sem ter a consciência mutilada por isso?
Que coisa tosca, não?
Vivemos para partir e só isso.
Somos... Eu já não sei em quantos estamos. Não sei quem somos, isso está me enlouquecendo!
Somos apenas os velhos garotos de Raven town.
Os garotos de Raven town... Tsc.
Foda-se Raven Town!

— Lance Brad

Quando os sacos de fritas e os engradados de refrigerante acabaram, os garotos levantaram mais cedo, recolheram as mochilas vazias, fizeram uma fila e foram em busca de qualquer coisa, mais ou menos comestível, que ainda não houvesse passado da validade. Lance fora o último a sair do ônibus e o único a se perguntar se Eden já havia voltado do “passeio” após toda aquela baderna sobre fantasmas voltando dos mortos.

Eden não é o único a acreditar em fantasmas, muito menos o único a sentir medo deles — ou compaixão. Todos ali tem uma razão para acreditar que os companheiros desaparecidos ainda voltarão dos mortos, para existir e persistir por mais alguns — muitos — anos. Mas, desde o sumiço de Leo, as coisas não são exatamente as mesmas. Não que os desaparecimentos de Maxfield e Dylan não sejam sentidos, pelo contrário, a partida deles ainda dói muito em cada um dos garotos. Entretanto, após a “ida” de Leo, a ficha caiu por inteiro, todas as fichas caíram, tudo, de uma só vez. A esperança apagou-se, extinguiu-se, se desfez... Aqueles garotos que buscavam por respostas estão quase extintos, quase. Há algo que os faz continuar, algo minúsculo, invisível e inacessível que os faz querer continuar a procurar a resposta para todos esses sumiços. Essa resposta, que talvez não exista, é a única coisa que os mantém ali, de pé, nas ruas frias de Raven Town.

Johann entrou numa casa que estava aberta, acendeu as luzes e vasculhou tudo por dentro enquanto Craig tentava se manter parado num só lugar. Lance esperou pelos dois, sentado no parapeito da janela, batendo os pés na parede azul como crianças fazem quando são pequenas de mais para alcançar o chão estando numa certa altura. Johann faz os mais diversos barulhos possíveis, mexendo nos sofás e erguendo os potes. A barulheira poderia acordar boa parte da vizinhança, se ainda existisse uma.