Julgada pelo falso Deus

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P.O.V.

Aquele homem sobre mim, eu via seus olhos brilhantes, tão intensos que chegavam a me causar certa ânsia pela hora de mudar de cliente. Já haviam sido mais de cinco naquela noite... estava muito cansada para perceber o que estava por vir.

Sentindo as mãos percorrerem meu corpo inteiro, famigeradas mãos, famintas, sedentas por um corpo mulheril. Eu sentia prazer... muito prazer. O primeiro homem naquela noite que se deu o trabalho de tentar me fazer sentir algo, com carícias, palavras de baixo calão e esfregadas suntuosas contra minhas coxas e nádegas.

Eu podia sentir seu membro rijo, prestes a rasgar a calça do terno elegante. Ele usava a capa para cobrir-nos durante aquele ato indecente. Podia ouvir o "tic-tac" de seu relógio de bolso. Creio que faltava pouco para alcançar três da matina.

Foi aí que o inferno começou...

Ouvi um barulho metálico e em seguida, ainda com o pênis roçando em minha bunda, senti dor. Era estridente, latente, recorrente. O sangue escorreu e eu arregalei meus olhos, levando uma das mãos até a ferida. Foi quando eu finalmente percebi o que estava acontecendo: estava sendo esfaqueada.

Contra a parede, eu não podia fugir, gritar, pedir socorro ou sequer morrer em paz, em meio à dor. Ele me jogou no chão, subindo sobre mim em seguida, erguendo minhas pernas e pondo-as sobre seus ombros. Minha visão ficou turva e eu só ouvia sua voz.

"Não se preocupe, não existe um Deus para te julgar após a morte!"

Eu tentei pedir para que ele parasse, mas a dor era tão grande que sequer saía som de minhas cordas vocais. Eu sentia o membro, duro como pedra, estava entrando numa extremidade nova, uma que ele mesmo havia aberto com a faca, que, aliás, estava muito afiada.

A lâmina faminta estava com anseio por sangue fresco. Tal qual eu provia naturalmente a cada nova facada, tendo diversos pontos hemorrágicos. Ele ria, gargalhava e gemia de prazer, falava o quão linda eu estava naquela posição comprometedora.

Por fim, tudo escureceu. Ainda podia sentir a faca penetrando meu corpo em todos os lugares que ele conseguia, felizmente meu sussurro de paz chegou em um êxtase de prazer, um ápice atingido por ele... e tão somente ele.

Meu mais novo nêmesis. Um inimigo que eu sequer tinha conhecimento sobre. Não poderia imaginar o quanto ele poderia ser perigoso...

Com a fala mansa...

O toque macio...

A boca aveludada...

Braços fortes...

Elegância...

Quem poderia imaginar que ele, tão formidável e convidativo, fosse estripar-me tão friamente...

Esse foi só o início do inferno que estava por vir.

JACK - Livro Um [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora