Capítulo XII

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A mão estava tremendo, a respiração pesada, aquela chuva pesada que parecia que ainda duraria muito mais tempo deixava tudo um pouco mais difícil, Victória olhou diretamente para seu pai com o dedo já no gatilho preparada para disparar, a raiva que sentia dele por tê-la deixado ali era enorme, era algo que ela mesmo não conseguia controlar.

Alan não sabia para onde ir, queria apenas encontrar sua filha, mal ele sabia que estava tão perto e correndo um risco tão imenso de morrer, a sua volta só o barulho da chuva prevalecia.

- Victória, cadê você minha filha!

Ele chamou uma, duas, três vezes, parou olhando a sua volta, seus olhos foram na direção em que Victória estava, mas ele não conseguiu ver nada, ela havia afastado da entrada para que ele não a visse, quando ela voltou o olhar para seu pais ela já tinha abaixado a arma, mas continuava com as mãos firmes e pronta para atirar naquele que a deixou para morrer.

Seu pai começou a caminhar na chuva e gritando mais pelo nome da filha, Victória não viu outra alternativa a não ser sair de onde estava e atirar na direção de seu pai, o som ecoou por toda a cidade, chamando a atenção de todos que ali estavam, os que ainda estavam vivos correram para perto do banco, esperando encontrar Victória. Dentro do cofre Marta escutou o tiro muito baixo, devido a espessura das paredes e da porta de ferro.

Marta não estava aguentando muito mais tempo ali dentro, a falta de ar e o calor pareciam deixar tudo bem mais difícil, ela se arrastou para fora dali entrando no túnel e buscando se esforçar bem menos do que já estava fazendo para não ter um desgaste tão grande e acabar desmaiando dentro do túnel. Ela conseguiu sair no mesmo estabelecimento que Victória se encontrava, assim que ela saiu acabou caindo do túnel, todas as passagens tinha uma certa altura do chão, essa altura fez com que Marta tivesse uma leve queda, nesse mesmo instante ela sente mais dores que vinham de seu útero, a dificuldade dela foi causada única e exclusivamente pelo fato de seu sentimento por Marco que fez pouco caso dela, agora ali estava ela estirada no chão sentindo fortes dores que jamais tinha sentido em sua trajetória de treinos físicos que era parte do sua rotina diária.

O grito de dor que ela emitiu fez Victória virar seus olhos para a entrada do alçapão que tinha no centro do estabelecimento, sua atenção voltou toda para aquele pequeno quadrado feito no chão para ser uma passagem que levaria até os túneis por baixo da cidade, passado alguns segundos de atenção, ela virou seus olhos na direção de seu pai que estava ali estático sem saber o porque que ela tinha atirado em sua direção, foi então que ela gritou para ele.

- Pai, corre!

A mão da garota apontou para a padaria bem atrás dele, onde estirado no chão se encontrava Marco, Victória acertou o Lacrano bem no momento que ele saltava do alto da padaria para atacar seu pai, ele começou a correr depois de ver que a criatura não tinha morrido, Marco se levantou com um furo feito pela bala bem onde estaria seu coração, como ela sabia que qualquer coisa que atingisse o coração dessas criaturas era uma ajuda para retardar e ter mais tempo para escapar ela aproveitou, mesmo que isso remetesse a dias atrás quando viu sua amiga ter os membros de seu corpo arrancados e devorados pelos Lacranos.

- Pai, vai para o subsolo rápido.

Alan estava tão feliz que estava vendo sua filha viva que não queria sair de perto dela, mesmo que ela empurrasse ele algumas vezes, fazendo uma pequena discussão começar para fazê-lo descer e se manter a salvo.

- Minha filha!

Victória escuta uma voz feminina a chamando, quando ela olha para o lado de fora novamente vê sua mãe chegando por outra rua, bem a frente de Marco que agora já recuperado se erguia atrás de Joana Lorenzo.

Victória viu aquela cena acontecendo mais uma vez, só que agora muito pior, ela tentou mirar na criatura antes que ele pudesse fazer algo com sua mãe, mas era em vão, uma das mãos de Marco havia atravessado o peito da mulher que olhou para baixo já vendo seu sangue escorrer, a outra mão do Lacrano segurou a cabeça dela e com força bruta girou para o lado fazendo o pescoço quebrar, nessa hora Victória começa a chorar e Alan sai correndo na direção de sua mulher para tentar salvá-la.

- Não vá!

Assim que as palavras foram ditas pela menina o líder dos Lacranos salta de cima do estabelecimento onde Victória se encontrava na direção do pai da menina que gritava e corria na direção da mulher já morta, quando ela vê aquela cena ela começa a disparar até que sua arma descarregue, acertando três tiros nas costas do líder que parou olhando para Victória, o som da arma chamou a sua atenção, os tiros não atingiram locais que fizessem ele cair ou mesmo o deixar mais lento.

Esquecendo o pai da menina o líder seguiu na direção dela deixando que Marco resolvesse a situação onde estava, fazendo Victória não ter outra alternativa a não ser correr para o subsolo onde Marta se encontrava sentindo dores. O líder chegou quase a conseguir alcançar a menina, por pouco, cerca de segundos ela não é pega pelo líder que agora sabia onde ela estava, o som do facão que estava na cintura dela bateu bem no chão onde ela tinha entrado, ele estava bem em cima da tampa feita pela menina, ele golpeava várias vezes tentando arrebentar o que estava o impedindo de prosseguir na captura de seu alvo.

- Seu maldito, Vai morrer pelo que fez!

Alan gritou com a criatura enquanto desferia uma sequência de socos e chutes, Julius Mortiz, Magnólia Sind chegaram na hora que Alan batia na criatura, ambos viram Joana morta bem ali perto deles, não esperaram para perguntar o que aconteceu, Julius correu os olhos em volta e achou uma barra de ferro que logo pegou e foi para cima do Lacrano, Magnólia que estava com mais medo do que coragem naquele momento só teve a reação de gritar e chorar sob a chuva que estava caindo.

Um raio desceu atingindo o chão cerca de três metros de onde estavam os três vivos brigando e o corpo de Joana já sem vida. Ambos os homens batiam com muita força na criatura, que parecia lutar para se levantar, sem conseguir muito, sempre que apoiava suas mãos para levantar era atingido por um chute que o fazia cair mais uma vez. Julius começou a dar pancadas com a barra de ferro na cabeça de Marco, a cada golpe certeiro a cabeça do atingido chocava com o chão voltando a subir e ficar no ar para receber mais uma pancada, feridas eram abertas e logo cicatrizavam, os homens começaram a cansar de tanto bater. Quando a criatura viu que já não era atingido por tantos golpes e os que o atingiam não eram tão fortes ele levou uma de suas mãos segurou na perna de Julius que fincou a barra de ferro bem no tórax de Marco que emitiu um som agudo e estridente fazendo com que Alan, Julius e Magnólia tapasse os ouvidos e se afastassem um pouco.

O lacrano levanta com a barra de ferro na mão e com extrema força acerta a cabeça de Julius que logo vem ao chão, o barulho do ferro atingindo a cabeça do homem chegou a ser alto o bastante para que os outros dois escutassem, a criatura arrancou a cabeça do homem com as mãos e a jogou na direção dos choros que escutava, acertou as pernas de Magnólia que quando viu aquilo deu um grito e com um pulo saiu de onde estava, voltando a correr. Alan apenas se abaixou tampando os ouvidos, o som tinha causado um pequeno dano para ele, já que depois de ter saído da cidade, cerca de cinco anos depois, ele contraiu uma doença que veio a prejudicar sua audição e por isso usava um pequeno aparelho, que estourou devido a intensidade do som captado do grito emitido por Marco.

O lacaio seguiu na direção de Magnólia, Alan viu aquilo e lembrou de sua filha, se virou para ir até o açougue que tinha na cidade, era exatamente onde se encontrava Marta e Victória no subsolo e o líder dos Lacranos dando pancadas para tentar entrar onde Victória tinha passado para fugir dele.

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