Imortais

Prólogo

1875

Londres, Inglaterra

O homem se postava diante do corpo da amada, completamente carbonizado. Ele tremia, sem acreditar no que seus olhos registravam. O cheiro azedo de queimado invadia suas narinas, enchendo seus olhos de lágrimas. O corpo ainda fulmegava, irreconhecível. Os cabelos, que anteriormente foram loiros, dourados como fios de ouro, agora jaziam em uma mistura de cinzas e tufos queimados irregulares. Aquilo não podia estar acontecendo com ele...

A casa da família nunca mais seria vista do mesmo modo. Os móveis rústicos, de madeira, os lindos vitrais nas paredes... Tudo lembrava ao mesmo, um tipo de filme de terror, onde ele era o protagonista. A janela do cômodo ainda estava quebrada, com a marca do assassino. Cacos de vidro se espalhavam por toda sala, dando a ela, um aspecto mais sinistro.

Os irmãos do homem se postavam perto dele, por ordem de nascimento. É claro que não eram irmãos de sangue, eles eram imortais, a fraternidade deles vinha da alma. Todos nascidos no mesmo século, o que os tornava irmãos de imortalidade. Os Taylor.

—Abel?— Perguntou o mais velho, Edwin, colocando a mão direita sobre o ombro do irmão— Nós iremos encontrar o responsável.

Abel empurrou o irmão, o surpreendendo. Seus olhos, outrora cheios de lágrimas, pareciam flamejar. Todos os Taylor se afastaram, dando um passo para trás involuntariamente. O cheiro de queimado no ambiente parecia ainda pior, enquanto a temperatura subia drasticamente. Em segundos, todos os Taylor estavam suando. Era como se tivessem aumentado 20 C° de uma vez na sala. Os Taylor nunca haviam visto o irmão irritado.

O rosto de Abel parecia se contorcer de dor, não apenas pela dor da perda... mas também dor física. Foi então que o sistema de evolução dos Taylor se demonstrou. Assim como o lema deles, seus poderes renasciam das cinzas, recebendo um novo, a cada situação de cinzas em sua vida... Como muita dor, perda ou perigo real de morte. Aquela era uma delas, com toda certeza.

Das costas do homem, um jato de chamas surgiu imediatamente, lambendo a parte de trás de suas roupas e tomando forma aos poucos. Em poucos segundos, os jatos se tornaram asas. Lindas asas, feitas de fogo. As labaredas pareciam dançar conforme o humor do mesmo, parecendo cada vez mais agitadas, devido a fúria que ele exibia. Suas asas bateram uma vez, espalhando as cinzas pelo lugar.

O fogo se espalhava por tudo, queimando os móveis e destruindo todos os pertences dos Taylor lentamente. Sebastian soltou um ruído quase inaudível, estendendo suas mãos ao fogo, tentando impedir que o fogo de seu irmão destruísse todas as suas pesquisas. Não podia deixar que um ato de fúria de Abel colocasse tudo a perder.

—Estais louco, irmão?— disse Sebastian, com os olhos arregalados, enquanto usava seus poderes para atrasar as chamas, enquanto recolhia seus livros— Sabes que isso é tudo que conhecemos sobre o criador. Se destruir-te toda minha vida, eu o mataria!

—A sua busca sem sentido pelo criador é estúpida, irmão! — diz Edwin— Ninguém o vê desde o início dos tempos, ele não irá aparecer agora.

Abel bate as asas mais uma vez, lançando uma rajada mista de fogo e ar, que lança os irmãos para trás. Ele estava farto de toda aquela briga. Ele havia perdido a mulher com quem havia planejado viver o resto da vida. Agora, a busca pela imortalidade de Sebastian já não lhe parecia tão interessante. Na verdade, era o completo oposto disso. Abel queria morrer, mas sabia que não podia.

— Seu energúmeno estúpido!— Pragueja Edwin— Me ameace novamente e eu não me importaria de triturar você, mesmo que esteja de luto!

—Você deveria variar o vocabulário.— Murmurou Sebastian— Dentro de duas discussões, você usou estúpido mais de uma vez, isso é um pouco vergonhoso...

—Calem-se, não me importa se o criador está vivo, nem qual de vocês é estúpido. Eu não quero mais a chave da imortalidade, quero a chave da mortalidade.— diz Abel— Os imortais acabam com a gente.