Drogas? Que droga!

131 8 2
                                    


Está um dia lindo lá fora, apesar de saber que  está muito frio, mas minha casa me ajuda neste sentido. Aqui não temos paredes de alvenaria, tudo aqui é vidro, então posso ter uma linda visão de todo verde que me cerca. Bem, está um dia lindo pra escrever, e até mesmo a saudade de minha querida mãe, coloca em meu peito um sentimento bom e inspirador.

Quero descrever alguns momentos que tive em contato com este mundo e seus manjares, prazeres enganosos que matam aos poucos, sem a gente perceber.

Dizem que todo filho de pastor é problemático, não acredito nisso, mas dei muita dor de cabeça pros meus pais. Não acredito nesta estatística falha pois não vejo o ministério como algo sofrido ou mesmo uma condenação, vejo o ministério como uma honra, uma dádiva e escolha de Deus. Ser chamado para o ministério é ser escolhido a dedo por Aquele que nos constituiu e confiou uma tarefa importante, cuidar dos Seus.

Mas vamos à história.

Na época dos meus serviços militares me envolvi com todo tipo de pessoas, era um aglomerado de gente, de todos os credos e comportamentos. Tentei me manter ao máximo, guardar os ensinamentos que tive desde pequeno, mas ao me deparar com situações em que meu comportamento definia a maneira com que seria tratado pelos colegas e até superiores, sucumbi à tentação, me envolvendo com drogas. 

Mas o processo foi sutil, tudo começa com as conversas, determinados papos despertam curiosidades, e estas quando alimentadas dão margem a experiências boas ou ruins. Algumas experiências boas, que na verdade são ruins, geram os comportamentos, aí você foi pego. Por isso. Em 1 Cor. 15:33 está escrito: Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes. 

Jamais quero tirar de mim a responsabilidade, afinal um homem que tem idade pra pegar numa arma e tirar a vida alheia em uma guerra, deve ter poder de escolha. Fui fraco e não tenho problemas em assumir, assim como tenho a alegria de dizer que fui homem pra deixar tudo pra trás.

Não digo que estava viciado, eu realmente não sentia isso, mas como a maioria das pessoas em situação de vício, a fuga é dizer que a gente tem o controle da situação, até não ter mais. A vida de meus pais desabou emocionalmente, não os via mais sorrir, oravam o tempo todo por mim, que revestido de orgulho fazia que não entendia o que estava acontecendo, queria mostrar que estava tudo bem, mas pra eles não estava, e realmente nada estava bem.

Eu fiz amizades na região, conheci uma "galera" envolvida na cocaína, pessoas que cresceram comigo, agora entravam em casa quando meus pais não estavam, pra usar drogas comigo. Algumas destas pessoas não estão mais vivas, outras estão na igreja, meu pai pediu que eu ficasse na casa de meu primo, mas não sentiu segurança em me deixar distante e me pediu pra que voltasse na mesma semana, foi o que fiz.

Me lembro de uma noite em que estava com um colega, queríamos usar cocaína mas o dinheiro tinha acabado. Ele me levou num beco onde ficamos à espreita, e quando um rapaz estava passando o colega o abordou com o dedo por dentro da camisa, tirando-lhe algum dinheiro. Eu estava o tempo todo incomodado, não queria aquilo. Éramos "moleques" brincando com coisa séria, e meus primeiros sinais de descontentamento com aquela vida já apareciam. 

Aquela vida não combinava comigo, eu não falava daquele jeito, não me comportava daquela maneira, nem tinha essa coragem toda, morria de medo de tudo e todos. Hoje percebo que tem muita gente que você não imagina, mas por trás de gente com as melhores aparências existe um viciado sofrendo por algo, seja pornografia, álcool, drogas, jogatina etc...

Numa outra ocasião cheguei a entrar por uma comunidade sozinho pra comprar droga, tinha uma viagem com meus tios para o litoral paulista. Somente lá na praia, dentro de um banheiro público usando cocaína a "ficha" caiu. Eu estava viciado. Meu mundo desabou, me senti fraco sem o controle do qual me gabava tanto.

Numa noite cheguei em casa, estava muito mal, meus pais na sala orando de joelhos, meu coração se comoveu, mas o orgulho não me permitiu ficar por muito tempo ali, subi pro meu quarto onde fiquei e naquela noite aconteceu o milagre. Não foi uma noite muito boa, mas acordei decidido a não mais fazer parte daquilo. Foi quando deixei as drogas.

Mas anos depois, toquei na noite paulista, e não resisti por muito tempo. Tive uma recaída, mas apenas uma pessoa sabia disso, um amigo chamado Flávio, com quem toquei na banda Katsbarnea por anos. Desta vez surgiu o boato nos bastidores da Igreja, e enquanto alguns "amigos" falavam de mim pelos cantos, a querida bispa Sônia me ligou pedindo que voltasse a tocar no Renascer Praise.

Fazia um ano que eu não estava mais com eles, houve um tempo de recessão e fui um dos demitidos, mas não me coloco na posição de acusador, entendo o momento, e sinceramente acredito que não merecia ficar devido ao meu comportamento dentro do grupo. Na época as coisas não estavam mais como antes, eu estava descontente com algo que não me lembro, e como jovem imaturo que era, fazia as coisas relaxadamente. 

O fato é que ela me chamou pra perto novamente, e fui correndo, voltei à ativa e deixei as drogas novamente.

Eu sempre soube que minha história foi escrita por Deus, e a educação que tive nos caminhos de Deus era latente. E de fato todas as palavras que ouvi, os conselhos de meus pais, as mensagens que ouvi, todo ensinamento veio à tona e hoje posso dizer que sou um homem completo, pois assumi o chamado de Deus em minha vida, que pra mim é mais forte que todas as formações e aptidões. 

Entendo que tudo o que tenho aprendido no ministério Pastoral, na música, no coaching, no empreendedorismo digital e outras coisas, tudo isso são ferramentas que Ele me concedeu pra usar em Sua causa, e é isso que tenho feito. 


Meus contosOnde histórias criam vida. Descubra agora