Meus contos

Entrega

Pra me aproximar de Ti tenho que me afastar de mim
Para engrandecer Teu nome tenho que me esquecer do meu
É preciso matar o meu ego, é preciso morrer para o mundo
É preciso dominar a carne, me santificar em Teu altar

Para ouvir a Tua voz é preciso me calar
Sacrifício de louvor, minha vida em Teu altar
Pois eu sei que seu Tua graça, sem Tua graça eu nada sou
Por isso é que eu te clamo, dependo de Ti

Me aceita, me toca, minha vida renova
Eu Te ofereço minha vida em louvor
De hoje pra sempre eu não mais serei o mesmo
Me entrego corpo e alma para Ti.

-----------

De onde eu tiraria uma letra dessas?  Vamos do princípio.

Como você já deve saber, pertenci à Igreja Renascer, e também do grupo Renascer Praise por cerca de vinte e cinco anos. Com eles eu gravei quase todos os CDs e DVDs, viajamos por muitos países e conhecemos quase todos os estados brasileiros. Também nos apresentamos para públicos de mais de um milhão de pessoas nos eventos conhecidos como "Marcha para Jesus".

Mas o que muita gente não sabe é que não compartilhávamos do aparente "glamour" que somente a liderança do grupo desfrutava, a saber a própria bispa Sônia, uma pessoa maravilhosa que me ajudou muito em minha carreira e ministério. 

Não estou aqui pra julgar, muito menos condenar este tipo de diferença  em alguns Grupos de música evangélica, afinal de contas, como diz o ditado: "O combinado não é caro". O que quero dizer com isso é que se eu e meus irmãos do grupo nos submetemos por espontânea vontade, concordando com um determinado salário e os benefícios por ele oferecidos, não temos o direito de reclamar, muito pelo contrário, devemos nos apegar à oportunidade e fazer dela o nosso melhor, e que isso lhe sirva de conselho para uma futura contratação. 

Mas vamos ao que de fato interessa, a história da música Entrega.

O processo de produção do DVD de número 16 do grupo já estava avançado, na verdade faltavam duas semanas para o dia da gravação, e cerca de dez pessoas do grupo se manifestaram dizendo que estavam de saída do grupo. Imagine a cabeça dos pastores, menos de quinze dias para o evento, e perdendo quase todo o time de músicos. 

Ao ser convidado, preferi ficar. Ficar pra ajudar, pois sabia que as coisas iriam piorar por uns tempos, e não fui educado pra abandonar o barco, fiz minha parte juntamente com os que permaneceram, ou mesmo que não foram convidados. 

Chegou o dia da gravação, e todos aqueles músicos que sairiam, estavam presentes para " ajudar ", mas isso causou um certo constrangimento, e forma que a ordem dada a toda equipe de filmagem foi: "evitem os músicos".

De fato achei estranho todas aquelas câmeras apontadas pra todos os lados, menos pra gente, mas o evento foi sensacional, e nos apegamos a isso. Mas passado o tempo da pós produção, viajamos ao Rio de Janeiro para fazer a "audição" do DVD já pronto. 

As coisas foram ficando tensas pra mim à medida que as músicas passavam e eu não me via. Confesso que, naquela época, este era meu senso de "honra", ser reconhecido, agradecido, elogiado e todos os demais reconhecimentos humanos. Isso não aconteceu, minha imagem em momento algum apareceu, não somente minha, mas de todos os outros músicos de quem a nossa liderança não tinha 100% de confiabilidade.

A música foi escrita em um momento de dor, momento em que eu estava triste e, aos prantos, chorava pedindo a Deus algum tipo de resposta. Não sei dizer qual seria o tipo de resposta que me confortaria naquele momento, afinal o DVD já estava à venda, não tinha nada que se pudesse fazer.

Mas mesmo assim, Deus ouviu minha oração, dando-me, ao meu ver, a minha melhor letra.

Naquele momento de dor, pude ressignificar tudo o que acontecia, entender o que se passava no coração dos meus pastores, perceber que toda honra que eu buscava, quando humana, jamais me satisfaria. Me alegrei e fui dormir.

O resto do processo foi natural, meu ânimo foi melhorando, aquela "cara mal humorada" trocada por um semblante mais alegre, e continuamos nossa jornada, fazendo a obra de Deus.