Música, como cheguei até aqui.

93 9 5
                                    


A paixão pela música simplesmente aconteceu. Eu ainda era criança de onze anos quando frequentávamos uma igreja Batista em nossa região, Vila Penteado em São Paulo.

Me lembro do meu Tio Cid Tambasco tocando seu violão com tanto carinho e perfeição, eu queria ser como ele, me orgulhava em ser seu sobrinho, vivia na garupa de sua moto e queria estar sempre por perto dele.

Imagine uma comunidade inteira cantando e você responsável por conduzir tudo aquilo! Pra mim era um sonho, tio Cid sempre foi meu herói, e continua sendo até hoje. Devo tudo a ele.

Um fato interessante, à medida com que o meu tio criava seus discípulos, a fila de violonistas aumentava, mas a gente não revezava, ele simplesmente colocava todo mundo pra tocar ao seu lado e o resultado era muito bom.

Me lembro de dias em que tocávamos entre cinco e sete violões, mas era ele quem nos conduzia naquela sonoridade meio "Gipsi Kings" aos cultos de domingo. Se ele não estivesse, ninguém teria coragem de tocar.

Tinha também o irmão Viriato, sogro do pastor, que tocava seu violino maravilhosamente. Irmão Viriato não se importava que tocássemos ao seu lado, desde que nos assentássemos na ponta do banco, era a postura correta. Como ele era exigente, talvez isso tenha contribuído mais à frente.

Meu pai me deu um contra-baixo, e outro tio, Lazaro Sabino, que tocou em uma banda de rock me ensinou a afinação das cordas, o resto foi intuitivo.

Eu era fan de uns caras de outra igreja Batista, naquela época as igrejas promoviam encontros, conferencias e confraternizações, concorrência quase zero.

Conheci outro rapaz que roubava a cena, seu nome é Joilson, hoje pastor de uma igreja O Brasil para Cristo.

Joilson foi minha segunda grande influencia, principalmente depois que o meu tio entrou na fase do namoro e deu aquela sumida basica.

Eli também foi um cara que apareceu na igreja tocando um violão, ele fazia um riff do Vencedores por Cristo, isso me encantou, e logo "colei" no cara.

Bem, tive minhas influencias como todo mundo, mas meu desenvolvimento na música começou a evoluir rapidamente de forma que em alguns anos já era o guitarrista solo da banda do Joilson.

Veio a renovação espiritual, não havia mais lugar pra nós na igreja tradicional, e meu pai iniciou os cultos no quintal de casa, depois de ter ouvido o chamado ministerial. Estes cultos se transformaram na igreja da qual hoje sou um dos pastores.

Na época do exercito, tempo de muita agitação, me envolvi com drogas e acabei trazendo muita tristeza pra minha casa.

Meu pai chegou a entregar o "púlpito" para o seu co-pastor para intensificar sua comunhão com Deus naquele tempo, que durou apenas duas semanas, Deus realmente ouviu seu clamor e eu deixei aquela vida.

Ao deixar as coisas erradas recebi um convite pra fazer um teste em uma banda chamada Trôad, da igreja renascer. Fiz o teste e passei, mas no dia de tocar minhas pernas tremiam tanto de medo que errei todo o solo que passei dias praticando com meu amigo Robinho. Não era pra menos, tratava-se do SOS da vida, um evento emergente que durou mais de uma decada.

Não sei o que os caras do Katsbarnea viram em mim, mas me chamaram pra tocar com eles e deixei o Trôad.

Foi um período bom com eles, até que um guitarrista super renomado aceitou a Cristo e logo o convidaram pra banda. Quem imaginaria que eu tocaria com o Tomati, isso mesmo o Tomati do Jô.

Anos depois a gente chegou a dividir os pequenos e agitados palcos da noite paulista.

O fato é que eu simplesmente não existia perto dele, não por ele, que me dava muitas dicas e me tratava com carinho, mas era a minha auto estima que caia a cada evento juntos.

O Brother Simion pegava muito no meu pé, pra que eu melhorasse, mas em poucos meses, depois de um ensaio onde fui literalmente humilhado, resolvi sair. Mas saí pra voltar depois, esse era o meu foco.

Estudei por um ano incessantemente até que veio o convite, e depois de fazer aquele charme, voltei com tudo pra banda.

Tivemos bons momentos juntos, viajamos pelo pais inteiro fazendo shows e durante este tempo também entrei para o Renascer Praise.

Minha formação foi essa, uma mistura de artista gospel com aprendiz de adorador, mas de fato não sabia o que era adorar.

Minha vida era cem por cento artística, mas pelo menos tinha deixado as drogas, e para os meus pais, melhor em outra igreja do que longe dos caminhos do Senhor. Mas no fundo sabíamos que nosso tempo de reencontro chegaria.

Montamos uma banda a qual chamamos Anno Domini, e foi a entrada do meu irmão Duca no cenário. Depois que terminamos com a banda o pessoal do Oficina G3 precisou de um baixista e me ligaram pedindo a minha benção. Calma, eu explico. Foi uma atitude muito ética da parte do então baterista, Walter. Como a gente tocava junto, ele me ligou pra saber se teria problema se chamasse meu irmão, claro que aceitei, foi um orgulho pra mim.

Aos poucos meu nome foi crescendo no cenário gospel, e usei isso ao meu favor dando aulas de guitarra, gravando meu primeiro CD solo, até que em 2005 entrei pra uma grande gravadora do Rio de Janeiro chamada MK.

Teria sido o início de um grande trabalho, mas além de entrar para o Oficina G3 como guitarrista base, ainda não dei o foco devido à minha condição de artista da gravadora. O resultado foi um primeiro e último CD e por mais que tenha me tornado conhecido em mais lugares ainda, não consegui me manter na gravadora, então literalmente pedi pra sair.

Continuei no Oficina por tres anos, e depois voltei para a Igreja renascer entrando também no Katsbarnea. Não sei explicar por que eu ainda insistia nessa banda.

Anos depois, já ocupando um cargo de gerente do estúdio da igreja, meu coração começou uma fase de transição. Eu já não queria mais ser estrela de nenhum show, queria engrandecer o nome de Deus através da adoração, mas não sabia como.

Depois de deixar tudo pra traz meu primeiro evento foi um seminário de adoração, e o que eu disse para aquelas pessoas foi:

"Eu não sei o que estou fazendo aqui, não sei o que falar pra vocês fazerem, mas eu posso começar falando o que vocês devem evitar se quiserem ser de fato adoradores".

Foi o melhor evento da minha vida, o primeiro de muitos, as portas se abriram de tal forma que eu fiz mais em um ano do que tinha feito em todo tempo no meio gospel, e estamos falando de vinte e cinco anos.

Meu chamado pastoral veio no meio disso tudo. Eu sempre soube que seria como meu pai, pois aspirava ser como ele. Meu pai pra mim representa a figura de Cristo, pois é um homem que abriu mão de tudo pra servir a Deus e ao próximo, quando senti a necessidade de ser um adorador e usar minha musica pra isso, logo me apeguei à figura de meu pai, e o chamado de Deus se concretizou em minha vida.

Vou falar mais disso em outro capitulo.

Nunca desmereço o meu tempo na igreja Renascer, sou amigo do apostolo Estevan até hoje, e sempre que ele me chama estou pronto a servir ao seu lado.

Sempre digo que o problema estava em mim, me deixei levar pela emoção, e a baixa auto estima me levou a um estado de soberba muito grande, mas Deus teve misericórdia de mim, e no momento certo me trouxe à razão.

Hoje a musica ocupa em minha vida o papel que eu tenho sonhado há algum tempo.

Minha profissão hoje é o Coaching, e tenho trabalhado justamente com artistas e líderes, e a musica se tornou robbie e ministério. Mas não deixo de gravar meus CDs, fazer minhas apresentações e projetos como Folk, Firmamento ( com meu irmão Duca ) etc...

Me perdoe se esqueci de alguma coisa, afinal são trinta anos de experiência, mas com certeza vou contar mais histórias sobre música em outros capítulos.

Meus contosOnde histórias criam vida. Descubra agora