Charles Martins era apenas um garotinho autista, específicamente savant, e faria nove anos à partir daquela meia noite. Possuía uma cabeleira dourada e um par de olhos azuis muito profundos e vidrados, que cintilavam como duas aquamarines através da janela da sala, a procura de entender o que poderia ser aquilo que estava perturbando o ambiente tão silencioso e calmo da Rua Pedra Do Sol, uma das vinte e sete não pavimentadas que formavam o pequeno e unido vilarejo de Piltor. Estava intensamente interessado nas vibrações e ondas que emanavam do outro lado da rua, vindo de uma coisa grande e marrom, de onde um estranho sujeito entrava e saía, sendo que nenhum dos dois, nem a coisa grande e marrom, nem o sujeito havia estado ali antes para Charles.
Na verdade, ninguém pisava naquela casa nos últimos treze anos. Aquilo, no entanto, estava sendo a coisa mais misteriosa e ainda assim, a que fazia mais sentido entre tudo o que Charles já havia presenciado em sua curta vida no esquecido vilarejo de Piltor, o lugar pacato que era exatamente o que Natã precisava naquele momento: não havia mais do que mil pessoas que se conheciam e interagiam há gerações naquele lugar, e isso criava no ambiente a sensação de se estar circulando entre as casas de uma mesma grande família. As casas variavam entre as simples de barro e madeira, chalés de alvenaria e casarões em estilo barroco, todos em ótimo estado.
O cenário em volta era sem dúvida uma das chaves para o pequeno vilarejo ser tão pacífico e unido: ficava num vale entre belíssimas colinas verdes, banhado por um clima tropical e cruzado por um rio, chamado Rio Sibilina, em homenagem a uma índia considerada heroína pelos moradores por sacrificar-se, quase dois séculos antes, em nome da igualdade e respeito, o que acabou definindo a pedra angular do que seria Piltor. Uma história que tornava o vilarejo ainda mais místico e digno de ser amado por seus habitantes.
Acontece que Natã havia se perdido uma vez, quando estava indo acampar e acabou saindo ali. Jamais esqueceu as histórias incríveis que ouviu e menos ainda de como o povo havia sido acolhedor e como as pessoas pareciam muito felizes e dispostas. Por isso, quando decidiu que precisava de um tempo recluso para compor sua música, o vilarejo de Piltor foi sua primeira e única opção. Amém!
A casa onde passaria sua temporada de trinta dias era um belo chalé cor de areia, com um quintal amplo e gramado. Foi com grande sorriso no rosto que Natã estacionou seu furgão marrom, uma réplica por dentro e por fora do de Jack Black em Escola De Rock.
Parou sobre a grama e aumentou ainda mais o som, além de escancarar as portas, para deixar que Carrouselambra do Led Zeppelin ecoasse, agitando os pacíficos ares da região.
Desceu do carro, tirou botas e meias e desfrutou da macies do gramado e do calor purificador do Sol.
Natã era um rapaz pálido e atlético com um rosto que expressava muita esperteza. Sempre estava usando jeans azul, coturnos de couro e camisa regata preta. Começou a descarregar seus instrumentos. Tocava teclado e flauta, mas sua paixão era seu baixo de seis cordas e o dom que tinha para compor letras e melodias. Estava passando por uma fase demasiada complexa em sua vida, onde após dois álbuns de pouco sucesso, teve certeza que uns dias no campo e estar em contato em tempo integral com a natureza, era o que precisava para encontrar a inspiração necessária que o levaria ao tão almejado topo.
Muito depois do Sol ter se posto e a música cessado, permitindo os grilos e vento nas árvores fazerem seu concerto habitual, Charles ainda permanecia parado frente à janela esperando, quase sem piscar, que "as vibrações" surgissem novamente. Como Adriano, seu irmão um ano mais novo, contaria mais tarde, Charles ficou "estático na janela à tarde inteira e talvez a noite inteira também, se deixassem. Só ficava assim com estrela e trovão. Nunca tinha ouvido música tão alta e tão... Tão... Bem... Era o Led Zeppelin entende?!!".
O pai deles, Sebastião Martins, um homem pouco estudado e que jamais entendera o filho, via Charles como um tipo de estorvo, e para completar estava desempregado, sentindo-se uma constante pilha de nervos por ter de ficar em casa cuidando "daquilo", como costumava referir-se a Charles para os amigos. Adriano não irritava nem orgulhava o pai, era simplesmente ignorado, ao que ele era bastante grato. Não gostaria de receber a atenção que o pai dispensava a Charles.
Sebastião aproximou-se do garoto ainda estático em frente há janela:
-Que você tá olhando aí fora? –E se inclinou para ver o que havia na rua.
-O que tem aqui seu louco? –Perguntou mais bruscamente. O garoto, como sempre, respondeu em seu tom pausado habitual, a única coisa que sabia pronunciar:
-Charles... Martins! –Isso costumava irritar ainda mais Sebastião. Charles caiu à quase um metro de distância, tamanha força Sebastião empenhara no tapa em sua cabeça. Charles franziu um pouco o cenho, mas não demonstrou mais nenhum sinal de dor. Um pouco tonto, levantou e correu para o corredor onde ficava seu quarto, pois um tapa na cabeça dado por seu pai naquele horário era um sinal de que deveria ir para lá, e mesmo que fosse "banho" ou "jantar" que ele estivesse querendo dizer, bastava esperar que Sebastião viria atrás para estapeá-lo mais uma vez, até que o sinal fosse entendido.
Adriano sentia o rosto ferver todas as noites quando via aquilo e principalmente por não poder fazer nada para ajudar o irmão.
Ao invés de estapear Charles novamente, Sebastião entrou no quarto e segurou com força a nuca do garoto com a mão esquerda. Com a direita ele afastou as cobertas, socou o garoto na cama, jogou as cobertas sobre ele, apagou as luzes e saiu, cumprindo seu ritual noturno. Adriano cumpriu com o seu indo até a cama do irmão para cobri-lo com cuidado e juntos aguardarem o ritual noturno de Charles, no qual eles esperariam por pouco mais de uma hora até sua mãe chegar do trabalho, ela lhes daria um beijo de boa noite, perguntaria se eles tinham comido, Adriano mentiria dizendo que sim e ela sairia. Passariam em torno de mais duas horas até que ela jantasse, tomasse banho, fossem se deitar e finalmente, quando o aviso do sonoro ronco de seu pai ecoasse pelo corredor, Charles se levantaria para cumprir sua "conexão" com o Universo.
Quando o sinal finalmente foi dado, Charles levantou-se automaticamente, saiu do quarto e atravessou o corredor até a sala com Adriano em seu encalço. Abriu a porta, algo que os pais sequer acreditassem que ele fosse capaz, e saiu para o gramado no quintal. Adriano ia sempre direto para a cozinha, fazia algo rápido e silencioso para eles comerem e em seguida ia ao encontro do irmão no quintal, para tentar fazê-lo comer um sanduiche ou o que quer que houvesse sobrado do jantar.
O céu de Piltor era uma verdadeira janela para o cosmos. As noites quentes e sem nuvens num vilarejo quase sem iluminação, permitiam ver a cascata da Via Láctea, fazendo qualquer um sentir-se parte dela de maneira intensa e emocionante como todos nós deveríamos provar com merecida e necessária frequência.
Charles sentia-se em casa olhando a imensidão do céu. Era uma conexão tão profunda que nas noites nubladas e frias ele permanecia embaixo do céu cinzento, suportando o frio sem reclamar na esperança de ver "suas estrelas" e quando chovia, e Adriano não o deixava sair, ele assistia de dentro do próprio quarto as magníficas tempestades elétricas na Colina do Trovão, uma localidade com muito metal entre as rochas, que servia como o para-raios natural de Piltor e fora no passado um local muito importante na história do vilarejo.
Era como se esses fenômenos fossem a única coisa que ele realmente compreendesse no mundo, mas ninguém poderia entender o que exatamente ele via, pois Charles não parecia poder ou sequer interessar-se em se comunicar com as outras pessoas. Ao menos não com a fala habitual. Apenas Adriano tinha o dom de tocar seus ombros e fazê-lo encaminhar-se, para onde quer que fosse, sem pestanejar. Nem mesmo sua mãe tinha alguma comunicação com Charles. Essa ponte com as pessoas não existia. Ao menos não até aquela noite.
Charles estava, como sempre, de cabeça erguida e observando o cosmos de olhos arregalados, quase sem piscar. Sua sintonia com os aglomerados de estrelas há sua frente era imperturbável. Era, pois surgiu uma repentina e distinta vibração no ar da noite quente, que tocou os sensíveis tímpanos de Charles, tirando-o pela primeira vez em quase cinco anos, desde que começara a observar o Universo, de seu contato com os astros. Do outro lado da rua, junto do furgão marrom, havia um lençol estendido pela grama, com um lampião a querosene iluminando Natã, que empunhava sua flauta transversal e tocava Bourée na versão de Jethro Tull intercalado com improvisos. Tinha tudo sendo registrado em áudio e vídeo, por uma câmera num tripé sobre a grama e um microfone com espuma em um pedestal abaixado ao extremo próximo ao lampião.
Natã estava intensamente concentrado em sua música. Cada nota tinha uma ligação lógica para ele, formando assim um grande mapa musical do que estava sentindo ou querendo sentir naquele momento. Era uma expressão de dentro para fora no sentido de que dizia o que ele sentia. Mas de fora para dentro, se contar que aquela escolha de notas, acabava por levar sua mente para longe, muito longe dali. "Construir um sentimento de arrebatamento em nosso ser", foi o que dissera Kant a respeito da mais alta função da arte. E era exatamente assim, arrebatado, como Natã sentia-se naquela noite, naquele lugar, ou onde quer que estivesse.
Tocou, com certeza, por mais de uma hora seguida e quando finalmente ficou satisfeito, após um último e prolongado Sol Maior, sua nota preferida, a qual absorveu cada milésimo de segundo de duração, descansou a flauta e o fôlego e lentamente foi abrindo as pesadas pálpebras sobre um sorriso quase débil. Pausou a gravação de áudio, mas esqueceu-se completamente da câmera quando reparou no grande par de olhos azuis vigiando-o entre os sarrafos do baixo portão de madeira do chalé. Natã sorriu para o garoto e pousou a flauta sobre o lençol. Estava levemente alterado por quase cinco taças de seu vinho preferido e inebriado com o ambiente naquela noite calma e quente, sob um céu místico. Tudo isso somado à música que acabara de tocar em um de seus instrumentos mais queridos, fazia seu estado de espírito provar uma experiência Hippie em sua mais pura essência.
-Eaê carinha! Como você chama? –Perguntou em tom de saudação fazendo um grande aceno no ar.
-Charles... Martins! –Respondeu o garoto sem sequer olhá-lo. Estava vidrado na flauta de Natã, que percebeu isso e apanhou-a novamente do lençol, levantou-se e com um leve cambalear de embriaguez, foi até o portão, abriu-o e olhando aqueles grandes olhos azuis que pareciam poder saltar a qualquer momento, totalmente colados na flauta, perguntou:
-Você sabe tocar? Anh... Como você chama mesmo? Charles né??
-Charles... Martins! –Respondeu o garoto ainda sem piscar. Natã entregou a flauta para ele, que enfiou de qualquer jeito uns cinco centímetros dentro da boca, fazendo ela pontar pela bochecha esquerda e olhou para Natã, como que perguntando "Quebrou?? Cadê o som?".
Adriano largara os lanches em seu quintal e estava escondido atrás da mureta há menos de um metro de Charles, empunhando um pedaço de pau na mão e aguardando o irmão precisar dele. Ficou paradinho ali, como se alguém o avisasse para esperar antes de precipitar-se, o que não é mais de surpreender, pois é incrível notar como o Universo realmente conspira para que as coisas se encaixem da maneira que devem ser.
Outra prova disso era o fato, de que se fossem três dias antes, em seu estado de espírito habitual, como mais tarde o próprio Natã diria "eu teria ficado irritado com a perda de tempo que estava tendo com um garoto que não sabia tocar, babou toda minha flauta e ainda parecia uma coruja em cima de mim! Teria simplesmente pedido que ele se retirasse e voltaria para minha combinação de música, ar fresco e vinho tinto".
Mas não naquela noite. As estrelas registravam o grande acontecimento que se seguiria ali e o Universo garantiu que Natã estivesse no estado de espírito e nível de embriaguez exatos para agir propiciamente à situação.
Foi rindo da cena que Natã se agachou e gentilmente pegou a flauta das mãos de Charles, passou o excesso de baba de sua ponta na barra de sua camisa e colocou-a na posição correta para tocar:
-Vê? É assim que se empunha... E... Colocando os dedos aqui... E soprando aqui... –Disse armando um Sol Maior e assoprando no orifício da flauta com leveza para reproduzir a nota, o que fez Charles dar meio passo para trás, como se houvesse sido estourada uma bombinha a poucos centímetros dele. Após o Sol, Natã tocou um Dó Maior e efetuou essa troca de notas exatamente vinte e duas vezes, como está registrado no áudio da câmera, que infelizmente estava virada para o lençol, onde Natã estava tocando a pouco, ao lado do velho lampião, com sua chama que dançava lentamente, balançando de um lado a outro, hipnotizante, lembrando um metrônomo em velocidade mínima, com um ponteiro psicodélico como só o fogo pode ser.
Como seriam valiosas as imagens daquele portão! Mas o áudio comprova cada vírgula do que Natã sempre relatou de sua primeira experiência com Charles Mártir.
Após tocar Sol e Dó para o garoto, ele entregou o instrumento para o dono dos grandes olhos azuis que raramente piscavam e aguardou que ele tentasse os acordes. Natã sempre contara que naquele momento, em que aguardava que Charles tocasse o Sol e o Dó, sentia como se o tempo houvesse parado à sua volta, como se ele, as árvores, o vento, as estrelas, os grilos no mato, absolutamente tudo tivesse parado para assistir Charles aprender a "pronunciar" suas primeiras notas. Curiosamente, como se pode "ouvir no vídeo", tenha ligação ou não, a única coisa que reproduzia uma leve dança no video, que era a chama do lampião, estatizou completamente durante todo o silêncio que precedeu a tentativa de Charles em montar seus acordes de Sol e Dó. É uma dessas coisas que arrepiam nuca e braços: a chama ficou ali imóvel no silêncio da noite, onde nem um pio podia ser ouvido, até que finalmente, um trêmulo Sol Maior foi surgindo... Lentamente... E foi aumentando sua potência até ganhar força e parar, para em seguida tornar-se um trêmulo Dó Maior e voltar para o Sol e repetir o Dó. Natã, como qualquer músico em posição de professor faria em tal situação, ia tentar ensinar outras notas, talvez o Mi, talvez o Ré... Mas não houve tempo. Repentinamente, como ele conta e está registrado no áudio do vídeo, os Sol e Dó Maiores tornaram-se menores... Com sétima... Com nona... Apareceram sustenidos e bemóis... Apareceram outras notas... Era como observar alguém que acabara de comprar um novo aparelho tecnológico apertando seus botões, descobrindo suas funções, fuçando e experimentando com intenso interesse em desvendar o novo utensílio. A chama do lampião já tremeluzia novamente dentro da cúpula. O vento sacudia as copas das árvores novamente. O tempo, naquela memorável noite em Piltor, voltava a girar.
"Eu ensinei os míseros Sol e Dó..." dizia Natã, sempre em tom de choque e admiração ao relembrar tal noite, "Ah, e claro, onde assoprar!" e Charles simplesmente descobriu a lógica do instrumento e a relação das notas. No início, a troca de notas era um caos. Simplesmente desordenadas, descompassadas, por vezes viscerais e feias, por vezes combinações erradas, em total desarmonia, mas Natã não ousou interrompê-lo. Sabia de alguma maneira que algo muito solene estava acontecendo diante de seus sentidos, e mesmo não compreendendo exatamente o que era, podia sentir a energia fluindo, não só vinda de Charles e a flauta, mas uma grande concordância da natureza à sua volta.
Natã sentara novamente em seu lençol na grama e como podemos ver no vídeo, enchia seu cálice de metal com vinho e, enquanto bebericava, vez ou outra estreitava os olhos na direção do portão, como se buscasse ter certeza de que aquilo estava mesmo acontecendo. Adriano ao ouvir Charles tirando notas da flauta, deixou a madeira cair. Ficou chocado e congelado como todo o resto do mundo havia estado alguns minutos antes, mas para ele isso era ainda mais intenso, pois nunca vira o irmão fazer nada mais além de "olhar" as coisas.
As notas eram uma confusão, o garoto estava aprendendo e Natã aguardou por quase duas horas bebendo. Estava aguardando que ele se cansasse por conta própria, pois não podia, não conseguia interrompê-lo. Mas as notas ainda eram um caos total. Natã fechou os olhos e como que meditasse na posição de lótus, ouvia a sinfonia caótica de Charles, às vezes sorrindo de uma desafinação mais grave, até que repentinamente houve um baque imenso em sua mente. "Talvez seja a sensação de ser queimado por uma raio", disse mais tarde, pois foi, obviamente, um choque ainda maior quando de dentro do caos de notas e contratempos, Natã identificou, com o peito e rosto queimando em brasas, de olhos arregalados a revelar pequenos brilhos de lágrimas nas pálpebras inferiores e como registrara a câmera e seu áudio: nascera uma melodia! E era linda, extremamente complexa, ritmada e já era aquela que conhecemos hoje como "A Canção De Andrômeda". Natã sempre fora um homem muito metido a machão, mas como podemos ver no vídeo, nessa noite ele chorou como uma criança. Mas precisamos ser complacentes, quem suportaria tantos baques de uma só vez: um garoto que não sabia sequer empunhar uma flauta transversal aprendera todas as notas e acordes possíveis no instrumento em menos de duas horas e logo em seguida já estava compondo e algo de extrema complexidade. Natã finalmente estava de pé observando a cena. Agora ele saiu da frente do vídeo, mas o que conta é que foi naquele mesmo instante que teve seu terceiro grande choque, como se tudo aquilo já não bastasse.
Com os olhos atentos, arregalados, estranhamente inexpressivos, como se estivesse ali só de "corpo e fôlego" presentes, sem piscar uma única vez e com lágrimas escorrendo por seu rosto como cascatas de seus olhos azuis rodeados por um chocante vermelho, Charles tocava a melodia incrivelmente complexa olhando para o céu, para o imenso jorro de estrelas cintilando no manto azul escuro.
Natã olhava do céu para Charles tremendo e sem saber exatamente o que fazer. Era como se Charles estivesse tocando uma pauta invisível a Natã, como se pudesse ler uma composição que ele não via, pois ali parado, percebeu que vez ou outra, as duas esferas azuis de Charles faziam ariscos movimentos nas órbitas. Após alguns minutos observando, pareceu a Natã, que todo o álcool que tomara havia evaporado. Seu estado alterado de consciência foi interrompido quando compreendeu, mesmo que não muito afim de aceitar, que a pauta de Charles não era invisível, mas muito pelo contrário, estava exposta para o mundo inteiro ver.
Naquela noite, a primeira em que Charles pôs uma flauta nos lábios, como sabemos agora, ele não compôs uma canção, estava na verdade tocando, pela primeira vez na história da humanidade, uma música impressa nas estrelas.
Charles Martins estava dando início à nossa inestimável tradução do Cosmos em partitura musical.
Começara pelos arredores de Andrômeda, para ser mais exato.
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Charles Mártir E O Segredo Do Universo
RandomO Universo é uma caixa de música, pois está construído em proporções equivalentes aos intervalos de oitavas. Néstor Eidler