Capítulo V - O Assassino Mais Cruel

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Clarke.

Era mais assustador do que eu me recordava. O mesmo zumbido nos ouvidos causados pelos trovões que não eram visto em lugar algum, o cheiro de terra queimando as narinas e o gosto de ferrugem na boca. Eu não sabia exatamente o que deveria fazer, mas ficar parada provavelmente não era o intuito. Desta forma, andei rapidamente pela extensão de um quilômetro. Nada e nem ninguém aparecia. Eu estava andando receosa, trôpega e completamente sozinha.
- Olá, minha sombra - disse a minha voz.
Engoli em seco. Era a minha voz, era o meu rosto, mas não era eu.
- Vai dizer que não sentiu saudade?
 Clarke 2 estava frente a frente comigo novamente.
- O que você quer? - questionei, brusca.
- É engraçado você perguntar isso - disse ela - Afinal, para terminar o seu teste, você precisa de mim.
- Eu prefiro continuar sozinha, obrigada.
Ela bocejou.
- Você precisa ser sempre tão orgulhosa? Não conseguirá sem mim, esse é o intuito do seu teste.
- Eu não confio em você - bradei - Sei que tentará assumir o controle.
- Nem se eu quisesse, e digo sério - afirmou ela - Estou presa por detrás de imensas barreiras psíquicas. Apenas estou interagindo com você, mas não posso fazer muito mais.
Ponderei por alguns minutos. Se o objetivo do teste era enfrentar meu maior medo, não estava funcionando. Eu não tinha medo dela, mas talvez fosse um começo.
- O que exatamente estamos procurando? - pisquei, ansiosa.
- Ora, não é óbvio? O que liga eu e você? - disse ela - Quer dizer, o que me trouxe até você?
- A maldição Wanheda? - sugeri.
- Também, mas não é disso que estou falando - ela sorriu.
- Pare de tentar fazê-la entender alguma coisa, amor - disse outra voz atrás de mim.
Congelei. Não, não podia ser. Virei-me em movimentos contados até a figura. Era ele, Finn.
                             +++
- Você? - bufei.
- Olá, Clarke - retrucou ele, sorrindo - Já faz um tempo.
- Bom, na sua mente tudo é possível - disse Clarke 2 - E estimulada pela droga do teste, você ficaria surpresa com o que  sua consciência é capaz de fazer.
- Essa era a missão? - vociferei - Encontrar vocês?
- Não, Clarke. Somos um meio para um fim - disse Finn - Sua missão é, em suas memórias, achar o assassino mais cruel.
- O assassino mais cruel? E como farei isso?
- São suas memórias, Clarke - disse ela - Estou aqui para ajudá-la a lembrar do que você se obriga a esquecer.
Fechei os olhos. O que eu poderia achar em minhas memórias que me ajudasse?
Na minha lembrança, eu estava sobre Wells, agredindo-o. Em seguida, sobre Diana Sinclair. Eu a agredia, a praguejava e finalmente a matei. Em outro momento, eu estava cara a cara com Gustus. Possessa de ódio, o matei. Sucessivamente, matei Finn enquanto chorava pelo meu ato. 
- Não, para! - gritei, desvincilhando-me das lembranças.
- É óbvio agora, não é? - riu Clarke 2.
Funguei.
- Bom, é você, querida sombra. Você é o assassino mais cruel - disse ela - Na verdade, a assassina. Como preferir.
Abri meus olhos. Diana, Wells, Gustus, Emerson, Finn e Clarke 2 olhavam para mim.
- Você não é a mocinha da história, Clarke Griffin - berrou Wells - Você é uma assassina cruel e dissimulada. Você causou mortes, matou pessoas. E tudo isso para o seu próprio bem!
- Não, eu...
- Ah, a desculpa habitual - complementou Diana - O bem maior não existe, Clarke. Você fez isso porque quis, porque podia. Você é pior do que todos os que endemoniza.
- Você é pior do que eu, sombra - afirmou Clarke 2 - Na verdade, eu sou a única parte de você que não mente. Que mostra quem realmente é.
- Espero que você seja consumida pela Praga e que se torne quem realmente é - sussurrou Emerson - Uma de nós.
- Uma de nós, Clarke - riu Finn, acompanhado pelos outros.
Eu gritei, expulsando-os. Ao reabrir os olhos, eu finalmente estava sozinha. Me permiti chorar, soluçar, sentir a dor que eu subordinei por tanto tempo. Esse era meu verdadeiro e maior medo, eu tinha medo de quem eu realmente era.
- Você passou, Clarke - disse Finn, sorrindo.
- Passei?
- Sempre soube que você conseguiria. Você é a nossa salvadora, princesa - disse ele
- Eu não entendo.
- Claro que não. O assassino mais cruel nunca foi você, mesmo seu interior crendo nisso - confirmou ele - Era o seu medo, Clarke. Ele torna você fraca, mesmo que pareça impossível. E pior: você tem medo de si mesma. Medo do que é capaz de fazer sob a influência Wanheda.
- Então essa era a missão do teste? Fazer-me perder o meu medo enfrentando-o?
- Em parte - disse Finn - Para você alcançar a totalidade do seu poder e achar uma cura para a Praga, você precisa ceder-se ao seu medo. E ao invés de tratá-lo como obstáculo, absorvê-lo e transmutá-lo na energia necessária.
- Eu sinto muito, Finn. Por tudo.
- Você sabe que fez o certo. Não se culpe por nenhuma morte que causou, não mais. Pense nas imensas vidas que salvará ao encontrar a cura.
Assenti.
- Como saio daqui? 
- Eis a questão. Eu não faço ideia. 
Então, tudo mudou. Eu era uma criança, estava colada junto à porta que rangia ao meu peso. Do outro lado, meus pais discutiam. Com aquela idade, não entendi e muito menos mentalizei o que houve, mas agora podia. 
- Não percebe no que isso acarretará, Abby? - vociferou meu pai - Enviar cem prisioneiros para a Terra não nos trará mais oxigênio, tampouco uma cura definitiva para...
- Essa doença que você e Jason tanto se referem é fictícia, não percebe? Isso trará não só a sua morte, mas desgraça para nossa família. Peço que reconsidere, por tudo que mais ama.
- É por tudo que mais amo que não posso desistir, Abby. Clarke se tornará imune, assim como o Bellamy. E, por meio deles, curaremos não só aos Arqueanos, mas toda a humanidade. 











The 100 (#3)Onde histórias criam vida. Descubra agora