Capítulo XI - Duas Covas

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Octavia.

Quando o pânico iniciou, eu já estava com Jasper em meus braços. Assim como Clarke estava com Abby, sua mãe, nos seus. Ambos haviam sido baleados por Steven Price, que desaparecera.
- Jasper, aguente firme - disse, nervosa - Vai ficar tudo bem, vamos cuidar de você.
- Não, O, não vai - disse ele, engasgando - Eu estou morrendo.
- Não se atreva a dizer isso, J - disse Monty, ajoelhando-se ao meu lado - Eu já perdi muitas pessoas.
- Ajude-os a achar a cura, Green - murmurou Jasper, com os olhos fixos em seu melhor amigo - Sabe que eles não conseguem achar uma agulha no palheiro.
- Nós vamos ajudá-los, cara. Você não vai morrer - retrucou ele, segurando a mão de Jasper.
E então, ele parou de se movimentar.
- NÃO - gritou Monty, retirando o corpo dos meus braços. Eu estava em choque.
Isso não podia estar acontecendo. Não de novo.
- Eles não estão aqui, Bellamy - vociferou Kieran - Se Athena está fora da cela, então muito provavelmente não ficou para ver o espetáculo que acontecia.
- Cela? - indaguei em voz alta.
- Steven a considerava uma arma, não uma filha - disse ele - Athena é letal, perspicaz e uma guerreira nata. O tipo que Price sempre temeu.
- Mas para onde ela iria? - disse Milo - Polis está destruída, não soubemos de nenhum clã que tenha sobrevivido ao ataque da Lana.
- Com certeza alguns restantes devem ter se agrupado bem longe daqui - disse Raven, juntando-se a nós. Após uma pausa, ela suspirou - Murphy está estável, o sangramento parou.
- Isso quer dizer que a transformação vai se iniciar - disse Kieran, limpando o suor do rosto - Precisam decidir o que fazer agora, apesar de já saberem o que deve ser feito.
- Nós não vamos matar o Murphy, Kieran - vociferou Clarke, abandonando o corpo sem vida de Abby - Vamos salvá-lo.
- Acho que você ainda não entendeu a gravidade da situação, Clarke Griffin - ele continuou - Uma vez que a transmutação é iniciada, ela é irreversível. A única coisa que varia é o tempo em que se transforma em um etéreo.
- Então o que faremos? - disse Monty, com o rosto inchado de tanto chorar
- Se o que Raven disse for verídico, precisamos partir para essa colônia de sobreviventes tão logo partamos daqui - disse Kieran, ofegante - E não me entendam mal, nenhum lugar aceitará um etéreo em formação. É justamente nessa fase que o contágio se inicia.
- Precisamos cavar duas covas antes de partirmos - sinalizou Bellamy - Não podemos deixá-los aqui. Eram nossa família.
Ninguém ousou discordar. A tristeza permanecia no ar, asfixiante. Tantos de nós já morrera, mas a cada vez parecia ser a primeira. Cem prisioneiros com um mesmo destino: a morte eminente.
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O funeral fora rápido, fácil. Até mais do que eu esperava. Milo ajudava Raven a transportar Murphy, que ainda mancava devido à luta com Jason. O que me lembrava que eu tinha uma irmã em algum lugar. Athena Price, minha inimiga, minha gêmea. As próximas duas covas seriam nossas?
- Gente, é claro! - disse Kieran, em um súbito.
Todos viramos para ele sedentos por uma explicação.
- Croatoan - disse ele - É uma base operatória sem qualquer ligação com a Ômega. Eles tratam de doentes lá, fazem experimentos. Steven os contatava sempre em busca de progressos.
- Então é exatamente para onde devemos ir - disse - Temos os Wanheda, e mais que nunca, uma necessidade gritante de achar a cura.
- Você sabe aonde se localiza, Wilcox? - indagou Raven.
- Não exatamente, mas por estratégia, devem estar próximos de uma fonte de água.
- Vamos acampar nos arredores esta noite. Pela manhã, partimos até lá - disse Bellamy.
- Kieran, o que houve com os outros que trabalhavam aqui? - inqueri.
- Steven os dispensou logo após o início das simulações - disse ele - Acho que ele tinha planos maiores para depois deles, mas Delphine interveio.
- É exatamente isso que me preocupa - disse Raven - Price tinha muitas coisas para fazer a respeito de nós. E se agora está com a gêmea da O...
- Athena é, antes de mais nada, nossa irmã - alertou Bellamy - Além disso, foi feita prisioneira. Deve manter algum desejo de vingança.
- Espero que a voz do sangue seja maior, Bellamy - disse Kieran, com o medo preenchendo sua voz - Porque eu temo por todos nós.
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O cheiro de fumaça ainda permeava o ar. A guerra que fora travada dias atrás entre nós e Lana mantinha-se viva na terra cinzenta. Os braços de Milo me envolviam, me protegiam. Eu podia desmoronar ali, chorar à vontade, sem medo de julgamentos.
- Eu sinto muito pelo Jasper, O - disse ele, finalmente - Sinto muito por todos que você perdeu.
- Eu só quero que essa guerra incessante termine, M - choraminguei - Eu não sei se consigo sobreviver para novas perdas.
- A guerra que está vindo é mais letal que qualquer uma que enfrentamos - disse ele - Lembro quando eu morri, quando Peste trouxe a Praga até a minha cidade.
- Peste? O Cavaleiro?
- Sim. Ele dizimou toda a minha cidade, e me deixou por último - Milo dessa vez não conteve suas lágrimas, o passado ainda doía - Eu vi todos que eu conhecia e amava morrerem e isso me tornou mais forte. Não existem heróis, Octavia. Apenas sobreviventes.
Dito aquilo, aninhei-me em seus braços e dormi por um tempo. Até Raven aparecer gritando.
- Murphy! - bradava ela, insana.
A fogueira que queimava próxima a nós crepitou mais forte. Bellamy e Clarke, Monty e Kieran levantaram-se em súbito. Os gritos de Raven tornavam-se cada vez mais desesperançosos.
- O que houve, Ravs? - perguntou Clarke, confusa.
- O Murphy, gente - disse ela, fora de si - O Murphy desapareceu.

The 100 (#3)Onde histórias criam vida. Descubra agora