The 100 (#3)

Capítulo IX - Etéreos

Clarke.

Eu estava em colapso. Meu corpo não se mexia e minha cabeça doía sem parar. Abri meus olhos, estava de volta à Ômega. Na verdade, todos estávamos. Bellamy, Raven e Octavia pareciam ter acabado de acordar também.
- Gente, o que... - iniciei, porém fui interrompida pelo abrir das portas.
Steven surgiu, contudo, estava estranho. Andava mancando e em passos contados. Detrás dele, Delphine Sinclair apontava uma arma.
- Sejam bem-vindos de volta - anunciou ela, sorrindo.
- O que diabos você está fazendo, Delphine? - bradou Steven - Você vai por tudo a perder.
- Estou fazendo o que já devia ter feito há muito tempo, querido Steven - a voz dela estava fria como gelo - Estou vingando minha irmã.
Engoli em seco. Eu havia matado Diana, então ela queria...
- Dra. Sinclair, você não precisa fazer isso - sugeriu Raven, hesitante.
- Olá, Raven. Como foi o seu teste? - perguntou ela - Na verdade, todos foram muito bem. Menos Octavia, claro. Foi a única que falhou.
- Temos interpretações diferentes da palavra "falha" - retrucou Octavia - Na verdade, eu acho que fui a que mais venceu.
- Não seja estúpida, menina - disse Delphine - Seu teste se resumiu a escolher entre seu namorado morto e seu namorado vivo, isso com certeza é falhar.
- O que você quer, afinal? - indagou Bellamy - Nos fez passar pelo maldito teste e agora que voltamos você faz um espetáculo?
- Tudo em seu tempo, Bellamy - disse ela - Raven é minha favorita, eu já devo ter dito. No teste dela, a fiz vislumbrar um mundo onde a cura não foi encontrada.
- Sim - confirmou Raven - Não existe nada além do caos.
- E dos etéreos, claro - finalizou ela.
- Etéreos? - disse, estupefata.
- As criaturas - constatou Raven.
- Isso mesmo, Raven - continuou ela - Quando a doença chega ao fim, a vida humana do indivíduo termina, mas a sua existência não. Ele se transforma em uma criatura canibal, sem sentimentos ou razão. Um ser etéreo.
- Eu lhes contaria tudo após os testes, eu juro - complementou Steven.
- Nem você acredita nisso, Price - riu Delphine - Ah, uma ótima oportunidade de dizer a eles qual é o nosso hóspede especial.
- Bellamy, você tem um irmão - continuou - Um meio irmão, na verdade. O nome dele é Jason Price. Assim como a mãe dele, Jason sucumbiu pela Praga. Mas ao contrário dela, ele foi mantido sob os cuidados do seu papai.
Olhei para ele. Eu queria ter contado a ele antes, para prepará-lo. Pobre Bell.
- Eu tenho um irmão? - disse Bellamy, com a voz trêmula.
- Sim, você tem - afirmou ela - E não é só isso, o seu irmão é um etéreo. Seu pai o manteve aqui para ser o próprio rato de laboratório da Ômega.
- Como você pode? - rugiu Bellamy, fazendo-me tremer.
- Não vou me desculpar por tentar salvar meu filho - disse Steven - Isso tudo é sobre salvá-lo. Sempre foi.
- Então tudo que passamos na Terra, na verdade, foi sobre salvar Jason e não a humanidade - murmurou Octavia.
- Pobre Octavia. Já que chegamos a você, deixe-me contar um segredo - disse Delphine - Marjorie gerou três crianças de Kane, correto?
- Isso não é surpresa para ninguém, Sinclair - bradou Octavia, em resposta - A criança que morreu era gêmea idêntica de Murphy ou de mim
- E se eu dissesse que Bellamy não é o único a ganhar mais um parente na família?
Octavia ficou sem fala. Todos nós ficamos.
- Mas isso é assunto para outra vida - disse Delphine - Por conta de vocês, minha irmã foi morta. Deixem-me retribuir à altura. Contemplem Jason Price e a sua imensurável fome. Foi um prazer conhecê-los.
Delphine apertou um botão e, rindo, nos deixou.
                              +++
Uma sirene disparou. Steven adiantou-se e correu até um dos armários.
- O que você está fazendo? - gritou Bellamy
- Sinclair acabou de libertar um etéreo faminto e adivinhe quem será o prato principal? - retrucou ele, respirando fundo e dando toques em uma seringa - Essa dosagem deve ser o suficiente para derrubá-lo.
- Você manteve o perigo perto de nós esse tempo, Steven - vociferei - Mate-o de uma vez!
- Ninguém vai matar meu filho - disse ele, com os olhos em fogo - Não vou arruinar a chance dele de ser salvo.
- Não seja tolo, ele já está morto há anos - disse Octavia - Faça o certo, eu imploro. Nos tire daqui.
As portas se abriram num estrondo. Murphy, Milo, Jasper e Monty vinham andando em nossa direção com armas em mão. Seguidos por ele, estava a minha mãe. Os olhos dela encontraram o meu por um segundo até se fixarem em algo atrás.
Virei-me lentamente até ver uma porta circular abrir. Um ruído monstruoso se aproximava com uma rapidez aterrorizante. Era ele.
- Oh, céus - disse Steven, em pânico.
Era surreal, quase um zumbi. Sua pele estava esverdeada, transmutando-se para um estado de decomposição. O cheiro assemelhava-se ao de um esgoto, era impossível encará-lo.
- Price, dê um jeito de sairmos daqui em segurança - ordenou minha mãe - Nós cuidamos dele.
- Não machuquem-no...
- Não vamos - confirmou Milo - Saia daqui. Agora!
Obedecendo-o, Steven partiu.
Jason se aproximava de nós rapidamente.
- O que fazemos agora? - indagou Octavia - Não podemos matá-lo, mas ele com certeza quer nos matar.
Eu estava atônita, não me sentia capaz de defender a mim mesma e nem aos meus amigos. O grito de Murphy me trouxe de volta à realidade. Jason estava sobre ele, estavam tendo uma luta corporal.
Parti para cima, afastando o etéreo com um chute.
As sirenes estavam gritando em meus ouvidos, isso significava que Steven conseguira.
Tudo estava indo bem. Até atirarem em Jason.
Engoli em seco.
- Está feito - disse Bellamy, segurando o revólver.
Ela havia matado o irmão.
- Onde estão Monty e Jasper? - perguntou Milo.
- Aqui - disse Jasper - Acabamos de passar pela porta. Alguém atirou na cabeça da Sinclair.
- Price? - sugeriu Abby.
- Não é possível - disse Raven - Ele acabou de ativar as saídas de emergência... Não daria tempo.
- Isso quer dizer...
- Gente, uma ajuda aqui - gemeu Murphy, no chão.
O braço dele estava coberto de sangue e a marca da mordida estava visível e pulsante no seu braço.
- Ele... Ele me mordeu - disse ele e então, desmaiou.