The 100 (#3)

Capítulo XVI - Caixa de Pandora

Raven.

Fazia poucas horas desde que Octavia retornara trazendo Pandora consigo. Kieran e Milo levaram-na para o laboratório com o intuito de estudar seu sangue. Clarke, diferente de mim, parecia estar esperançosa. Ela precisava de paz, de uma vida tranquila ao lado de Bellamy e agora poderia concretizar tudo isso.
- Sua fisionomia não parece de uma salvadora, Raven Reyes - disse ela, sorrindo.
- Porque não sou, ao menos acho que não - disse, hesitante - É que nada acontece com facilidade para nós. E a O encontrar a velha e ganhar a cura de bandeja me parece muito...
- Planejado? - sugeriu Clarke - Acha que tudo não passa de um plano de Athena?
- Não posso afirmar com certeza, mas essa mulher não está jogando para perder - afirmei - E se Pandora for, metaforicamente, a caixa?
- A Caixa de Pandora? O mito grego? - disse Clarke, estupefata.
Assenti.
- A "caixa" era na verdade um grande jarro dado a Pandora, que continha todos os males do mundo - disse - A curiosidade foi a queda da humanidade antes, e se for novamente?
- Então teremos que pagar pra ver - disse ela - Pandora é nossa melhor chance no momento. Conseguiremos a cura, Ravs, eu preciso que tenha fé nisso.
Olhei para Clarke naquele momento. Minha amiga precisava de mim, do meu suporte e eu o daria a ela.
- Você tem razão - disse.
Ela sorriu.
- Não tivemos muito tempo para conversar, mas... Eu vi o Finn no meu teste - disse ela.
- Como? - sibilei
- Ele foi quem me ajudou a encontrar o assassino mais cruel, que sempre pensei que fosse eu.
Sorri. Finn nos ajudou mesmo depois do fim.
- Falando nos testes, eu também vi alguém: Lexa.
- Lexa? - Clarke franziu a testa.
- Sabe, Clarke, ela salvou minha vida. Duas vezes - disse - No teste e quando Lola tentou me matar. Quando ela estava perecendo nos meus braços, confessou algo. Ela disse que te amava.
Clarke ficou sem voz, sem expressão e sem cor.
- Eu não consegui te dizer na época, e ela jogou isso na minha cara no teste - chorei, estúpida - Acho que eu nunca fui merecedora da ajuda dela.
- Mas você disse agora, Ravs. Você cumpriu - disse ela - Lexa me amou diversas vezes, e eu a amarei por tudo que ela fez. Ela foi nossa amiga mesmo quando não tinha motivos.
Segurei a mão de Clarke, rindo. E, naquele momento, esperava que Lexa pudesse ver que o último desejo dela fora cumprido.
                              +++
Quando Monty convocou a presença de todos no laboratório, eu soube que estávamos salvamos.
- Extraímos a substância do sangue dela, pessoal - disse Kieran - Achamos a cura.
Uma salva de palmas foi iniciada e logo silenciada. Todos atentaram-se para Milo.
- No entanto, foi uma quantidade menor do que o esperado - disse ele - Não sabemos como administrar entre nós e tampouco entre a humanidade.
- Gente, a humanidade se esgotou - disse Octavia - A cura que conseguirmos deve ser o bastante para quem está aqui.
- Eu quero falar com a Raven, a sós - ultimatou Kieran, seco.
Ninguém ousou retrucar, nem mesmo eu. Quando todos enfim saíram, ele aproximou-se de mim.
- Isso não é fácil pra mim, eu não entendo como aconteceu...
- O que está acontecendo, Wilcox? - sussurrei - É algum tipo de piada?
- Eu gostaria que fosse - Kieran estava com os olhos repusados em mim - Eu estou apaixonado por você, Raven Reyes. Foi rápido, brutal. E eu tentei retardar o máximo que pude, principalmente devido aos acontecimentos com...
- Murphy - finalizei.
- Eu não quero que você subitamente se apaixone por mim, mas quero que permita-me tentar te conquistar - continuou, se aproximando ainda mais. Sua respiração estava em mim - E me perdoe por isso.
Sem autorização, ele me agarrou. Senti seus braços fortes enlaçarem-se em mim, tal como sua língua rodopiava com a minha. Eu não podia negar que estava atraída por Kieran Wilcox, por sua inteligência, por sua audácia...
Me libertei rapidamente, dando-lhe uma bofetada. As mechas do cabelo dele cubriram seus olhos.
- Como ousa...
Mas o abrir das portas me interompeu, era Octavia.
- Desculpe interromper o que quer que seja - iniciou ela, sorrindo, mas logo voltando a seriedade - Estamos sendo atacados, são milhares deles.
- Deles quem? - indagou Kieran
Ela se manteve em silêncio.
- Deles quem, Octavia? - vociferei, transferindo minha raiva nas palavras.
- Etéreos - disse ela, por fim - Milhares deles.
                               +++
Os soldados de Croatoan tentavam conter o lado de fora, mas o que realmente me preocupava era o lado de dentro. Haviam criado uma perfuração nas paredes das celas, onde estava Pandora.
- De onde esses etéreos saíram? - bradou Bellamy - É impossível haver tantos deles.
- Os Ascendentes - disse Octavia - Athena me disse que havia feito experimentos com eles.
- Esse ataque está sendo liderado por ela? - sibilou Clarke - O que ela quer de nós?
- Pandora - bufou Kieran - Ela descobriu.
- Nossa Caixa de Pandora não tardou a falhar - disse, olhando para Clarke - O que faremos agora?
- Temos que proteger a cura, e Croatoan - proferiu ela.
- Tarde demais - disse Athena, andando em nossa direção segurando um corpo.
O corpo de Pandora.
- O que você fez? - gritou Octavia.
- Calma, irmãzinha, apenas peguei o que me era por direito - disse ela - A cura é minha, obrigado pela mão de obra.
- Eu vou cortar o seu braço se encostar na cura, sua vadia - urrei - Saia daqui agora mesmo.
- Eu gostaria que você fosse uma prisioneira mais educada, Raven - retrucou Athena - Get eorum!
Peguei a arma no meu cinto.
- Seu exército vai comer poeira, Athena Price - apontei para o telhado e atirei. O desabamento foi inevitável.
Assim, fugimos.
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Éramos fugitivos. Não dos etéreos, desses fugimos facilmente, mas de Athena. Não sabíamos para onde podíamos ir, onde poderíamos nos refugiar, nada nem ninguém impediria Athena de conseguir o que ela queria. Todavia, o que mais pesava em mim era a cura. A perda dela. Tudo que fizemos foi por nada. Eu estava certa, afinal. Os males vieram com Pandora.
- Para onde vamos agora? - disse Octavia, ofegante - Mount Weather?
- Está muito distante, mas não é má ideia, O - disse Clarke - Mas a cura...
- Nós perdemos, Griffin - disse Kieran - Athena vai destruir a cura assim que puser as mãos.
Respirei fundo. E então chorei.