Capítulo VI - O Protetor de Sua Irmã

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Bellamy.

Despertei em sobressalto. Não estava na nave da Ômega, mas esse lugar não me era desconhecido. Era quase como...
- Bellamy, eu preciso que me prometa algo...

Era ela. Mamãe. E eu estava ali ao seu lado, e Octavia em seus braços. Eu sabia exatamente qual momento era aquele, fora há quase vinte anos atrás.

- Preciso que prometa que não importa o que houver comigo, você sempre protegerá Octavia - disse ela, rindo - Este é o nome dela, Octavia. A nossa O.
- Olá, O. Eu sou seu irmão mais velho - disse, inocente e frágil - Eu sempre vou cuidar e amar você.
- Você é o protetor de sua irmã, Bell. Nunca esqueça isso.
+++

Acordei com um balde de água fria no rosto. Meus olhos estavam adaptando-se com a claridade do local e ardiam como brasas. Na minha frente, estava a mulher que me dera vida: Marjorie Blake.
- Olá, filho - disse ela, seca.
Fitei-a por alguns segundos.
- Oi, mãe.
- Você prometeu que a manteria salva, Bellamy - disse ela - Você prometeu que a protegeria com a sua própria vida.
- É isso que venho fazendo desde que ela nasceu - vociferei - Com todo o respeito, mas quem você pensa que é para me julgar? Você foi infiel ao seu marido, sempre priorizou a si mesma. Teve quatro filhos e espera que eu, por ser mais velho, tenha que ocupar seu papel?
- Não seja ridículo, Bellamy
- Não estou sendo ridículo, mamãe. Você me fez ser pai, mãe e irmão para Octavia - engoli em seco - A princípio nunca me importei porque a amava, e ainda farei tudo que puder para salvá-la da Praga ou do que seja.
- Você disse que faria tudo que pudesse para salvá-la da Praga, mas faria isso sabendo que Clarke morreria? - ela riu - Eu digo, não foi achada uma cura em quase vinte anos. Se for encontrada, quem garante que será o suficiente para salvar todo mundo?
- Eu e Clarke somos imunes à Praga - afirmei.
- Eu também era e olha no que deu - disse uma voz atrás de mim.
Era Lana Labounair.
- Steven e a Ômega pretendem fazer muitas coisas ao achar uma cura, salvar a humanidade com certeza não é uma delas - disse Lana - Mas você sabe disso. Afinal, tudo que acontece aqui já percorreu ou percorre seu subconsciente.
- Qual é o intuito do meu teste? - bradei.
- Nunca houve teste mais simples, Bellamy Blake - disse mamãe - Você provou para mim e para si mesmo que nunca foi capaz de proteger Octavia como deveria. Pois você deve deixar que ela morra consumida pela Praga em sua frente. Deve deixá-la, de uma vez por todas, seguir o próprio destino sem nenhuma interferência sua.
- O que você está...
Subitamente, elas sumiram e o cenário se modificou; eu estava em Polis, especificamente na Sala do Trono e Octavia estava sentada nele. Ela era mais jovem do que agora e vestia o mesmo vestido que usara na festa em que fora presa. Estava estonteante, empoderada e divina. E em segundo não estava mais. Seu rosto estava se decompondo, quase irreconhecível. Seu vestido outrora prateado, jazia o mais vívido vermelho-rubi. Ela andava trôpega até mim e eu não podia ajudá-la. Eu estava imóvel, congelado e preso ao chão.
- Octavia, não!
Ela emitia uma ruído inumano, não era nada que eu já tivesse visto ou lido. Ela debatia-se e avançava contra mim, fracassando em todas as vezes. No chão, ao meu lado, uma lança foi projetada. Eu sabia exatamente o que aquilo significava.
- Eu sinto muito, O.
Ao alcançar a lança, quaisquer coisas que nos impedisse de chegar um ao outro foram anuladas. Conte-la foi mais difícil do que imaginei; ela não estava apenas com uma aparência surreal, mas com uma força também. Cedemos juntos ao chão, mas eu não estava ou sobre nem ela sobre mim. Ela simplesmente havia desaparecido.
Em passos ruidosos porém lentos, mamãe reapareceu. Ela não se assemelhava em nada com a outra, e sim com a mãe de tempos mais felizes.
- Seu teste, filho, nunca foi sobre seu papel como irmão ou como protetor de sua irmã - afirmou ela - Foi sobre o fato de vocês terem uma tendência a protegerem um ao outro. Com o passar do tempo aqui na Terra, não foi somente você protegendo-a, ela também o protegeu. Mas essa necessidade não precisa levar nenhum dos dois ao óbito.
- Mas você me fez jurar mantê-la segura, mãe. É o que farei até o fim dos meus dias.
- Bellamy, você é realmente muito orgulhoso para admitir o óbvio. Você não precisa provar nada para mim, tampouco para Octavia. Nós duas sabemos que a sua irmãzinha sempre poderá contar com seu amor, suporte e atenção - ela sorriu e, naquele momento, eu a entendi - Você precisa amá-la, não protegê-la. Octavia já não é mais uma garotinha, é uma mulher. Uma mulher forte.
- Ela não precisa de um protetor, ela precisa de um irmão - constatei.
Mamãe assentiu, desaparecendo e enfim, sumindo.
+++
Não restava nada mais a ser feito no meu teste, eu o completara. Finalmente entendia que eu devia ser irmão e não protetor, função esta que não era mais necessária desde que pisamos em Terra-firme. Meu maior medo era, por displicência, causar a morte dela. Mas não estava em minhas mãos salvá-la, ela mesmo o faria.
- Parece que o sucesso e a sorte são seus eternos aliados, Bellamy Blake - disse Lana Labounair.
- Eu não diria isso, Lana. Pelo menos não por agora.
- Não seja tolo. Vocês são a única esperança de salvação, sabe disso - afirmou ela, ponderando - Contudo, não só vocês sabem, como Steven também. E não fraqueje, Skaikru. Steven Price não é o seu pai.
- Meu pai está morto, Lana - disse, seco - Morreu anos atrás.
- Isso não significa que vocês não estejam conectados - riu ela - E acredite quando eu digo que ele tentará sugar tudo que puder de você em nome desse parentesco. Como por exemplo, pergunte a Clarke o que ela esconde de você.
Clarke realmente andava estanha, soturna. Mas o que ela poderia estar escondendo de mim?
Com uma força imensa de atração, eu embarquei na escuridão.

The 100 (#3)Onde histórias criam vida. Descubra agora