Capítulo 9

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Três dias depois , estava exausto, desde daquele dia ninguém veio me ver, fiquei três dias sem comer nem beber. Chorei tanto que fiquei sem forças, não acreditava que aquilo era real, eu chamava pela minha mãe toda a hora. Apesar de eu estar crescidinho, mas a realidade que eu vivia acarretava que eu fosse cuidado e protegido por ela, eu me sentia sozinho e inseguro, mas nunca parei para pensar o porquê do diretor da minha escola ter me colocado lá.

Pois, lá eu fiquei por mais que eu tentava chutar a porta de vez em quando, mas a minha força não teria resultado nenhuma naquela porta feita de madeira grossa.

Juan riu um pouco ao lembrar daquele tempo, fazia-o sentir-se mais vivo, mais humano, apesar do medo e a humilhação estarem sempre presentes, ele se orgulhava de ser um sobrevivente e ter a sorte de poder ajudar os outros.

De repente senti a porta sendo destrancada, me deu vontade de sair a correr, mas por algum motivo resolvi sentar encolhido no cantinho.

Ele entrou, levou me água, e duas bolachas, e simplesmente entregou-os com um sorriso no rosto peguei e comi-os todos. Só não reparei que enquanto eu comia ele se despia. Assim que terminei ele me chamou para ir lá ter com ele, porque antes
de entrar no quarto tinha um outro salão bem arrumado com cama bem feita e tudo. Ele chamou me várias vezes , estava de pé a um metro em frente a porta, nu e segurava no seu órgão.

Juro que eu não queria acreditar naquilo que ele queria fazer comigo, eu negava com cabeça e chorava que não queria ir, e ele insistia meigamente para que eu fosse, até que desistiu de insistir comigo e apanhou um machado golpeou duas vezes em algo que eu não podia ver de onde eu estava, mas vi sangue a voar pela parede,
então andei devagarinho até a porta e quando espreitei para ver meu Deus porquê?

Senti o chão abrir-se em meus pés, meu corpo ficou anestesiado, ele agarrou me brutalmente, rasgou as minhas roupas e empurrou me contra a parede, eu só via aquela mulher ali toda mutilada no chão e ensanguentada, ele me penetrou com força total, mas na hora não senti nada, só berrava pela minha mãe.

Após horas me estuprando, fechou me de novo naquele quarto, sentia muita dor no corpo, na alma e no coração.

Antes de ir embora ele disse me,_ pela próxima vez obedeça-me. O que mais eu poderia fazer ele já tinha matado a pessoa mais importante na minha vida . Fiquei lá no cativeiro sofrendo as dores do abuso, dores da perda e fome, ele ia de dois em dois dias me dava de comer e saía. Após um bom tempo, ele voltava e me estuprava novamente, quando ele fazia isso ele me acariciava e me pedia calma, e repetia várias, tu tens que querer, me aceita, me aceita, me aceita .

Agora sei que fiquei desaparecido por quase um ano, e foram oito meses naquele cativeiro.

Nunca mais eu resisti aos seus abusos, depois chorava e orava pela minha mãe morta e comecei a planear a minha fuga. Calculei cada milímetro dos passos dele.

Sempre chegava às mesmas horas, levava os sacos com a comida, abria a porta, colocava as chaves no bolso, o saco em cima de uma vitrina que ele levou e colocou ao lado da porta do quartinho onde ele me trancava, depois ia me ver, e voltava. Quando queria abusar-se de mim, ele saía e começava despir pelos sapatos, camisa, depois calça, andava até a cama e sentava um pouco e talvez orava não sei o que ele fazia , alguns minutos depois me chamava, e aquele intervalo dava para pegar a calça destrancar a porta e fugir, mas caso ele fosse rápido eu não conseguiria, então tinha de agredi-lo e foi o que fiz.

Naquele dia ele fez as mesmas coisas quando me chamou, andei bem devagar até sair do meu quartinho, quando estava quase a chegar perto dele, joguei-o violentamente contra o chão, na verdade superou as minhas expetativas, porque ele bateu a cabeça e parecia ter ficado tonto, abri a porta e fugi, corri com toda a minha força.

Andei quilômetros pela mata, por isso se ele foi atrás de mim eu não sei, cheguei aqui em Kabanga onde a maioria das pessoas são albinas, e olham que ninguém nunca me tinha perguntado o que me aconteceu naquele dia.

Me acolheram, cuidaram de mim, então fiquei muito conhecido, só passei a dar depoimentos depois que o governo começou a caçar pessoas como ele, e passei a conhecer vários casos de albinos que foram estuprados, a maioria são crianças do sexo feminino, muitos são atacados com machados e perdem uma mão, um braço e outros nunca mais são achados.

Por esse motivo eu resolvi criar essa casa para ajudar os meus semelhantes a se sentirem mais seguros mais confortáveis, mas mesmo assim é difícil, a poucos meses esquartejaram um dos nossos.

Todos nós quando vamos para o mercado saímos armados, porque nos defender é a única forma de garantir a nossa sobrevivência.



Urbi- Massacre de AlbinosOnde histórias criam vida. Descubra agora