Anelisse era uma miúda dócil e meiga, estava a encantar todos com a sua determinação e coragem, e também a atrair olhares apaixonados dos seus colegas de trabalho.
Saicu um homem de 35 anos de idade, guardava no seu coração mágoas de um passado sombrio que por muitos anos acreditou que jamais conseguiria ser feliz e esquecer aquele dia assombroso. A saudade batia no coração de cada familiar, cada amigo que perderam seus entes de forma trágica e injusta, por pessoas que só vêm em si a razão de viver e jamais nos outros o valor da vida.
Foi casado por dois anos com a bela Milony, uma albina alta de um corpo esbelto, sorisso meigo e um olhar cativante e ameaçador o que fez Saicu se apaixonar por ela. Se casaram três anos após se conhecerem, ela engravidou um ano depois, teve uma filha, mas esta não nasceu com o albinismo para a alegria dela, e para ele aquilo não importava. Amava sua mulher e sua filha de qualquer jeito. Os dois eram aventureiros, adoram viajar, ler, e tinham uma pequena casa em Dodoma, no arredor da casa onde além de passarem certos finais de semanas também acolhiam crianças e pessoas carentes e os ajudavam com a escrita e leitura.
Por mais que fossem felizes a Milony individualmente não sentia -se completa, somente ela sentia na pele, a dor , a discriminação que um albino sentia naquele país. Desde pequena abandonada pelos pais e acolhida por um estranho por isso essa sua paixão por ajudar pessoas. Estudou e conquistou seu lugar na vida, chegou aonde poucos albinos conseguiriam chegar, ela foi persistente e corajosa, mas até onde conseguiria chegar?
Ela sentia os olhares nas ruas, nos supermercados, no trabalho, já foi humilhada por um colega de trabalho, já lhe foi recusado um emprego por causa da sua cor. Tudo aquilo que passou serviu para lhe incentivar a continuar a lutar e não desistir. O destino nem sempre somos nós que o fazemos, ou talvez o que o nosso destino nos reservou é para servir de exemplos às pessoas que tentam a cada minuto recuar e desistir.
Saicu e Milony foram felizes juntos, criaram sua filha até os seus dois anos, mas a crueldade humana impediu que os três continuassem juntos para sempre como tinham prometido um ao outro. Ela dava de comer à sua filha, sentadas no sofá. Seu marido dava entrevista num programa televisivo sobre as questões políticas no país. Ela via, ouvia e sorria para seu marido, ele também sorria porque sabia que ela estaria a fazer naquele momento e como estaria a reagir. Mesmo longe naquele momento era como se os seus olhares sabiam exatamente onde encontrar o outro e se entreolharam e sentiam que estavam ali um para o outro, se não fosse o miserável destino.
Sua porta foi aberta bruscamente por um grupo de pessoas famintas por feitiços, ela não teve tempo de socorrer sua menina que se assustou com barulho causado e caiu num choro, antes de conseguir pegar sua filha, sua cabeça foi decepada e sua filha levada para longe. A televisão continuou aberta, mas ele já não sorria mais, seus olhos já não procuravam o dela porque de uma certa forma ele começou a sentir se angustiado, tinha vontade de chegar em casa e abraçar as suas mulheres. Seu peito começou a ofegar e já não falava coisa com coisa, suas mãos suavam frios, embebedou de um pouco de água mas a angústia não passava, pediu mais um copo com água.
Saicu não aguardou os presentes se despedirem dele, saiu a correr para o seu carro, sentia a necessidade de chegar logo em casa, tinha uma hora de estrada até chegar em casa onde passavam o final de semana e onde estavam a sua mulher e filha. Por mais que corria o carro sentia a necessidade de aumentar a velocidade, ele tinha fome, sede, e sono muito sono tudo por causa daquela maldita ansiedade e angústia que persistiam em acompanhá-lo.
Pessoas corriam de uma lado para o outro, dirigiu mais um pouco seu coração lhe dizia, só mais um pouco, ele estacionou o carro e pulou para o meio das pessoas. Corria com fortes pesos sobre seu peito, alguém puxou o seu braço, mas ele tinha mais força,uma mulher passou na frente de seus olhos tentando impedir-lhe mas, ele a empurrou para o chão por instinto. Chegou na porta de entrada que dava acesso direto a sua sala de estar. Só se via sangue espalhado pelo meio da sala, a Tv que não parava de falar, um sofá vermelho, uma colher pequena no chão, e entre os móveis uma cabeça com rosto assustada e cheia de sangue. Saicu já não sentia mais nada, precisava morrer ou se mataria, passou anos a morar com a sua mãe, se desligou do mundo. Não queria saber de mais nada nem de ninguém, mas tinha a esperança de reencontrar sua filha, a sua única razão de viver caso contrário já teria se matado. Após anos de dor , sofrimento e viver na escuridão, uma luz apareceu em sua vida, assim que foi convidado a trabalhar na Fundação da Urbi. Aceitou aquilo em memória de suas amadas, e prometeu vingar sua morte, queria matar com as sua mãos cada feiticeiro, cada caçador de albinos, mas de repente ao ver Anelisse na sua frente sentia um misto de emoções e vontade de lutar e continuar a viver e ser feliz, porque no final de tudo Milony nunca desistiu.
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Urbi- Massacre de Albinos
Mystery / ThrillerEntão os albinos estão condenados a viver na margem para sempre? 2º livro da serie Tráfico Humano. Plágio é crime, obra registada. Atenção não é de domínio público.