Capítulo 15

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Mustafá avistou sua vítima ao longe, Savimbi caminhava lentamente para a porta de sua casa, ele parecia falar sozinho. Savimbi morava sozinho, tinha-se separado da mulher e dos três filhos a quatro anos, desde então dedicou a sua vida ao trabalho, namorava de vez em quando mas, já não tinha vontade de se relacionar a sério com nenhuma outra mulher. Fez questão de deixar a sua antiga casa com a mãe de seus filhos, afinal de contas foram muitos felizes nela e ele queria que seus filhos fossem felizes ali também.

Tirou do seu bolso um molho de chaves, segurou debaixo do seu braço a capa preta que levava consigo, abriu a porta acendeu a luz e jogou a pasta em cima da mesinha de centro junto com as chaves. Serviu-se de um copo com whisky, sentou-se no sofá e abriu a televisão pela primeira vez em meses, quase não se lembrava que tinha uma casa, seu tempo andava tão corrido com o assassinato de albinos que sua casa se transformou apenas num refúgio e não mais um lar. Não comia ali, dormia umas duas ou três horas. Um barulho de carro a estacionar o fez acordar de seus devaneios, lembrou que tinha de ler e estudar alguns processos.

Do lado de fora de sua casa, Mustafá aguardava eufórico o momento da caça, estacionou seu carro por entre os arbustos, a rua é um aglomerado de casas de no máximo dois andares , algumas com distanciamento tomada por uma estrada outras por terrenos ainda em construção. Mustafá escolheu um espaço discreto para estacionar seu carro, não queria chamar muita atenção, seu sangue fervia por isso nem ele sabia ao certo qual seria o nível de seu entusiasmo.

O delegado da polícia, lia folha por folha os relatórios da perícia de alguns casos de assassinatos, muitos casos estão ligados às superstições, agora o que não entendia era o massacre de alguns corpos de albinos encontrados em lugares estranhos ao redor do país, e não faziam sentido nenhum e não pareciam ter relação com os feiticeiros, uma vez que eles precisavam de todas as partes do corpo. Todos os corpos encontrados tinham sinais de torturas, seus membros eram cortados e re-colocados, como se o assassino quisesse fazer ou dizer alguma coisa mas, a imagem dos corpos montados não diziam nada e nem pareciam com nada , simplesmente membros colocados um em cima do outro,cozidos em lugares diferentes e mais nada. Não seria novidade dizer que o assassino fosse alguém que não tivesse nenhuma intenção de usar partes dos corpos de albinos em magia, mas alguém que queria chamar a atenção, um assassino do nada.

Savimbi queria encontrar respostas, as vítimas não tinham nenhuma relação, dois jovens estudavam na mesma universidade mas cursos diferentes, uma miúda que nem identidade tinha e não conseguiram encontrar seus familiares, um homem da meia idade que trabalhava na agricultura e se não fosse pela polícia a família jamais saberia que ele tinha sido morto por um serial killer qualquer e nãos os caçadores de albinos.

Mas que porra estaria a acontecer ali? Ele jogou o lápis no chão levantou deixou os papéis espalhados em cima da mesa, não conseguia encaixar as peças, e foi dormir. Luzes apagadas chamou a atenção do assassino, sorrateiramente ele caminhou até a porta de entrada, estava trancada, as duas janelas também, mas nada que ele não podia resolver.

Mustafá antes de viver na cidade, vivia numa pequena aldeia, ao sul do país ao Sul de Lindi uma cidade a 450 km de Dar es Salaam, uma região muito populosa com mais de 430.270 habitantes. Novecentas pessoas viviam naquela pequena vizinhança e entre elas cinco por cento daquela população eram albinas. Seus avós, bisavós e tataravós caçaram albinos, sua bisavó era uma feiticeira, aprendeu de sua avó que também foi ensinada e assim se sucede o círculo de feiticeiros e caçadores dos seres malignos que curava todas as doenças que a medicina do homem branco não tinha poder para .

Aos seus 12 anos ele matou o seu primeiro albino, uma criança de seis anos que ele mesmo sequestrou na mata.Foram anos e anos , sua família finalmente fora descoberta por um grupo de aldeões preocupados com seus descendentes, dentre eles vivia uma família inglesa detentos de uma grande parte de terra onde sua família trabalhava.

Brancos como a neve, seus cabelos lisos e caídos, as crianças mais pequenas tinham entre sete e doze anos e Mustafá cresceu a ouvir o seu pai jurar vingança àquela família, se não fosse por eles teriam toda a terra para produzirem e seu filho mais velho ainda estaria vivo, foram anos de luta para que os ingleses fossem embora mas não foram capazes de mandá-los embora.

Sua avó ao sentir que teriam de sair às pressas da vila antes que sejam mortos pelos aldeões furiosos por descobrirem que ela era uma bruxa, ordenou aos filhos que lhe trouxessem um último demônio para seu último sacrifício. Daí surgiu a oportunidade de se vingarem da família branca.

Além de propagarem que aquela família era a responsável pela desgraça de muitas crianças nascerem brancas naquela aldeia, aproveitaram a desordem causada para sequestrar Mia a mais nova para o sacrifício, ela seria o sangue puro traria mais benefícios, mais sorte aos detentores de amuletos.O final da família de Mustafá foi trágico, ele nunca esqueceu do homem branco a matar a machadadas seu pai, seus irmãos e sua avó sendo queimados viva. Jurou vingança aos homens brancos, jamais deixaria um albino viver em paz, eles representam tudo o que de mal existe no mundo que ele criou, sua avó lhe ensinou " meu neto, tu és superior a eles, deves caçar e matá-los como animais, vai até a cidade encontrar seu tio, lá encontrarás tudo o que precisas para não deixares a nossa tradição morrer, vai meu menino ".

Um sorisso se fez nos seus lábios, ao lembrar das palavras de sua avó ,serás um grande bruxo, então ele falou, eu não quero ser bruxo minha avó, eu amo sentir o cheiro de sangue, cada albino que mato é como se eu vingasse a morte de meus familiares.

Arrombou a porta como aprendeu com o seu pai, entrou na casa do delegado, acendeu sua pequena lanterna. Andou e vasculhou cada canto daquela casa,entrou no quarto onde Savimbi estava a dormir,olhou para o homem a dormir como uma pedra, e sentiu vontade de atacá-lo no pescoço mas pensou, não, fácil demais, tenho que caçá-lo.

Saiu do quarto e dirigiu-se novamente para sala e viu muitos papéis em cima da mesa, a curiosidade falou mais alto, sentou na cadeira onde antes estava a sua vítima, e leu cada parágrafo encontrado. Jamais poderia imaginar que um dia ele seria o alvo da polícia, se antes ele caçava os albinos para arrefecer a dor e acabar com a sua agonia e sentir superior, naquele momento ele sentiu se ainda mais, por isso precisava daquele homem vivo, de vez em quando faria uma visita a casa dele para saber das novidades. Fotografou algumas páginas e levou consigo as fotos dos filhos e da ex mulher de Savimbi, resolveu procurar uma outra vítima e logo pensou na Urbi, ela seria sua cartada final em sua vingança.


Urbi- Massacre de AlbinosOnde histórias criam vida. Descubra agora