Capítulo 8

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"Por ano mais de cinquenta albinos são mortos e caçados por dia, e ainda são usados para feitiçaria. Crianças albinas são violentadas por homens portadores de HIV por acreditarem que serão curados."

A morte do menino Ravik assustou tanto as pessoas da aldeia, que quase ninguém saía de casa durante a noite, mesmo sabendo que seus filhos não eram alvos dos assassinos.

As autoridades não paravam de criar recursos para abolir de vez aquele mal, mas infelizmente o problema era muito maior e mais grave do que se imaginava.

Se por um lado existiam pessoas que caçavam e matavam albinos para venderem, por outro existia alguém que caçava e matava albinos sem fins lucrativos.

Consciencializar pessoas cujos suas mentes estavam fechadas para a verdade, não era e nunca foi tarefa fácil mas Urbi tinha a certeza que conseguiria, por isso ela e Anelisse estavam a organizar uma grande conferência sobre o problema com os albinos na África. Juntamente com os governantes traçaram objetivos a serem cumpridas, criaram mapas de lugares que mais acontecem os ataques.

Apesar de tanto trabalho, o problema não era só a caça dos albinos mas também criar meios para acolher, proteger e ajudar os sobreviventes.

Anelisse e sua amiga,visitaram uma casa de acolhimento fundada por um sobrevivente.

Juan, tinha cinquenta anos, assim como os outros albinos era muito branco cheio de sardas e manchas de sol na sua pele. Seus cabelos ruivos como o fogo, no sol pareciam queimar-se.

Seu olhar profundo transmitia dor, mistério, sofrimento e esperança, aquele que viu o próprio diabo mas, mesmo assim ele continuava de pé enfrentando as dificuldades da vida, o medo dos monstros disfarçados de humanos e sorria, sorria para poder dar forças e alegrias aos que encontravam no mesmo lugar que ele um dia esteve.

***

Eu era um menino muito irrequieto, mas também inteligente, por isso os professores gostavam de mim, mas o diretor da escola parecia não se sentir à vontade perto de mim e aquilo me incomodava.

25 de Agosto de 1965

_ Juan meu filho acorda. Juan. Juan.Meu Deus esse menino que não acorda.

_ Era a minha mão a me chamar. Acordamos todos os dias de manhã, ela me acompanhava até a escola e depois seguia para o mercado.

Naquele dia, eu cheguei na escola na hora de sempre às 7:50, nunca me atraso, na sala a professora estava a arrumar os materiais na nossa mesa,o sumário já estava escrito.

Entrei e,

_ Bom dia professora Caroline.

_ Bom dia menino Juan estás bem?

_ Sim professora.

Ela sempre sorridente, meiga, acho que eu era apaixonado por aquela mulher.

Sentei-me e os colegas começaram a chegar, a aula como sempre era uma coisa boa para mim, estudar é a melhor coisa que um Africano pode fazer.

Juan sorria enquanto falava, transmitia uma certa serenidade as miúdas e também muita curiosidade, elas já estavam ansiosas e queriam perguntar logo sobre o seu passado, mas se contiveram.

Após o intervalo, apresentamos a nossa redação sobre o que queríamos ser no futuro, como eu era inocente.

Na minha redação o que eu quero ser no futuro eu escrevi: Minha querida professora, eu ainda não sei o que realmente serei no futuro, mas sei o que gostaria de fazer.

Quero dar muito amor a minha mãe, estudar para quem sabe ser professor também, mas não sei ao certo, será que as meninas iriam gostar de mim.

Professora, se eu quiser vender como a minha mãe posso? Eu talvez gostaria de ser professor como a senhora ou vender como a minha mãe, fazer mesas e cadeiras como o tio Riany, pescar como o meu primo Stromae, ou até andar de caro como faz o Stephanio.

Eu não tive muito bom porque o objetivo não era esse mas tive um bom. A professora disse que emocionou comigo, eu vivia no campo, e o resto das crianças na cidade.

Ele sorriu, um pouco.

Após as aulas andava no mesmo caminho para voltar para casa. E ia sozinho.No caminho avistei o diretor da escola, e logo me lembrei que não tinha colocado a profissão dele na minha redação e comecei a rir sozinho, e com isso chamei a atenção dele.

_ Ei, Juan queres uma boleia?

_ Sim diretor.

Eu não sabia onde ele morava, mas sempre quis andar de carro, nossa quando entrei naquele carro, eu me senti um príncipe, por isso nem notei o caminho por onde passávamos.

Paramos em frente a uma cabana, olhei assustado, não porque achei que ele ia me fazer mal, mas pensei como pode um diretor morar numa cabana.

Olhem o que fez a inocência...

Ele me convidou a entrar, disse que me daria mingau, eu entrei e pronto.

Assim que pus os dois pés lá dentro, senti um arrepio, não tinha nada lá dentro, somente um balcão velho, um tambor encostado num canto e nada mais.

Então me virei para ele e disse senhor diretor eu tenho que ir, está quase na hora da minha mãe chegar em casa,ouvindo aquilo ele me deu um chute na cabeça e lembro que caí e acordei no dia seguinte com fortes dores de cabeça, amarrado, nu, sozinho e com muita fome e estava num lugar diferente.

Foi ali que senti medo e comecei a chorar e a gritar sem parar.

Urbi- Massacre de AlbinosOnde histórias criam vida. Descubra agora