Dia 49: Por que eu continuo escrevendo

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No dia 47 do projeto dos dois potes, eu relancei meu primeiro livro, Entre Irmãos, um drama familiar focado no relacionamento entre três irmãos, Fernando, Beatriz e Maurício. Mas é a orientação sexual de Fernando quem catalisa todas as discussões, brigas e intrigas do trio.

Uma curiosidade é que esse não foi o primeiro livro que escrevi, foi o segundo, mas o primeiro que publiquei realmente. Eu escrevi Entre Irmãos logo quando cheguei em São Paulo e foi uma forma de lidar com todas as novas experiências que estavam bombardeando todos os meus sentidos. Sem falar que também foi uma forma de me compreender como homem gay e meu relacionamento com minha família.

Foi essa história que me deu alguma visibilidade como escritor, principalmente no universo LGBT. Acho que o maior mérito desse romance é a forma como diversas pessoas conseguiram se identificar com a história ali, com o ativismo e a raiva de Fernando — mesmo que no começo ele seja um anti-herói extremamente insuportável —, com a indecisão de Beatriz ou com os papeis representados por todos os outros personagens secundários.

Esse nível de identificação dos meus leitores veio novamente com o livro Vinícius no Mundo dos Toalhas Brancas — Sopro, meu segundo livro, está conquistando aos poucos os leitores que amam literatura fantástica, então ainda espero que as pessoas deem mais oportunidade ao Zéfiro e sua história.

Já no dia 49, Entre Irmãos estava em segundo lugar na categoria dos mais vendidos em ficção gay. Eu sei que isso é apenas um reconhecimento do meu trabalho. O maior deles, com certeza, é saber dos meus leitores que eu escrevi uma história que os tocou; que eles se viram representados nas minhas linhas, nas minhas palavras; escrever para mim é gerar identificação, é um exercício de alteridade e empatia.

Todo dia eu me pego pensando se um dia eu realmente me tornarei um autor com o reconhecimento que eu acredito que eu mereço. Tento evitar esse tipo de pensamento, porque, além de alimentar minha ansiedade, não ajuda em nada minha jornada. Agora prefiro pensar que toda vez recebo um comentário, que converso com algum leitor, quando leio alguma resenha dos meus livros, isso tudo já é reconhecimento suficiente que preciso para continuar a escrever.

O ofício de escritor pode ser extremamente frustrante se vivemos apenas de expectativa. Esqueça tudo isso e apenas escreva: o ato em si é outra recompensa; não desistir é outra; e seus leitores, sejam eles poucos ou muitos, são outra grandíssima e valiosa recompensa. 

2 potes de gratidãoOnde histórias criam vida. Descubra agora