Capítulo 3 ( ii ) ‒ Quem Somos Nós (Para Fazer A Cabeça Um Do Outro)

635 72 82
                                    


[...]


Depois de chorar até não poder mais, Yuuri se levantou, tirou a sujeira de pó do traje e foi encontrar Tanaka. Chorar o tinha ajudado um pouco e agora já estava se sentindo ligeiramente melhor, apesar de achar que nada poderia aliviar a dor da decepção ainda presente como um poço sem fundo em seu peito.


Quando ele explicou a Tanaka o que queria fazer, o outro homem concordou, perplexo, mas obviamente não querendo perturbar ainda mais Yuuri. Com um pouco de negociação, eles usaram seus passes para conseguir novamente acesso ao rinque onde o Programa Curto da divisão sênior estava prestes a começar. Yuuri assistiu conforme cada patinador se apresentava, observando como cada um deles se movia, como cada um se recuperava de um salto que deu errado, como eles sorriam o tempo todo, com suas reais emoções bem escondidas.


Depois do que pareceu terem sido horas, o último patinador sênior deslizou até o rinque. Ele estava vestido em cores escuras: azul e preto acentuando cada linha do seu corpo e fazendo com que o seu cabelo prateado parecesse brilhar debaixo das luzes. Havia algum tipo de maquiagem sutil ao redor dos seus olhos, as linhas negras acentuando o brilho azul-esverdeado de sua íris.


Viktor parecia sombrio, quase perigoso no gelo. O intervalo de um ano foi bom para ele, seus ombros se expandiram e o seu rosto adquiriu traços mais masculinos, destacando a beleza acentuada de suas feições. A música que ele usou para patinar era tão belamente perigosa quanto ele, uma valsa sombria que fluía através do recinto conforme ele girava.



A coreografia era bela, uma dança a dois com um parceiro invisível. Duas pessoas, uma era de carne e osso e a outra era uma fantasia da imaginação, uma rodeando a outra, trançando-se numa espiral, presas numa eterna dança.


A multidão foi à loucura com isso, gritando em euforia toda vez que Viktor saltava, cada arranque era gracioso, cada aterrissagem era perfeita. Yuuri assistiu com plena atenção, incapaz de parar de olhar. Isso é um lembrete, disse a si mesmo enquanto olhava fixamente, hipnotizado. É por isso que você tem que ser bom. É por isso que você tem que ser melhor.


Quando Viktor finalmente terminou a sua coreografia, a multidão estava de pé, batendo os pés furiosamente e vibrando numa enorme ovação. Viktor fez uma reverência, acenando e sorrindo para as pessoas ao seu redor que gritavam o seu nome. Ele se virou para agradecer as pessoas que estavam atrás dele e por um segundo Yuuri poderia jurar que Viktor o tinha notado, um pequeno garoto japonês com seu técnico, bem distante, do outro lado do rinque, parcialmente escondidos nas sombras. Ele quase poderia acreditar ter visto a mão que acenava titubear bem de leve, o ligeiro arregalar de olhos conforme Viktor se virava em sua direção, mas é claro que tudo aquilo era só a sua imaginação. Viktor era arrogante e bonito e Yuuri era só mais um irreconhecível rosto no meio da multidão.


Ele se virou antes que pudesse ver mais alguma coisa e foi embora, desaparecendo de volta nas sombras.


Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Until My Feet Bleed and My Heart Aches - Parte 1 da Série RIVAISOnde histórias criam vida. Descubra agora