Capítulo Três

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Depois de chorar por alguns minutos no ombro de Zac, Amora sentiu-se melhor, mas ainda envergonhada por, pelo menos três fatores: 1. O circo armado por dona Sofia para desencalhar a filha; 2. Chorar no ombro de um desconhecido; e 3. Não estar mais bem vestida diante daquele desconhecido tão bonito.

Por fim ela se afastou, e seu rosto ficou tão próximo ao de Zac que ela pode ver os pequenos pontos amendoados nos olhos dele, que pareciam brilhar e se mover como pequenas chamas.

- Seus olhos são ainda mais belos de perto. - Amora pode sentir o hálito quente de Zac, enquanto esse sussurrava o elogio, quebrando o silêncio, mas não o encanto.

- O seu também! - Amora sussurou de volta, como se um barulho maior do que os sussurros pudesse quebrar o encanto daquele momento - Tem pequenas chamas dançantes. - concluiu, sem desviar o olhar.

Os dois ficaram ali, olho no olho, sentindo a respiração um do outro, até que Zac se moveu pra mais perto de forma tão suave e natural que Amora nem ousou se mexer, com medo de que ele parasse. Ela queria que ele chegasse mais perto, e ele chegou. Fez um carinho suave na trilha que as lágrimas haviam deixado, e se aproximou ainda mais, e tanto, que ela pode sentir o toque sutil de seu lábio inferior, como num pedido de licença. Aquela sensação fez seu coração disparar dentro do peito, e sua respiração ficar ainda mais ofegante, esperando pelo beijo. E então, quando ela fechou os olhos para sentir o toque quente dos lábios de Zac sobre os dela, o barulho estridente da porta de correr que os separava do resto do mundo, os arrancou daquele momento mágico antes que o beijo se concretizasse.

- Até que enfim te achei, menina! - gritou dona Sofia, parada na porta - Tô atrapalhando alguma coisa? - insinuou em tom maldoso.

- O que você quer, mãe? - perguntou Amora, querendo chorar de raiva.

- Tava te procurando pra te apresentar para os convidados, ué. Me desculpe se atrapalhei vocês. - disse ela, fingindo constrangimento.

- Me apresentar, ou me leiloar? - explodiu a moça - Meio tarde pra debutar, não acha? - ironizou.

- A gente faz de tudo por eles, e só recebemos ingratidão! - falou para Zac - Você quem é mesmo?

- Você convidou gente que nem conhece?! - gritou Amora, antes que o rapaz pudesse dizer qualquer coisa - Você não tá fazendo nada por mim! Tá fazendo por si própria. Porque não aceita meus estilo de vida; porque não aceita que perdeu o controle sobre mim. - desabafa, com lágrimas vindo à tona novamente - Já chega disso, eu vou embora!

- Me deixa te acompanhar! - pediu Zac.

- Desculpa, mas eu preciso ficar sozinha um pouco. - disse, segurando a mão de Zac - Mas, obrigada! Você foi uma surpresa boa no meio desse circo ridículo. Queria ter te conhecido em outro momento, outro lugar; de outra forma. - concluiu, depositou um beijo na bochecha de Zac, e se dirigiu à porta da varanda, onde sua mãe ainda estava parada, com cara de quem só queria ajudar.

- Nunca mais vamos nos ver? - indagou o rapaz.

- Vale das Flores é uma cidade relativamente pequena. - Amora sorriu - Se for pra ser, será! - se espremeu para passar pela porta sem tocar, nem olhar para sua mãe, e saiu do apartamento o mais rápido possível.

Ao sair do prédio ela pode sentir a brisa fresca da noite. Ainda não estava tão tarde; ela resolveu caminhar. Enquanto seguia seu trajeto, lentamente, ela pensou em Zac, e se lamentou pelo beijo interrompido. Evitou pensar na vergonha que passara. Quis pensar apenas em si. "Por quê não dava certo pra ela?"

Entre devaneios e suspiros ela chegou à praça que antecede seu prédio. Ainda havia movimento na rua. Pessoas caminhando, gente voltando de algum lugar, casais. O banco da praça parecia convidativo, e ela até pensou sem se sentar ali para observar o vai e vem das pessoas; mas achou que precisava mesmo era de um banho quente, e de seu cobertor felpudo como Magali. Passou direto do banco, e foi para seu prédio.

- Boa noite! - disse André, com a simpatia de sempre.

- Ainda aí, André? - questionou a moça - Seu turno já acabou.

- Vou dobrar hoje. - respondeu o rapaz - Tá tudo bem? - perguntou, com cara de ponto de interrogação.

  - Dona Sofia. - pontou Amora, e bastou para que André entendesse - Ela aprontou outra vez. - continuou, enquanto se jogava, cansada, numa das poltronas do aconchegante saguão do Edifício Azalea - Você acredita que ela organizou um leilão? - concluiu, imdignada, enquanto arrancava as sandálias de salto que machucavam seus pés.

  - Como assim, um leilão? - quis saber o porteiro, um tanto confuso.

  - Ela quer me leiloar! - exclamou Amora, sentindo toda aquela indignação voltar - O tal jantar pra me apresentar ao namorado novo era um subterfúgio pra convidar metade dos homens da cidade pra que eu, de repente, me desse bem com algum. Como ela pode fazer uma coisa dessas comigo? - sentiu as lágrimas voltarem - Alguns ela nem conhecia - o tom de voz foi baixando até quase sumir - Como ela pode? - perguntou mais para si mesmo, que para André.

  - Ela só quer te ver feliz, dona Amora. - André tentou apaziguar - De um jeito bem louco, confesso, mas ela só quer o seu bem. É o que as mães sempre querem! - afirmou o rapaz, jovem e sereno.

"Será que sua mãe também fazia 'coisas assim'? Aliás, será que ela ainda era viva?" pensou Amora. Eles nunca conversavam muito. Ela, sempre introspectiva; ele, sempre atencioso e educado, e parecia perceber que a interação social não era o forte da moça.

  - Acho que a senhora deveria descansar um pouco. - sugeriu o rapaz, notando que Amora estava perdida em pensamentos.

  - É. Farei isso. - concordou - preciso mesmo de um banho longo e quente - Boa noite, André. E obrigada por me ouvir!

  - Não foi nada, dona Amora! - respondeu ele - Precisando de algo é só chamar.

E com isso ela seguiu rumo ao elevador, cansada, confusa e envergonhada; esperando esquecer aquela noite durante o sono.

●•●
Genteeee... tadinha da nossa querida protagonista. Que mãe louca!
Até onde esse papo de "ela só quer o seu bem" cola? Porque, pra mim, dona Sofia meio que passou dos limites né?!

E o Zac? Será que o destino os unirá novamente?

Deixem estrelinhas, comentários, e muito amor, tô precisando! Resolvi ir ao salão cortar o cabelo, mas parece que eu fui atacada pelo Edward mãos de tesoura. Só não chorei porque tive vergonha. Os 20 reis mais mal gastos da minha vida!
Enfim... tô de luto pelo meu cabelo e preciso de vocês pra me animar!!

Beijinhos.. até a próxima!

AmoraOnde histórias criam vida. Descubra agora