Capítulo Dez

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  - Uau! - disse Tiago ao vê-la caminhando até ele na portaria do prédio com um vestido rosé, e um xale com estampa de flores em cores suaves. O cabelo repousando no ombro esquerdo. Se Vale das Flores se transformasse numa pessoa, com certeza, ao menos essa noite, essa pessoa seria Amora.

  - Me atrasei muito? - perguntou, constrangida com os olhares dele.

  - Valeu a pena cada segundo, você está deslumbrante! - disse Tiago, olhando-a nos olhos, como se pudesse ver sua alma. - Esse batom sai fácil? - perguntou, com um sorriso maroto.

  - Que tal a gente descobrir?!- respondeu Amora, corando com a própria ousadia.

  - Adoro quando você fica vermelha! - sussurrou ele, já entre os lábios dela.

Essas frases de efeito, esse jeito tranquilo e confiante - o pacote completo - deixavam Amora com as pernas bambas, desejando contrariar todas as suas regras de sobrevivência, e pensar "dane-se" enquanto puxava Tiago prédio adentro, porta adentro, quarto adentro, vestido adentro; até se perder naqueles ombros largos, braços fortes, e mãos habilidosas. Ela pôde sentir o arrepio percorrer sua espinha com esse pensamento, e sorriu, ainda de olhos fechados. Quando os abriu, ele a encarava confuso e divertido.

  - Por que está sorrindo? No que está pensando? - quis saber.

- Se eu te contasse teria que te matar! - disse ela, misteriosa - Vamos?

  - Vamos! - ele segurou a mão de Amora, entrelaçou seus dedos nos dela, e apertou suavemente, fazendo os arrepios ficarem ainda mais intensos, enquanto a olhava com desejo e admiração.

"Se continuar assim a noite promete!" pensou ela.

  - Aonde você vai me levar? - Ela quis saber. 

  - Surpresa! - respondeu ele, sem olhar para o lado. - Mas tenho certeza de que vai gostar. - disse, contendo um sorriso enquanto abria a porta de um sedan preto estacionado em frente ao prédio.

  - Não sabia que você tinha carro!

  - Há muitas coisas sobre mim que você não sabe. - ele disse - Ainda.

Esse "ainda" aliviou o coração de Amora, que não gosta nada de segredos. Não é de surpresas que ela tem medo, mas determinadas surpresas pelas quais passou não foram nada agradáveis. Durante o percurso eles falaram sobre amenidades que fazem toda diferença quando se conhece alguém, mas que ainda mantém aquele limite de segurança caso não dê certo - como acontece sempre com ela. Eles cruzaram o limite da cidade em direção ao interior. A paisagem ia se transformando aos poucos em algo mais silvestre, mais natural. No meio da estrada, disfarçado entre as árvores havia uma entrada, uma estrada de terra ladeada por coqueiros altos; e mais à frente um grande portão com uma placa de ferro trabalhada com o entalhe de uma lua nova, Fazenda D'Luna. Tiago parou e esperou que um segurança fosse até eles, apresentou um cartão - uma espécie de convite - e então seguiram até um estacionamento aberto. O sol estava se pondo, e a luz avermelhada fazia do lugar uma floresta encantada aos olhos de Amora. Ao ver o encantamento estampado no rosto da moça, ele segurou sua mão e entrelaçou os dedos, como havia feito anteriormente - uma âncora para um coração flutuante. Ele a conduziu por entre carros de todos os tipos até chegarem a um grande deque, onde pessoas se reuniam para apreciar o pôr do sol. Um garçom muito bem trajado lhes serviu champagne, e então eles apenas aproveitaram o show da natureza, sem dizer uma só palavra até que se fizesse noite por completo. As mãos unidas, aquela vista, e o silêncio, um momento para ser guardado eternamente na memória.

  - Então, onde estamos? - perguntou finalmente.

  - Uma festa particular muito, muito VIP. - respondeu ele ao pé do ouvido - Um festival gastronômico para pessoas selecionadas.

AmoraOnde histórias criam vida. Descubra agora