Capítulo Treze

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Dois meses depois...

Vale das Flores mantinha seu ritmo. Tudo normal, pacífico, e florido como sempre. Mas algumas flores tem espinhos bem afiados.

  - Que cara é essa, Amora? - pergunta Fabi, vendo a patroa e amiga chegar ao trabalho com os olhos distantes, e olheiras fundas - Outra briga?

  - Não foi exatamente uma briga. - respondeu Amora, distante e cansada - Ele sempre contorna bem nossas conversas. Nunca sem torna de fato uma briga, mas ele insiste nessa história de casamento, de me mudar para o apartamento dele. Essa ideia fixa tá começando a me irritar. - confessa.

  - Pois a mim já irritou faz tempo. Eu agora estou ficando é preocupada! - declarou Fabi - Ele é perfeito demais, calmo demais, tem uma fixação inexplicável por você. Parece coisa de psicopata!

  - Muito obrigada. Assim fico bem mais tranquila! - ironizou Amora.

  - Você sabe que alguém tem que te dizer a verdade, não sabe?!

  - E esse alguém sempre é você, não é mesmo?

  - Você tá irônica demais pro meu gosto. Vou trabalhar! - e saiu rebolando, deixando Amora com os próprios pensamentos.

A verdade é que ela gostava de Tiago, mas achava estranho demais essa pressa. Eles estavam se conhecendo, e era tudo perfeito na maior parte do tempo. Não havia porquê correr.

Ou será que havia?

Tiago se esquivava sempre do assunto. Dois meses se passaram desde o dia em que ele jurou pôr as cartas na mesa. André não sabia de nada que pudesse fazer a moça duvidar da boa índole dele. Da portaria acompanhava um dia a dia comum. Trabalho, academia... Atitudes comuns de gente comum. O fato é que as semanas se passavam, e aquele relacionamento crescia deformado sob a pressão do casamento.

Massagens, jantares, flores, sexo, companheirismo... Ele dava a ela tudo que uma mulher poderia querer, menos uma explicação.

Mais um dia normal de trabalho terminava, e Amora se habituava ao silêncio de Tiago. O relacionamento ia bem, então ela decidiu apenas deixar que o momento de falar chegasse. Praticamente já não dormia mais em casa, ficava a maior parte do tempo com Tiago. Ao chegar na casa dele - que agora também era dela, notou uma correspondência com seu nome junto às de Tiago e sorriu. Era tão evidente pra todos os rumo do relacionamento dos dois, menos para ela, que ainda carregava dúvidas em sua mente, porém o coração estava completamente rendido! Ao chegar à sala de jantar notou um clima muito romântico no ar, além do cheiro de comida. Sentiu-se abençoada por namorar um homem tão perfeito, e que ainda era cozinheiro!

Enquanto procurava por seu amado encontrou uma trilha de pétalas de rosa que levavam ao quarto. Sorriu mais um vez, e seguiu a trilha, pegando uma ou outra pétala pelo caminho. ao chegar, na cama, escrito com pétalas estava o décimo quinto pedido de casamento. Foi inevitável sorrir; que mulher não sonharia com aquilo? Alguém tão apaixonado por ela, a ponto de não desistir, mesmo diante de tantos nãos. Mas ela não aceitaria até que ele finalmente contasse o que escondia. Como, apesar de tanto romantismo, não o encontrar em canto algum da casa, Amora resolveu tomar um banho daqueles que lava até a alma, ao som de Sara Bareiles. Enquanto a água atingia o topo de sua cabeça, e descia pelo rosto ela sentia a tensão diminuir, e os pensamentos que a atormentavam se distanciando aos poucos! Quando saiu, enrolada na toalha, ainda molhada, foi até a cama, sentou com cuidado para não desmanchar as palavras, tocou uma pétala, e sentiu a suavidade nos dedos, fechou os olhos e respirou suavemente, permitindo que o aroma de rosas que inundava a casa preenchesse seus pensamentos. Tiago havia planejado tudo para que ela não se sentisse pressionada a responder. Ao abrir os olhos, e voltar ao planeta Terra, ela percebeu que tinha levado as correspondências no quarto, e resolveu olhar. De certo abriria apenas a endereçada a ela, mas ao vasculhar os envelopes para encontrá-la viu um envelope enviado por uma clínica de oncologia. Ela pensou em não abrir; não tinha esse direito. Mas, oncologia? O que fazer? Ela não queria ser aquela namorada investigadora. Sempre odiou a forma como sua mãe se metia em seus assuntos, e tentava decidir sua vida. Não faria isso com Tiago. E ali, com aquele envelope nas mãos, ela ficou em choque, sem saber a que horas Tiago chegaria, sem saber onde ele estava, mas sem coragem de ligar.  

O será que havia ali?

AmoraOnde histórias criam vida. Descubra agora