Amora parecia não entender, mas por alguma razão, sua mente a transportou vinte anos no tempo, para quando ela ainda era criança, para quando seus pais ainda eram casados, para quando seu pai ainda era vivo.
Vê-lo depois de tanto tempo fez seu coração disparar. A vontade de abraçá-lo era tão forte, mas mesmo que tentasse, nada aconteceria, era apenas um sonho. Mas mesmo assim, ela sentiu as lágrimas que rolaram, e a saudade era tão real quanto aquelas lágrimas.
- Amora? - disse ele, e o coração da moça parou. "Ele pode me ver?" ela pensou. Mas logo percebeu que era com a pequena Amora que ele falava.
- Oi papai. - respondeu a pequena, e saiu correndo, subindo em sua cama para se esconder.
- Você pode correr, mas não pode se esconder. - cantarolou ele, indo em direção à cama da menina - Achei você! - disse enquanto segurava com carinho aquele montinho embaixo da coberta.
A pequena deu um grito, e logo caiu na gargalhada. E os dois riram, e se abraçaram. Amora sentiu aquele abraço recebido por sua versão mirim, e sorriu. Inundada de felicidade ela se assustou quando foi puxada por um corredor de luz, arrancada daquela lembrança por um beep-beep-beep insistente. Quando abriu os olhos estava ofegante, e demorou um pouco para reconhecer o beep do despertador. Seus olhos estavam molhados, e ela ainda estava tonta depois daquela viagem no tempo. Aquele sonho fora tão real, e a lembrança de seu pai - que era apenas uma sombra da infância - retornou, trazendo um saudosismo que a fazia sorrir ao se lembrar das brincadeiras e do carinho que o pai tinha com ela. Amora lamentou o fato de ter perdido o pai tão cedo. Mas, qual seria o acontecimento tão importante que a faria voltar vinte anos no tempo? O que teria acontecido? Bom, talvez a sessão viagem no tempo continuasse essa madrugada, afinal foi apenas um sonho.
- E que sonho, hein! - disse Fabi, boquiaberta ao ouvir o relato de Amora. - Mas, como era seu pai? Você nunca falou dele.
- Ele era um grande homem. - ela sorriu com a lembrança - Morreu quando eu era criança, não tenho muitas lembranças.
- Lamento! - disse a amiga em solidariedade.
- Bom, vamos voltar ao trabalho. Temos pessoas famintas para alimentar! - disse Amora, tentando afastar a tristeza que estava prestes a surgir.
- Sim, patroa! - respondeu Fabi, brincando.
As duas riram, e voltaram ao trabalho em silêncio; mas a questão pendente ficou pairando nos pensamentos da moça durante todo o dia. A verdade é que Amora pouco sabia sobre seu pai. Ele faleceu quando ela tinha cinco anos, e sua mãe se recusava a falar sobre ele, dizia que o assunto era mórbido demais para ela que preferia se concentrar nos vivos, mas ela não tinha a quem recorrer senão à ela. Seria difícil, mas valeria a pena tentar!
- Amora, tem um gato lá fora procurando por você! - disse Fabi, sem nenhuma cerimônia.
- Ah tem? - respondeu a patroa, fingindo não saber do que se tratava.
- Vai ter que me contar essa história depois. - sussurrou Fabi enquanto as duas iam em direção ao salão da lanchonete.
- Então é aqui! - disse Tiago, sorridente. - Lugar bacana esse! E seu?
- Sim, é meu cantinho! - respondeu a moça, sentindo a bochecha corar novamente.
- Um belo cantinho, devo dizer. - elogiou o rapaz, ainda sorrindo - Como você está?
- Estou bem! - respondeu Amora, saindo de trás do balcão, indo ao encontro de Tiago. - E você, como está?
- Bem! Demorei um pouco pra me recuperar da madrugada de jogatina, mas estou bem! - disse, ainda sorrindo. O que fez Amora querer perguntar se ele nunca parava de sorrir.

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Amora
ChickLitCabelos longos, olhos redondos, um enorme coração, e um péssimo gosto para homens! Amora tenta se dar bem no amor, mas sempre mete os pés pelas mãos. Será que ela vai encontrar o amor verdadeiro? De repente, com uma ajudinha dos céus ela consiga en...